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sábado, 11 de junho de 2011

CHIQUITA E A MÃE VEIA - Patativa do Assaré (POESIA E ÁUDIO)









CHIQUITA E A MÃE VEIA - Patativa do Assaré



Quando a lua vai descendo
Minha dô vai omentando,
Apois quando eu vejo a lua
Fico triste, me lembrando,
Me lembrando com sodade,
Da beleza e da bondade
De um anjo que Deus me deu.
Uma menina bonita
Que se chamava Chiquita,
E tanto brincou más eu.

Chiquita era a mais bonita
Das menina desta terra,
Arva cumo aquela lua
Que nasce detrás da serra;
Seu cabelo fino e lôro
tinha uma mistura de oro,
Que a gente via briá.
Sua boca, pequenina,
Corada, como a bonina,
E os òio da cô do má.

Quando ela tinha seis ano,
Eu «eis ano tombem tinha,
A minha casa era dela,
E a casa dela era minha.
Quando eu não ia pra lá
Chiquita vinha pra cá:
Era assim que nós vevia,
Como dois pombo inocente
Ela se rindo e eu contente,
Querendo o que ela queria.

De menhazinha, bem cedo,
Despois do só aponta,
Mãe Veia chamava nós,
Mode aprende a rezá.
Quando Mae Veia chamava,
Nóis ia e se ajoeiava
Como se faz na Igreja.
E Mãe Veia, paciente,
Ia dizendo na frente:
— Bendito e íovado seja
Nosso Deus, nosso Jesus,
Que pra nos livra das curpa
Morreu pregado na cruz.

— Seja louvada também
A Virge Nossa Senhora,
Lá no Reino da Gulora,
Pro sécro, sem fim, amém.

Despois da reza, nós ia
Correndo de braço dado,
E no quinta da casinha
O meu premêro coidado
Era rirá uma rosa;
Das mais bonita e chêrosa
Pra botá no seu coco.
Naquele tempo feliz,
Nós era, cumo se diz,
Dois ané num dedo só.

Ela corria atrás d'eu,
E eu atrás dela corria.
A gente nem dava fé
De que tamanho era o dia.
Tudo era gosto e prazé,
Ninguém pensava em morre,
Uma vidinha tetéia,
Nós dois vivia gozando,
Ou no terrêro brincando,
Ou no colo de Mãe Veia.

Tinha no nosso terrêro,
Num pé de jacarandá,
Sobre um gancho de três gaio,
Um ninho de sabiá.
Se eu vê os pinto queria,
No jacarandá subia,
Chiquita ficava em baxo,
Pruque Mãe Veia dizia
Que as muié não se subia
Nos pau, como os home macho.

Mas eu trazia os pintinho
Pra Chiquita vê tombem,
E ela bejava, se rindo,
Chamando eles de meu bem.
Despois, eu arrecebia
E com eles me subia,
Mas porém bem devagá,
Cumo quem pega num ôvo,
E botava os pinto novo
No ninho do sabiá.

De noite, a lua trazia
A sua quilaridade,
Querendo tombem tê parte
Na nossa felicidade.
Vinha aluminando a terra
Por detrás daquela serra,
Tão redonda, tão bonita,
Mas eu muntas vez pensava
Que aquela lua invejava
A beleza de Chiquita.

Muntas vez, nós no terrêro,
Tudo sentado no chão,
Mae Veia contava histora
Iscoroçando argodão,
Falava em Nosso Senho
Quando neste mundo andou,
Também em Nossa Senhora
E notas coisa engraçada,
Ah! muié abençoada
Pra sabe conta histora!

Mas aquelas coisa boa
Desapareceu da terra.
Só a lua ainda nasce
Por detrás daquela serra,
Ela é sempre a mesma lua,
Com a mêrma beleza sua
Que Nosso Senho lhe deu,
Eu tou deferente e triste,
Mãe Veia já não existe,
Chiquita tombem morreu.

A mêrma lua inda tem
A sua luz cô de prata,
E eu só tenho meu peito
Esta dô que me maltrata.
A vida é tão esquesita!
Nem Mãe Veia, nem Chiquita,
Tildo, tudo se acabou!
Pois inté o jacarandá
Do ninho do sabiá,
Veio o vento e derrubou.

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