terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Obama eleva as apostas militares contra a China e a Rússia
Depois de sofrer grandes derrotas militares e
políticas em campos de batalha sangrentos no Afeganistão e no Iraque, de
fracassar no apoio a antigos clientes no Iêmen, Egito e Tunísia e de
testemunhar a desintegração de regimes fantoches na Somália e no Sudão do Sul,
o regime nada aprendeu: Ao invés disso ele voltou-se rumo à maior confrontação
militar com potências globais, nomeadamente a Rússia e a China. Obama adotou
uma estratégia provocativa de ofensiva militar junto às fronteiras tanto da
China como da Rússia.
Por James
Petras
A viragem do militarismo: Da periferia para a
confrontação militar global
A escalada da confrontação de Obama em relação à
Rússia
Entre realismo e ilusão: O realinhamento
estratégico de Obama
Conclusão
Depois de sofrer grandes derrotas militares e
políticas em campos de batalha sangrentos no Afeganistão e no Iraque, de
fracassar no apoio a antigos clientes no Iêmen, Egito e Tunísia e de
testemunhar a desintegração de regimes fantoches na Somália e no Sudão do Sul,
o regime nada aprendeu: Ao invés disso ele voltou-se rumo à maior confrontação
militar com potências globais, nomeadamente a Rússia e a China. Obama adotou
uma estratégia provocativa de ofensiva militar junto às fronteiras tanto da
China como da Rússia.
Depois de andar de derrota em derrota na periferia
do poder mundial e não satisfeito em incorrer em déficits que arruínam o
tesouro na ânsia de construir um império contra países economicamente fracos,
Obama abraçou uma política de cerco e provocação contra a China, a segunda
maior economia do mundo e o mais importante credor dos EUA, e a Rússia, o
principal fornecedor de petróleo e gás da União Européia e a segunda mais
poderosa potência do mundo em armamento nuclear.
Este documento trata da escalada altamente
irracional e ameaçadora de militarismo imperial do regime Obama. Examinamos o
contexto militar global, econômico e político interno que motivam estas
políticas. Examinamos então os múltiplos pontos de conflito e intervenção nos
quais Washington está empenhada, desde o Paquistão, Irão, Líbia, Venezuela,
Cuba e para, além disso. Analisaremos a seguir a lógica para a escalada militar
contra a Rússia e a China como parte de uma nova ofensiva que vai além do mundo
árabe (Síria, Líbia) e frente à posição econômica declinante da UE e dos EUA na
economia global. Depois disso esboçaremos as estratégias de um império
declinante, criado em guerras perpétuas, confrontando declínio econômico
global, descrédito interno e uma população trabalhadora a cambalear desde o
desmantelamento em grande escala dos seus programas sociais básicos.
A viragem do
militarismo: Da periferia para a confrontação militar global
Novembro de 2011 é um momento de grande importância
histórica: Obama declarou duas importantes posições políticas, tendo ambas
tremendas conseqüências estratégicas que afetam potências mundiais
competidoras.
Obama decidiu uma política de cerco militar da
China com base no estacionamento de uma armada marítima e aérea frente à costa
chinesa - uma política destinada abertamente a enfraquecer e perturbar o acesso
da China a matérias-primas e ligações comerciais e financeiras na Ásia. A
declaração de Obama de que a Ásia é a região prioritária para a expansão
militar dos EUA, a construção de bases e alianças econômicas foi dirigida
contra a China, desafiando Pequim nas suas próprias traseiras. O punho de ferro
da declaração política de Obama, pronunciada perante o Parlamento australiano,
foi clara como cristal na definição dos objetivos imperiais estado-unidenses.
"Nossos interesses duradouros na região [Ásia
Pacífico] exigem nossa presença duradoura nesta região... Os Estados Unidos são
uma potência do Pacífico e estamos aqui para permanecer ... Quando finalizamos
as guerras de hoje [i.é, as derrotas e retiradas do Iraque e do Afeganistão]...
dirigi minha equipe de segurança nacional para que assegure uma prioridade
principal à nossa presença e missões na Ásia Pacífico ... Em conseqüência, a
redução nos gastos de defesa dos EUA não será ... às expensas da Ásia
Pacífico". (CNN.com, 16/Nov/2011).
