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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Não tem solução aos graves problemas do mundo e cada país no marco do capitalismo


Por Santiago Shutz

Carlos A. Lozano Guillén é o diretor do Semanário Voz, periódico mais marcante da esquerda na Colômbia. Dizem - inclusive seus críticos - que Lozano tem o mérito de haver sustentado a Voz, em meio da crise da esquerda, do extermínio dos opositores ao regime e da perseguição governamental. O próprio Diretor do VOZ foi vítima de atentados frustrados de seguimentos e ameaças das “cruzadas” do DAS, durante os anos dos dois governos de Álvaro Uribe Vélez, organismo secreto de inteligência, já liquidado, que dependia da Presidência da República. Disse que até o lixo de seu escritório e de sua residência, levavam os agentes do DAS, aparentemente, desfaçados de recicladores (coletores de lixo para processá-lo), para revisá-la, buscando mensagens secretas das FARC. Em 2009, compareceu diante da justiça penal, que o investigou por rebelião, porque seu nome aparecia várias vezes em supostos correios eletrônicos arquivados no computador de Raúl Reyes. “Fui obsoleto, porque o Ministério Público reconheceu o direito que têm os comunistas para lutar pela paz. Minha absolvição foi uma derrota para a ultradireita militarista e uribista”. Uma vez enviaram flores para as instalações do semanário a Voz para seu enterro e em outras ocasiões o seguiram ao exterior, em frequentes viagens a Europa e América Latina.  

É uma personalidade em seu país. Reconhecido e respeitado pela esquerda e por personagens da direita. Muita gente fala bem dele, o admiram pela firmeza política e ideológica, a seriedade e porque “canta a tabla” contra o Governo, os militares e a ultradireita.

É também membro do Comitê Executivo Central, da Junta Nacional do Polo Democrático Alternativo, integrante de “Colombianos e Colombianas pela Paz”. Sua origem não o oculta, pelas boas maneiras e o tratamento respeitoso dos seus interlocutores, provém de uma família rica da cidade de Ibagué, capital do departamento de Tolima, no centro do país. Ibagué está a quatro horas de Bogotá por terra e há vinte minutos por via aérea. Tem-se destacado por ser “facilitador” ou mediador de paz do longo conflito armado entre o Estado e a Guerrilha das FARC. Tem recebido várias condecorações, entre elas a de Cavaleiro da Legião de Honra da República Francesa, concedida pelo presidente Nicolás Sarkozy.

Como vai o processo das seis liberações anunciadas pelas FARC?

“Bem. O Processo é normal. Marleny Orguela, presidente da Asfamipaz (Associação de Familiares de Polícias e Militares Presos das FARC), foi encarregada por Piedad Córdoba para adiantar as conversações com o Governo e adotar o protocolo de garantias e os procedimentos em matéria de segurança para o êxito da missão humanitária. É uma decisão unilateral das FARC. Um autêntico gesto de vontade de paz. O Governo designou ao Ministro de Defesa, Juan Carlos Pinzón, um homem da direita - militarista e belicoso - para representá-lo neste assunto. É uma maneira de dar-lhe tratamento militar a um tema estritamente humanitário. Está atravessando obstáculos, porque se opõe aos helicópteros e a tripulação brasileira como transportadora de missão humanitária. O Brasil a tem feito sempre com profissionalismo e neutralidade. Por que agora essa atitude tão inamistosa do governo colombiano?

Mas, que diferença tem que sejam helicópteros brasileiros ou colombianos? Ao final e ao cabo é o mesmo. O importante é a liberdade dos seis militares ou não?

“Há diferença. É um problema de segurança, de garantias. Não tem que esquecer que na ‘Operação Jaque’, foram utilizados helicópteros militares com os emblemas do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR). E, em anteriores missões humanitárias, aeronaves colombianas acompanharam aos helicópteros brasileiros, pondo em perigo a missão humanitária e até a vida dos participantes nela, incluindo aos reféns. Aqui os militares são manhosos, não aceitam tão facilmente as decisões do poder civil. É, mas, estou seguro que o Ministro Pinzón cumpre instruções da cúpula militar neste caso. Se não aceitar a colaboração brasileira, se colocará em perigo o ato humanitário. Tenho esse temor”.

Conheciam as cartas de “Colombianos e Colombianos pela Paz” que propõem uma trégua bilateral de 90 dias e novos gestos humanitários da guerrilha. Têm essas propostas alguma probabilidade?

