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terça-feira, 16 de agosto de 2016

OS GOLPISTAS DO IMPEACHMENT FORAM OS DENFESORES DO GOLPE DE ESTADO EM HONDURAS - QUEM APOIOU GOLPISTAS, GOLPISTAS HOJE SÃO.



POR: LUIS CARLOS

PARTE I - GOLPE DE ESTADO EM HONDURAS

PRETEXTO DO GOLPE: CONSULTA POPULAR, REFERENDO OU PLEBISCITO?

A pedra fundamental sobre a qual gira o pretexto golpista e todos os acontecimentos desestabilizadores do Golpe de Estado em Honduras, contra o governo constitucionalmente eleito de Manuel Zelaya, foi uma Enquete Nacional de Opinião, ou seja, o subterfúgio para o golpe não foi nem um "referendo" ou muito menos um "plebiscito", como apregoaram os jornais Hondurenhos e internacionais, em especial, dos meios de comunicações brasileiros, porque diferente desses últimos instrumentos de consultas, a enquete não é vinculante, em outras palavras, não era uma decisão tomada pelo povo no sentido de determinar um processo direto de Assembleia Constituinte, senão uma opinião, simples assim.

O documentário, "Golpe de Estado en Honduras - TV Congreso", esclarece o acontecimento dizendo que (1):
"A justificativa para o Golpe de Estado do governo de Zelaya foi a consulta cidadã de 28 de junho, pois, se esperava instalar uma quarta urna na forma de consulta sem carácter vinculante, ou seja, sem nenhum valor legal, para conhecer o que pensava o povo hondurenho sobre convocar a uma assembleia constituinte. O presidente Zelaya por insistir na instalação das urnas, depois do translado do material, dias antes do golpe, foi duramente condenado, ameaçando-o duramente de sair, violentamente, da presidência. Por ele Manuel Zelaya teve de destituir o chefe de Estado Maior Conjunto, general [Vasques], e aceitar a denuncia do ministro de defesa por desafiar o poder executivo. Os latifundiários, os setores que obedecem a direita liberal, não viam com bons olhos as medidas de um presidente populista, que favorecia as maiorias. Na manhã de 28 de julho, Honduras aplicaria uma consulta que mediria a aceitação da população quanto a uma Assembleia Constituinte, que se aceitada, deveria reformar a Constituição Politica de Honduras, vigente desde 1982. Zelaya não acredita como uma consulta não vinculante pudesse causar um Golpe de Estado. (...). A consulta foi rechaçada pelo Tribunal Superior Eleitoral, o Ministério Publico e a Corte Suprema de Justiça. Não obstante, o presidente Zelaya continuou com a mesma, já que segundo ele, a consulta não era vinculante, portanto, sem um valor legal, e unicamente, teria o objetivo de medir a intenção dos hondurenhos. Um setor da imprensa hondurenha considerava que o Congresso, Tribunal Superior Eleitoral, Ministério Público e a Corte Suprema trabalhavam conjuntamente para gestar este Golpe de Estado, pouco convencional, porém, que ao final estava apoiado na força militar".
José María Rodríguez González, em "DE CARGOS ILEGALES AL GOLPE MILITAR EN HONDURAS", explica que o Decreto Executivo Número PCM-020-2009, que continha a seguinte indagação ,

¿Está de acuerdo que en las elecciones generales del 2009 se instale una Cuarta Urna en la cual el pueblo decida la convocatoria a una Asamblea Nacional Constituyente?

Si___ No___

era uma pergunta clara e direta que buscava indagar duas coisas: primeira, sobre uma quarta urna, e segundo, em caso de aceitação, decidir ali se se convocaria ou não a uma Assembleia Constituinte.

E, continua expondo, que a Enquete Nacional de Opinião não foi sobre uma Assembleia Constituinte, isto é, não era uma “votação” para convocar a uma Assembleia Constituinte, nem sobre mudar algum artigo pétreo da Constituição, nem sobre a reeleição do presidente, senão única e exclusivamente para conhecer a opinião dos cidadão sobre a possibilidade de agregar uma quarta urna de votação ou não: "Em nenhum momento o presidente Zelaya propõe uma Assembleia Constituinte, o que propunha é perguntar-lhes aos hondurenhos se querem ou não fazer uma votação para nela decidir si se faz ou não uma Assembleia Constituinte" (2).

Ninguém, prossegue, tinha por que deter um processo administrativo normal ou um procedimento legal, se não está impedido pela Constituição ou por nenhuma outra lei hondurenha. Os que se aferraram ao poder hegemônico sobre Honduras e se aterrorizaram por ter que compartilhar o poder com outros, quiseram transformar essa pergunta do decreto em um corpo de delito que jamais se cometeu. E foram eles os que se dedicaram a fabricar ao redor deste, com a maior diligencia e velocidade, todas as especulações imagináveis para criminalizar ao titular do Poder Executivo, e neste sentido:
"Todos os hondurenhos informados sabem que a Constituição e a lei não proíbem uma Enquete Nacional de Opinião organizada pelo Poder Executivo. Suspender a Enquete Nacional de Opinião é produto de uma falha ilegal e declara-la ilegal é uma monstruosidade jurídica (...) portanto, não existe nenhuma vinculação para seguir-la e ninguém em Honduras ficou obrigado a obedecer uma ordem juridicamente corrupta e completamente irracional; O Juzgado de Letras de lo Contencioso Administrativo” ignora que uma Enquete Nacional de Opinião administrativa, pelo Poder Executivo, não está proibida pela constituição nem pela lei. E que não é o presidente Zelaya quem decide sobre a convocatória de uma Assembleia Constituinte, senão o constituinte primário, os cidadão hondurenhos.
A Corte Suprema de Justiça ao se reger pelos ditames das dez famílias mais poderosas, que manejam Honduras, pela hierarquia religiosa e militar e pelo Presidente do Congresso que o elegeu, e de conformidade com essa dependência, decidiram dar o passo final: Declarar ilegal a Consulta Nacional de Opinião e fazer confluir a esta decisão todas as suposições ilegais havidas e por haver, fazendo-a parecer como uma violação do artigo 239 para dar validez ao argumento que justificaria o golpe militar como uma "sucessão" de governo. Essa foi a parte do plano do golpe militar ao qual se prestou o sistema de justiça de Honduras"
Um informe jurídico apresentado por Enrique Santiago, Portal de Rebelión, dissipa qualquer dúvida sobre o tema (3). Segundo Santiago, o artigo 5 da Constituição de Honduras institui como mecanismo de consulta aos cidadãos o “referendum” - definido este como retificação ou desaprovação pela cidadania de uma lei ordinária, norma constitucional o reforma constitucional – e o plebiscito – definido como pronunciamento sobre aspectos constitucionais, legislativos ou administrativos, sobre os quais os poderes constituídos não têm tomado nenhuma decisão previa. Nada impede, portanto, que com fundamento na Lei de Participação Cidadão de Honduras, o Presidente da República encargue ao Instituto Nacional de Estatística a realização de uma Pesquisa ou Consulta sem carácter vinculante. Recorde-se que por norma constitucional, o resultado de um Referendum o de um Plebiscito teria força imperativa e seria vinculante para os poderes públicos. Em síntese, conclui: “Acrescentar o artigo 5 da Constituição de Honduras que “corresponde unicamente ao Tribunal Superior Eleitoral convocar, organizar e dirigir as consultas aos cidadãos, assinaladas nos parágrafos anteriores (referendum e plebiscito vinculante)”.

O professor da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, Edmundo Orellana, em 27 de setembro de 2009, apresentou uma analise jurídica sobre a consulta e da QUARTA URNA (4). Nela, assim como Enrique Santiago, citado acima, mostra também uma argumentação, síntese, simples e contundente:
“O Presidente Zelaya optou por um caminho diferente. Em lugar de remeter o projeto de lei ao ao Congresso Nacional para que este decidisse em aprová-lo ou não (questão que constitucionalmente podia, assim como fizeram o Partido Nacional e a UD), preferiu perguntar-lhe ao povo se queria essa QUARTA URNA, para que, em caso de que o resultado fosse positivo, ter a justificativa suficiente para remeter o projeto de lei respectivo ao Congresso Nacional.
O presidente José Manuel Zelaya Rosales, em Conselho de Ministros, decidiu levar a cabo a consulta popular. O Decreto PCM-005-2009 aprovado teria as características seguintes: perguntar ao povo hondurenho se estava de acordo que nas eleições de novembro se colocasse uma urna a mais, ao lado das três que correspondem ao Presidente, aos Deputados e aos Prefeitos, com o objetivo de consultar-lhe se queria que, no seguinte período presidencial, se convocasse a uma Assembleia Nacional Constituinte”.
Citando novamente a Enrique Santiago para esclarecer que o artigo 5 da Constituição (amplamente divulgado pelos golpistas como desculpa para incriminar Manuel Zelaya) não invalidava a competência de outros órgãos quanto a aplicação da enquete de opinião (5):
“Pelo anterior, a conclusão evidente no Direito é que a convocatória de uma consulta distinta das reguladas, no artigo 5 da Constituição hondurenha, não invalida nem as competências dos órgãos constitucionais com capacidade para convocar o Plebiscito ou o referendo, nem muito menos pode considerar-se, numa democracia, como um “delito” a mera vontade de conhecer a opinião da cidadania, máxima quando não existe norma jurídica expressa no ordenamento hondurenho que impeça realizar tais consultas. Ao respeito, seria de aplicação o principio de legalidade penal, assim como o principio geral do direito de miníma intervenção do direito penal”.
A Enquete Nacional de Opinião, antes de vir a luz do dia, por meio de um decreto presidencial, que nem chegou a ser publicado em Diário Oficial, para se tornar efetivamente uma lei, tinha sido corroborada por 400.000 assinaturas colhidas pelos movimentos sociais e populares da classes trabalhadoras do país, como por exemplo, o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas das Honduras (COPINH).

Em um ato público realizado pelos movimentos sociais e populares e demais setores da sociedade civil favoráveis a consulta, discursou a filha do presidente, XIOMARA HORTENCIA ZELAYA CASTRO (6):
"A proposta de Consulta Popular foi arrebatada em forma impressionante pelo povo hondurenho e é deles (400.000 hondurenhos tem "firmado" com sua assinatura e célula de identidade a proposta). O presidente junto a seu povo vai levar a luta até o final. Se não tivéssemos o respaldo do povo estaríamos debilitados e sem moral. Porém, temos o apoio e o povo (...). Esta luta e a participação não é algo que eu, como filha do presidente, deseje ao povo hondurenho, senão algo que devemos reivindicar".
A essa altura já podemos identificar e reconhecer que a conspiração para o Golpe de Estado em Honduras implicou, no dizer de Omar Menjívar Rosales (7), no conluio coordenado das instituições chaves do Estado, como Congresso Nacional, Ministério Público, Procurador-Geral da República, Judiciário, Associação (Comissário) Nacional dos Direitos Humanos, Tribunal Superior Eleitoral, e por fim, das Forças Armadas.

Segundo Leticia Salomón (8), todas as instituições públicas do Estado estavam altamente partidarizadas e seus representantes eram indicados pelo Congresso Nacional, mantendo, consequentemente, relação de dependência direta com os dois principais partidos de Honduras, o Partido Liberal (PLH) e Partido Nacional (PNH). A Suprema Corte de Justiça contava com 8 Ministros indicados pelo Partido Liberal (PLH), incluindo seu presidente, e, 7 do Partido Nacional. O Ministério Público tinha o presidente pertencente ao PLN e o adjunto fiscal-geral do Partido Nacional (PNH). A Procuradoria Geral da República tinha como representante um Procurador ligado ao PLN, o Comissariado Nacional dos Direitos Humanos, por sua vez, contava com o Presidente indicado pelo PLN, assim como, o Supremo Tribunal Eleitoral, com um Presidente pertencente ao Partido iberal, com vinculo direto com o presidente do Congresso.

Conforme aponta a mesma pesquisadora acima, a medida que, se avançava a confrontação entre os poderes do Estado, numa evidente crise de ingovernabilidade política, a oposição ao governo Zelaya começou a evidenciar sua estrategia político-militar ao se aproximando do Chefe dos Estado Maio Conjunto, General Romeo Vásquez Velásquez e da Junta de Comandantes, pedindo que não obedecessem as ordens do presidente da Republica. Ao tempo que se negociava com a cúpula militar em privado, colocava na agenda pública, os militares retirados dos anos 80, formados em plena guerra fria, que passaram a incitar a desobediência e fazer chamados a insubordinação dos militares ativos. Aos poucos, se pautou uma agenda mediática de militarização e setores conservadores, de um lado, contra o governo e a favor do golpe, de outro, os grupos contrários, tendo Zelaya a frente. A destituição do Chefe dos Estado Maior Conjunto e a renuncia do Secretariado de Defesa (Edmundo Orellana) foi uma consequência lógica da pressão político-jurídica a que vinha enfrentando os militares durante vários dias de confrontação.

Os partidos políticos hegemônicos, PLH e PNH, contando com seus representantes na Suprema Corte de Justiça, restitui o General ao seu posto e o Congresso Nacional faz o reconhecimento público, convertendo o General em "herói nacional", por desobedecer ao Presidente da República, passando a participar de passeatas e entrevistas, definindo claramente a aliança político-econômico-mediático (9):
"A Junta de Comandantes, constituída pelos Chefes das Forças Armadas e o Inspetor Geral, ademais do próprio Chefe do Estado Maior Conjunto, decidiu envolver-se na confrontação tomando partido pela aliança opositora e executando o Golpe de Estado na manhã de 28 de junho (...) As Forças Armadas conseguiram construir passo a passo uma forte legitimidade diante da sociedade, a medida que apareciam nas pesquisas com um nível de aceitação similar ao da igreja católica. Vê-los nas ruas, ao lado da Polícia, perseguindo e golpeando aos cidadãos hondurenhos que se plantaram para rechaçar o Golpe de Estado, representa um retrocesso grave pelo qual pagarão seu preço diante da história e em face da sociedade".
ESTRATEGIA POLÍTICO-MEDIÁTICA

Estudar (com base ainda nas informações de Leticia Salomón) o Golpe de Estado em Honduras é vê de forma cristalina como os meios de comunicações não passam de meios de propagandas políticas dos partidos de direita do País. Seus principais Jornais, Canais de TVs e Cadeias de Rádio estavam divididos entre Partido Liberal de Honduras (PLH) e o Partido Nacional de Honduras (PNH) (10).

O PLH contava com os canais de televisão (3,5,7) e uma das principais Cadeia de Rádio, ambos pertencentes ao liberal Rafael Ferrari, assim como, o jornal escrito de La Tribuna. Pelo partido PNH, o jornal escrito El Heraldo e La Prensa.

A produção áudio visual dos referidos canais de TVs, Rádios e Jornais é a representação ideológica do golpe e dos partidos políticos fascistas. Para se ter uma ideia, vejamos algumas posições.

Dois itens foram o centro de acusação para o golpe, a consulta popular e "continuísmo" (11).

O El Heraldo, ligado ao PNH, três meses ante do golpe, dizia que a consulta era algo hilariante:
"A pretensão do presidente Manuel Zelaya Rosales de que se instale uma quarta urna nas eleições gerais de novembro, na forma de realizar um referendo para que a população diga se está de acordo ou não com que se reforme a Constituição da Republica, tem causado risos entre alguns congressistas".
O continuísmo foi colocado na ordem de acusações durante os futuros três meses. Não obstante, e ao contrario do que afirma-se, a reivindicação da quarta urna pelo governo não visava a "eternização no poder". O que se pretendia era consultar aos hondurenhos, no dia 29 de junho, se “nas próximas eleições de novembro se agregava uma urna a mais, para perguntar se queria que uma Assembleia Nacional Constituinte redatasse uma nova Constituição".

As eleições seriam em Dezembro e nela se escolheria o novo presidente, que depois de assumir o poder, poderia, caso um projeto de lei que contemplasse a opinião do povo na consulta, fosse aceito pela votação da maioria dos congressistas, sobre uma Assembleia Constituinte.
“Porém, igualmente, encontramos nesta nota o tema da reeleição presidencial, que será utilizado como aríete, numa campanha que se tornou francamente violenta e desembocou no final de junho num pedido de uma 'jogada final' que emboscaria a consulta popular”.
O Jornal La Tribuna ligado ao PLH, em 25 de junho, se ocupava de dar enfase, sem economizar nas palavras, sobre uma passeata contra a consulta popular: "Se caso houvesse alguma dúvida sobre aonde ia a inclinação da vontade popular, a multitudinária marcha em San Pedro Sula, organizada pelas igrejas evangélicas, de defesa da Constituição, da Paz e da Democracia, é testemunha suficiente". Cita, ademais, mensagem de um reverendo: "Deus estabeleceu a ordem para que possamos viver em sociedade; onde existe a ordem de Deus, onde há desordem brilha a confusão e se brindam os espaços para que o mal governe", e agrega, "Se agora se permite que, sem fundamentos, se produza uma nova Carta Magna, a maldade humana se deleitará em causar o maior dano possível outra vez sobre nossa terra e a trará a prostituição".

No editorial do dia seguinte ao golpe, La Prensa, outro jornal Liberal, conclama a não olhar para trás, dizendo:
"Voltar a vista atrás só nos deve servir para evitar os erros e criar as condições de participação de todas as forças para enfrentar, em diálogo nacional, os graves problemas que têm sido relegado pese ao reclamo da população. É lamentável o sucedido, porem, também é urgente, como desafio da sociedade, recuperar a convivência harmoniosa entre todos os hondurenhos e retornar a calma o antes possível para no fazer mais danos ao país".
No amanhecer do golpe, La Tribuna, por sua vez, dedicava seu titular principal a uma "intromissão de Chávez", que teria causado "alarme nos vastos setores" hondurenhos. Em outros trechos expõe algumas falas do presidente do Congresso Nacional, Roberto Micheletti, "a respeito com que Chávez trata ao povo hondurenho, não vamos o perdoar". E, de um bispo auxiliar de Tegucigalpa, Darwin Andino, dizendo que em Honduras "se está dando" o mesmo que se "tem dado em Venezuela, Bolívia e Equador" ao somar as iniciativas políticas de Chávez" As fotos que acompanham as notas trazem legendas dizendo: "As autoridades de Venezuela, Equador e Bolívia violentam a liberdade de expressão" e "Para alcançar seu objetivo, Hugo Chávez tem fechado meios de comunicações, para calar os jornalistas".
La Prensa se posiciona contra a consulta, trazendo a fala do coordenador do Ministério Público, Rafael Fletes: "se incorre no ilícito de traição a Pátria, cuja pena menor é de dez anos de reclusão". O El Heraldo destaca a fala do fiscal geral do ministério acima referido, Luis Alberto Rubí, o "MP lavrara-se atas por consulta ilegal e processo não transparente".

Mauricio Rodríguez e Yaifred Ron resumem que, mesmo Zelaya tendo dito que "Não governarei nem um dia mais", a respeito de sua proposta de Consulta, os meios não deram trégua e marcharam a ideia do "continuísmo" e "desejo de poder" de Zelaya, inclusive, assinalando que, o que estava em jogo era a liberdade dos hondurenhos, em fim, que o sistema mediático reduziu a proposta a um "afã de perpetuar-se no poder".