A natureza precisa do que Obama chamou de "a
nossa presença e missão" foi sublinhada pelo novo acordo militar com a
Austrália para despachar navios e aviões de guerra e 2500 fuzileiros navais
para a cidade mais a Norte da Austrália (Darwin) destinados à China. A
secretária de Estado Clinton passou a maior parte de 2011 a fazer sondagens
altamente provocatórias junto a países asiáticos que têm conflitos de fronteira
marítima com a China. Clinton introduziu vigorosamente os EU nestas disputas,
encorajando e exacerbando as exigências do Vietnã, Filipinas e Brunei no Mar do
Sul da China. Ainda mais gravemente, Washington está a promover seus laços
militares e de vendas com o Japão, Formosa, Singapura e Coréia do Sul, bem como
a aumentar a presença de navios de guerra, submarinos nucleares e sobrevôos de
aviões de guerra ao longo das águas costeiras da China. Na linha da política de
cerco militar e provocação, o regime Obama-Clinton está a promover acordos
comerciais multilaterais que excluem a China e privilegiam corporações
multinacionais dos EUA, bem como seus banqueiros e exportadores, batizado como
"Partenariado Transpacífico" ("Trans-Pacific Partnership").
Este inclui principalmente países menores, mas Obama tem a esperança de
convencer o Japão e o Canadá a aderirem ...
A presença de Obama na reunião da APEC de líderes
asiáticos e sua visita à Indonésia em Novembro de 2011 envolvem esforços para
assegurar hegemonia estado-unidense. Obama-Clinton esperam contrariar o
declínio relativo das ligações econômicas estado-unidenses face ao crescimento
geométrico dos laços de comércio e investimento entre a Ásia Oriental e a
China.
Um exemplo recente dos esforços ilusórios, mas
destrutivos, de Obama-Clinton para deliberadamente perturbar os laços
econômicos da China na Ásia está a ter lugar em Myanmar (Birmânia). A visita de
Clinton em Dezembro de 2011 a Myanmar foi antecedida por uma decisão do regime
Thein Sein de suspender um projeto de barragem no Norte do país financiado pela
China Power Investment. Segundo documentos oficiais confidenciais divulgados
pela WikiLeaks as "ONGs birmanesas que organizaram e conduziram a campanha
contra a barragem foram fortemente financiadas pelo governo dos EUA"
(Financial Times, 02/Dez/2011, p. 2). Isto e outras atividades provocatórias e
discursos de Clinton condenando "ajuda ligada" chinesa desvanecem-se
em comparação aos interesses em grande escala que ligam Myanmar à China.
A China é o maior parceiro comercial e investidor
de Myanmar, incluindo seis outros projetos de barragens. Companhias chinesas
estão a construir novas auto-estradas e linhas ferroviárias através do país,
abrindo o Sudoeste da China a produtos birmaneses e a China está a construir
oleodutos e portos. Há uma poderosa dinâmica de interesses econômicos mútuos
que não será perturbada por uma disputa ( FT, 02/Dez/2011, p.2). A crítica de
Clinton dos investimentos da China, de milhares de milhões de dólares, na
infraestrutura de Myanmar é um dos mais bizarros da história mundial, vindo na
seqüência dos oito anos de presença militar brutal de Washington no Iraque a
qual destruiu US$500 mil milhões de infraestrutura iraquiana, segundo
estimativas oficiais de Bagdá.
Só uma administração iludida poderia imaginar que
umas flores de retórica, uma visita de três dias e o financiamento de uma ONG
são um contrapeso adequado aos profundos laços econômicos que ligam Myanmar à
China. O mesmo posicionamento ilusório acompanha todo o repertório de políticas
que informam os esforços do regime Obama para deslocar o papel predominante da
China na Ásia.
Se bem que a política adotada pelo regime Obama não
apresente, em si mesma, uma ameaça imediata à paz, o impacto acumulado de todos
estes pronunciamentos políticos e projeções de poder militar desenvolvem-se
como um esforço abrangente total para isolar, intimida e degradar a ascensão da
China como uma potência regional e global. O cerco militar e as alianças, a
exclusão da China nas associações econômicas regionais propostas, a intervenção
com tomada de partido em disputas marítimas regionais e o posicionamento de
aviões de guerra tecnologicamente avançados, estão destinados a minar a
competitividade da China e a compensar a inferioridade econômica dos EUA
através de redes políticas e econômicas fechadas.
