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domingo, 22 de janeiro de 2012

Uma sombra bélica paira sobre o Irã

Por: Rebelión

Desde o verão passado estão sucedendo acontecimentos que situam o Irã no centro de uma estratégia, que coloca o país às portas de um perigoso cenário bélico, e inclusive, diante de uma possível agressão militar dos Estados Unidos e de Israel. Durante os últimos meses, a maioria das acusações contra o Irã se basearam em fatos e informações que, com o passar do tempo, demonstraram ser falsas, mas serviram para atacar dialeticamente ou com sanções àquele país.

Primeiro foi o suposto complô iraniano para acabar com a vida do embaixador saudita nos Estados Unidos (típico de uma tragédia de Hollywood); depois foram as acusações de que Teerã estava por trás dos protestos populares no Bahrein (posteriormente, um relatório do próprio governo local desmentiria essa teoria); recentemente o Organismo Internacional de Energia Atômica (OIEA) publicou um relatório que serviu de desculpa para que, tanto os Estados Unidos como a Grã-Bretanha, intensificassem sua campanha de sanções econômicas e diplomáticas contra o Irã.

Posteriormente, a ocupação da embaixada britânica em Teerã provocou a expulsão dos diplomatas iranianos da Grã-Bretanha. Tempos depois, algumas notícias não confirmadas, apontavam duas importantes explosões na cidade de Isfahan, que supostamente tinham atingido as instalações nucleares próximas a essa cidade iraniana.

A última desculpa que Washington e seus aliados utilizaram foi o relatório da AIEA sobre o programa nuclear iraniano. Importantes especialistas e analistas do mundo inteiro colocaram em dúvida o relatório, alegando que o fundamento do mesmo estava baseado em informações procedentes de alguns serviços secretos de países nada próximos ao regime de Teerã. Além disso, algumas fotografias divulgadas são do início da década atual, ou mencionam mísseis que o Irã abandonou há muitos anos, ou tenta vincular um especialista que trabalhou no país nos anos 90 com o programa nuclear.

Segundo essas fontes, a maior parte do relatório se refere a atividades anteriores a 2003, obviando o que a própria inteligência norte-americana reconheceu em 2007, que o programa nuclear iraniano tem sido "pacífico desde 2003" e ocultando intencionalmente a colaboração que o governo iraniano esteve mantendo com a citada agência. Tudo indica que a AIEA não contrastou a informação fornecida por alguns governos (chamada por alguns de desinformação), mas seu relatório serviu para aumentar a pressão em torno ao Irã através de sanções (o que alguns definem como uma verdadeira guerra econômica).

Os Estados Unidos aproveitaram com rapidez esta nova conjuntura. As pressões dos chamados gaviões da política exterior estadunidense, e do próprio Congresso, junto com as eleições presidenciais do próximo ano, contribuíram para que a administração de Obama aplicasse um novo pacote de sanções contra o Irã. O fato de que nesta ocasião se insista em uma suposta rejeição do petróleo e do gás iraniano, pode deixar terceiros países em uma situação complicada, aliados dos Estados Unidos, mas que dependem do fornecimento iraniano (na Europa, Grécia, Itália e Espanha, e na Ásia, Japão, Coreia do Sul ou Índia, além do gás iraniano comprado pela Turquia). E tudo isso sem esquecer que a China possui importantes acordos comerciais com Teerã.

Não demorou muito para que Londres se unisse a esse roteiro contra o Irã. As sanções financeiras sob a desculpa do relatório da AIEA foram detonantes dos acontecimentos posteriores que ocasionaram o fechamento da embaixada em Teerã e a expulsão de todos os diplomatas iranianos do Reino Unido. As posteriores manifestações no Irã, inclusive a ocupação da embaixada, devem ser enquadradas nesse contexto e em uma história de enfrentamentos e desconfianças entre os dois países. A população iraniana não se esquece do papel que Londres desempenhou no "golpe de estado contra Mohammed Mosaddeq e todos os crimes do velho colonialismo britânico contra o Irã".