PARTICIPAÇÃO DO EUA NO GOLPE DE HONDURAS

A condenação de uma consulta, por meio de uma enquete, foi um pretexto que as classes dominantes encontraram para consolidar-se no poder e não permitir que o poder político do Estado fosse compartilhando com forças progressistas e o povo oprimido, historicamente. Neste sentido, tinha como objetivo evitar que se pudesse ditar uma Constituição que impedisse apoderar-se do petróleo hondurenho, distribuição igualitário do espectro radioelétrico, assim como, uma reforma agraria, dentre outras garantias às classes trabalhadoras e comunidades agrarias.

Nas observações da ex-secretaria do Presidente chileno, Salvador Allende, hoje jornalista (12), "o pretexto para o golpe de Estado foi a consulta sobre a quarta urna, mas o objetivo foi evitar que se pudesse ditar uma Constituição que impedisse apoderar-se do petróleo hondurenho", ademais, da "distribuição igualitária do espectro radioelétrico, garantindo a participação dos grupos comunitários".

Segundo suas apreciações, o interesse do ex-vice-presidente dos EUA Dick Cheney com o petróleo era evidente, já que se sabia um ano antes que Honduras tinha consideráveis reservas petroleiras. Uma empresa norueguesa fez "as prospecções e as financiou, entregou um relatório ao governo de Zelaya e ficou com uma cópia que pode negociar com empresas que estejam interessadas na informação sobre essas reservas". Se fosse aprovada a consulta de uma eventual nova Constituição, iria se estabelecer que "os recursos naturais do país não poderiam ser entregues para outros países". Por isso que, "(...) o objetivo foi evitar que se pudesse ditar uma Constituição que impedisse apoderar-se do petróleo hondurenho".

Eva Golinger, advogada, escritora e investigadora da ingerência dos EUA na América latina, especialmente, na Venezuela, apresentou um dos melhores estudos sobre a participação do imperialismo norte-americana no golpe de Estado em Honduras. Golinger evidência como isso se deu a partir de seis frentes de atuação: Departamento de Estado Americano, Embaixada, Financiamento, lobismo em Washington e as Forças Armadas de EUA juntos aos Militares Hondurenhos (13).

Como base na investigação de Eva Golinger, os porta-vozes do Departamento de Estado Americano "admitiram em roda de imprensa que teriam conhecimento prévio do golpe e que haviam estado trabalhando com setores que planejaram para buscar 'outra solução' ", bem como, que "altos funcionários do Departamento de Estado para América Latina Thomas Shannon e o subsecretario de Estado James Steinberg, estiveram em Honduras semana anterior ao golpe para manter reuniões com os grupos civis e militares que não levaram a cabo".

Depois do golpe, a Secretaria de Estado Hillary Clinton disse em declaração que não reconhecia os acontecimentos como um "golpe" e não exigiu a restituição do presidente Zelaya ao poder, sempre se referiu "as duas partes" do conflito, e por trás do discurso dúbio, de "golpe", sempre legitimou os golpistas, prova disso é que "o Departamento de Estado se negava a qualificar o golpe de Estado, o que lhe obrigaria a suspender toda classe de apoio econômico, diplomático e militar ao país”. Os porta-vozes do Departamento explicaram da seguinte forma:
"Em referencia ao próprio golpe, o melhor seria dizer que foi um esforço coordenado entre os militares e alguns atores civis. Obviamente, os militares foram quem conduziram a remoção forçada do presidente e que atuaram para assegurar a ordem pública durante este processo. Porém, para que o golpe seja mais que uma insurreição ou uma rebelião, tem que existir uma transferência de poder aos militares. E neste sentido, o Congresso - a decisão do Congresso de juramentar a seu presidente Micheletti, como presidente de Honduras, indica que o Congresso e membros Chávez deste tem desempenhado um papel importante nesta situação".
A posição ambígua de condenar os acontecimentos como ruptura da ordem constitucional, ao tempo que, não qualificá-lo como golpe de Estado, foi um caminho, dentro da estrategia geral, para uma saída "negociada" que não implicou em momento algum a restituição de Zelaya como presidente.

Outra vertente foi o papel da embaixada de Estados Unidos em Honduras, que contou com sua coparticipação, através do embaixador Hugo Llorens, que admitiu ter participado de reuniões nas quais se discutiram os planos de golpe. A respeito da convocatória de uma possível Assembleia Constituinte, evidenciou sua posição clara de interferência, ao opinar publicamente, contra a Enquete, mais também, sua ingerência nos assuntos internos de Honduras: "Um não pode violar a Constituição para criar uma Constituição, porque se um não tem Constituição, vive a lei da selva".

A coalizão de diferentes organizações não governamentais (ONGs), empresários, partidos políticos, Igrejas católicas e evangélicas, meios de comunicações, denominada "União Cívica Democrática", tinha como objetivo derrubar o presidente Zelaya e impedir a Consulta sobre uma nova Assembleia Constituinte. Esta organização golpista, era constituída pelo Conselho Nacional Anticorrupção, Arcebispado de Tegucigalpa, Conselho Hondurenho de Empresas Privadas (COHEP), Conselho de Reitores das Universidades, Confederação de Trabalhadores de Honduras (CTH), Foro Nacional de Convergência, Federação Nacional de Comercio e Industrias de Honduras (FEDECAMARA), Associação de Meios de Comunicação (AMC) Grupo Paz e Democracia e o Grupo Estudantil Geração X Cambio.

O financiamento as instituições golpistas ficou a cargo da USAID e NED (National Endowment for Democracy), aportando em torno de 50 milhões de dólares, repassado anualmente para o "desenvolvimento da democracia”:
"De fato, um informe da USAID sobre seu financiamento e trabalho com COHEP, destaca que 'o perfil baixo da USAID neste projeto ajudou a assegurar a credibilidade de COHEP como uma organização hondurenha e no braço da USAID.
Os porta-vozes da União Cívica Democrática de Honduras declarou a imprensa cinco dias antes disse confiar que "as forças armadas cumprirão com seu dever de defender a Constituição, o Estado de Direito, a paz e a democracia". Quando sucedeu o golpe, "foram os primeiros que saíram a dizer que não houve golpe de Estado, mas que haviam "resgatado sua democracia" das mãos do presidente Zelaya, cujo crime foi querer dar ao povo voz, visibilidade e participação. Também em representação dos setores de classe media e alta, a União Cívica democrática tem qualificado aos setores que apoiam ao presidente Zelaya de 'turbas'.
O instituto Republicano Internacional, recebeu fundos da National Endowment for Democracy (NED), no montante de 1,2 milhões de dólares em 2009 para trabalhar com os setores políticos em Honduras. Tem se dedicado ao trabalho de apoio aos "centros de pensamento" e "grupos de pressão" em Honduras, para influir nos partidos políticos e "apoiará iniciativas para implementar posições políticas durantes as campanhas de 2009".
LOBISMO DE WASHINGTON

O lobismo atuou de diferentes meios, através do Republicano John McCain, ajudando visitas de delegações golpistas de Honduras à Washington para se reunir com o Instituto Republicano Internacional (IRI), The Cormac Group, National Press Club, ademais, de tentar minar empresas estatais para privatizar, ao tempo que, patrocinando ações, por eles mesmos viabilizadas, sobre a corrupção no sentido oposto, ou seja, cooptando setores do governo para desgastar o presidente Manuel Zelaya (14).

A administração “democrática” de Barack Obama, através de Lanny Davis (advogado Bill Clinton e amigo Hillary Clinton), contratado pelo Conselho de Empresas da América Latina (CEAL), articulou os poderes de Washington para desconhecer o Golpe de Estado em Honduras (Comité de Relaciones Exteriores del Congresso de Estados Unidos).

John Negroponte, serviçal de Hillary Clinton, e Hugo Llorens (embaixador dos EUA em Honduras), assim como, Otto Reich, há alguns anos vinham trabalhando contra Zelaya, se esforçando para minar a empresa de telecomunicações estatal (Hondutel) na intenção de privatizá-la.

Os lobistas e patrocinadores yanques aliados de setores hondurenhos também atuaram na Venezuela em 2002 e, pelo momento histórico, em Honduras, levantando a bandeira anti-corrupção contra Zelaya, como se eles próprios não fossem os corruptos:
“Reich fundou uma organização em Washington, chamada Arcádia Foundationvii, junto com um venezuelano, Robert Carmona-Borjas, segundo seu perfil. Robert Carmona-Borjas supostamente esteve em Miraflores com Pedro Carmona durante o golpe de Abril de 2002 e escapou, junto com Carmona, do palácio quando foi tomado pela Guardão de Honra Presidencial. Desde então vive em Washington, DC. Desde o ano passado, Reich e Carmona-Borjas têm levado avante uma campanha contra Zelaya por assuntos de corrupção, com um serie de adágio que falam de corrupção, liberdade de expressões e mudanças em Honduras”.
O PODER MILITAR

Os EUA mantiam em Honduras bases militares [como a de Soto Cano (Palmerola)] para salvaguardar seus interesses econômicos não só no espaço hondurenho, mas na América Central. A partir da presença militar e da Agencia Central de Inteligencia (CIA) dos EUA em Palmerola, os militares hondurenhos receberam financiamentos, treinamentos e doutrinação fundamentada na doutrina anti-esquerdista e anti-socialista.

É de fundamental importância, para o esclarecimento deste ponto, as informações disponibilizadas pelo próprio Presidente Manuel Zelaya a respeito da coparticipação dos EUA no golpe. Numa entrevista dada a jornalista AMY GOODMAN, diretora executiva do Democracy Now!, Zelaya esclarece (15):
"AMY GOODMAN: Por que foi transladado para a base militar dos Estados Unidos? Não é muito longe voar de Tegucigalpa a Costa Rica. Por que o levaram antes a uma base militar estadunidense? Suponho que tenha havido contado com a permissão do exercito dos Estados Unidos.
MANUEL ZELAYA: Olha, o Departamento de Estado sempre tem negado e segue negando sua vinculação com o golpe. Não obstante, todas as provas os incriminam. E todas as ações que faz o governo de fato do golpista é para favorecer a política industrial, militar e financeira dos Estados Unidos em Honduras
(...)
AMY GOODMAN: Você disse que o golpe foi uma conspiração e menciona a direita norte-americana. A que se refere? Quem fermentou o Golpe de Estado contra você?
MANUEL ZELAYA: A qui começa um processo de conspiração desde que eu me uni a Alternativa Bolivariana para as Américas, ALBA. Foi uma guerra de psicologia, uma guerra psicológica suja. A começou Otto Reich, o ex-subsecretario de Estado, Roger Noriega, Roger Noriega, Robert Carmona e a Fundação Arcádia criada pela Central de Inteligencia (CIA). Eles se associaram aqui (Honduras) com grupos de direita, com grupos militares e formaram a conspiração. Argumentaram que eu era comunista, que estava atentando contra a estabilidade hemisférica porque era amigo de Fidel, amigo de Chávez e havia declarado meu governo com um governo progressista.
AMY GOODMAN: Não obstante, Wikileaks publicou uma serie de Cabos classificados [ documentos confidenciais] do governo dos Estados Unidos, entre os quais se encontra um cabo enviado ao Departamento de Estado pelo então embaixador norte americano em Honduras, Hugo Llorens. Nesse cabo sobre o golpe em Honduras o embaixador Llorens disse que o golpe foi ilegal e inconstitucional.
MANUEL ZELAYA: Hugo Llorens cooperou para evitar o golpe. Ele conhecia tudo o que estava passando em Honduras. E eu sou testemunha que fez esforços para evitar-lo. Porém, quando percebeu que não podia, então se separou. Não sei se teve ordens de separar-se, mas deixou que tudo acontecesse. Ele ajudou muito a minha família depois do golpe. Isso eu o agradeço agora. Ele me demonstrou que é alguém que acredita na democracia, não nos golpes de Estado. Porém, não pensa o mesmo grande parte do Pentágono, nem o Comando Sul.
AMY GOODMAN: O que tem haver o Comando Sul com tudo isto?
MANUEL ZELAYA: O vínculo é Ford, o embaixador dos Estados Unidos. Ele me proibiu a amizade com Chávez e queria que lhe desse asilo diplomático a Posada Carriles, queria me indicar os ministros de meu Gabinete de Governo. Queria que seus recomendados fossem Ministros.
AMY GOODMAN: O embaixador Forde queria que Posada Carriles, o homem acusado de ser o cérebro do atentado contra um voo de Aviação Cubana, no qual morreram dezenas de pessoas, tivesse a possibilidade de obter refúgio em Honduras?
MANUEL ZELAYA: Olha, com apenas oito dias de ter assumido o governo, o ex-embaixador Charles Ford me perguntou se eu podia dar-lhe asilo político a Posada Carriles em Honduras. Eu desde logo, o mandei para fora. Ele falou com meu Chanceler para isso. O mesmo embaixador que me proibiu me somar a ALBA. E agora, este embaixador, depois que saiu de Honduras, deixou uma carta de um perfil político deste servidor que sou eu. Ai, o que ler esse perfil sabe que vem um Golpe de Estado. O que publicou WikiLeaks com todo o perfil que ele deixou de minha pessoa, dizendo que Estados Unidos tem que vê o que vai fazer no ano seguinte para me deter. Porque eu estou vinculado ao narcotráfico, ao terrorismo e a toda uma serie de coisas mais. Ele preparou o ambiente e ele foi transladado da embaixada para o Comando Sul; era o vinculo. E se você pergunta hoje aonde está, está no Comando Sul. Daqui saiu para preparar o Golpe de Estado.
AMY GOODMAN: Porém, o Golpe de Estado foi levado acabo durante o governo de Obama, e não antes.
MANUEL ZELAYA: Bom, a conspiração, estamos falando dos Estados Unidos. É um império os Estados Unidos. Obama é o presidente dos Estados Unidos, porém, não é o chefe do império. Mesmo que Obama estivesse em oposição, o processo do golpe ia continuar. O mínimo que informa a um presidente, como o presidente Obama, é que há uma crise política. Mas, não os detalhes do que estavam fazendo para a conspiração.
AMY GOODMAN: Inicialmente o Presidente Obama o qualificou como um Golpe de Estado, porém, logo o governo pareceu dar macha a ré com essa caracterização. Tanto Obama como Hillary Clinton.
MANUEL ZELAYA: Se rederam diante do golpe. Essa é a prova de que o golpe estava dado desde antes. Que lhe dobram o braço do Presidente e ao Departamento de Estado para impedir minha restituição".
MOVIMENTOS SOCIAIS DE HONDURAS RESISTEM AO GOLPE

Uma pesquisa realizada por Eugênio Sosa, “Democracia, processos eleitorais e movimentos sociais em Honduras: da transição política ao Golpe de Estado”, mostra a participação aguerrida e a resistência dos movimentos sociais. O autor analisa que os movimentos sociais de resistência apresentaram três fases importantes. A primeira, de 28 de junho a novembro de 2009 (mobilização contra o Golpe de Estado). Segunda, de julho, agosto e setembro (meses após o golpe com intensa mobilização popular). A fase terceira, da posse do governo de Lobo a constituição do Partido Liberal e Refundação.

As três fases são assim consideradas pelo pesquisador (texto traduzido e transcritor sem formato de citação) (16):

“Em 5 de julho, umas 400 mil pessoas se mobilizaram da Universidade Pedagógica Nacional até o Aeroporto Internacional, a espera de que aterrizasse o Presidente Zelaya Rozales. As forças militares colocaram tanques e caminhões no meio da rodovia e o Presidente Zelaya só conseguiu sobrevoar a pista aérea. Nestas mobilizações foi assassinado o jovem de 17 anos, Isis Obed.

Em 24 de julho, o Presidente Zelaya tentou entrar ao país pela fronteira de Las Manos, entre Honduras e Nicarágua. Milhões de hondurenhos e hondurenhas se mobilizaram para receber ao Presidente Zelaya, que o regime de fato somente pode deter mediante a declaração de Estado de Sitio e colocação de vários postos militares na rodovia entre Tegucigalpa e El Paraíso para evitar a passagem das centenas de mobilizações que desafiaram ao Estado de Sítio e ao regime de fato. O presidente Zelaya permaneceu em El Ocotal, Nicarágua, zona fronteiriça entre Nicarágua e Honduras por quase uma semana. Finalmente, Zelaya entrou de maneira surpreendente a Tegucigalpa, em 21 de setembro e se asilou na Embaixada do Brasil, onde permaneceu até 27 de janeiro de 2010, quando saiu para o exílio na Republica Dominicana. Depois de conhecer a noticia, milhões de pessoas se mobilizaram na direção da Embaixada do Brasil, aonde permaneceria até o dia seguinte, 22 de setembro, quando foram brutalmente reprimidas e desalojadas. Sobre um novo Estado de Sítio do regime de fato, a resistência se deslocou aos bairros, aonde se produziram enfrentamentos dos manifestantes com os policiais e forças militares. Estes momentos de ápice da mobilização popular não debe desconhecer que por cinco meses, uns 150 dias, o povo hondurenho saiu as ruas de maneira massiva em Tegucigalpa, San Pedro Sula, e muitas outras cidades em todo o território nacional. Uma dessas mobilizações espetaculares é a que se realizou em 15 de setembro, aniversario da independência de Honduras. Se estima que um milhão de pessoais se mobilizaram em diferentes cidades do país.

No final de setembro, porém, sobretudo nos meses de outubro e novembro, a mobilização popular começou a diminuir, como consequência do esgotamento e cansaço que todo movimento social sofre. Ademais, o Presidente Zelaya aceitou entrar num processo de negociação com o regime de fato, e cada dia a possibilidade do retorno de Zelaya a Presidência se fazia menos provável. As expectativas de êxito, também incidem na energia mobilizadora. Ao anterior, há de agregar que as eleições se aproximavam cada vez mais, e deter-las o boicotar-las não parecia ser uma meta realista. Na verdade, o Presidente Zelaya finalmente ingressou ao país de maneira tardia, quando a energia de mobilização do povo hondurenho começava a esgotar-se e as eleições sob o regime de fato estava muito próxima. Isso explica, em parte, a Inocência de Zelaya por aceitar assinar um acordo que lhe era totalmente desfavorável para seu retorno e para a Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado.

Na segunda fase, de 29 de novembro de 2009 a 27 de janeiro de 2010, a mobilização nos marcos das eleições e a sucessão de um novo presidente. O Presidente José Manuel Zelaya Rosales iniciou negociações com o regime de fato em outubro, dando seguimento as tentativas de negociações que dirigia o Presidente de Costa Rica, Oscar Arias, em San José. A Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado, sobre muitas duvidas, aceitou ser parte do grupo de negociação do Presidente deposto. O resultado foi “um acordo envenado”.

Estes acordos foram assinados, em 30 de outubro de 2009, pelos representante do Presidente deposto e do regime de fato. Estes acordos selaram a irreversibilidade do Golpe de Estado e prepararam o caminho as eleições gerais como saída conservadora ao Golpe de Estado por parte do bloco dominante. Este Acordo se assinou quando faltavam apenas 28 dias para as eleições gerais, as mobilizações estão esgotadas e o Presidente Zelaya segue abrigado na Embaixada do Brasil, ilhado e hostilizado pelo regime de fato. Finalmente, a Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado desconheceu o processo eleitoral de 2009, de 9 de novembro a 20 dias das eleições gerais. Apesar de que o regime de fato logrou um Acordo altamente favorável a seus interesses, este foi imediatamente descumprido em sua forma, conteúdo e calendário. O anterior, levou ao Presidente Zelaya a declarar-lo fracassado e chamou a não participar do processo eleitoral por considerar-lo ilegal e espúrio. A Frente de Resistência também chamou a que as organizações e candidaturas políticas se retirassem da farsa eleitoral. Produto do chamado da Resistência e do Presidente Zelaya, se retiraram um pouco mais de cem candidaturas a prefeitos e a deputado, com seus respectivos suplentes. Não se produziu a renuncia massiva com se esperava, e inclusive partidos como Unificação Democrática, que participava do campo da Resistência, decidiu participar do processo eleitoral.