Os movimentos militares e econômicos da Casa Branca
e a demagogia anti-chinesa no Congresso dos EUA são claramente destinados a
enfraquecer a posição comercial da China e a obrigar seus líderes voltados para
os negócios a privilegiarem interesses da banca e dos negócios dos EUA além das
suas próprias empresas. Levada aos seus limites, a prioridade de Obama à grande
pressão militar poderia levar a uma ruptura catastrófica nas relações
econômicas EUA-China. Isto resultaria em conseqüências calamitosas,
especialmente mas não exclusivamente, na economia dos EUA e particularmente no
seu sistema financeiro. A China possui mais de US$1,5 milhão de milhões de
dólares em dívida americana, principalmente Títulos do Tesouro, e compra a cada
ano de US$200 a US$300 mil milhões de novas emissões, uma fonte vital no
financiamento do déficit dos EUA. Se Obama provocar uma ameaça grave aos
interesses da segurança China e Pequim for forçada a responder, a retaliação
não será militar mas sim econômica: a liquidação de umas poucas centenas de
milhares de milhões de títulos do tesouro e a redução de novas compras de
dívida estado-unidense.
O déficit dos EUA disparará, suas classificações de
crédito descerão para a categoria "lixo" e o sistema financeiro
tremerá à beira do colapso. As taxas de juro para atrair novos compradores de
dívida dos EUA aproximar-se-ão dos dois dígitos. As exportações chinesas para
os EUA sofrerão e verificar-se-ão perdas devido à desvalorização dos Títulos do
Tesouro em mãos chinesas. A China diversificou seus mercados por todo o mundo e
o seu enorme mercado provavelmente poderia absorver a maior parte do que a
China perdesse no exterior no caso de um recuo do mercado estado-unidense.
Enquanto Obama vaga pelo Pacífico a anunciar suas
ameaças militares à China e se esforça para isolar economicamente a China do
resto da Ásia, a presença econômica dos EUA está a desvanecer-se rapidamente do
que costumava ser o seu "quintal". Citando um jornalista do Financial
Times: "A China é o único espetáculo para a América Latina" (
Financial Times, 23/Nov/2011, p.6). A China deslocou os EUA e a UE com principal
parceiro comercial da América Latina; Pequim despejou milhares de milhões em
novos investimentos e proporciona empréstimos com juros baixos.
O comércio da China com a Índia, Indonésia, Japão,
Paquistão e Vietnã está a aumentar a uma taxa muito mais rápida do que a dos
EUA. O esforço estado-unidense para construir uma aliança de segurança na Ásia
centrada no império baseia-se em fundamentos econômicos frágeis. Mesmo a
Austrália, a âncora e fulcro do ímpeto militar dos EUA na Ásia, está
pesadamente dependente de exportações minerais para a China. Qualquer
interrupção militar remeteria a economia australiana para um mergulho.
A economia dos EUA não está em condições de
substituir a China como mercado para exportações de mercadorias asiáticas ou da
Austrália. Os países asiáticos devem estar agudamente conscientes de que não há
vantagem futura em ligarem-se a um império, altamente militarizado, em
declínio. Obama e Clinton enganam-se a si próprios se pensam que podem atrair a
Ásia para uma aliança a longo prazo. Os asiáticos estão simplesmente a utilizar
as aberturas amistosas do regime Obama como um "dispositivo táctico",
um truque negocial, para conseguirem melhores termos para assegurar fronteiras
marítimas e territoriais com a China.
Washington está iludida se acredita que pode
convencer a Ásia a romper laços econômicos lucrativos a longo prazo e de grande
escala com a China a fim de aderir a uma associação econômica exclusiva com tão
dúbias perspectivas. Qualquer "reorientação" da Ásia, desde a China
até os EUA, exigiria mais do que a presença de força naval e aerotransportada
apontada para a China. Exigiria a reestruturação tal das economias dos países
asiáticos, da estrutura de classe e da elite militar. Os mais poderosos grupos
empresariais da Ásia têm profundas e crescentes ligações com a China/Hong Kong,
especialmente entre as dinâmicas elites de negócios transnacionais chinesas na
região. Uma viragem em direção a Washington implica uma contra-revolução
maciça, que substitua "compradores" coloniais por empresários estabelecidos.
Quando muito alguns oficiais militares asiáticos treinados nos EUA, economistas
e antigos financeiros da Wall Street e bilionários podem procurar
"equilibrar" uma presença militar estado-unidense com poder econômico
chinês, mas eles devem perceber que em última análise a vantagem está em
desenvolver uma solução asiática.
