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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A OTAN suspende seus planos militares e agrava a guerra económica contra a Síria

Por Thierry Meyssan*

Depois de haver aplicado o roteiro da intervenção supostamente humanitária, já utilizada anteriormente na Yugoslávia e mais recentemente na Líbia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte se vê obrigada a revisar seus planos para a Síria. A aliança atlântica agora pretende aplicar a esse país a estratégia utilizada contra o Iraque para cercar a nação síria, independente das dificuldades do que isso possa implicar para o povo, debilitando antes do próximo ataque.  

A Secretária de Estado Hillry Clinton, em Washington, participando do Saban Forum, em 3 de dezembro de 2011.

A OTAN está revisando sua estratégia contra a Síria. Após 8 meses de guerra de baixa intensidade, apesar da infiltração de um grande número de combatentes árabes e pastuneses, a esperada divisão da sociedade síria não ocorreu. Os enfrentamentos convencionais ocorridos em Dera, Banya e Homs não tem se estendido nem no tempo e nem através do país. Já resulta ilusório para a OTAN seguir acreditando na possibilidade de provocar em pouco tempo uma guerra civil capaz de justificar uma “operação humanitária internacional”.

Esta contradição encontra para a coalizão militar ad hoc uma grave crise. No momento da guerra contra a Líbia, os países que assumiram a iniciativa foram França e Inglaterra. Mas, os dois pesos pesados europeus acabaram, definitivamente, incapazes de mobilizar os meios necessários e foi na realidade o Pentágono quem teve que realizar 45% do esforço de guerra e do financiamento da operação contra a Líbia.
  

O essencial foi que a instalação incompleta de dispositivos poderia, inclusive, haver dado lugar a um verdadeiro desastre se a Líbia tivesse decidido a atacar os barcos e os helicópteros da OTAN [1]. Este problema resulta muito mais grave no caso da Síria, país que conta com uma quantidade de habitante quatro vezes mais que a Líbia e com um aguerrido exército que tem participado em conflitos regionais anteriores.

Assim, se decidiu fortalecer ao binômio franco-britânico, somando a Alemanha como terceiro elemento. Para eles se pensou em negociar um tratado tripartido, em 2 de dezembro, na ocasião do aniversário do Tratado de Lancaster House [2], que implementou a organização das forças conjuntas fraco-britânicas de projeção e selou a sorte da Líbia [3]. Mas, o encontro foi cancelado. Em plena crise econômica ocidental, Berlín não tem a mínima intenção de assumir gastos de guerra sem garantias de retorno do investimento.

A racionalidade orçamentária da Alemanha está arruinando com os sonhos épicos do complexo militar-industrial dos Estados Unidos e Israel. A saída de Robert Gates e a ascensão de Hillary Clinton mostram o retorno ao projeto de “redesenho do Oriente Médio ampliado” para o cenário mundial e sua extensão ao Norte da África. Essa doutrina, que deriva do pensamento imperial de Leo Strauss, é apresentada como um eterno vôo para a frente, na qual a guerra não tem outro objetivo que... a guerra.  Isto é perfeitamente adequado para a economia de guerra dos Estados Unidos, mas, não para a pacífica economia industrial da Alemanha.   

O projeto de guerra convencional contra a Síria levanta muitas questões em termos econômicos. A curto e médio prazo, este projeto não convém aos interesses de nenhuma nação européia, mas, muitas delas tem muito que perder com sua implantação. No caso líbio, alguns homens de negócios britânicos e franceses têm obtido rápidos dividendos ao negociar vantajosamente suas concessões petroleiras, enquanto que turcos e italianos têm se visto prejudicados ao perder praticamente todas as suas mercadorias na ex-colônia.

Enquanto se aguarda a criação de uma coalizão militar ad hoc, a OTAN recorre no momento a guerra econômica. Seu objetivo consiste em sitiar a Síria, privando-a de toda possibilidade de comércio, tanto no tocante as importações como nas exportações, e em sabotar seus meios de produção. Recorrendo ao politicamente correto termo de “sanções”, os países membros da OTAN e seus vassalos da Liga Árabe já implantaram um congelamento bancário que proíbe o comércio dos chamados “commodities”. E agora estão se concentrando no fechamento das vias de comunicação, sobretudo, das linhas aéreas, e na retirada das transnacionais, principalmente das companhias de petróleos. No tocante a estas últimas, depois da Shell e Total, Petro-Canada acaba agora de anunciar sua saída da Síria e de fechar a central elétrica que abastece a cidade de Homs.

O mais importante é que o primeiro ato de sabotagem de grande envergadura afetou principalmente o oleoduto que alimenta essa central elétrica, para evitar que seja utilizada durante a ausência dos engenheiros canadenses. O exército Livre Sírio reclamou a autoria dessa ação e não se pode determinar até o momento se a mencionada sabotagem tem sido obra de militares traidores, da Al-Qaeda ou dos comandos da OTAN.  

Fora do combustível para aquecimento e a eletricidade, não se observa pelo momento na Síria nenhum tipo de carência. Como meio de atenuar os efeitos do sitio, Damasco tem adaptado novas formas de intercâmbios com Pequim. Devido ao embargo (penhora) das contas bancários, nestes intercâmbios as partes recorrem à permuta, conforme o sistema já existente entre China e Irã. Graças a esta forma de intercâmbios, é possível que a Síria alcance salvar sua economia, com exceção do setor turístico, amplamente, afetado.

Em todo caso, o cerco imposto à Síria já tem deixado na Turquia numerosas vítimas no plano econômico. A anulação do tratado de livre comércio e a imposição de direitos aduaneiros proibitivos, praticamente, já tem levado a ruina as regiões fronteiriças. Mas, enquanto os sírios aceitam as privações para salvar a seu país, os turcos por sua parte não estão dispostos a correr a mesma sorte só para satisfazer as ambições da OTAN.

Por outro lado, este câmbio de estratégia põe ao Conselho Nacional Sírio em uma difícil posição. Os políticos que dizem apoiar uma forma de oposição não violenta inspirada nas revoluções laranja, inspiradas por Gene Sharp [4], são agora obrigados a assumir as sabotagens, cuja autoria reclama os combatentes do Exercito Livre Sírio. A contradição se faz cada vez mais evidente na medida em que tanto os primeiros como os segundos, que residem em Estambul, estão chamados a se relacionar.

A suspensão do plano de intervenção militar internacional se confirmou com o regresso dos embaixadores dos Estados Unidos, França e Alemanha a Damasco. Esta suspensão implica uma mudança de orientação na campanha mediática. Os meios de comunicação anglosaxões tem abandonado as acusações excessivas e menos confiáveis proferidas contra Bachar Al-Assad, como a de que havia ordenado a tortura de crianças. Nem o próprio Departamento de Estado descreve já o presidente sírio como um monstro, mas, como um homem “desconectado da realidade” (sic) [5]. Assim, tem deixado de ser um caso urgente.

Em todo caso, a realidade síria que os diferentes jornalistas trouxeram a luz do dia não têm nada haver com a imagem da propaganda que foi vinculada durante os últimos oito meses [6], tornou-se indispensável um momento de silêncio.  

Thierry Meyssan
 
A Secretária de Estado Hillry Clinton, em Washington, participando do Saban Forum, em 3 de dezembro de 2011. 


Fonte:
http://www.voltairenet.org/La-OTAN-suspende-sus-planes
Tradução:
Luis Carlos (Redação do blog o povo na luta faz história)

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