Assim as coisas, as eleições se consumaram em 29 de novembro na mais completa irregularidade: militarização dos centros de votação, arrombamento as sedes de organizações populares, com o Presidente deposto preso na Embaixada do Brasil, e a repressão miliar e policial contra os protestos sociais contra o golpe de Estado. As eleições realizadas sob o regime de fato não contaram com a observação e reconhecimento da Organização dos Estados Americanos (OEA) nem da maioria dos países do mundo, com a exceção dos Estados Unidos, Canadá, Panamá e Colômbia. Os resultados eleitorais foram questionados por amplos setores da cidadania hondurenha, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apresentou varias versões de resultados, contraditórios e ambíguos, e os observadores de organismos nacionais e internacionais de Direitos Humanos deram testemunhos da ausência de votantes nas urnas. As eleições constituíram para a saída conservadora do Golpe de Estado produzido pelos setores da classe dominante. Uma vez desenvolvida as eleições, o Congresso Nacional da Republica ratificou de maneira esmagadora a derrubada do Presidente Zelaya, em 02 de dezembro de 2010. A partir deste dia, se acabou de uma vez por toda a ilusão de que o Presidente Zelaya seria restituído.

A terceira fase, da posse do novo Governo a constituição do Partido Liberal e Refundação. Em 27 de janeiro tomou posse no Estado Nacional de Tegucigalpa, Porfirio Lobo Sosa (Partido Nacional) como presidente da República, num completo isolamento internacional e questionado pela legitimidade pelos amplos setores da cidadania hondurenha.

De maneira simultânea, ao menso meio milhão de hondurenhos e hondurenhas se mobilizaram até ao Aeroporto Internacional para despedir-se do ex-presidente José Manuel Zelaya Rosales até o exílio.

PARTE II - O BRASIL CONTRA O GOLPE DE ESTADO EM HONDURAS

O Golpe de Estado em Honduras, ocorrido numa manhã de 28 de junho de 2009, envolveu o Brasil em três sentidos. O primeiro, na participação enérgica de condenação, desde o inicio, junto aos milhões de vozes que ergueram-se contra a usurpação do governo de Manuel Zelaya, constitucionalmente eleito, pelo complô executado pela Oligarquia entreguista daquele país, aliada do imperialismo dos EUA na conspiração contra o povo hondurenho. O segundo, esta relacionado ao exílio de mais de quatro meses (129 dias, ou seja, 21 de setembro de 2009 a 27 de janeiro de 2010) que Manuel Zelaya esteve na embaixada brasileira em Tegucigalpa. O terceiro, na condenação ao processo eleitoral, levado a cabo pelos setores da classe dominante de Honduras. No ínterim dos três momentos, cabe mencionar a visita do Presidente Manuel Zelaya ao Brasil e a viajem da Comissão Parlamentar de Deputados brasileiros a Honduras, ademais, o processo de definição dos partidos da burguesia brasileira na aprovação, apoio e defesa dos golpistas hondurenhos no Brasil.

GOVERNO BRASILEIRO CONDENA DE FORMA VEEMENTE O GOLPE DE ESTADO

O governo brasileiro, presidido por Luiz Inácio Lula da Silva, e a diplomacia brasileira, liderada por Celso Amorim, atuaram de maneira contundente na condenação do Golpe de Estado.

Logo que o governo brasileiro tomou conhecimento dos acontecimentos reagiu por meio do Ministério das Relações Exteriores (MRE), divulgando nota que criticava o "golpe limitar em Honduras". A integra da nota dizia (17):
"O governo brasileiro condena de forma veemente a ação militar que resultou na retirada do presidente de Honduras, José Manuel Zelaya, do Palácio Presidencial em Tegucigalpa no dia de hoje e sua condução para fora do país.
Ações militares desse tipo configuram atentado à democracia e não condizem com o desenvolvimento político da região. Eventuais questões de ordem constitucional devem ser resolvidas de forma pacífica, pelo diálogo e no marco da institucionalidade democrática.
O governo brasileiro solidariza-se com o povo hondurenho e conclama a que o presidente Zelaya seja imediata e incondicionalmente reposto em suas funções.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue acompanhando a situação por meio de contatos com outros chefes de Estado e através de informações repassadas pelo ministro Celso Amorim".
No dia seguinte, 29 de Junho de 2009, no Programa de Rádio "Café com o Presidente", Lula abordou a questão falando (18):
“Luciano Seixas: Você está ouvindo o “Café com o Presidente”, o programa de rádio do presidente Lula. Presidente, a América Latina está chocada com o golpe de estado em Honduras. Como é que o senhor vê essa situação?
Presidente: Olhe, eu fiquei sabendo ontem logo cedo, quando levantei, do golpe. Conversei com o Presidente de El Salvador, conversei com o presidente Lugo, conversei com a presidenta Michelle Bachelet, conversei com o ministro Celso Amorim, que comunicou ao nosso embaixador na OEA, e nós achamos que não tem contemporização, não tem meio-termo, nós temos que condenar esse golpe. Nós não podemos aceitar ou reconhecer qualquer novo governo que não seja o presidente Zelaya, porque ele foi eleito diretamente pelo voto, cumprindo as regras da democracia. E nós não podemos aceitar mais, na América Latina, alguém querer resolver o seu problema de poder pela via do golpe, porque nós não podemos aceitar que alguém veja alguma saída para o seu país fora da democracia, fora da eleição livre e direta. E o Zelaya ganhou as eleições, portanto, ele deve retornar à presidência de Honduras. É a única condição para que a gente possa estabelecer relações com Honduras. Portanto, se Honduras não rever a posição, ela vai ficar totalmente ilhada no meio de um contingente enorme de países democráticos".
Em entrevista aos meios de comunicações, em 30 de junho de 2009, o presidente Lula comentou (19):
"JORNALISTA: …alguma situação? Como o Brasil está agindo, além de não reconhecer o novo governo de Honduras? PRESIDENTE: Olha, o dado concreto é que nós não temos como permitir que em pleno século XXI, na América Latina, tenha um golpe militar. É inaceitável. Nós não podemos reconhecer o novo governo. Nós temos que exigir a volta do governo eleito democraticamente, porque senão daqui a pouco vira moda outra vez.
JORNALISTA: Abre precedente?
PRESIDENTE: É, o Presidente quer fazer uma coisa… O que que ele queria fazer? Um referendo. Agora, o que o referendo tem de criminoso? Qual é o medo de ouvir a vontade do povo? Por conta disso, o Presidente ser tirado da sua casa às cinco e meia da manhã, ser levado, e no mesmo dia o Congresso se reunir e escolher um outro presidente? Não importa que tenha divergência interna, divergência se resolve com debate democrático. O que não pode é golpe militar.
JORNALISTA: O senhor vai (incompreensível)
PRESIDENTE: Isso é inaceitável. Não, essas coisas, quem trata disso é o nosso companheiro, ministro Celso Amorim. Eu penso que todos os países da América do Sul, todos, da América Latina e mais os Estados Unidos, e mais o México, estão de acordo de que não é possível aceitar isso, a OEA não aceita. Portanto, eu acho que o isolamento de Honduras, enquanto não tiver um novo presidente eleito democraticamente, é uma decisão de todos os fóruns da América Latina. Jornalista: E na Receita, a Lina, a Lina continua? E a Lina, continua na Receita? Presidente: É o Guido que cuida disso" (20).
MOVIMENTOS SOCIAIS DA AMÉRICA LATINA E BRASILEIROS CONDENAM AO GOLPE DE ESTADO DE HONDURAS

Em artigo publicado no Portal da Revista Forum, no dia 9 de junho de 2009, intitulado de “Apesar do PIG os movimentos sociais latino-americanos repudiam o golpe militar em Honduras”, chamava de pronto a atenção para o fato de que, apesar do partido da imprensa golpista, como por exemplo a Folha de São que não dá visibilidade aos movimentos sociais, apesar disso, estes estavam vivos e pujantes na luta contra o “golpe militar” (21).

A jornalista Maria Frô, começa expondo na introdução, as considerações feitas pelos Movimentos Sociais ligados a ALBA.
O povo de Honduras não está só!
Neste momento o povo de Honduras, e os povos da América Latina, estão em uma batalha fundamental: evitar que se consuma o golpe de estado reacionário contra o presidente constitucional Manuel Zelaya Rosales, e o povo de Honduras.
A conspiração de políticos, militares, juízes, os meios de comunicação, com o apoio do governo dos Estados Unidos, querem reverter o passo dado pelo governo hondurenho ao integrar-se à ALBA, e evitar a convocatória que se realizaria no domingo (28/6) para aprofundar a democracia através de uma consulta popular, que possibilitaria a Reforma da Constituição.
O seqüestro do presidente constitucional é uma ação inaceitável para os povos da América Latina e do mundo, e está recebendo o rechaço inclusive da maioria dos governos, que desconhecem a decisão do grupo conspirador no Parlamento, de substituir o presidente de Honduras.
Os movimentos sociais que promovem a Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), convocam todos à mobilização desde agora, amanhã, e nos próximos dias, para que nenhum governo reconheça os títeres que as forças reacionárias querem ungir como ditadores e para que se devolva o governo às suas autoridades legítimas. Que cesse a repressão contra o povo de Honduras e suas organizações. Que se aceite a livre decisão do povo hondurenho, expressada através da consulta popular.
Honduras não está só. Hoje existe um conjunto de países que estão formando uma alternativa bolivariana junto com os movimentos sociais e existe uma comunidade internacional que rechaça o retorno das ditaduras.
Todos e Todas na Embaixada e Consulados de Honduras, amanhã nas ruas, mobilizados, com ações que construam coletivamente o “Nunca Mais” latino-americano às políticas fascistas, e o respeito às demandas dos povos. Se mexerem com um, mexem com todos!
Movimentos Sociais da Alba
A Via Campesina, na mesma matéria de Frô, faz um chamado de solidariedade ao povo hondurenho e uma exortação da defesa da democracia. Em 29 de junho de 2009, dizia a nota do Comitê Internacional de Coordenação da Via Campesina Via Campesina (22):
“Com o objetivo de aprofundar a democracia e conseguir uma maior participação democrática, há alguns meses as organizações sociais de Honduras, junto ao presidente Manuel Zelaya Rosales, promoveram uma Consulta Popular para este 28/6.
Com grande surpresa, o dia de hoje às 5h da manhã, as Forças Armadas executaram um Golpe de Estado contra o presidente Zelaya, impedindo assim as aspirações democráticas da população, que se preparava para realizar a Consulta Popular.
Ao conhecer a notícia, as organizações sociais de Honduras, incluindo as entidades que fazem parte da Via Campesina, saíram às ruas para repudiar o golpe de estado e exigir o regresso do presidente Zelaya à suas funções, como garante a lei.
O governo do presidente Zelaya, que tem se caracterizado por defender os operários e camponeses, é um defensor da Alternativa Bolivariana das Américas (Alba). Durante o seu mandato, ele tem promovido ações que beneficiam os camponeses hondurenhos.
Acreditamos que esses fatos são ações desesperadas da oligarquia nacional, da direita e, em especial, das grandes empresas transnacionais, que pretendem preservar os seus privilégios econômicos. Para isso, utilizam a força militar e algumas instituições do país, como o Parlamento, os ministérios, a imprensa neoliberal e outros.
Diante desse repudiável fato, a Via Campesina Internacional demanda:
1 – Restabelecimento da ordem constitucional, sem derramamento de sangue.
2 – Conclamamos ao Exército que não reprima a população de Honduras que exige o retorno da democracia.
3 – Respeito à integridade física dos dirigentes sociais, incluindo Rafael Alegria, dirigente internacional da Via Campesina.
4 – Exigimos o retorno do Presidente Zelaya a suas funções em Honduras
5 – Que as autoridades garantam o pleno exercício democrático da consulta popular, garantindo a livre expressão popular.
A Via Campesina Internacional está atenta a qualquer tipo de violação dos direitos de nossos lideres e organizações, como com o que pode acontecer com o povo de Honduras nestes momentos difíceis.
Convocamos as organizações campesinas e outros movimentos sociais a protestar em frente às embaixadas e consulados de Honduras e a enviar cartas rechaçando o golpe de estado às embaixadas em cada um de seus países. Nos solidarizamos com nossas organizações campesinas em Honduras.
Globalizemos a luta! Globalizemos a esperança!”
Ademais do posicionamento do movimento de mulheres e feministas de Honduras, “Pan y Rosas”, o artigo da Revista Forum (23) apresentou uma nota da “Afrolatinoamericanas, Afrocaribeñas y de la Diáspora”, intitulada “Comunicado de Repúdio ao Golpe de Estado Militar contra o Governo Constitucional de Honduras”. Depois de reportar a circunstância pela qual foi “retirado” do país o “Presidente de Honduras”, na madrugada deste domingo 28 de junho de 2009, “repudia o golpe de estado militar contra o governo constitucional de Honduras e contra o Presidente democraticamente eleito, Manuel Zelaya”. Exige que os militares hondurenhos “respeite o Estado de Direito, a Democracia e a vida dos cidadãos, como direito inalienáveis do povo hondurenho”. Faz chamado aos “Estados da América e do Mundo a repudiar e rechaçar o brutal golpe de estado, e a exigir a restituição dos direitos dos cidadão e do Estado de Direito em Honduras”. Exorta as “organizações e movimentos sociais e diversas expressões da sociedade civil do continente e do mundo, e as mulheres e organizações membros da Rede, a repudiar o golpe militar e exigir que seus Estados assumam a responsabilidade histórica de repudiar este tipo de ato contra os direitos humanos e a Democracia”, e conclui, “Atos como estes atentam contra a vida das populações e de forma particular as mulheres e crianças, ao retirar seus direitos elementares, e colocar em risco o processo de construção de nossas sociedades democráticas, a liberdade e a justiça”.

Ao tempo que as entidades representativas dos movimentos sociais em nível internacional centravam posições com notas e ações de ruas, no Brasil não foi diferente, simultaneamente, os lutadores e lutadoras do povo brasileiro, com seu espirito de luta e solidariedade internacional, assumem ações concretas e a pena para condenar o golpe hondurenho.

No Brasil, no dia 30 de junho de 2009, integrantes de movimentos sociais, representantes sindicais e partidos de esquerda entregaram uma Carta Aberta ao Consulado de Honduras em São Paulo (24), dentre as entidades brasileiras, estiveram a Via Campesina, MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terras), CUT (Central Única dos Trabalhadores), MMM (Marcha Mundial das Mulheres, UNE (União Nacional dos Estudantes), Cebrapaz, Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores do Brasil), CSA (Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas) e Consulta Popular, além de partidos políticos como PC do B, PT e PSOL. Como todos estes movimentos sociais, sindicatos e partidos condenaram em seus espaços de propaganda e comunicação, apresentarei, aqui, apenas o comunicado de repúdio entregue ao consulado hondurenho e publicado no portal da CUT. Neste sentido, a seguir a carta na integra:
"Carta aberta ao Consulado de Honduras e ao Povo Hondurenho
É com o sentimento de indignação que nós, organizações e movimentos sociais, sindicais e estudantis do Brasil abaixo assinados, recebemos a notícia de que o povo hondurenho sofreu um golpe militar a partir do sequestro do seu Presidente Manuel Zelaya na madrugada do último dia 28.
Repudiamos veementemente tal ato, pois atenta contra ao processo democrático em curso naquele país, construído à custa de muitas lutas sociais e populares por trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, que na edificação da democracia Hondurenha tombaram e tiveram suas vidas ceifadas.
O povo latino-americano vem assistindo e participando do processo de reconhecimento dos seus direitos, que junto com as organizações sociais, sindicais e estudantis vêm construindo processos internacionais e continental de solidariedade. Em decisão soberana, a população hondurenha iria ratificar através de plebiscito a decisão contra o retorno das oligarquias ditatoriais ao poder. Como resposta a esse processo popular, essas oligarquias golpearam duramente tal processo democrático em curso, tentando imobilizar o povo.
Esse golpe de estado reacende nossa memória sobre as décadas de ditadura iniciada na década de 60 em toda América Latina. É essa memória de lutas e resistência que nos leva a reforçar e apoiar a luta do povo Hondurenho e exigir:
1. A volta imediata do presidente Manuel Zelaya ao comando do país;
2. O restabelecimento da ordem constitucional, sem o derramamento de sangue e sem repressão à população, que exige o retorno da democracia;
3. Que seja respeitada a integridade física das lideranças sociais;
4. Que as autoridades garantam em pleno exercício democrático a consulta popular, como forma de livre expressão;
Reafirmamos nossa solidariedade ao povo hondurenho, ao presidente Manuel Zelaya e às organizações e movimentos sociais que levam a cabo - e seguirão levando - as decisões soberanas do povo hondurenho e condenamos veementemente essa ação antidemocrática".
A CUT no mesmo dia publicou nota explicando sua posição 30/06/2009 (25):
“CUT Condena Golpe de Estado em Honduras e manifesta apoio à imediata restituição do presidente Manuel Zelaya e respeito à autodeterminação dos Povos de Honduras.
A Central Única dos Trabalhadores do Brasil (CUT) condena de forma veemente o Golpe de Estado em Honduras contra o Governo do Presidente José Manuel Zelaya Rosales, por romper de forma inconstitucional a ordem democrática do país, instituindo um clima de insegurança e violação de direitos incompatíveis com a América Latina de hoje.
A CUT manifesta preocupação com as condições de segurança das lideranças sindicais e populares que participaram da preparação da proposta de consulta popular. Recebemos informações que diversas lideranças já estão sofrendo perseguições. Exigimos que as Forças Armadas informe imediatamente o paradeiro do líder sindical Carlos H. Reyes, candidato independente à Presidência, desaparecido desde o dia 28 de junho.
Apelamos à Comunidade Internacional que realize ações e campanhas em apoio ao restabelecimento da institucionalidade democrática em Honduras, através da restituição do Presidente Zelaya e de garantias de não violação de direitos da População, Lideranças Populares, Sindicais, Políticas e Delegações Diplomáticas.
Manifestamos nosso apoio ao povo hondurenho para que sigam em frente, apesar da intimidação das Forças Armadas, na luta pela construção de um país livre, justo e democrático”.
CÂMARA DOS DEPUTADOS DIAS SUBSEQUENTES AO GOLPE 29 DE JUNHO

A Câmara dos Deputados, dias subsequentes ao Golpe de Estado em Honduras, por iniciativas de alguns parlamentares, em especial dos deputados do campo da esquerda, tomou posição clara contra o golpe. Como sempre acontece durante os primeiros momentos dos Golpes de Estado, a exemplo de Honduras, as posições políticas dos partidos da burguesia foram sendo definidas a medida que o tempo ia passando (principalmente porque Honduras era algo novo em comparação aos golpes militares), seguindo tal observação, foi um desdobramento gradual a posição dúbia da oposição brasileira contra a postura avançada do Governo Lula, assim como, a condenação ao Golpe de Estado em Honduras, superado apenas pela direita ultrafascista, não obstante, caminharam para a aprovação e a defesa dos golpistas hondurenhos.