A era dos "capitalistas compradores"
asiáticos, desejosos de liquidar a indústria nacional e a soberania em troca de
acesso privilegiado a mercados dos EUA, é história antiga. Qualquer que seja o
ilimitado entusiasmo por consumismo de luxo e estilos de vida ocidentais, os
quais os novos ricos da Ásia e da China celebram descuidadamente, qualquer que
seja a aceitação das desigualdades e da exploração capitalista selvagem do
trabalho, há o reconhecimento de que a história passada da dominação
estado-unidense e européia impediu o crescimento e o enriquecimento de uma
burguesia e classe média indígenas. Os discursos e pronunciamentos de Obama e
Clinton exalam nostalgia por um passado de supervisores neocoloniais e
compradores colaboracionistas - uma ilusão tola. Suas tentativas de realismo
político assumem uma feição bizarra ao imaginarem que posicionamentos militares
e projeções de força armada reduzirão a China a um ator marginal na região.
A escalada
da confrontação de Obama em relação à Rússia
O regime Obama lançou uma grande investida militar
frontal sobre as fronteiras da Rússia. Os EUA avançaram sítios de mísseis e
bases da Força Aérea na Polônia, Romênia, Turquia, Espanha, República Checa e
Bulgária: complexos de mísseis antiaéreos Patriot PAC-3 na Polônia; radar
avançado AN/PPY-2 na Turquia e vários mísseis (SM-3 IA) embarcados em navios de
guerra na Espanha estão entre as armas mais importantes que cercam a Rússia, a
maior apenas a minutos do seu alvo estratégico. Em segundo lugar, o regime
Obama fez um enorme esforço para assegurar e expandir bases militares dos EUA
na Ásia Central entre antigas repúblicas soviéticas. Em terceiro, Washington,
através da OTAN, lançou grandes operações econômicas e militares contra os
principais parceiros comerciais da Rússia na África do Norte e Médio Oriente. A
guerra da OTAN contra a Líbia, que derrubou o regime Kadafi, paralisou ou
anulou investimentos russos de milhares de milhões de dólares em petróleo e
gás, vendas de armas e substituiu o antigo regime amigo da Rússia por um
fantoche da OTAN.
As sanções econômicas ONU-OTAN e a atividade
terrorista clandestina EUA-Israel contra o Irão minaram o lucrativo comércio
nuclear da Rússia, de milhares de milhões de dólares, e empreendimentos
petrolíferos conjuntos. A OTAN, incluindo a Turquia, apoiada pelas ditaduras
monárquicas do Golfo, impuseram duras sanções e financiaram assaltos
terroristas à Síria, o último aliado remanescente da Rússia na região e onde
ela tem a sua única instalação naval (Tartus) no Mar Mediterrâneo. A anterior
colaboração da Rússia com a OTAN enfraquecendo a sua própria posição econômica
e de segurança é produto da monumental má interpretação da OTAN e especialmente
das políticas imperiais de Obama. O presidente russo Medvedev e seu antigo
ministro dos Estrangeiros, Sergey Lavrov, assumiram erradamente (tal como
Gorbachev e Yeltsin antes deles) que apoiar políticas da OTAN contra parceiros
comerciais da Rússia resultaria em alguma espécie de "reciprocidade".
o desmantelamento americano da sua ofensiva "missile shield" nas suas
fronteiras e apoio para a admissão da Rússia na Organização Mundial do
Comércio. Medvedev, seguindo suas liberais ilusões pró ocidentais, entrou na
linha e apoiou sanções estado-unidenses-israelenses contra o Irã, acreditando
nos contos de um "programa de armas nucleares". A seguir Lavrov
entrou na linha da OTAN de "zonas de interdição de vôo para proteger vidas
de civis líbios" e votou a favor, só com um "protesto" delicado,
demasiado tardio, de que a OTAN estava a "exceder o seu mandato" ao
bombardear a Líbia, regredi-la à Idade Média e instalar um regime fantoche pró
OTAN de patifes e fundamentalistas. Finalmente, quando os EUA apontaram um
punhal ao coração da Rússia, fazendo um enorme esforço para instalar sítios de
lançamento de mísseis a 5 minutos de Moscou ao mesmo tempo que organizava
assaltos armados à Síria, a dupla Medvedev-Lavrov acordou do seu estupor e
opôs-se a sanções da ONU. Medvedev ameaçou abandonar o tratado de redução de
mísseis nucleares (START) e colocar mísseis de médio alcance a 5 minutos de
Berlim, Paris e Londres.