“Não sei. A palavra a tem o Governo e a Guerrilha. Já, por exemplo, as vozes discordantes da ultradireita se opõem a trégua bilateral. O governo sempre tem dito que os gestos são unilaterais. A trégua que se reivindicam é para eventuais diálogos de paz, não procede para as libertações anunciadas. É pertinente esclarecer. Mas, é importante, porque um dos erros de Caguán foi o diálogo em meio do conflito, dos combates e dos tiros. Isso diluiu o ambiente na região desmilitarizada, onde se mantinham os diálogos. O Governo confia na licença e implementação do Plano Colômbia, que hipotecou a soberania nacional envolvendo aos ianques de forma direta no conflito. Por esta razão, a trégua deve ser bilateral, como também os compromissos bilaterais. O Governo lhe exige e exige gestos da guerrilha. A pergunta forçosa é: quais são os gestos do Governo? Colocará fim aos falsos positivos? Respeitará aos direitos humanos? Oferecerá garantias a oposição e ao movimento sindical e popular? Suspenderá as privatizações neoliberais e oferecerá melhores condições de vida ao povo colombiano? Estará disposto em submeter a justiça aos grupos paramilitares? Estará disposto em fortalecer a democracia? O Estado colombiano é depredador dos direitos humanos e não cumpre o Direito Internacional Humanitário. Assim, é possível que exija gesto de paz aos insurgente, mas que ele também faça o seu próprio”.

Para que os diálogos?

“Para buscar a solução política do conflito. A paz com democracia e justiça social. Não há solução militar da crise colombiana. Apenas erradicando as causas do conflito é viável a paz. Aqui não cabem os cantos de sereia da oligarquia colombiana que convocam para a desmobilização dos insurgentes, porque nem sequer ela resolveria o conflito. Sem mudanças democráticas nem reformas politicas, econômicas, sociais, culturais e ambientais, pelo menos, é possível acender a paz. Isso deve entender a oligarquia colombiana”.

Você acredita que eles aceitem?

“É que não tem alternativa. A via militar fracassou. O Estado não pode cumprir o sonho de esmagar a insurgência armada. Os anúncios do final e da mãe de todas as batalhas não têm sido mais que retórica demagógico de incompetentes generais. Querem perpetuar a guerra, porque é um negocio. Não é qualquer coisa, conta a sua disposição com o equivalente a 6% por cento do Produto Interno Bruto para a guerra. Além disso, a agenda não pode ser maximalista, não pode a guerrilha pretender a ‘revolução por contrato’. Isso não é realista e, de fato, a plataforma da guerrilha é mínima, são aspirações democráticas, de reivindicações para fortalecer a democracia e dar-lhe mais espaço e perspectiva a luta popular”.

Esse é o fim?

“Ninguém o tem colocado assim. Nem a guerrilha nem a esquerda política, democrática ou legal. Diga o que quiser. A esquerda revolucionária está pelo socialismo. Isso é o objetivo fundamental. O que sucede é que é necessário alcançar uma melhor democracia para a luta democrática e pela transformação da sociedade. Não é o mesmo que atuar num clima de liberdade democrática, que no meio da guerra suja, do terrorismo de Estado e do extermínio da esquerda, como se tem sucedido historicamente na Colômbia. Aqui não vem ao caso o debate de reformas ou revolução. As reformas não significam um dique de contenção da luta revolucionária. Reformas e revolução não são contraditórias como acreditam alguns”.

A guerrilha teria que criar um projeto político de esquerda…?

 "Eu acho que sim. É necessário para que ela possa interromper o cenário político nacional. É sua decisão, mas acho que sim”.

Sem armas?

“Claro, sem armas. Para isso é o acordo de paz. Deve ter seu projeto político, entendendo que já existem outros projetos, como o do Polo Democrático Alternativo, que o banco hoje de desaforo arrogante e totalitário da direita quer linchá-lo. Todos esses projetos podem se encontrar num objetivo comum da luta contra o capitalismo e por conquistar o socialismo. É perfeitamente viável”.   

A oligarquia que detém o poder aceitará isso?

“Não tem outra alternativa se não houver uma forte pressão das massas. É que não se trata de ‘acordos do alto’, nestes processos tem que estar presente a sociedade colombiana, a esquerda, as centrais operárias, os sindicatos, as organizações agrárias, cívicas, comunitárias e populares. As massas seguem sendo o motor da história, expressão da luta de classe, esta verdade não se tem modificado por muito que se diga que a desaparição da URSS, há 20 anos, do campo socialista, acabou com a história e com as ideologias. Quem ia pensar que 20 anos depois o capitalismo mais avançado estaria nesta crise de hoje? Que a América Latina seria o cenário de processos democráticos e de governos antineoliberais, autônomos de Washington e que tendem pelo socialismo? Estamos frente a uma nova realidade depois da crise do socialismo: o capitalismo fracassou historicamente; não tem solução para os graves problemas do mundo e de cada país no marco do capitalismo. Como estamos vendo na Europa, as ‘soluções’, sempre capitalistas, aprofundam mais a crise. Ou não? Na atualidade, o movimento popular, a esquerda, respiram um novo ar. Canalizá-lo a favor das mudanças vai depender da capacidade de influir nas massas e de orientá-la para as soluções proletárias e  socialistas. Não é suficiente que as massas atuem, tem que conscientizá-las. Porque, olhe você, as insurreições no Oriente Médio que significam em muitos casos bem mais retrocessos ou os indignados que estão contra o capitalismo e que repudiam a ditadura do sistema financeiro, mas rechaçam por igual a todos os políticos e suas alternativas, não é o socialismo. São os desafios da esquerda  no novo momento histórico”.

Fonte:


Tradução de:

Luis Carlos (Redação do blog o povo na luta faz história)

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