Há dois dias do golpe, o Deputado Miro Teixera (PDT-RJ), de suas pouquíssimas falas sobre o assunto em plenário, fez um requerimento verbal ao presidente da Câmara, Michel Temer, para que esse tomasse a iniciativa de manifestar-se contra o Golpe de Estado ocorrido em Honduras (26).
"Pela ordem (...) para requerer a V.Exa. que a Câmara dos Deputados se manifeste, PELA PESSOA DE V.EXA., junto ao Itamaraty, em apoio à posição do Governo brasileiro contra o golpe em Honduras, pelo não reconhecimento do novo poder que lá se instalou.
Várias instituições já o estão fazendo. Conheço o pensamento de V.Exa., democrático. Acredito que cabe uma manifestação da Câmara dos Deputados. E eu faço esse requerimento verbal a V.Exa., mas fica a critério de V.Exa. fazê-lo”.
A resposta de Michel Temer foi no mínimo curiosa, porque, ou foi de proposito ou porque não estava a par dos acontecimentos ou ainda porque é tipico de sua personalidade desfaçar seu "constitucionalismo" coxo:
"Ao Deputado Miro Teixeira quero dizer, desde logo, atendendo ao seu requerimento verbal, que na verdade esta Presidência manifesta apoio às eleições democráticas que se verificaram em Honduras. Portanto, não há razão para a eventual invalidação do tipo golpe de Estado que ali se verificou. As notícias que temos são de que as eleições se processaram democraticamente e de que democraticamente se elegeu o Presidente da República".
Penso até que Miro Teixeira não entendeu nada da resposta de Michel Temer. Que "eleições democráticas se verificaram em Honduras"? O que significou "não há razão para a eventual invalidação do tipo golpe de Estado que ali se verificou"? Que "eleições se processaram democraticamente e (...) que democraticamente (...) elegeu o Presidente da República"?

Primeiro que, se com "eleições democráticas" queria se referir a enquete de opinião proposta por Zelaya, essa não ocorreu, pois foi sustada e usada como pretexto do golpe. E, segundo, se com "eleições democráticas" pretendeu indicar a escolha de Roberto Micheletti como presidente golpista pelo Congresso Hondurenho, estava apresentando seu apoio ao Golpe de Estado. Penso que essa interpretação é a mais provável, porque, disse que não tinha para que ele (Michel Temer) assumisse a posição do Governo Lula e do Itamaraty, tendo em vista, não haver sentido condenar algo improvável, ou seja, algo cuja certeza não pode ser comprovada, portanto, não havia razão para "invalidação do tipo golpe de Estado". Basta dizer com isso, que Michel Temer, ao contrário dos deputados que afirmaram que houve golpe, para ele não passava de um suposto golpe, porquanto, não seria verdade, dado que, as "eleições se processaram democraticamente" e "democraticamente se elegeu o Presidente da República". Filho de golpista, golpista é, assim foi Michel Temer quando assumiu a posição dos golpistas hondurenho na Câmera dos Deputados.

Tanto é verdade, que a intervenção de Miro Teixeira foi feita por volta das 16h58. Três horas antes, um Deputado do PSB já teria realizado pedido semelhante e Michel Temer teria feito pouco caso do Golpe de Estado em Honduras. Glauber Braga (PSB-RJ), entorno das 14h14m, assim, interveio no plenário da Câmara, do mesmo dia 30 de junho de 2009 (27):
"O SR. GLAUBER BRAGA (Bloco/PSB-RJ. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, solicito à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados que formalize nosso posicionamento contrário ao golpe de estado ocorrido em Honduras.
O Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o Itamaraty e vários países, de diferentes correntes político-ideológicas, manifestaram-se contrários à retirada do poder do Presidente Manuel Zelaya.
Que a Câmara dos Deputados se manifeste da mesma forma. Não podemos estabelecer como parâmetro a possibilidade de que grupos militares assumam o poder em países da América Latina e em outros países do mundo, o que gera a desestabilização do Estado democrático de Direito não só na América Latina, mas no mundo todo.
Que a Câmara dos Deputados se pronuncie formal e contrariamente ao que aconteceu em Honduras".
Foi necessário a intervenção do Deputado Cândido Vaccareza para que o Presidente da Casa, que vinha fazendo vista grossa sobre o golpo hondurenho, colocasse em votação uma moção de repudio condenando os golpistas do país caribenho. E, a moção foi proposta pelo PT, através do mencionado deputado (28):
O SR. CÂNDIDO VACCAREZZA (PT-SP) (...) - Sr. Presidente, a exemplo do Deputado Miro Teixeira, que já falou sobre o assunto - e já encaminhei por escrito a V.Exa. -, quero apresentar uma moção contra o golpe em Honduras.
O texto manifesta censura e repúdio ao golpe de Estado perpetrado contra o Governo democrático de Honduras e está redigido nos seguintes termos:
Nós, Parlamentares da Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil,
IMBUÍDOS dos valores universais que regem todas as democracias nacionais e uma ordem mundial multilateral fundamentada nos princípios do Direito Internacional Público;
CONSIDERANDO que o atual presidente de Honduras, Sr. Manuel Zelaya, foi eleito em pleito democrático absolutamente legítimo e liso e que seu governo foi reconhecido por todos os países do continente e do mundo;
ASSINALANDO que divergências políticas e ideológicas são naturais em regimes abertos e não justificam, sob nenhuma hipótese, a quebra da ordem democrática;
ENFATIZANDO que o anacrônico e absurdo golpe de Estado perpetrado em Honduras se constituiu numa grave afronta a todas as democracias da América Latina, região que vem, a cada dia, consolidando e ampliando seus regimes democráticos;
DESTACANDO que a Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) estipula, em seu Artigo 9, que:
Um membro da Organização, cujo governo democraticamente constituído seja deposto pela força, poderá ser suspenso do exercício do direito de participação nas sessões da Assembléia Geral, da Reunião de Consulta, dos Conselhos da Organização e das Conferências Especializadas, bem como das comissões, grupos de trabalho e demais órgãos que tenham sido criados;
DESTACANDO, ademais, que a Carta Democrática Interamericana, firmada em 2001 no âmbito da OEA, determina, em seu artigo 19, que:
Com base nos princípios da Carta da OEA, e sujeito às suas normas, e em concordância com a cláusula democrática contida na Declaração da Cidade de Québec, a ruptura da ordem democrática ou uma alteração da ordem constitucional que afete gravemente a ordem democrática num Estado membro constitui, enquanto persista, um obstáculo insuperável à participação de seu governo nas sessões da Assembléia Geral, da Reunião de Consulta, dos Conselhos da Organização e das conferências especializadas, das comissões, grupos de trabalho e demais órgãos estabelecidos na OEA.
RECORDANDO também que golpes de Estado são absolutamente incompatíveis com a Declaração Universal dos Direitos do Homem da ONU, particularmente com o que está determinado no parágrafo 3 do seu Artigo XXI, o qual reza que:
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto;
CONDENANDO, com especial ênfase, os atentados cometidos pelos golpistas de Honduras contra a imprensa livre, já que houve corte de sinal das principais emissoras de televisão, bem como de linhas telefônicas fixas e de celulares;
RESSALTANDO que pleitos eleitorais realizados nos prazos legalmente previstos se constituem na única maneira legítima e aceitável de se proceder à alternância de poder;
CONSIDERANDO, por último, os laços de amizade e solidariedade que unem indissoluvelmente os povos brasileiro e hondurenho e o desejo comum de que a América Latina se integre sob a égide dos princípios democráticos e da justiça social;
REPUDIAMOS, com veemência, o golpe de Estado perpetrado contra a democracia de Honduras. Conclamamos os governos de todo o mundo, especialmente os da América Latina, a não reconhecerem o governo ilegítimo e golpista instalado em Honduras. Ao mesmo tempo, demandamos a realização de uma reunião de emergência do Conselho Permanente da OEA, a fim de, com base no artigo 9 da Carta da OEA e no artigo 19 da Carta Democrática Interamericana, decidir sobre a continuidade da participação do governo golpista de Honduras no sistema da Organização dos Estados Americanos. Demandamos também que o Conselho de Segurança da ONU seja acionado para debater essa gravíssima questão. Exigimos a volta imediata do legítimo governante de Honduras, Sr. Manuel Zelaya, ao seu país e ao cargo. Por último, manifestamos a nossa firme convicção de que o povo hondurenho saberá reencontrar o caminho da paz, da conciliação e da democracia.
Sala das Sessões, em 30 de junho de 2009:
Sr. Presidente (...) solicito a V.Exa., pois há consenso da Casa, que a aprovemos, para que V.Exa. possa manifestar ao País e ao mundo a posição da Câmara dos Deputados do Brasil.
Responta:
O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Recebo a moção de V.Exa. e logo a submeterei à aprovação do Plenário (29).
Deputados da bancada do PT, a exemplo de Fernando Fero (PT-PE) (30) e Nilson Mourão (PT-AC) (31) votaram em plenário à moção lida pelo Líder Cândido Vaccarezza. O PSOL pela representação de Chico Alencar (RJ) (32) e Ivan Valente (SP) (33) também se posicionaram da tribuna contra o golpe. Esse último pelo valor do conteúdo de seu discurso, considerou:
“Subo à tribuna neste momento para condenar e repudiar veementemente a ação das Forças Armadas e do Poder Judiciário daquele país, ação esta ordenada e apoiada pela elite empresarial, pela oligarquia hondurenha e pelos meios de comunicação locais. Atendendo diretamente aos interesses desses grupos, o Poder Judiciário respaldou a ação das Forças Armadas, de detenção e deportação do Presidente Zelaya. Declarou que a atitude do Exército estava baseada em ordem judicial. Rapidamente, o Parlamento, sem a presença dos Deputados legalistas, depôs Zelaya - apresentando, aliás, falsa declaração de renúncia do Presidente - e empossou em seu lugar Roberto Micheletti. Este teve a desfaçatez de afirmar que chegou à Presidência como "produto de um processo de transição absolutamente legal".
Como o Congresso segue funcionando, as Forças Armadas afirmam que não se trata de um golpe. Trata-se do quê, então? O Congresso decretou toque de recolher na Capital, Tegucigalpa; Parlamentares legalistas e Ministros estão sendo presos; raptaram e agrediram Embaixadores de países latinos que apóiam Zelaya; Prefeitos, dirigentes e líderes populares estão sendo perseguidos e detidos; a energia elétrica, assim como a comunicação via celulares, é restrita; à exceção de um único canal de TV, todos os meios de comunicação estão fora do ar, de forma a censurar a livre expressão dos cidadãos e das cidadãs hondurenhos.
Os meios de comunicação comerciais, aliás, encorajaram e justificaram o golpe, a exemplo dos jornais La Tribuna e El Heraldo e das emissoras Rádio América e Rádio HRN, alguns ligados ao ex-Presidente Carlos Flores.
Saudamos e apoiamos, portanto, a resistência do povo hondurenho a este golpe, que barrou as aspirações democráticas da população, que estava pronta para se manifestar em consulta sobre a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. O povo hondurenho está nas ruas, mobilizado, ignorando inclusive o toque de recolher e sofrendo a dura e violenta repressão das Forças Armadas.
Apoiamos também a greve geral em apoio ao Presidente Zelaya e à restituição da democracia. Tal iniciativa é apoiada por todos os trabalhadores, pelas confederações de organizações sindicais de Honduras. Não é à toa que o movimento sindical hondurenho age desta forma: depois de décadas de exploração, o Governo de Zelaya se caracterizou por defender operários e camponeses, assim como é defensor da ALBA, a Alternativa Bolivariana para as Américas.
Bastou ser confrontada pelas mudanças que começam a acontecer em Honduras, a oligarquia do país deu o troco, utilizando-se dos militares, na busca da manutenção de seus privilégios e na defesa do capital, em especial das transnacionais. Agora, enquanto os trabalhadores apoiam o Presidente Zelaya, a burguesia foge, tirando do país seus filhos e seus interesses econômicos.
O Governo brasileiro agiu corretamente ao condenar o golpe em Honduras e pedir a recondução imediata do Presidente. A condenação diplomática é fundamental neste momento e deve considerar ações como a retirada de Embaixadores e a suspensão de ajuda econômica por parte de países que tenham acordos com o Estado hondurenho. Todo o apoio internacional à volta da democracia é importante.
Por isso, o PSOL esteve, na manhã desta terça-feira, junto com outros partidos e organizações do movimento sindical e social brasileiro, no Consulado de Honduras em São Paulo, onde entregamos uma carta de apoio à luta do povo e contra o golpe de Estado. A carta fala da nossa indignação e afirma a solidariedade entre os povos latino-americanos, que vêm assistindo ao processo de reconhecimento dos seus direitos e dele participando.
Sras. e Srs. Deputados, a única solução, neste momento, para a crise em Honduras, é o retorno de seu Presidente, o fim do Governo militarmente imposto e a responsabilização de todos aqueles que planejaram e executaram o golpe de Estado.
Neste momento, reacendem em nossa memória as lembranças das décadas de ditadura que tiveram início nos anos 60 em nosso continente. Não podemos admitir este retrocesso. A população deve ter garantido o pleno exercício da democracia, incluída aí a sua participação direta na definição dos rumos do país.
A bandeira do povo hondurenho será de agora em diante a convocação da Assembleia Nacional Constituinte. E ela deve ser apoiada por nós. A América Latina viveu nos séculos XIX e XX centenas de golpes de Estado dados por militares, por "gorilas" - como eram chamados -, que produziram muito sangue, pobreza e dependência. Agora, depois de um festival de eleições em que se pronunciou o povo latino-americano, o Estado de Direito predomina.
Entendemos que a Câmara dos Deputados precisa se manifestar em relação a esse episódio. Vou levar o assunto para a reunião do Colégio de Líderes, propondo que assinemos um documento de repúdio ao golpe de Estado em Honduras.
Chega de ditaduras na América Latina! Viva a resistência do povo hondurenho! Viva a democracia!
Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que autorize a transcrição nos Anais, anexa a este pronunciamento, da Carta Aberta ao Consulado de Honduras e ao Povo Hondurenho.
Desde os dias iniciais do Golpe de Estado contra o Presidente Manuel Zelaya, 28 de junho de 2009, que os apoiadores de golpes no Brasil não deram trégua.

O DEM que mais tarde tomaria posição partidária a favor do golpe, no inicio apoio à aprovação da moção de condenação ao Golpe de Estado, não obstante, seguiu sua postura de oposição aos governos progressistas do continente (30/06/2009):
" O SR. JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA) (...) tenho a obrigação de registrar que é justo o repúdio ao golpe de Estado verificado em Honduras, mas é bom ver que o Presidente Zelaya andou por um caminho que felizmente o Presidente Lula não quis trilhar: o de se perpetuar no poder. Ele se tornou uma cria de Chávez.
Concordo com a moção, porque o golpe é uma violência, e jamais vamos concordar com violência. No entanto, é bom que se veja que na América Latina está havendo uma onda de Presidentes que querem tornar-se imperadores. Esse era um deles (34).
Todavia, a posição descaradamente ultrafascista foi assumida pelo deputado Jair Bolsanario do (PP-RJ). Se apresentado sempre contrário a qualquer moção de repúdio ao Golpe em Honduras", mostrando-se sempre, odiosamente, discordante com a esquerda, defendeu o golpista Roberto Micheletti e seus comparsas. Ademais, outro vil fascista que apoiou e defendeu abertamente o Golpe de Estado em Honduras foi Paes de Lira (PTC-SP).

O já conhecido vomitaço ultrafascita, Deputado Jair Bolsonaro, chegou a “apoia a ação dos militares hondurenhos que derrubou o presidente Manuel Zelaya”. Informações disponibilizadas pela Rádio Câmara mostram as mentiras, acusações infundadas e a posição golpista deste Deputado (35):
'Deputado Jair Bolsonaro apoia a ação dos militares hondurenhos que derrubou o presidente Manuel Zelaya.
O representante do PP fluminense disse que Zelaya, ao propor um plebiscito sobre a possibilidade de reeleição do chefe do Executivo, teria violado a Constituição do país.
Bolsonaro afirmou que o presidente queria criar a figura do mandato vitalício.
"O Zelaya quis, a exemplo de Chavez, a exemplo do que vinha sendo maquinado por Lula, apesar de ele negar, criar a figura do mandato vitalício, usando a população, muitas vezes ignorante, com voto em cima de bolsa família e outros projetos sociais, para se perpetuar no poder."
Bolsonaro ressaltou que as Forças Armadas só afastaram o presidente depois de decisão do Congresso.
Ele comparou o episódio do afastamento do presidente hondurenho com uma reintegração de posse, quando a polícia militar é chamada para cumprir um mandado judicial.
Jair Bolsonaro afirmou ainda que nenhum general ou coronel assumiu o governo em Honduras'.
Seguindo as pegadas de seu colega de casa, o ordinário deputado Paes de Lira do PTC-SP, durante a reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, manifestou-se contra o requerimento de nota de repúdio, elaborada por iniciativa da esquerda parlamentar, contra o Golpe de Estado hondurenho. De forma equivocada, apoiou, aprovou e defendeu os golpistas repetindo a versão mediática dos partidos PLH e PNH, da imprensa golpista nacional de Honduras, da Corte Suprema de Justiça, do Ministério Publico etc. Se baseando em recortes de citações da Carta Magna Hondurenha, ou seja, escolhendo somente os que lhe interessava, amputados do contexto geral do corpo da Constituição, bem como, da legislação hondurenha, com por exemplo, a Leia da Participação Social do Povo Hondurenho, que fundamentava a consulta popular 05/2009, chegou a tais conclusões (36):
"Indico que não haja esta aprovação [moção de repúdio]. É muito certo que a Constituição daquela República (...) estabelece com toda clareza que a ninguém é dado o direito de tentar, por qualquer maneira, uma reeleição, ou mudar a Constituição da República, visando a uma reeleição (...). Hora, o presidente daquela República, presidente Zelaya, fez exatamente o contrario ao que prescreve a Constituição (...). Ele agiu contra a Constituição, tentando a convocação plebiscitaria para que o povo falasse sobre este aspecto Constitucional, com vista a uma reeleição, e, (...) uma Assembleia Constituinte (...) O que me parece é que o povo de Honduras preservou a constituição, e observem que nenhum General ou militar foi empossado no poder. Houve uma transição sim, não esperada, o presidente foi posto para correr (...) pelo seu próprio povo, porque tentou uma violação de sua Constituição (...) Soube a ótica constitucional eu recomendo que não vote este voto de repúdio (...) porque a população, em atendimento e comprimento a sua constituição, com respaldo a uma decisão da Suprema Corte do País, e o respaldo das armas a essa decisão judicial, na verdade, livrou-se de um presidente de um presidente que queria violar a constituição"
SENADO FEDERAL DIAS SUBSEQUENTES AO GOLPE DE 29 DE JUNHO

Em pronunciamento, 1 de julho de 2009, durante os primeiros dias de usurpação do poder das mãos do Presidente Manuel Zelaya, o Senado Federal, através da participação combativa da esquerda brasileira, não deixou passar em branco e sem condenar o Golpe de Estado em Honduras. Assim como o Presidente Lula e o Ministro das Relações Exterior, Celso Amorim, deputados da esquerda da Câmara dos Deputados, os senadores progressistas também condenaram, veementemente, os golpistas hondurenhos que se posicionaram contra a democracia e o povo daquele país.

O senador João Pedro (PT/AM) proferiu um discurso no Senado Federal contando com alguns apartes de outros senadores da legenda.