A política de consolidação e cooperação de
Medvedev-Lavrov, baseada na retórica de Obama de "redefinição de
relações" ("resetting relations") encoraja a agressiva
construção do império: Cada capitulação levava a uma nova agressão. Em
conseqüência, a Rússia está cercada por mísseis na sua fronteira ocidental; ela
sofreu perdas entre os seus principais parceiros comerciais no Médio Oriente e
enfrenta bases dos EUA no Sudoeste e na Ásia Central.
Tardiamente responsáveis russos mexeram-se para
substituir o iludido Medvedev pelo realista Putin, como presidente seguinte.
Esta mudança para uma política realista previsivelmente provocou uma onda de
hostilidade a Putin em todos os media ocidentais. A agressiva política de Obama
para isolar a Rússia através da minagem de regimes independentes não afetou,
contudo, o status da Rússia como potência com armas nucleares. Ela apenas
aumentou tensões na Europa e talvez tenha encerrado qualquer oportunidade futura
de redução pacífica de armas nucleares ou esforços para assegurar um consenso
no Conselho de Segurança da ONU sobre questões de resolução pacífica de
conflitos. Washington, sob Obama-Clinton, transformou a Rússia de um cliente
acomodatício num grande adversário.
Putin encara o aprofundamento e expansão de laços
com o Leste, nomeadamente a China, face às ameaças do Ocidente. A combinação de
tecnologia de armas avançadas e recursos energéticos russos e de dinâmica
manufatureira e crescimento industrial chinês são mais do que suficientes para
as economias infestadas de crise dos EUA e da UE a chafurdarem na estagnação.
A confrontação militar de Obama contra a Rússia
prejudicará muito acesso da mesma a matérias-primas e impedirá definitivamente
qualquer acordo estratégico de segurança a longo prazo, o qual seria útil para
reduzir o déficit e reviver a economia estado-unidense.
Entre
realismo e ilusão: O realinhamento estratégico de Obama
O reconhecimento de Obama de que o centro presente
e futuro da política e do poder econômico está a mover-se inexoravelmente para
a Ásia foi um lampejo de realismo político. Depois de durante uma década
despejar centenas de milhares de milhões de dólares em aventuras militares nas
margens e na periferia da política mundial, Washington finalmente descobriu que
não é o lugar onde o destino das nações, especialmente as Grandes Potências,
será decidido, exceto num sentido negativo - de sangria recursos sobre causas
perdidas. O novo realismo e prioridades de Obama aparentemente estão centrados
no Sudeste e Nordeste da Ásia, onde economias dinâmicas florescem, mercados
estão em crescimento a uma taxa com dois dígitos, investidores preparam dezenas
de milhares de milhões de atividade produtiva e o comércio expande-se três
vezes mais do que o dos EUA e da UE.
Mas o "Novo realismo" de Obama é
destruído por suposições totalmente ilusórias, as quais minam quaisquer
esforços sérios para realinhar a política dos EUA.
Em primeiro lugar, o esforço de Obama para
"entrar" na Ásia é através de uma acumulação de meios militares e não
através de um aperfeiçoamento e melhoria da competitividade econômica
estado-unidense. O que é que os EUA produzem para os países asiáticos que
promova sua fatia de mercado? Além de armas, aviões e agricultura, os EUA têm
poucas indústrias competitivas. Os EUA teriam de reorientar amplamente sua
economia, melhorar o trabalho qualificado e transferir milhares de milhões da
"segurança" e do militarismo para a aplicação de inovações. Mas Obama
trabalha dentro do atual complexo financeiro militarista-sionista. Ele não
conhece qualquer outro e é incapaz de romper com ele.
Em segundo lugar, Obama-Clinton operam sob a ilusão
de que os EUA podem excluir a China ou minimizar o seu papel na Ásia, uma
política que é enfraquecida pelo investimento enorme e crescente, e a presença,
de todas as grandes corporações multinacionais dos EUA na China, as quais a
utilizam como uma plataforma de exportação para a Ásia e o resto do mundo.
A acumulação militar dos EUA e a sua política de
intimidação forçarão a China a reduzir o seu papel como credor que financia a
dívida estado-unidense, uma política que a China pode realizar porque o mercado
dos EUA, se bem que ainda importante, está em declínio, pois a China expande a
sua presença no seu mercado interno e nos da Ásia, América Latina e Europa.
