quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
José Martí: Elevado expoente da oratória revolucionária
A oratória representou uma das principais vias
do Herói Nacional de Cuba, José Martí, para divulgar sua causa revolucionária,
cuja vigência adquire hoje novas conotações entre compatriotas e estrangeiros
num mundo a cada vez mais diverso.
Com seus discursos, o insigne
patriota chegou às consciências dos cubanos e persuadiu-os da necessidade de
juntar-se sob um projeto que garantiria uma futura república verdadeiramente
justa, democrática e soberana.
A 120 anos de serem pronunciadas em Tampa, Estados Unidos, a 26 e 27
de novembro de 1891, respectivamente, as peças oratórias conhecidas como Com
todos e para o bem de todos, e Os pinos novos são inesquecíveis entre a fecunda
obra do Apóstolo.
Conhecedor da importância da dita ferramenta comunicativa, Martí
utilizou-a para desenvolver parte de sua propaganda revolucionária que buscava
pôr em pé de guerra novamente a Cuba contra o governo espanhol e fazer a Revolução.
A capacidade persuasiva do Mestre foi admirável, e deu à mensagem
patriótica uma grande emotividade ao apelar sempre ao melhor de cada indivíduo,
sem exclusões de casta ou raça.
Tabaqueiros, veteranos, jovens patriotas, mães, viúvas, adolescentes,
ricos proprietários, intelectuais, comerciantes... todos ou quase todos se
converteram em receptores ativos de uma doutrina fundadora.
O máximo organizador da guerra necessária dos cubanos contra os
espanhóis entre 1895 e 1898 levou ao último dos receptores uma mensagem bem
elaborada e definida.
Dessa maneira conseguiu comover, despertar sentimentos, provocar o
amor pátrio e o desejo libertário em seus ouvintes, convencer e somar prosélitos
à causa independentista cubana.
A vasta cultura de Martí, o conhecimento pleno da história, o estudo
das ciências e o entendimento filosófico dos fatos cotidianos impulsionaram com
força suas palavras à hora de arrastar consciências e somar ao processo
emancipatório.
Em Com todos e para o bem de todos, a jóia mais preciosa de sua
oratória a julgamento de diversos estudiosos, começou inflamando a alma dos que
o escutavam no Liceu Cubano de Tampa.
"Para Cuba que sofre, a primeira palavra. Cuba deve ser tomada de
altar, para ofertar-lhe nossa vida, e não de pedestal, para nos levantarmos
sobre ela", representou e ainda o faz a referência imediata ao
patriotismo.
Rapidamente, o auditório, composto por operários em sua maioria,
recebeu o influxo do verbo martiano que empregou durante a dissertação códigos
comuns a fim de manter uma estreita comunicação através da assimilação das
ideias expostas.
Uma linguagem que sentou as ideias fundamentais da futura nação e
evidenciou o valor outorgado à ética e à realização pessoal e coletiva dos
seres humanos: "Eu quero que a lei primeira da nossa República seja o
culto dos cubanos à dignidade plena do homem".
Martí arremeteu contra sete grupos, e com reiteradas mentiras a ele se
contrapuseram, segundo a classificação do pesquisador Cintio Vitier, os
céticos, e os que temiam "os hábitos de autoridade contraídos na
guerra", "as tribulações da guerra", o "perigo negro",
e o espanhol como cidadão em Cuba.
Também se opôs aos que, por temor ao Norte e desconfiança de si, se
inclinavam para o anexionismo, e aos "lindoros" (aristocratas),
"olimpos" (oportunistas) e "alzacolas" (intrigantes). De
acordo com o estudioso José Luis de la Tejera, a metáfora, a similitude, os
paralelismos e imagens cobrem todo o discurso e o enfatizam para o efeito
persuasivo esperado.
Frases como "a guerra inevitável", "as palmeiras são
noivas que esperam", e "é preciso, nas coisas dos povos, levar o
freio numa mão e a caldeira na outra" transcendeream como símbolos.
O Mestre teve singulares qualidades para fazer bons discursos pois
postava diferentes tons com sua voz segundo o requerimento da situação,
empregava os períodos com harmonia, criava múltiplas e originais imagens e
improvisava com força.
Ao anterior uniu a justiça de sua causa e a sinceridade com que
propagava o ideal independentista, ao mesmo tempo em que apelou ao sentido da
dignidade humana e às virtudes dos cubanos.
Para recordar aos oito estudantes de Medicina fuzilados em Havana em
1871, Martí pronunciou Os pinos novos, um discurso conciso no qual chamou às
novas gerações a somar à causa libertária.
Elegantemente, convidou aos jovens, inexperientes mas ansiosos de liberdade
para sua Pátria, a fundir-se e unir vontades com os veteranos combatentes,
experimentados na arte da guerra.
Forjou a união com um marcado otimismo entre os assistentes do
mencionado liceu 20 anos depois do triste acontecimento e também entre os que
tomaram e retomaram posteriormente o caminho da Revolução.
Martí concebeu um discurso ordenado e coerente para que a palavra
penetrasse facilmente nos ouvintes e expôs com grande nitidez os julgamentos,
aproveitou sua cultura e preparação e apelou constantemente ao diálogo, ao
caráter comunicativo completo.
Sua prática oratória teve uma função utilitária, uma finalidade
prevista nesse trabalho de unidade e chamado à luta que lançou, e ainda quando
a mensagem esteve envolvida em numerosos recursos estilísticos, evidenciou um
predomínio da razão e do julgamento certeiro.
Como certeiramente afirmou o pesquisador Luis Conte, o Herói Nacional
amalgama os requisitos indispensáveis da eloquência suprema: moral, patriotismo
e cultura, trindade que não se dá com frequência nos oradores.
*Jornalista da Redação Nacional da Prensa Latina.
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