Todos condenaram o golpe hondurenho, evidenciando o perigo do mesmo como PRECEDENTE a outros golpes na América Latina, comparando inclusive com a história brasileira, desmentindo as falsidades dos golpistas de Honduras, conforme consideraram o golpe como um processo executado pelas forças armadas, tal e qual, elogiaram a posição das autoridades brasileiras ao ocupar a fila internacional de condenação golpista, como desdobramento, sacaram moção de repudio criticando o ocorrido (37).

João Pedro (Bloco/PT–AM) iniciou seu pronunciamento elencando que "os democratas, o Brasil, a América Latina principalmente, foi surpreendida com um golpe em Honduras ao Presidente eleito constitucionalmente". Em seguida, se posiciona dizendo, "(...) o meu repúdio a esta atitude contra a democracia, não só de Honduras como a democracia como valor universal, que a cada dia, a cada ano, a sociedade civil vem aperfeiçoando. Aqui mesmo, no Brasil, nós temos avançado em conquistas importantes do ponto de vista da democracia".

Chama as medidas tomadas pelos golpistas contra o povo hondurenho de "medidas de exceção" comparada ao "AI-5 que foi decretado em Honduras", que segundo alerta, estavam proibindo as "reuniões, manifestações" em Honduras.

E, continua, literalmente, considerando:
"(...) no último domingo, por volta das cinco horas, militares fortemente armados invadiram a residência, (...) do Presidente constitucional de Honduras, o Sr. Manuel Zelaya, e levaram-no seqüestrado, de pijama, praticamente nu, para uma base aérea e de lá transportaram-no para San José da Costa Rica.
Horas depois, o Presidente do Congresso hondurenho, Roberto Micheletti – essa é a surpresa porque o Presidente interino é o Presidente do Congresso de Honduras –, prestou juramento como novo Presidente em substituição ao Presidente Constitucional deposto, Manuel Zelaya, pois este teria assinado carta de renúncia, segundo os golpistas, o que não é verdade.
O Presidente não assinou a sua renúncia, nenhum manifesto de renúncia. Mais tarde, o Ministro hondurenho Enrique Flores informara que o Presidente Manuel Zelaya não havia renunciado e que a assinatura em tal carta era falsa, pois, segundo o Ministro, o Presidente “preferiria morrer a dar gosto a esses covardes”.
O Presidente constitucional não assinou nenhuma carta.
Percebe-se, Srs. Senadores e Sras Senadoras, um roteiro típico do que se vivenciou na América Latina – os golpes de Estado – nos anos 60 e 70, em que oligarquias, inconformadas com as transformações democráticas que se vêm processando no continente, se aliam lamentavelmente ao Poder Judiciário daquele País e aos militares para tentar interromper, pela força, processos de mudanças e avanços democráticos.
No entanto, os golpistas não compreenderam que o mundo vive um momento diferente. A comunidade internacional condenou unanimemente a deposição do Presidente constitucional de Honduras. Os 34 Membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovaram resolução condenando energicamente o golpe e exigem o retorno imediato do Presidente Zelaya ao cargo.
Quero destacar a postura do Presidente Lula e do nosso Governo, a postura dos Presidentes da América Latina e do Presidente Obama, que considerou o golpe em Honduras um ato ilegal, que abre um precedente para a região, e considera muito importante que o Presidente Manuel Zelaya permaneça Presidente.
Disse o Presidente Obama: “Não queremos voltar ao passado da escuridão”. A Secretária de Estado Americano, Hillary Clinton, destacou que Zelaya é o único Presidente de Honduras.
O Governo brasileiro também. Eu quero destacar a postura do Presidente Lula, que, ainda no dia de ontem, fez um apelo aos Chefes de Estado, aos Presidentes que estavam no encontro na África para o não reconhecimento desse governo golpista em Honduras.
Para o Governo brasileiro, ações militares como a que ocorre em Honduras atentam contra a democracia e não condizem com o estágio de desenvolvimento político da América Latina. “Eventuais questões de ordem constitucional devem ser resolvidas de forma pacífica, pelo diálogo e no marco da institucionalidade democrática”, disse a nota do Itamaraty.
Setores democráticos e populares da sociedade hondurenha e parlamentares estão se manifestando nas ruas de Tegucigalpa exigindo a volta do Presidente constitucional e são reprimidos violentamente pelos golpistas.
Eu quero denunciar aqui (...) a violência contra a população civil em Honduras. Eu quero denunciar a ausência de liberdade, a repressão em Honduras contra setores da sociedade civil, intelectuais, estudantes, o povo, que se contrapõe à deposição, ao golpe em Honduras.
O Senado da República, a nossa Casa, tem que se opor com firmeza a esse golpe que aconteceu nesse pequeno país da América Central. Ditadura já é uma coisa ultrapassada na América Latina. Mas não devemos esquecer que ela deixou marcas terríveis e profundas.
Por isso, devemos exigir que o Presidente constitucional, Manuel Zelaya, seja reconduzido imediatamente e de forma incondicional ao cargo, para que possa conduzir as reformas democráticas de forma pacífica e com a participação popular".
Em aparte, Senador Tião Viana (Bloco/PT – AC) elogia o companheiro de partido assegurando seu "posicionamento partidário e pessoal", sua postura "democrata" e de solidariedade com "povo hondurenho". Destaca a posição dos EUA, "o Presidente dos Estados Unidos com uma posição unitária e firme de repúdio e não aceitando o golpe de Honduras". Depois, a postura do Brasil: "a posição que o Presidente Lula" nos "(..) combate a esse impulso ditatorial de golpismo que está ocorrendo hoje em Honduras"; E, conclui: "Só quero me associar a um justo e elevado alerta que faz V. Exa, em nome da democracia americana".

Participaram, igualmente, do aparte os senadores pelo PT Eduardo Suplicy, São Paulo, Augusto Botelho, Roraima, Marina Silva, quando ainda era do PT, Acre, Serys Slhessarenko, Mato Grosso, e por fim, Aluízio Mercadante (Bloco/PT – SP) que na oportunidade contribuiu com seu companheiro de partido, João Pedro, falando:
"(...) queria registrar que apresentamos uma moção de censura contra o golpe de Estado. Acho que não podemos tratar isso como uma questão menor, pela história de fragilidade da democracia em muitos países da América Latina. Aqui no Brasil, a democracia se consolidou, a democracia avançou. Estamos hoje com as instituições que superaram crises econômicas, sociais e políticas. E a democracia é um valor, eu diria, absolutamente consolidado em nosso País, mas não era em nosso entorno.
O que aconteceu em Honduras é inaceitável, um golpe militar, um golpe parlamentar que revoga um mandato soberano do povo. Eles têm direito a criticar o Presidente, eles podem querer mudar o Presidente, mas têm que fazer isso dentro do Estado democrático de direito e, de preferência, a partir dos processos eleitorais.
Por isso, Sr. Presidente, há uma moção de censura na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, uma moção propondo imediatamente um pronunciamento do Senado Federal. Se houver um entendimento dos líderes, acho que poderemos fazer essa votação ainda hoje. Acho que seria muito bom que o Senado se pronunciasse publicamente junto com outras institui-
ções do mundo inteiro que o estão fazendo, o Governo americano, o Governo da União Européia, a OEA, a ONU, o Governo brasileiro na primeira hora, para que não permitamos que o golpismo volte, e exigindo que a cláusula democrática da OEA seja efetivamente implementada e de forma mais imediata. Hoje revogaram os direitos e garantias individuais.
(...) Portanto, prisão, intervenção na vida doméstica das pessoas, como sempre, começam com os golpes de Estado e, depois, vem a tortura, a repressão, a censura e a degradação da vida democrática. Por isso, parabéns pela intervenção. Espero que o Congresso hoje, o Senado Federal aprove uma moção que, acho, é absolutamente urgente, firme e contundente. Quero agradecer a todos os Senadores da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, especialmente o Presidente Eduardo Azeredo e o Relator Eduardo Suplicy, por terem aprovado com tanta agilidade uma matéria que considero de grande interesse histórico para a democracia”.
VISITA DE MANUEL ZELAYA AO BRASIL

Quase um mês e meio depois, ou seja, há 44 dias retirado do poder pelo do golpe, Manuel Zelaya visitou o Brasil, em 11/12 de agosto de 2009, para se reunir com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o teria convidado a vir ao Brasil, desde os dias iniciais do mês corrente.

Em entrevista concedida à imprensa na Base Aérea (38), logo que chegou e, portanto, antes de reunir-se com Lula, Manuel Zelaya fez critica a falta de interesse dos EUA com a Democracia, fato que deixa a transparecer um favorecimento político de apoio aos golpistas hondurenho:
“Reconhecemos o esforço norte-americano, mas cremos que as ações foram demasiadamente tíbias, não sendo suficientes. Consideramos que o presidente [Barack] Obama pode tomar medidas mais enérgicas nos aspectos econômicos, comerciais, migratórios e mesmo em relação a diversos tratados econômicos que têm com Honduras”.
Tanto é verdade isto que Zelaya disse que, ao contrario dos EUA, o Brasil, por exemplo, demonstrou não só em palavras a condenação golpista, mas na prática, tomando medidas firmes, como a retirada do embaixador de Tegucigalpa, congelando parceria militar, suspendendo financiamentos, etc". Os americanos poderiam fazer muito mais porque os Estados Unidos mantinham com Honduras cerca de “70% de suas atividades econômicas, culturais, militares e políticas”, dai que "demonstrem seu repúdio ao governo de Roberto Micheletti de forma mais dura".

Ao relembrar o processo do golpe, historizou sua detenção por militares, em 28 de junho, qualificando tal ato como “um delito que afeta a todo o Continente Americano”, posteriormente, o Presidente constitucional de Honduras mostra o grau de importância de sua visita ao Brasil, no sentido da luta mais ampla em defesa da democracia latino-americana. E, nesta luta, o governo brasileiro era seu escudo mais fiel e um aliado importante no processo de condenação do Golpe de Estado. Lula e o Itamaraty sabiam disso e foram enérgicos contra o grupo que usurpou o poder em Honduras, ao tempo que, ressaltando as vacilações diplomáticas dos EUA, que não se mexendo na direção da volta de Zelaya a presidência, assim, estando definitivamente comprometido com os golpistas, como se verificaria em 3 de março de 2010, aqui mesmo no Brasil, quando a secretária do Departamento de Estado norte-americana, Hillary Clinton (39), "pediu que se desse apoio ao presidente [Porfírio] Lobo, que foi eleito. E superasse o episódio do ex-presidente Zelaya”, reportou Michel Temer depois de reunir-se com a chefe de Estado Americano.

Diplomaticamente, observou que seu objetivo no Brasil era se encontrar "com o presidente Lula e com o [ministro das Relações Exteriores] chanceler Celso Amorim", precisamente "para tratarmos de uma estratégia para que as medidas contra o regime golpista sejam mais enérgicas, tanto as medidas norte-americanas quanto as latino-americanas”. Na entrevista agradeceu a firmeza dos movimentos sociais, ademais de Lula e Amorim, na condenação do Golpe de Estado em Honduras", que na sua apreciação, foi "um delito que deve ser considerado um crime contra a humanidade".

E, ainda, contextualizou a luta política no país caribenho, que estava sofrendo duras penas do fascismo local (40):
“O povo hondurenho completa hoje mais de 40 dias de resistência cívica pacífica. Ele foi duramente reprimido, há uma dúzia de assassinatos, mais de mil presos políticos em todo o país. Há tortura e a liberdade de imprensa foi suprimida. O povo sofreu primeiro com o golpe de Estado e agora com a instalação de uma ditadura”, comentou o hondurenho. “Não há, no âmbito internacional, legislação específica sobre golpes de Estado e o Brasil é um dos países dispostos a lutar pela tipificação de golpes de Estado como um delito de lesa-humanidade”.
Depois da reunião de Zelaya com Lula, Celso Amorim, que também participou da reunião, foi o porta-voz do encontro. Segundo relatou, o presidente brasileiro teria se comprometido em falar com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre a situação de Honduras, no entanto, deixou claro que independente da articulação, era inabalável a posição firme do Brasil quanto a volta de Manuel Zelaya ao poder (41):
"O presidente Lula se dispôs a falar com o presidente Obama no momento adequado. Naturalmente eu posso ter que falar antes, mas o importante é que não haja dúvida sobre o apoio do Brasil pela volta imediata, incondicional do presidente Zelaya"
O Ministro das Relações Exteriores do Brasil, igualmente, analisou o fator tempo contra a Democracia, criticando os golpistas e apontando quem era a principal peça de apoio ao golpe:
"Na medida em que o tempo vai passando, a capacidade da volta do presidente Zelaya vai se enfraquecendo e isso é ruim para democracia. É preciso não só que o presidente Zelaya volte, mas que volte rápido. E pra que ele volte rápido é preciso que os golpistas entendam que eles não têm futuro e quem pode dizer isso com todas as letras pra eles são os Estados Unidos, que têm maior influência direta".
Importante destacar o trecho em que Amorim fala, "os Estados Unidos (...) têm maior influência direta" sobre "eles", ou seja, sobre os golpistas. Claro que para a diplomacia brasileira, os EUA e o governo Obama faziam jogo duplo, porque, como vimos, o Departamento de Estado Americano admitiu depois do golpe, através de sua Secretaria Hillary Clinton, que "não reconhecia os acontecimentos como um golpe", assim como Obama, que sempre se referiu "as duas partes do conflito". Prova cabal é o fato de nunca terem qualificado os acontecimentos de Honduras como um "Golpe de Estado", pois, se assim o fizessem, lhes obrigariam a suspender toda classe de apoio econômico, diplomático e militar ao país. Os próprios porta-vozes do Departamento explicaram:
"Em referencia ao próprio golpe, o melhor seria dezer que foi um esforço coordenado entre os militares e alguns atores civis. Obviamente, os militares foram quem conduziram a remoção forçada do presidente e que atuaram para assegurar a ordem pública durante este processo. Porém, para que o golpe seja mais que uma insurreição ou uma rebelião, tem que existir uma transferência de poder aos militares. E neste sentido, o Congresso - a decisão do Congresso de juramentar a seu presidente Micheletti, como presidente de Honduras, indica que o Congresso e membros Chávez deste tem desempenhado um papel importante nesta situação" (42).
Antes de seguirmos na exposição dos acontecimentos vinculados com a visita do Presidente Manuel Zelaya ao governo brasileiro, faremos algumas analises dos fatos já mencionados.

O Brasil durante o Governo Lula, diplomaticamente, jamais demonstrou insegurança ou fraqueza diante da questão hondurenha, quando a "imprensa do partido golpista brasileiro" e seus opositores da direita o criticaram de "pedir ajuda dos EUA", na verdade, o governo brasileiro o que fazia era chamar os EUA para assumissem seu papel no processo, no qual eles próprios estavam envolvidos até o pescoço. E, seguindo esta linha política nas relações com os americanos, contribui de maneira exemplar, demostrando ao mundo que os ianques, que possavam de mocinhos e senhores da liberdade, ao contrario, eram coparticipantes e, diante da opinião pública internacional, os principais defensores e apoiadores do Golpe em Honduras, apesar de inicialmente usarem fraseologias sofistas de “condenação” ao golpe.

A coparticipação e apoio tinham no fator econômico o vínculo principal dos EUA com o golpe. Ai estava a "maior influencia direta" dos "Estados Unidos" com golpistas. Lula, Celso Amorim e Manuel Zelaya sabiam que a "estrategia" seria atacar os Estados Unidos por esta via.

A guerra de informações deixam as coisas embaralhadas, mas, nada que não se possam ser esclarecidas.

Pelo que podemos identificar, Celso Amorim não deu detalhes de qual seria o conteúdo da fala e do compromisso de Lula na articulação, apenas menciona que Lula ia "falar" com o "presidente dos Estados Unidos". Se levarmos em consideração a entrevista dada por Zelaya ao chegada ao Brasil, no encontro com Lula, ia-se tratar de um "estratégia para que as medidas contra o regime golpista sejam mais enérgicas, tanto as medidas norte-americanas quanto as latino-americanas”, medidas, nos "aspectos econômicos, comerciais, migratórios e mesmo em relação a diversos tratados econômicos que têm com Honduras”.

A fala de Zelaya foi a mesma versão apresentada pelos jornais. A BBC Brasil, abordou que Zelaya vinha visitando os "países da região em busca de apoio para que os Estados Unidos adotem medidas mais contundentes (...)”. Entre as medidas sugeridas estavam "sanções comerciais ao país latino-americano (Honduras)". O Portal da BBC, acrescentou que (43):
"Cerca de 70% da economia de Honduras está de alguma forma ligada aos Estados Unidos. A avaliação do grupo de Zelaya é de que seus opositores não resistiriam à interrupção das relações comerciais com os americanos.
O governo brasileiro também concorda com a estratégia de “sufoco comercial” ao governo interino. De acordo com uma fonte do Palácio do Planalto, o presidente Lula teria se comprometido a conversar, por telefone, com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para reforçar a importância das sanções".
Bom, seja como for, o fato é que o Jornal O Globo, na tentativa de fazer o jogo do EUA e da oposição brasileira contra o Governo Lula, escreveu afirmando (44):
"Há três dias, no México, Obama chamou de hipócritas aqueles que pedem uma atuação mais forte dos EUA no caso e, ao mesmo tempo, reclamam da interferência americana.
- Os mesmos críticos que dizem que os EUA não intervêm o suficiente em Honduras são aqueles que dizem que estamos sempre intervindo e que os ianques precisam sair da América Latina" ... disse Obama”.
O Globo, a Folha de São Paulo e outros jornais do PiG poderiam ter repetido outras informações dos jornais burgueses do México, aqui o faremos para desmascará-los, buscando mostrar quem ficou do lado correto da historia.

Numa posição conjunta entre EUA, México e Canadá, no marco da Cúpula de Líderes da América do Norte, realizada em 10 de agosto de 2009, os jornais burgueses do México e seus aliados do terrorismo mediático do continente, com seus trejeitos peculiares, narraram (o portal de Wradio):
"Os presidentes de México, Estados Unidos e Canadá condenaram o Golpe de Estado em Honduras, porém rechaçaram a petição do deposto Manuel Zelaya e outros líderes da América Central, America do Sul e Caribe, que exigem a intervenção do governo norte-americano para expulsar os golpistas encabeçado por Roberto Micheletti" (45).
Soa esdrúxulo "condenarem" o Golpe de Estado e ao mesmo tempo, aparentemente, claro está, não fazer nada para restabelecer a democracia e o Estado de Direito em Honduras. Tudo em nome de uma não "intervenção", conceito usado intencionalmente, haja vista, o histórico condenatório dele pelos latinos americanos durante o Séc. XX. Mas, na oratória imperialista, seria importante partir dele para exercitar o sofismo, para em seguida usar as premissas negativas da contradição, tendo em vista, acusar e atacar "Manuel Zelaya e outros lideres da América Central, América do Sul e Caribe, que exigem a INTERVENÇÃO do governo norte-americano para expulsar os golpistas encabeçado por Roberto Micheletti".