Por isso, muitos são os que veem nestas manobras uma evidente tentativa de "mudança de regime", ainda mais pouco depois do que aconteceu na Líbia, ou o que estão tentando repetir na Síria. Contudo, a maioria dos analistas coincidem em afirmar que a situação não é a mesma no Irã e dificilmente vai se repetir o mesmo roteiro. Ao contrário, são cada vez mais as vozes que dizem que esta campanha de isolamento contra Teerã está dirigida a aumentar a "iranofobia", como prévio passo para outro tipo de ação contra o país.

A campanha de guerra psicológica e bélica contra o Irã está em funcionamento. Por um lado está a parte mais visível e retórica, com ataques e acusações públicas e, sobretudo, com uma constante ameaça de passar das palavras aos fatos. Mas, por outro lado, está a guerra encoberta ou suja que os Estados Unidos e Israel estão praticando há muito tempo contra o Irã. Sabotagens industriais, guerra cibernética ou eliminação física de personalidades iranianas ligadas ao programa nuclear ou à instituição militar são alguns aspectos desta estratégia.

Apesar da resposta do Irã ser comedida, evitando uma escalada bélica ou uma resposta que sirva de desculpa para uma agressão a grande escala, isso não evitou que o governo iraniano tenha desmantelado nos últimos meses uma importante rede de espionagem que trabalhava para os Estados Unidos, sendo um duro golpe para a CIA no país e na região. Os dirigentes iranianos consideram vários cenários em torno a uma agressão militar dos Estados Unidos. Um ataque aéreo a grande escala, seguido de uma operação terrestre; uma agressão limitada para forçar o Irã a negociações desvantajosas; ou uma guerra encoberta para debilitar a capacidade operativa militar iraniana. O terceiro cenário (uma guerra de inteligência) é o que consideram em Teerã, onde a organização de uma guerra psicológica buscaria "eliminar algumas das possibilidades que o Irã tem hoje" em uma hipotética futura negociação".

Também nos escritórios norte-americanos, há um certo tempo já se analisam as consequências de uma agressão militar contra o Irã, e a maioria dos assessores da administração coincidem em ressaltar que um ataque israelense "seria dez vezes pior" do que um dos Estados Unidos. As hipotéticas respostas do Irã inquietam Washington, onde consideram um leque de cenários. Um ataque iraniano contra as instalações petrolíferas da Arábia Saudita (próximas a um levantamento xiita na região), sob o pretexto de que Israel teria usado o espaço aéreo saudita para o ataque; ataques contra o território israelense e contra instalações militares, criando um clima de insegurança em Israel; converter o Iraque e o Afeganistão em um barril de pólvora, com as dramáticas consequências que isso traria para as forças ocidentais, são algumas das hipóteses que preocupam muito os impulsionadores do atual roteiro contra o Irã.

O cenário internacional está se movendo em torno dessas hipóteses. O domínio regional tem muitos pretendentes (Irã, Arábia Saudita, Turquia ou Egito) e as alianças nesse contexto são evidentes. O pulso que o Irã mantém com os Estados Unidos, com Israel e com a Arábia Saudita se apresenta em diversos lugares, da Síria ao Líbano, passando pelo Iraque ou Afeganistão. A desculpa atual, em torno à capacidade nuclear do Irã, cairia por si só, sobretudo se vemos o duplo padrão frente a Israel (não firmou o tratado de não-proliferação de armas nucleares, impede qualquer inspeção internacional, e sua capacidade quantitativa é muito maior e mais perigosa).

A queda da Síria debilitaria o Irã, que perderia um aliado estratégico, e as sabotagens e a guerra suja buscariam uma maior vulnerabilidade de Teerã na configuração do novo panorama regional. Em um relatório recente, afirmava-se que os Estados Unidos têm três opções: aceitar o programa nuclear iraniano, tentar um acordo sobre o uso pacífico do mesmo, ou uma ação bélica. Provavelmente, das três, talvez esta última seja o que acarrete as consequências mais terríveis e imprevisíveis, e por isso seria a opção a ser evitada. Entretanto, a sombra bélica continua pairando sobre o Irã, conforme um roteiro elaborado há muito tempo em Washington ou Tel Aviv.

Fonte:
http://multimedia.telesurtv.net/pt/opinion/uma-sombra-belica-paira-sobre-o-ira/

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