O que antes parecia ser Novo realismo revela-se
agora ser a reciclagem de Velhas ilusões. A noção de que os EUA podem voltar a
ser a Potência suprema no Pacífico era do pós Segunda Guerra Mundial. As tentativas
dos EUA sob Obama-Clinton para retornar à dominação do Pacífico, com uma
economia avariada, com o fardo de uma economia super-militarizada e com grandes
desvantagens estratégicas: Ao longo da última década a política externa dos
Estados Unidos esteve nas mãos da quinta coluna de Israel (o "lobby"
israelense). Toda a classe política estado-unidense é destituída de senso
comum, prático e projeto nacional. Eles estão imersos em debates trogloditas
sobre "detenções indefinidas" e "expulsões em massa de
imigrantes". Pior: estão todos nas folhas de pagamento de corporações
privadas que vendem nos EUA e investem na China.
Por que Obama renunciaria a guerras custosas na
periferia não lucrativa e a seguir promoveria a mesma metafísica militar no
centro dinâmico do universo econômico mundial? Será que Barack Obama e seus
conselheiros acreditam que ele é o Segundo Advento do Almirante Perry, cujos
navios de guerra no século XIX através de bloqueios obrigaram a Ásia a abrir-se
ao comércio ocidental? Acreditará ele que alianças militares serão a primeira
etapa para um período subseqüente de presença econômica privilegiada?
Acreditará Obama que o seu regime pode bloquear a
China, tal como Washington fez com o Japão nos dias que precederam a Segunda
Guerra Mundial? É demasiado tarde. A China é muito mais central para a economia
do mundo, demasiado vital mesmo para o financiamento da dívida dos EUA,
demasiado soldada às corporações multinacionais do Forbes 500. Provocar a
China, mesmo fantasiar acerca da "exclusão" econômica para deitar
abaixo a China, é perseguir políticas que abalarão totalmente a economia
mundial, em primeiro lugar e acima de tudo a economia dos EUA!
Conclusão
O "realismo de pacotilha" de Obama, sua
comutação das guerras no mundo muçulmano para a confrontação militar na Ásia,
não tem valor intrínseco e coloca custos extrínsecos extraordinários. Os
métodos militares e os objetivos econômicos são totalmente incompatíveis e para
além da capacidade dos EUA, como estão atualmente constituídos. As políticas de
Washington não "enfraquecerão" a Rússia ou a China, muito menos a
intimidarão. Ao invés disso, irá encorajar ambos a adotarem posições mais
adversas, tornando menos provável que ajudem as guerras seqüenciais de Obama em
proveito de Israel. A Rússia já enviou navios de guerra ao seu porto na Síria,
recusou-se a apoiar um embargo de armas contra a Síria e o Irão e (em
retrospectiva) criticou a guerra da NATO contra a Líbia. A China e a Rússia têm
demasiados laços estratégicos com a economia do mundo para sofrerem quaisquer
grandes perdas de uma série de postos avançados militares dos EUA e de alianças
"exclusivas". A Rússia pode apontar tantos mísseis nucleares para o
ocidente quanto os EUA podem montá-los nas suas bases na Europa do Leste.
Por outras palavras, a escalada militar de Obama
não mudará o equilíbrio de poder nuclear, mas levará a Rússia e a China para
uma relação mais estreita e aliança mais profunda. Ultrapassados estão os dias
da estratégia "divida e conquista" de Kissinger-Nixon contrapondo
acordos comerciais EUA-China contra armas russas. Washington exagerou
totalmente a significância das atuais querelas marítimas entre a China e seus
vizinhos. O que os une em termos econômicos é muito mais importante no médio e
longo prazo. As ligações econômicas asiáticas da China desgastarão quaisquer
tênues ligações militares aos EUA.
O "realismo de pacotilha" de Obama vê o
mercado mundial através de lentes militares. A arrogância militar em relação à
Ásia levou à ruptura com o Paquistão, seu regime cliente mais dócil na Ásia. A
NATO deliberadamente chacinou 24 soldados paquistaneses e esfregou-os no nariz
dos generais paquistaneses, ao passo que a China e a Rússia condenaram o ataque
e ganharam influência.
No final das contas, o posicionamento militar e
excludente da China fracassará. Washington exagerou a sua mão e afugentaram da
sua anterior orientação para os negócios os parceiros asiáticos, os quais só
querem utilizar a presença militar dos EUA para ganharem vantagem econômica
táctica. Eles certamente não querem uma nova "Guerra fria" instigada
pelos EUA que divida e enfraqueça o dinâmico comércio e investimento intra-asiático.
Obama e os seus apaziguados aprenderão rapidamente que os atuais líderes da
Ásia.
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