Como um desdobramento lógico, Jaime Obrajero, escritor de perolas serviçais da ideologia burguesa e pró-ianques, passa a descrever as falas dos presidente, começando pelo principal.
“O primeiro em negar essa solicitação foi o próprio Barack Obama que criticou severamente quem pede sua intervenção.
Os mesmos críticos que dizem que os Estados Unidos não têm intervindo o suficiente em Honduras, são os mesmo que dizem que sempre estamos intervindo e que os ianques têm que sair da América Latina. E não se pode fazer as duas cosas, então, creio que isso indica que, talvez, exista certa hipocrisia na abordagem das relações entre Estados Unidos e América Latina".
O presidente mexicano, Felipe Calderom, seguiu Obama e respaldou os golpistas hondurenhos.
"Eu não sou dos que compartilha que Estados Unidos seja erguido como o grande juiz, ou solucionador final, através da intervenção nos assuntos de nossos países. Eu penso que devo apoiar as organizações internacionais como a OEA, ou como o Grupo do Rio ou melhor como os grupos de quem são amigos de Honduras".
O primeiro Ministro canadense, Stephen Harper, repetiu praticamente o que disse Obama, com exceção do Plano Colômbia:
"Sim eu fosse presidente dos Estados Unidos estaria cansado de tanta hipocrisia, Estados Unidos sempre está sendo acusado de intervir e, em seguida, acusado de não intervir. Os mesmos que exigem a intervenção em Honduras são os mesmos que condenam a cooperação entre Colômbia e os Estados Unidos, que leva a cabo por razões legitimas de narcotráfico e de segurança, e que são de interesse para todos os países deste hemisfério"
O argumento de Barack Obama (além dos presidentes do México e Canadá) alimentou a posição de seus serviçais contra os governos progressistas e de esquerda no continente, especialmente, a classe dominante brasileira e seus partidos burguês, bem como, do partido da imprensa Golpista (PiG).

Como observado, hipócritas foram os próprio EUA, não os países do continente que foram contra o Golpe de Estado em Honduras. Para quem tem uma biografia a serviço da CIA*, o argumento de Barack Obama demonstrou ser uma fala tipica dos bandidos e criminosos das piores especies que defendem e apoiam o capitalismo norte-americano. Sem sombra de dúvida, que depois de sacramentado o golpe, com suas digitais no processo golpista, seria complexo desfazer o trabalho intervencionista, levado acabo pelo aparelho imperialista de seu Estado Nação (basta revisar a entrevista de Zelaya a AMY GOODMAN para entendermos as afirmações que faço).

Ademais, a critica de Barack Obama e aliados é falsa, por si só desleal. O Brasil e os correligionários da América Central, do Sul e do Caribe que, efetivamente, condenaram o golpe hondurenho, jamais pediram aos EUA que "interviessem" em Honduras, todo o papel de condenação sobre a quebra do Estado Democrático de Direito, o pisoteio da soberania popular e da Constituição, foi feito pelos países no âmbito da OEA e da ONU. O que aconteceu foi que os EUA, como membro destas comunidades internacionais, sempre foi contra a restituição da democracia popular em Honduras. Todos os países membros das associações internacionais citadas, sabiam que os EUA eram a peça chave para a solução da questão hondurenha, porque, eram eles mesmos os intervencionistas no campo econômico e militar, do ponto de visa político, contavam com aliados fundamentais do golpismo no país caribenho. Neste sentido, o Governo Obama tinha influência direta em relação aos golpistas, se tivesse vontade política, teria ficado do lado da Democracia e do Estado de Direito. Mas, preferiram usar da lábia, a demagogia dos meios de comunicações e as hipocrisias dos aliados para vestir um Golpe de Estado numa "Democracia" da minoria capitalista ianques e da oligarquia hondurenha. Preferiram em outras palavras, transformar intervenção em não intervenção, jogando, discursivamente, contra os governos latino-americanos, como disse Felipe Calderom: sou dos amigos de Honduras, amigos dos golpistas, poderia ter acrescentado, mas pelo contexto, não precisou dizer, para o bom entendedor, basta.

Durante a reunião com o presidente Lula, Zelaya deu detalhes do golpe que sofreu. Esclareceu que "Honduras estava desenvolvendo um processo de pesquisa de opinião pública, não um referendo nem um plebiscito". Repetiu o fato de que: "Assaltaram minha residência a balaços. Fui praticamente sequestrado de forma violenta, com roupas de dormir, apontando-me armas". Que Honduras estava sobre repressão e submetida a um ditadura, "Se a violência surge para derrotar presidentes, para apropriar-se da riqueza dos países e para manter seus privilégios, acreditamos que os povos também têm direito à insurreição. Honduras está submetida a uma ditadura", denunciou, neste sentido, "que o governo golpista ordenou a prisão de mais de mil pessoas". Lembrou que "os Estados Unidos têm que tomar medidas mais firmes para reverter o processo deste golpe de Estado, porque 70% da economia de Honduras depende dos Estados Unidos". Manuel Zelaya contou ao Presidente Lula que, porquanto, o avião usado para expulsá-lo de Honduras fez uma escala na base militar de Palmerola, controlada de forma conjunta pelo Exército hondurenho e forças americanas: “O Pentágono tinha de saber que o avião estava sendo usado para um golpe de Estado” (46).

Após se reunir com o governo brasileiro, o Presidente de Honduras foi ao Congresso Nacional, segundo a Agência Brasil "em busca de apoio contra o golpe que o tirou do Poder", "não pediu abertamente apoio dos parlamentares para voltar ao poder, mas criticou o que aconteceu em seu país".

No plenário do Senado, Zelaya falou do Golpe de Estado, da violação do pacto social, da Constituição, da República, da Democracia, dos Direitos Humanos, da censura a imprensa, torturas e violência contra o povo, ademais de criticar aos EUA. És na integra seu discurso (47):
"Um filósofo alemão disse que o ser humano nasce sem limites e sem ordem, que a ordem e os limites têm que colocar as leis que se elaboram nos Senados, nos Congressos e nos governos democráticos. Um Golpe de Estado é como uma guerra, se rompe o pacto social, se viola a Constituição, a República e a Democracia. Portanto, se viola ao povo. E um violador da Constituição e da República, pode violar seu espaço intimo, sua casa, sua família, seus filhos e sua mulher. Honduras tem sido violentada por um Golpe Militar, associado com grupos econômicos e políticos. O povo hondurenho está resistindo hoje faz 46 dias, nas ruas. Lutando contra o golpe. Há mais de 10 pessoas assassinadas nas ruas de Honduras pelos golpistas. Há uma violação dos Direitos Humanos, censura de imprensa, torturas e mais de mil presos políticos nas prisões de Honduras. A comunidade internacional, senadores, tem sido muito solidário com o povo hondurenho e com seu servidor [Zelaya]. O Presidente Lula tem sido firme contra o golpe, hoje o senado tem me entregado documentos, aprovados contra o Golpe de Estado, para que essas experiências não voltem a se repetirem em América Latina e em nenhum lugar. É necessário ser mais forte nas medidas diplomáticas, comerciais e econômicas. Eu tenho pedido aos Estados Unidos que seja mais forte com suas medidas. Honduras depende 70% de sua economia dos EUA. O presidente Obama tem manifestado firmeza, porém, suas medidas têm sido tíbias e suáveis contra os golpistas. Quero agradecer este convite breve do presidente Sarney, igual que ao senador Mão Santa, que preside esta reunião, bem como, aos senadores que têm se manifestado das diferentes bancadas. Isto fala bem do Brasil, da consciência democrática do povo brasileiro no mundo. O Brasil tem um peso especial na América e um peso especial no mundo. Se o Brasil está contra o golpe, e o povo de América acompanha o povo hondurenho, os golpistas não poderão permanecer muito tempo na usurpação do poder em Honduras. E se reconstruirá a Democracia. E América seguirá sendo o continente da esperança que todos esperamos paras as nossas nações".
Do Senado Federal foi a Câmara dos Deputados, não obstante, antes de sua chegada, houveram alguns obstáculos para que a visita fosse realizada.

Em 11 de agosto de 2009, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (SP), fez em Plenário um pedido ao presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), para que o mesmo agendasse uma "visita à Câmara do presidente legítimo de Honduras, Manoel Zelaya Rosales".

Como que prevendo o futuro próximo de golpista, fez pouco caso ao pedido, se negando a fazê-lo, porém, com a demagogia de que lhe é peculiar, respondeu que a "Câmara o receberá "com muito agrado". Porém, "se Zelaya encaminhar a devida solicitação" (48).

No dia 12 de agosto de 2009, ARLINDO CHINAGLIA (PT-SP), por conveniência da visita do Presidente de Honduras, José Manuel Zelaya, à Câmara dos Deputados, antes de pedir (pisando em ovos e usando de sua oratória de convencimento) a Michel Temer que autorizasse a vinda de Zelaya a Câmara, justifica a ausência do momento, usou a palavra em plenário falando (49):
"acabei de chegar ao plenário e estava ouvindo o Deputado Ivan Valente. Eu estava numa cerimônia em que V.Exa. já esteve, que é a da posse da nova direção da União Nacional dos Estudantes, e lá o Senador Inácio Arruda informou-me dessa recepção que está ocorrendo neste momento do Presidente de Honduras, do Presidente Zelaya, e então indagou-me, e dei minha opinião, obviamente em caráter individual, mas com um componente de análise, da possibilidade de ele ser recebido no plenário da Câmara dos Deputados. Eu disse que creio que o Presidente Michel Temer o faria com, digamos, imenso prazer, pelo democrata que é, e pelo símbolo, digamos, de luta pela democracia que hoje representa a volta do Presidente Zelaya à, digamos, sua função legitimamente conquistada em processo eleitoral".
Com base na argumentação anterior, apela para a autorização do “Presidente Michel Temer”:
"Não sei se vai haver essa possibilidade a partir do cerimonial, mas, se V.Exa. me autorizar, ou a qualquer outro Parlamentar, poderíamos informar ao Senador Inácio Arruda essa possibilidade, porque creio que, quando o Governo brasileiro recebe o Presidente Zelaya com honras de Chefe de Estado, isso tem um simbolismo. Ele ser recebido aqui por V.Exa., é ocioso dizer, tanto a V.Exa. quanto aos pares, da importância da mensagem que o Parlamento brasileiro vai dar aos outros Parlamentos em âmbito mundial, a partir dos países da América Latina, a partir do continente americano".
A intervenção de Chinaglia corrobora o fato de Michel Temer ter, desde o dia anterior (11/07), resistido ao convite, ou melhor, dele próprio se negar a tomar a iniciativa de fazê-lo como presidente da Câmara dos Deputados. Esta atitude comprova que as palavras de quaisquer Deputado no sentido de qualificar Michel Temer de "democrata" era apenas um conceito "diplomático", dado ao lugar que ocupava na época, pois, Michel Temer nunca foi a favor da democracia, nem no tempo em que foi "Presidente da Câmara".

De outro lado, Temer sempre agiu de maneira rebuscada e confusa com as palavras, apesar de sair-se das situações com palavras, aparentemente, "democráticas", criou um “personalidade” que nunca foi sua, a bem da verdade, um caráter cuja coraça pulsiona autoritarismo, diria Wilhelm Reich. Cabendo salientar, que por ser Presidente, as reportagens da TV Câmara sempre o colocava em evidência, como exemplo, "Presidente Michel Temer aprovou sanções contra o golpe em Honduras", "Michel Temer recebeu ao Presidente de Honduras na Câmara", sendo que ele nunca mexeu um dedo, por iniciativa própria, para aprovar "sanções" de cunho explicito de condenação do Golpe de Estado em Honduras, bem como, no caso especifico da visita. Todas as sanções aprovadas pela Câmara dos Deputados, assim como, a visita de Manuel Zelaya ao Parlamento, foram articuladas pelos políticos da esquerda brasileira.

Em resposta ao pedido de autorização feito pelo Deputado Arlindo Chinaglia, sobre a conveniência da visita do Presidente golpeado de Honduras José Manuel Zelaya à Câmara dos Deputados, disse "O SR. PRESIDENTE (Michel Temer)" (50):
"Deputado, talvez pudéssemos fazer o seguinte: se V.Exa. aceitar, seria o portador do convite para que eu o receba no Salão de Autoridades. Recebo-o inicialmente lá, como Presidente da Câmara, acompanhado de todos os Deputados que lá queiram estar presentes. Então, se V.Exa. e o Deputado Ivan Valente puderem, levariam o convite, porque essa coisa tem um pouco um aspecto diplomático. Não houve pedido aqui à Câmara para que ele fosse recebido. Não sei como as coisas se deram no Senado; suponho que ele tenha marcado uma presença com o Cerimonial daquela Casa. Se isso se verificar, saímos daqui, vamos ao salão de autoridades e receberemos S.Exa. lá.
Como podemos identificar, dentre outras coisas, tendo em vista também as observações acima antes da citação, Michel Temer mentiu ao afirmar "Não houve pedido aqui à Câmara para que ele fosse recebido. Não sei como as coisas se deram no Senado". Hora, hora!!! O pedido foi feito por Cândido Vaccarezza um dia antes. O que significa dizer que seu comportamento reflete seu pouco caso com o Presidente Zelaya, porque, "essa coisa que tem um pouco [de] aspecto diplomático", no seu ponto de vista anti-democrático, foi na direção oposta ao caminho assumido pelo Presidente Luta, da Diplomacia Brasileira e dos deputados de esquerda, pois, todos receberam Manuel Zelaya com status de Chefe de Estado, Presidente eleito constitucionalmente, vítima de um GOLPE DE ESTADO, além de exigirem sua volta ao comando do País hondurenho. Ao fazer pouco caso, Michel Temer assumiu a posição dos golpistas hondurenhos.

Arlindo Chinaglia disse em seguida que iria fazer o contato. No mesmo instante, o fascista Jair Bolsonaro reagiu, asseverado que "Só não venha ao plenário. Ele não virá ao plenário, então?". Ao que respondeu Michel Temer: "Ao plenário, não" (51).

Em seguida, justificou a contestação do fascista Jair Bolsonaro, acerca de eventual visita do Presidente Honduras à Casa:
"SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Veja bem, a Presidência da Câmara não se recusa jamais a receber nenhum homem público, seja de situação, seja de oposição. (SR. JAIR BOLSONARO - Mas não como chefe de Estado). SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - É uma figura que disputou eleições. Há um conflito, e nós não vamos entrar na questão do conflito. Mas, se ele se dispuser a vir e ser recebido pelo Presidente da Câmara e por Deputados no salão de autoridades, podemos fazê-lo, como faço sempre. Eu recebo todas as autoridades públicas que vêm ao País, e todos os ex-Presidentes têm feito dessa maneira" (52).
Depois de todos os obstáculos, Manuel Zelaya, foi recebido na Câmara. Ai, "disse que segue em sua campanha internacional pela volta da legalidade no país”, enquanto que, "O povo hondurenho está firme na direção de reverter esse processo [o golpe]. Irei também ao Chile e depois aos Estados Unidos" (53).

Arlindo Chinaglia, um dos articuladores (ademais de Cândido Vaccarezza) narrou que na conversa com Manuel Zelaya, esse teria relatado aos parlamentares presentes a situação que Honduras estava enfrentado, como: "prisões em estádios de futebol, mortes, torturas. Registrou o papel do Brasil, a firmeza do Brasil na defesa da restauração democrática do país. Valorizou as atitudes do presidente norte-americano (Barack) Obama ainda que avalie que, pela força dos Estados Unidos, o país pudesse e devesse fazer mais."

O deputado do PT expôs seu posicionamento, refletindo os argumentos dos demais deputados de esquerda, afirmando que (54):
"O golpe que aconteceu em Honduras veio mascarado pelo papel do Parlamento, pelo papel do Poder Judiciário. Mas o fato é que é golpe. Tanto é, que houve uma condenação unânime em todo o mundo. É evidente que a manifestação dos Chefes de Estado de cada país é muito mais importante que a manifestação de Parlamentos. Mas os Parlamentos podem e devem se posicionar. Até para demonstrar para o próprio Parlamento de Honduras que eles não nos convencem respaldando um golpe militar. Há um repúdio veemente a golpe na América do Sul, na América Latina. Até porque já temos uma cicatriz histórica. Ninguém quer saber mais de golpe. A democracia é um valor universal e temos que preservá-la."
REGRESSO DE MANUEL ZELAYA À HONDURAS E A ENTRADA DIRETA DO BRASIL NA CONDENAÇÃO AO GOLPE DE ESTADO

Quando já havia quase um silencio de tumba nos meios de comunicações das corporações internacionais, seguindo a risca a posição do império americano, silencio esse quebrado somente pelos meios de comunicações alternativos, em especial, Telesur, aconteceu que Manuel Zelaya consegue driblar a CIA e as Forças Armadas Hondurenhas, alcançando regressar a Honduras, indo em seguida para a Embaixada Brasileira.

O quadro político internacional e interno de Honduras, vem assomar-se a outro que tem consequência direta com a entrada do Brasil na conjuntura. Democracy Now, em 29 de setembro de 2009, é quem nos coloca a par dos acontecimento. Segundo reportou o apresentador, SHARIF ABDEL KOUDDOUS, após quase três meses, impedido de continuar governando seu país, o Presidente de Honduras, Manuel Zelaya, regressa (55):
"O presidente hondurenho Manuel Zelaya teve um retorno dramático para seu país, quase três meses depois do golpe militar que lhe obrigou a exilar-se. Na segunda-feira, Zelaya reapareceu na capital de Honduras, Tegucigalpa, refugiando-se na embaixada do Brasil. Falando do teto da embaixada, Zelaya disse que havia chegado depois de uma longa viaje, as vezes viajando a pé para evitar que lhe prendessem".
Após fazer o comentário acima, a reportagem expõe a fala de Manuel Zelaya, feita da própria embaixada, e como já adiantou, “ falando do teto da embaixada”:
"Eu tive que viajar durante quinze horas, algumas vezes caminhado em diferentes lugares, Á meia-noite, porque eu queria comemorar o aniversário da pátria com o povo hondurenho. Aqueles que acreditavam que governar é coisa fácil, se equivocaram. Governar não é tarefa de iracundo ou irascível. Governar é coisa seria. Governar requer talento, dedicação e amor ao povo"
Desde que soube da presença de Zenaya na embaixada brasileira, o governo golpista, Roberto Micheletti saiu em cadeia nacional para condená-lo:
"Não está claro por que o senhor Zelaya tem regressado a Honduras neste momento. Só ele o sabe. Porém, não posso chegar a outra conclusão que não seja a de que está aqui para continuar obstaculizando a realização de nossa eleição no próximo 29 de novembro, com tem feito até agora, assim como seus seguidores, a algumas semanas até agora. Fiz uma ligação ao governo do Brasil para que respeite a ordem judicial contra o Senhor Zelaya e o entreguem aos autoridades de Honduras. O Estado de Honduras se compromete a respeitar os direitos do senhor Zelaya no processo mencionado. Os olhos do mundo estão postos no Brasil e também em Honduras. Não desejamos que as paixões de uns poucos manchem a reputação e a imagem de nosso povo".
O jornalista correspondente (ANDRES CONTERIS) que cobria os acontecimentos de dentro da embaixada brasileira em Honduras respondeu a uma pergunta do apresentador [SHARIF ABDEL KOUDDOUS]: Por que os brasileiros o receberam, fazendo com que lhe desse refugio na embaixada do Brasil em Tegucigalpa?
"É bastante evidente que Brasil tem sido um defensor muito forte do Presidente Zelaya durante toda esta crise. E, devido a potencia e o simbolismo da força de América do Sul e Brasil, sendo o mais forte e o maior desses países, está claro, creio, que o presidente Zelaya decidiu que este era o melhor lugar para vir se refugiar. E quando chegou, obviamente, se abriram as portas. As autoridades brasileiras informa que eles não sabiam de antemão que ia a vir aqui, porém, foi recebido quando chegou. E, sua família se reuniu aqui na embaixada, pela primeira vez, depois de 86 dias separada".
A analise do comentarista Mark Weisbrot, convidado por Democracy Now para ajudar na compreensão dos acontecimentos, é importantíssima, em dois sentidos, primeiro para elucidação da conjuntura internacional, envolvendo instituições da “comunidade internacional”, Honduras, EUA e Brasil. Em segundo lugar, os comentários de Weisbrot colocam por terra as fantasias discursivas do PiG brasileiro e da burguesa entreguista, apoiadora de golpistas e opositora do Governo Lula.

