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domingo, 12 de junho de 2011

PROQUE DEXEI ZABÉ - Patativa do Assaré (POESIA E ÁUDIO)










PROQUE DEXEI ZABÉ - Patativa do Assaré



Seu moço, eu nunca menti,
Nem nunca gostei de manha.
Se do meu sertão saí
Pra vive na terra istranha,
Ê só proque sou casado,
Mas porém, sou separado,
Parece mesmo um castigo,
Sofro o maio aperreio
Por causa de um nome feio
Que a muié dixe comigo.

Hoje a minha vida é perra,
Mas a uns seis ano atrás,
Eu era na minha terra
0 mais feliz dos rapaz,
Amei munto e fui amado
E depois de tê noivado,
No santo mês de São João,
Na igreja de São José,
Eu me casei com Zabé,
Fia de Zé Militão.

Ás leis eu não inguinoro,
Casando logo nos dois,
Na igreja e no cartóro,
Pra não chafurda depois;
Pois, seu moço, o meu prazê
Era com Zabé vive
Bem unido inté no fim,
Inté no dia da morte,
Mas porém não tive sorte,
A coisa não deu pra mim.

Zabé com quem sou casado
Nasceu da beleza cheia,
Por hoje eu vive largado
Não vou dizê que ela é feia.
Mesmo sofrendo a amargura
De sua discompostura,
Via naquela caboca
A forma de um anjo lindo,
Pois mesmo sem tá sirrindo
Tem um risinho na boca.

De quarqué manêra é bela
E rica de prefeição
Inté mesmo o rasto dela
Quando anda de pé no chão;
Com relação a beleza,
Eu vejo que a Natureza
Não se inganou na bitola;
Os dente arvo e pequenino,
Mão pequena e dedo fino
E a cintura de viola.

Tudo que de amô parpita
Ela no seu corpo traiz:
Tando parada, é bonita
E quando anda é munto mais.
Os dois óio prenetante
Comparo com dois briante
Cravado num belo rosto,
Ou de.parença mudando,
Duas estrela briando
Nas noite do mês de agosto.

O seu cabelo agastado
Lhe compreta a fromusura.
Bem riluzente, increspado
E da cô da noite iscura,
Já frisado de nascença,
Dando assim umas parença
De uns miudinho pendão;
Se fosse verde, eu dizia
Que na cabeça trazia
Um pé de mangiricão.

De boniteza e primo
É um modelo perfeito.
Só nosso Pai Criado
Faz coisa daquele jeito.
Quem oiá pra cara dela,
O jeito é ficá com ela
Guardada no pensamento,
E o mió desta caboca
É o risinho na boca
Que ela herdou de nacimento.

Mas Deus, que é saibo profundo
Fez as suas coisa assim.
Tudo o que é bom neste mundo,
Tem sempre um pedaço ruim.
Zabé com tanta beleza
Que lhe deu a natureza,
É arenguêrá e afobada,
O que ela tem de fromosa
Tem de briguenta, raivosa,
Atrevida e macriada.

A caboca é um perigo,
Os nome feio mais fraco
Que ela dizia comigo,
Era paiaço e macaco.
Mas, mesmo tando medonha,
Quando inchava na coronha,
Gritava e se infurecia,
Quage perdendo o juízo,
O diabo daquele riso
De seus laibo não saía.

Por quarqué coisa Zabé
Bem grossêra me xingava,
Ficava queimando os pé
E muntas vez me taxava
Sem iscrupo ou cirimonha,
De cachorro sem vergonha
E ôtras piléra indecente,
Fio desta, fio daquela;
Mas, como gostava dela,
Aguentava paciente.

Sempre eu lhe dava consêio
E ela sem querê toma,
Inté que um dia ela veio
Mexe na minha morá.
Eu nunca aprendi a lê
Nem a carta de A B C,
Mas porém amo a verdade
E mesmo sem tê estudo,
Eu prezo acima de tudo
O valô da honestidade.

Certa vez ela teimava
Me dizendo desaforo,
Parece que Zabé tava
Com o capeta no coro;
Como a cobra venenosa
Tava inchada e rancorosa
Já no ponto de briga
E me chamou de chifrudo;
Com isto, ela dixe tudo
E eu vim me imbora de lá.

Quando ela dixe este nome,
Eu só não matei Zabé
Proque é covarde o home
Que assarsina uma muié,
Mas, fiquei me ardendo em brasa
E resorvi dexá a casa,
Infezado, infuricido,
Fiquei inchando o gogó;
Este é o nome mais pió
Que a muié diz com o marido.

Foi grande a prevecidade
Mas, mesmo com a desfeita,
Não nego a minha verdade,
Se ela de corpo é bem feita
É mais bem feita de cara;
Não sei com que se compara
Esta caboca tão bela.
Tudo aquilo eu padeci,
Mas porém nunca esqueci
O riso da boca dela.

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