SHARIF ABDEL KOUDDOUS, antes de passar a fala ao comentarista, apresenta-o dizendo: “(…) temos desde Washington, DC, a Mark Weisbrot. Ele é co-diretor do Centro de Investigação Econômica e Políticas e presidente da Just Foreign Policy. Tem escrito extensamente sobre a crise de Honduras e é um veterano analista de assuntos latino-americanos”.

Em seguida, pregunta: “Mark, poderia explicar a importância do retorno de Zelaya, em particular, as vésperas da reunião da Assembleia Geral das Nações Unidades? Mark Weisbrot responde e nos apresentado a analise citada:
"Bom, creio que marca uma grande diferença. Tem existido uma grande diferença desde o inicio, desde o Golpe de Estado de 28 de junho. Tem havido uma grande lacuna entre os Estados Unidos e o resto do mundo desde o inicio acerca desta situação. A Assembleia Geral das Nações Unidas, a Organização dos Estados Americanos, a Unasur, a União de Nações Sul Americanas, todos disseram desde o primeiro momento que queriam o retorno imediato e incondicional do presidente eleito, Zelaya. E os Estados unidos nunca disse isso, em realidade. De fato, o acordo proposto por Arias colocou todo tipo de condições a seu regresso, inclusive a incorporação das pessoas que encabeçaram o golpe ao seu governo e o adiamento das eleições. E de fato, como Andrés mencionou, o Brasil tem sido um forte defensor de Zelaya, e o ministro de Relações Exteriores do Brasil disse uns dois meses atrás... se queixou frente a Hillary Clinton de que estas condições foram incluídas no acordo de Areas, já que, como se sabe, nem a Organização dos Estados Americanos, nem as Nações Unidas ou qualquer outra pessoa queriam um acordo deste tipo. Assim, disse publicamente. Isto quer dizer que sempre tem existido esta grande diferença, porém, o governo de Obama tem passado por cima do tema sem dar atenção alguma aos demais, porque não tem dado muita atenção sobre Honduras.
E assim, agora, com a Assembleia Geral e com a atenção centrada no retorno dramático de Zelaya, Obama vai ter que inclinar-se por uma das partes mais do que tinha feito até agora. O governo de Obama tem sido muito ambivalente. Foram e vieram, primeiro sustentaram a postura de que deve ser restituído a seu cargo e logo chegaram a dizer quase o contrario. E 4 de agosto, o governo enviou uma carta, por exemplo, ao Presidente Lugar [Richard Lugar], na qual retrocediam bastante seu apoia a Zelaya. E Zelaya já esteva aqui seis vezes desde que foi derrubado, aqui em Washington, e o presidente Obama não se reunido com ele nenhuma vez, apesar de ter recebido solicitação de pessoais que são amigos próximos e aliados dele e também de membros democratas do Congresso.
Este é o tipo de sinais, sinais mistos, que este governo tem enviado aos lideres do Golpe de Estado e que tem fortalecido sua vontade e posição ao londo de todo este tempo. E tem muita razões agora, por exemplo. Terá de fazer muito mais pressão para tirá-lo dali, muito mais, tanto internacional como nacional, dentro dos Estados Unidos. Terá que fazer muito mais pressão sobre o governo de Obama para que realmente os force a deixar o governo”.
AMY GOODMAN, jornalista diretora de Democracy Now, é quem faz em seguida outra pergunta: “E, exatamente, o que poderia fazer a administração Obama si se compromete a sustentar o apoio ao líder democraticamente eleito, Manuel Zelaya? Qual é a relação que os EUA tem com Honduras?" A resposta de MARK WEISBROT não é nada favorável a Barack Obama que acusou de hipócritas os governos progressistas da América Latina por terem solicitado ao Governo dos Estados Unidos para intervir” em Honduras (isso segundo a versão apresentado por ele no México). Também, não é nada favorável ao partido da imprensa golpista brasileira:
“Eles poderiam fazer muito mais. Em primeiro lugar, em 11 de agosto, dezesseis membros do Congresso enviaram uma carta ao Presidente Obama e a secretária de Estado, Hillary Clinton, na qual pediram que se congelassem os ativos dos líderes do golpe, incluindo do governo - também pediram congelamento dos ativos do governo. Quando Aristide, o Presidente Aristide do Haiti, foi deposto pela primeira vez, George Bush pai congelou alguns dos ativos da ditadura e os deu ao governo no Exílio, ao Presidente Aristide. E esto foi, bom, durante uma presidência republicana que, em realidade, inicialmente havia apoiado ou havia estado envolvido no golpe. E esto é o mínimo que poderia fazer agora.
Poderiam colocar todo tipo de pressão, algo que não tem feito até agora. E, de novo, vemos a nossa Secretaria de Estado que está tratando de dizer, "bom, ambas partes devem fazer isto, ambas partes", inclusive a noite disse que apoiava o estado de sitio que o governo impões para evitar que as pessoas se manifestassem de forma pacifica. E, assim, pois, todo este tipo de coisas.
Ademais, não tem existido uma só palavra deste governo sobre as múltiplas violações aos direitos humanos cometidos pela ditadura, as milhões de prisões e detenções arbitrarias feitas pelos golpistas. Têm disparado contra os manifestantes e tem havido mortos. Estas violações de direitos humanos tem sido denunciados por Human Rights Watch, Anistia Internacional, pela Comissão Internacional de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, próprios grupos de direitos humanos de Honduras, por Europa etc. E nada, nada tem saído deste governo. Creio que realmente diz muito. Diz o bastante que este governo não tem querido debilitar a ditadura em Honduras. Isso é o que vai ter que mudar. E creio que vai existir mais pressões internacionais, e esperamos mais pressões internas, também, para mudar isso”.
Finalmente, MARK WEISBROT responde a segunda pregunta de AMY GOODMAN (“Mark Weisbrot, para a surpresa do regime golpista, Zelaya voltou para Honduras, e está agora na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Porém, se estivessem em Nova York e quisesse falar, dirigir-se a Assembleia Geral das Nações Unidas, o que ocorreria? Quem o reconheceria?”):
“MARK WEISBROT: O reconheceriam e receberia um enorme apoio. E isso era, estou seguro, seu outro plano: se não houvesse regressado a Honduras, haveria falado ali. Porém, isto, creio eu, é muito mais importante. Quero dizer, que haveria tido, talvez, unas poucas linhas aqui e lá algumas noticias. Esto atrai agora a atenção do mundo. Vamos vê um monte de apoio nas Nações Unidas e de vários chefes de Estado a Zelaya, muito mais pressão, e aqui no Congresso, também, por certo.
E, assim, os espectadores querem fazer algo, podem se colocar em contato com membros do Congresso, e já sabe, haverá outra carta dos membros do Congresso que indica que Zelaya deve voltar. E, também, o Observatório da Escola das Américas tem pedido as pessoas que escrevam e chame ao Departamento de Estado. Assim que, vai existir muito mais pressão sobre eles.
E a pergunta é, realmente farão o que tem que fazer para livrar-se deste governo? Porque o governo, todavia, tem amigos aqui. Bom, vocês têm entrevistado a Lanny Davis. Eles conhecem pessoas influentes. Têm aos republicanos, e têm a favor, vocês sabem, grande interesses neste governo, incluindo os militares, que querem manter sua base em Honduras. E existe muitas forças aqui que realmente não querem que Zelaya volte, ou se estão dispostos a que volte, não querem que seja como um triunfo. Você sabe, isso é outra coisa pelo que estão muito preocupados, que ele saia ganhador e seus amigos, assim como, seus amigos no governo, no regime de fato, terminem perdendo. Assim que, de novo, vai ter que haver muita pressão, porém, sem duvida, a pressão vai aumentar bastante com o regresso de Zelalay”.
Como era de se esperar, a entrada direta do Brasil no contexto histórico da vida política hondurenha, agora numa fase mais cotidiana contra o Golpe de Estado em Honduras, foi demasiadamente questionada pelos meios de comunicações internacionais, principalmente, pelo terrorismo mediático da burguesia internacional e brasileira. Todavia, foi uma oportunidade do Governo Lula, igualmente, intensificar a condenação brasileira ao golpismo, à proporção que, defendendo o Estado Democrático de Direito e a Democracia na América Latina . Uma ironia do destino, porque 7 anos depois, o Brasil estaria presenciando um Golpe de Estado.

Acompanhado o desenrolar do quadro político internacional e seu envolvimento direto, o Brasil saiu na defesa do Estado Democrático de Direito e da soberania do povo hondurenho em eleger seu presidente pelo voto e tê-lo no mando de seu país, em outras palavras, tanto o governo do Presidente Lula quanto sua Diplomacia, liderada pelo experiente Celso Amorim, se posicionaram de forma digna e veemente contra o Golpe e contra aqueles que usurparam a presidência de Manuel Zelaya em Honduras, executado pelos golpistas da oligarquia dominante.

Em roda de imprensa, o Ministro Celso Amorim, na Missão do Brasil junto à ONU, deu uma longa entrevista sobre o abrigo e a situação em Honduras, poucas horas da entrada de Manuel Zelaya à embaixada brasileira, Tegucigalpa, em 21 de setembro de 2009 (56).
"CELSO AMORIM: Bem, queria dizer que a cerca de duas horas e meia a trás mais ou menos, eu me comuniquei com o encarregado de negócios em Honduras, em Tegucigalpa [o Brasil tinha retirado seu embaixador e contata apenas com dois ou três encarregados], e tomei conhecimento de que o presidente Zelaya se encontrava na Embaixada do Brasil. Eu falei pessoalmente com o presidente Zelaya, dei a ele as boas vindas ao território brasileiro, digamos assim. Presidente Zelaya me disse que chegou a Honduras e a Tegucigalpa, por meios próprios e pacíficos, Brasil não teve nenhuma interferência dele para Honduras, mas naturalmente foi recebido, é o presidente legitimo de Honduras, nós consideramos. E, ele reiterou o proposito de manter dialogo para encontrar rapidamente uma solução pacifica para a situação, repito, pelo diálogo. Eu reiterei que o Brasil não só o abrigava, naquela circunstancia, mais também, que poderia fazer o que fosse necessário para ajudar nesse dialogo, porque essa é a solução que nós sempre defendemos, quer dizer, este meio para chegar a solução que é o retorno ao poder do presidente, constitucionalmente eleito, que é o presidente Zelaya. Comuniquei tudo isso que acabo de dizer a vocês, ao presidente Lula, imediatamente, que se encontra em voo entre o Brasil e Nova Iorque, onde ele vem participar de vários eventos, inclusive, Assembleia Geral da ONU. E em seguida, autorizado pelo presidente, também, me comuniquei com o Secretario Geral da OEA, e pedi ao nosso embaixador que fizesse os contatos com o governo norte-americano no sentido de que não haja nenhum tipo de ameaça, seja a própria segurança do presidente Zelaya seja as instalações da embaixada do Brasil e as pessoas de nossos funcionários. Não é uma situação propriamente de asilo político, porque ele é o presidente legitimo, mas nós consideramos que ele sendo um presidente de um país estrangeiro da embaixada do Brasil, goza de todas as prerrogativas de que gozaria também qualquer outra pessoa, que buscasse asilo, que não é o caso, por que ele na realidade pretende manter esses contatos chegar rapidamente a uma solução pacifica.
JORNALISTA: Ministro, houve algum contato prévio antes dele chegar a embaixada do Brasil?
CELSO AMORIM: Olha, a cerca de meia hora, talvez uma hora antes dele chegar, não sei exatamente quanto, para falar a verdade, uma pessoa do mundo político, uma deputada (ligada naturalmente ao presidente Zelaya) procurou a embaixada do Brasil dizendo que a senhora do presidente Zelaya gostaria de conversar com nosso encarregado de negócios, ele foi autorizado a fazer isso, e a senhora do presidente Zelaya então disse que o presidente Zelaya estava nas cercanias, e perguntou também, se ele poderia vir até a embaixada, o que foi também autorizado, mas, isso tudo se passou 40 minutos antes da chegada do presidente Zelaya (...)
JORNALISTAS: (..) e o governo hondurenho, o governo lá?
CELSO AMORIM: qual governo? O presidente é Zelaya!
JORNALISTAS: o que está no poder?
CELSO AMORIM: Nós não tivemos nenhum contato com as autoridades de fato porque nós não mantemos, se for necessário, naturalmente, uma questão de segurança, falar-se com a polícia, isso é normal! Mas, nós não mantemos contato diplomáticos, por isso, é que nos solicitamos ao Secretario Geral da OEA que faça esses contatos, e eu entendo que ele está desenvolvendo (...).
JORNALISTA: Foi uma coincidência isso acontecer agora as vésperas da reunião da ONU ou houve algum planejamento?
CELSO AMORIM: não, nós não planejamos nada, nós temos mantido uma posição de coerência que foi sempre de apoio a restituição ao poder do presidente Zelaya, presidente constitucional de Honduras, e como nós sempre dizemos, sempre procuramos uma solução pacifica e rápida, isso nós sempre dissemos, mas nós já dissemos isso a três meses, agora o que terá lavado o presidente Zelaya a escolher esse momento eu não sei dizer.
JORNALISTA: De que maneira o senhor acha que a presença dele na embaixada pode ajudar na negociação neste momento?
CELSO AMORIM: Bom, acho que a presença dele Honduras certamente é um fato novo que já é decorrência, creio eu também, de várias medidas da comunidade internacional, creio que isso facilitará um dialogo, se houver uma disposição efetiva para dialogo, para que se encontre rapidamente uma solução solução.
JORNALISTA: Qual deve ser o papel do governo brasileiro, que tipo de atuação direta pode ter para ajudar a restituir o governo?
CELSO AMORIM: eu acho que, o governo brasileiro nestas questões tem tomado uma posição muito firme e ao mesmo tempo muito sóbria, nós em momento algum nos envolvemos em nenhuma atitude que achamos que não poderíamos ter resultados práticos, mas ao mesmo tempo, sempre defendemos firmemente a volta do presidente Zelaya, como sabe, ele foi recebido em Brasília pelo presidente Lula, eu estava presente, nossa atitude em todos os fóruns internacionais tem sido em repudio a representação do governo de fato, e eu acho que em função disso, o Brasil pode, eventualmente, ter uma credibilidade e ser usado, mas nós não queremos interpor a nenhuma outra ação, eu acho que a meu ver, outras personalidades e outras instituições que estavam envolvidas podem continuar seu trabalho, simplesmente, eles continuaram o trabalho com um fato novo presente que é a presença do presidente Zelaya em solo hondurenho, no caso na embaixada do Brasil”.
No dia seguinte, em entrevista coletiva concedida em Nova York, em 22/09/2009, o presidente Lula, igualmente, apreciou, ao lado do Ministro Celso Amorim, a posição do governo brasileiro a respeito da situação em Honduras (57):
"Lula: sobre o Zelaya, o ministro Celso Amorim tem falado, sistentemente, com o encarregado de negocio de Brasil na capital de Honduras, hoje pela manhã eu falei com o presidente Zelaya, simplesmente, para pedir a ele muito cuidado, para não permitir nenhum pretexto para que os golpistas resolvam praticar violência. O país está em Estado de Sítio, os aeroportos estão fechados. Ele passou uma noite tranquila na embaixada, nunca é tão tranquila não é?, mas, ele passou a noite tranquila, e, ele a única coisa que me disse é que ele esta pedindo para o povo, se fizer manifestação fazer manifestação pacifica. O ministro Celso Amorim, já falou com Insulza [José Miguel Insulza] para ver se a OEA vai até lá para tentar ajudar. Veja, o normal que deveria acontecer, eram que os golpistas deveriam dar o lugar a quem tem direito de estar naquele lugar, que é o presidente eleito democraticamente pelo povo, acho que foi muito importante, a posição do mundo inteiro, dos EUA, do Brasil, da OEA, de não aceitar golpes, ou seja, nós vencemos esse problema na década de 60, nós estamos consolidado a democracia no nosso continente, e nós não podemos aceitar, que por divergências políticas, as pessoas se achem no direito de depor um presidente democraticamente eleito, hora, se goste ou não goste, na eleição se troca, o que você não pode, é aceitar o fato de um golpista de se achar no direito de ser presidente sem disputar as eleições"
O mês de setembro foi de intensas entrevistas concedidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Sila. As entrevistas encontradas durante a pesquisa se revestem de importância fundamental para a compressão da conjuntura política, assim como, para a elucidação do contexto brasileiro. A pequinês da imprensa pró-golpista no Brasil e o papel político da oposição do PSDB, DEM, PPS, PP e PMDB (que apesar de aliado do governo, teve atuação ambígua na condenação ao Golpe de Estado, principalmente, no tocante aos presidentes da Câmara dos Deputados, Michel Temer, ou do Senado Federal, José Sarney) fizeram dos acontecimentos hondurenhos um cavalo de troia para alimentar a opinião publica contra Lula, sua diplomacia e a favor do Golpe de Estado em Honduras.

Pela importância que se reveste as entrevistas, passarei a apresentá-las na quilo que, no seu conteúdo, tem de mais essência sobre o tema que estávamos tratando, porque, através dele poderemos visualizar com mais clareza as mentiras da direita burguesa e sua ação política no Brasil no apoio e na defesa do Golpe de Estado em Honduras, alimentado as posições dos golpista tanto lá no país hondurenho quanto aqui.

No dia 23 de setembro de 2009, Lula discursou na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York (58).
"Não somos voluntaristas. Mas sem vontade política não se pode enfrentar e corrigir situações que conspiram contra a paz, o desenvolvimento e a democracia. Sem vontade política persistirão anacronismos como o embargo contra Cuba. Sem vontade política continuarão a proliferar golpes de Estado como o que derrocou o Presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya, que se encontra, desde segunda-feira, refugiado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. A comunidade internacional exige que Zelaya reassuma imediatamente a Presidência de seu país e deve estar atenta à inviolabilidade da missão diplomática brasileira na capital hondurenha".
No Hotel Intercontinental Barclay, Nova York, em 23 de setembro de 2009, Lula concedeu a entrevista seguinte, afirmando aos jornalistas brasileiros (59):
“Eu penso que nós não precisamos procurar meias palavras para explicar o que aconteceu em Honduras. Em Honduras teve um golpe de Estado em que o presidente eleito democraticamente foi tirado da sua casa de madrugada e levado para outro país, e esse Presidente resolveu voltar ao seu país, e esse Presidente foi à Embaixada brasileira, que nem embaixador tinha mais, nós temos um representante comercial. Ele está lá e nós, governo brasileiro, queremos que ele fique com garantias lá e esperamos que os golpistas não façam nada com a Embaixada brasileira porque eu acho que isso faz parte de convenções internacionais e sempre foi assim na história do mundo moderno. Nós temos muitos brasileiros que se abrigaram em embaixadas em outros países e eu acho que tem que ser assim. O que eu espero é que os golpistas entendam que, se tem uma coisa acontecendo de equivocada em Honduras, não é sequer a volta do Zelaya. É eles continuarem no poder sem terem sido eleitos para isso.
Acho que, ao tomarem medida de não conversar com o presidente da Costa Rica, o Arias, para fazer um acordo, é um sinal da má vontade dos golpistas de conversar. Eu espero que a OEA, que está para ir lá, compareça a Honduras, que converse com quem tem que conversar. Nós pedimos ao Conselho de Segurança que se reunisse, vamos esperar para saber se há alguma decisão, e esperamos que a Embaixada brasileira não seja violada em espécie alguma.
(...)
Nós tomamos decisões dois meses e meio atrás para que não fosse assim. O mundo inteiro repudiou o golpe e somente as pessoas que deram o golpe é que não têm ouvidos para entender que o mundo não aceita mais que golpistas cheguem ao poder pela via indireta e mais, eu diria, repudiável que existe no mundo. Portanto, para nós, nós temos que aguardar. Nós temos que aguardar a OEA, nós temos que aguardar o Conselho de Segurança, na expectativa de que não se tente violar a Embaixada brasileira.
(…)
Eu não sei se ele está convocando comício porque obviamente que ele não está lá escondido embaixo da cama. Ele quer estar lá para saber que ele voltou ao seu país, e eu acho importante que esse fato seja um fato que leve os golpistas a se sentarem à mesa, conversar e restabelecer a normalidade em Honduras, que é o que todo mundo deseja.
(...)
O que nós queremos, na verdade, é a certeza de que a ONU vai se adaptar ao século XXI e não vai continuar com a mesma cabeça da metade do século XX. É isso que no fundo, no fundo, nós queremos. Com relação ao Conselho de Segurança, o que nós queremos é responsabilizar a quem de direito para cuidar disso. Nós não podemos permitir que o caso de Honduras fique, eu diria, sem a compreensão das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança, porque nós já vivemos as experiências de golpes militares no Brasil na década de 60 [1960], na Argentina, no Uruguai, em tantos outros países e nós não queremos que isso se repita e o que aconteceu em Honduras é um sinal muito ruim do que pode acontecer em outros países. Afinal de contas, muita gente de esquerda chegou ao poder na América Central. A direita não estava habituada a ficar fora de governos e, de repente, ela se vê derrotada em El Salvador, se vê derrotada na Nicarágua, se vê derrotada na Guatemala. Daqui a pouco, os perdedores acham que têm o direito de dar um golpe e ficar no poder. É isso, é isso que fez com que o Brasil envolvesse o Conselho de Segurança também para garantir a Embaixada brasileira.
(…)
Eu acho que a coisa é grave, é urgente e eu penso que é um sinal muito ruim o que aconteceu em Honduras. Já faz mais de dois meses que a OEA tomou a decisão, já faz meses que o presidente da Costa Rica tenta negociar, o Zelaya já tinha cedido muito e ainda assim parece que os golpistas se acham inatingíveis assim, dentro do poder. Então, eu acho que o Brasil está cumprindo com a sua parte. Eu espero que Honduras volte à normalidade, que o Presidente volte ao seu posto, convoque as eleições e que Honduras viva tranquila porque precisa de paz, de democracia para poder crescer e ficar um país mais distribuidor de renda para o seu povo. (incompreensível).
(...)
Eu não sei, eu sinceramente não sei, qual é o pecado ou o crime político que um presidente eleito democraticamente volte ao seu país. Quer dizer, será que o erro foi cometido por ele que voltou ao país, ou será que o erro foi cometido por quem deu o golpe de estado? Eu não vejo nenhuma importância nisso. Ele voltou para o seu país, de onde nunca deveria ter saído. Deveria ter saído depois que terminasse as eleições, que terminasse o mandato dele. Eu acho que curiosidades como essas, no fundo, no fundo, é para tentar tapar o sol com a peneira. Ele não cometeu nenhum ato ilícito de voltar para o seu país. Ele tinha mais era que voltar para o seu país.
(...)
Um ex-presidente da República eleito democraticamente, deposto, e um belo dia aparece na embaixada brasileira, e fica lá dentro. A partir do momento que ele ficou lá dentro, nós vamos fazer tudo que tiver ao nosso alcance para que se estabeleçam negociações e que ele possa voltar para o cargo. Isso é que nós vamos fazer.
Se você perguntar para os brasileiros que correram para embaixada em outros paises para não serem presos, vocês vão perceber que nenhum deles teve conforto. Ou seja, todos eles ficaram nas condições de sobrevivência que é possível viver uma pessoa que está refugiada.
Ou seja, o que é triste? É que um presidente eleito tenha que se refugiar na embaixada brasileira, dentro de seu país, para reivindicar um direito de que é seu, de governar seu país. Isso é triste!”
Asilo e Eleições:
“Não, não, nós não discutimos sobre hipótese. Ele não pediu. Ele quer apenas voltar a ser presidente de Honduras em quanto ele tem, acho, mais dois meses e meio de mandato.
Se a eleição fosse feita sobre a coordenação de quem deu o golpe, essa eleição não vai ser reconhecida na maior parte do mundo. E acho que Honduras sofrerá problemas sérios”.
Sobre “governo de fato” e “governo interino”:
“Eu não sei, quem de vocês inventaram esse negocio de governo de fato, ou seja, vocês sofisticando o golpismo!
(…)
Esse governo de fato é um nome sofisticado para você não dizer golpista! Isso é golpismo em Honduras, seria golpismo no Brasil, seria no Chile, seria na China. Não tem esse negócio de governo de fato.
(...)
Ele é golpista, ele não ganhou as eleições para presidente, não disputou a presidência. E não tem explicação porque ele deu o golpe. Imagina, o Uribe quer o terceiro mandato na Colômbia. Imagina se ele sofresse um golpe porque que quer o terceiro mandato. O que ele está propondo é um referendo, ou seja, as pessoas não estão pedindo para ser indicado pelo Poder Legislativo, as pessoas estão pedindo um terceiro mandato com referendo e com uma série de coisas.
Então, o que nós temos que ter claro é o seguinte. Não vamos ficar procurando nenhum subterfúgio para nominá-los como golpistas, que tiraram o presidente legitimamente eleito do poder, sem explicações e que agora precisam, com a mesma inteligência para dar o golpe, eles agora têm que ter inteligência para saber como resolver esse problema. É só isso. Eu só quero que o povo de Honduras tenha soberania para fazer as coisas certas que têm que ser feitas”.
Em 24 de Agosto de 2009, o presidente Lula, em entrevista exclusiva oferecida ao canal de Televisão de Pittsburgh (TV PBS) (60):
“Ele teve que parar em alguma embaixada. Eu acho que a nossa preocupação não é saber em que embaixada ele está ou como ele chegou na embaixada, porque eu recebi as informações já em Nova York.
O dado concreto é que você tem um golpista no poder. O presidente eleito democraticamente foi afastado do cargo, e é justo que o presidente eleito queira voltar ao seu cargo. E o golpista, se quiser ser presidente, dispute as próximas eleições. E nós não podemos aceitar experiência de golpe na América Latina, nem militar e nem civil, porque nós já vivemos muito isso na década de 60.
Eu penso que agora já tem a decisão da OEA. Eu penso que o Conselho de Segurança vai se reunir para tomar alguma decisão ou dar alguma orientação. E eu espero que quem deu o golpe saia do poder, o presidente Zelaya volta, convoca as eleições e volta à normalidade em Honduras.
(...)
Eu não vejo nenhuma justificativa para o golpe, porque se ele entrou com um pedido de convocar um referendo era o Congresso que tinha que aprovar. Era só o Congresso não aprovar que não tinha referendo.
(…)
O que nós estamos querendo é que Honduras volte à normalidade. O governo brasileiro espera que não haja nenhuma violação à Embaixada brasileira. Não é a primeira vez na história do mundo que pessoas que se sentem refugiadas e perseguidas ficam em embaixadas de outros países. E o fato anormal em Honduras é estarem na Presidência pessoas que não foram eleitas para a Presidência.
(…)
Eu acho que os Estados Unidos tomaram as decisões corretas. Acho que, junto com a OEA, todo mundo condenou o golpe e todo mundo está reivindicando que o presidente Zelaya volte ao exercício da Presidência, convoque as eleições e faça as eleições. É isso que nós queremos. E eu acho que o presidente Obama tomou as decisões corretas, condenando o golpe.
Pittsburgh, 25/9/2009, entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula Da Silva, após Reunião de Chefes de Estado e de Governo do G-20 financeiro, voltou a fazer as seguinte considerações (61):
“Ele vai ficar enquanto for necessário dar segurança para ele na embaixada. O que eu acho triste é que muitas vezes eu ouço perguntas como se o Zelaya fosse culpado de ser o presidente legítimo do seu país, de voltar para o seu país, e os golpistas, como se fossem os inocentes. Golpista não tem meia palavra: é golpista. Usurpou o poder, tirou um presidente legitimamente eleito pela via democrática, tirou do seu país, largou em outro país, e é normal que o presidente queira voltar para o seu país. O que é anormal não é o Zelaya ter voltado, o que é anormal é o tal do Micheletti ter ficado. Esse é o fato anormal da política de Honduras.
E o que nós queremos? É que se restabeleça a normalidade, que se devolva o cargo ao Presidente, que convoque as eleições e que, ganhe quem ganhar, toma posse e Honduras volte à normalidade.
A decisão do Conselho de Segurança da ONU vocês já sabem. O Conselho se reuniu hoje de manhã e fala claramente que é importante respeitar a Convenção de Viena, que deve cessar todos os atos de constrangimento à embaixada brasileira, que a proteção e a inviolabilidade da embaixada são princípios universais. Essa é a decisão do Conselho de Segurança.
Então, eu acho que só tem um fato anormal em Honduras, e que nós não podemos aceitar, nem para Honduras e nem para outro país, que é o golpe de Estado, porque nós já vivemos isso no Brasil, já vivemos isso em muitos lugares da América Central, da América Latina. E se a extrema de um país resolver chegar ao poder pela via fácil de dar um golpe, a democracia corre sério risco.
E não é uma posição do Brasil, não, é uma posição do mundo. Só tem contra isso o golpista, mas os países do mundo inteiro estão favoráveis ao restabelecimento da normalidade em Honduras. E o único jeito de respeitar a normalidade é o Zelaya convocar as eleições. Porque se as eleições forem convocadas pelo golpista, nós iremos manter as mesmas restrições que mantemos ao golpista. É isso”.
Esta última entrevista dada por Lula, à saída da II Cúpula América do Sul-Africa, em Isla Margarita, Venezuela, em 26 de setembro de 2009, um jornalista fez a seguinte pergunta (62):
“Jornalista: Senhor Presidente, bom dia. O governo de Honduras (incompreensível) anunciou, ontem, um ultimato ao governo brasileiro de dez dias para definir os passos do presidente Manuel Zelaya, que está refugiado na Embaixada brasileira. Eu queria saber qual é... como o governo brasileiro se sente com o ultimato e como responderá a esse comunicado. E dentro desse comunicado também, Presidente, eles dizem que se não for cumprido eles tomarão algumas medidas, de acordo com as leis internacionais. Que medidas poderão ser essas?”
A resposta de Lula é como se fosse hoje no Brasil, salvo exceção do contexto da época, não soa tão atemporal:
“Presidente: Pergunte para eles. Olha, primeiro, o governo brasileiro não acata o ultimato de um golpista, e nem o reconheço como governo interino. Não sei por que é que o editor de vocês pediu para vocês falarem de governo interino. Golpista! A palavra correta é: usurpadores de poder. Essa é a palavra correta, e o governo brasileiro não negocia com eles. Quem tem que negociar é a OEA, que já tomou as decisões, é o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que já tomou as decisões. Não é o Brasil. Portanto, esse caso, para mim, estará encerrado na medida em que chegue... em que houve a decisão da OEA. Foi decisão por unanimidade, como foi decisão por unanimidade do Conselho de Segurança da ONU. Então, o Brasil não tem que conversar com esses senhores que usurparam o poder. Se a ONU ou o Conselho de Segurança ou a OEA fizerem um pedido para o Brasil, nós iremos simplesmente acatar o pedido das Nações Unidas, mas não desses senhores”.
MOVIMENTOS SOCIAIS REAFIRMAM A CONDENAÇÃO AO GOLPE E PEDEM A VOLTA DO PRESIDENTE ZELAYA AO PODER

o "fato novo" do qual Celso Amorim se refere sobre a presença de Zelaya em Honduras, não foi algo apenas "novo" para o processo de diálogo, visando a volta do governo eleito democraticamente ao poder em Honduras (como disse Lula). Este acontecimento, ficou na pauta política brasileira durantes os mais de quatro meses seguintes, de junho de 2009 e a janeiro 2010. Neste período de tempo, as forças políticas brasileiras foram tomando corpo e se definindo em blocos hegemônicos. Um bloco histórico, claramente democrático, criticou desde o inicio os golpistas hondurenhos, que tinha no imperialismo ianques seu aliado forte. O outro bloco assumiu a posição dos golpistas hondurenhos contra o Estado democrático de direito e contra o povo.

Na primeira linha histórica e progressista, os movimentos sociais e parlamentares de esquerda, que desde o golpe hondurenho vinham denunciando a usurpação de poder do Presidente Zelaya, e, alertados com os novos acontecimentos em Honduras, continuam a frente das forças politicas. Nesta perspectiva, compareceram a Embaixada do país Centro Americano, na Capital do Brasil, em Brasília, para ali reafirmar e registar, por meio de nota, o repúdio "ao golpe militar". Estiveram presente combatentes políticos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Via Campesina e, representantes de partidos políticos do campo da esquerda: Senador José Nery (PSol-PA) e Deputados Federais, Chico Alencar (PSol-RJ), Domingos Dutra (PT-MA), Fernando Ferro (PT-PE), Ivan Valente (PSol-SP), Jô Moraes (PcdoB-MG) Lídice da Mata (PSB-BA), Luiz Couto (PT-PB), Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), Maurício Rands (PT-PE), Nazareno Fonteles (PT-PI), Nilson Mourão (PT-AC), além do Pompeo de Mattos (PDT-RS). A seguir a nota intitulada de "O Brasil repudia o Golpe Militar em Honduras e Exige o Retorno Imediato de Manuel Zelaya à Presidência da República" (63):
"As entidades representativas dos movimentos sociais do Brasil, o parlamento brasileiro através de seus representantes e todos os segmentos que lutam pela democracia na América Latina, que assinam a presente nota, vem manifestar irrestrita solidariedade ao povo hondurenho em sua jornada de lutas e de mobilização pelo restabelecimento das liberdades naquele país centro americano. Ao mesmo tempo, exigimos o retorno imediato de Manuel Zelaya à Presidência da República.
A América Latina não precisa de ridículos tiranos! Honduras tem um presidente constitucional, eleito pelo povo, e o Brasil agiu certo ao acolhê-lo em sua Embaixada.
Manuel Zelaya é o Presidente de Honduras! Cortem os telefones da Embaixada do Brasil e continuaremos nos comunicando por mil redes da cidadania combativa; cortem a luz de nossa Embaixada, que resistiremos iluminados pelo espírito democrático contra as trevas que os tiranos querem nos impor; cortem o fornecimento de água e a solidariedade dos povos do mundo impulsionará uma vaga poderosa, uma onda 'tsunâmica' que afogará todos os opressores e golpistas.
A República de Honduras e a República Federativa do Brasil, no espaço inviolável de sua Embaixada em Tegucigalpa, estão sendo agredidos por esses aprendizes de ditadores. Nós dizemos aos golpistas: NÃO PASSARÃO! A ONU, a OEA e, sobretudo, os povos de nossa América Latina hão de reconstruir a soberania em Honduras, devolvendo o governo ao Presidente eleito legitimamente pelo voto popular. E encarcerando e punindo exemplarmente os militares golpistas e os civis a eles associados na deplorável quartelada contra a democracia e a vontade do povo hondurenho. Queremos manifestar nossa irrestrita solidariedade ao povo hondurenho, que vem sendo reprimido de forma violenta pelos líderes golpistas e pelas tropas militares por eles comandadas, e exigimos o retorno imediato do Presidente Zelaya, eleito livremente pelo povo irmão de Honduras.
Clamamos pela imediata renúncia do governo golpista e pelo fim de toda repressão contra o povo hondurenho. Somos solidários com todos que integram a Frente de Resistência Nacional naquele país. Conclamamos a todos para que desenvolvam a mais ampla e irrestrita campanha de solidariedade de todos os movimentos sociais e políticos de nosso país contra a ditadura militar que assaltou o poder em Honduras. Agradeço a atenção, 23 de setembro de 2009".
CÂMARA DOS DEPUTADOS: ESQUERDA REAFIRMA REPÚDIO AO GOLPE DE ESTADO, AO TEMPO QUE, A DIREITA APROFUNDA O APOIO E A DEFESA DOS GOLPISTAS HONDURENHOS NO BRASIL

Em sessão da Câmara dos Deputados, em 22 de setembro de 2009, três dias depois da volta de Zelaya a Honduras e de ter se abrigado na embaixada brasileira (como disse Celso Amorim, o Brasil "abrigava" Zelaya porque não era "uma situação propriamente de asilo política", pois, Zelaya era o "presidente legitimo" de "um país estrangeiro da embaixada do Brasil"), os deputados apresentaram duas moções de repúdio e censura ao Golpe de Estado hondurenho, uma delas encaminhada pela mesa da Câmara, Michel Temer (PMDB/SP) e a outra pelo líder do PT, deputado Cândido Vaccarezza (SP) (64).

O presidente da Câmara dos Deputados a época era o deputado federal Michel Temer (PMDB). Na Sessão do dia 30 de setembro de 2009, o mesmo apresentou uma "moção de repúdio ao Governo de Honduras, em face de agressões à Embaixada do Brasil naquele país":
"Desde logo, ciente e consciente da agressão à soberania do território brasileiro no Estado de Honduras, esta Presidência propõe ao Plenário um voto de repúdio ao gesto tomado pelo Governo de Honduras em relação à Embaixada brasileira. Realmente, se não nos pautarmos pelos critérios do Direito Internacional, que preserva a soberania nacional, precisamente reconhecendo como território do Estado estrangeiro a Embaixada, estaremos jogando por terra um dos princípios fundamentais, ligado ao direito individual e ao direito político, que é o direito ao asilo".
Prestando atenção a note da mesa, encaminhada pelo presidente da Câmara, se observa que centra-se apenas na "agressão à soberania do território brasileiro no Estado de Honduras" pelo "gesto tomado pelo Governo de Honduras em relação à Embaixada brasileira". Só faltou dizer que Zelaya era o golpista e não Roberto Micheletti, o qual ao contrario do que pensava Temer, não era “governo” no sentido legal, senão um entreguista, títere dos EUA e lacaio dos usurpadores de poder alheio. Por isso mesmo, o líder do Partido dos Trabalhadores, Cândido Vaccarezza (PT-SP), apresenta um requerimento de moção de repudio com conceitos fortemente condenatórios quanto ao governo golpista que assumiu o poder usurpado: "Acho que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, além de reforçar a proposta de V.Exa. [MICHEL TEMER] de moção de repúdio", também, "devem reiterar a moção de apoio para que o Presidente Manuel Zelaya retome o governo. Lembro a todos que os países dos 3 continentes estão repudiando o golpe. O Governo americano tem tomado posições importantes para impedir que o Governo golpista se estabilize". Na continuação a proposta [REQUERIMENTO DE MOÇÃO No 5.547, DE 2009] do Deputado Cândido Vaccarezza, que depois foi aprovada:
“Repudia o cerco militar à Embaixada do Brasil em Tegucigalpa e a repressão do governo golpista contra as manifestações pacíficas dos partidários do governante legítimo de Honduras, Sr. Manuel Zelaya.
A Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil, IMBUÍDA dos valores universais que regem todas as democracias nacionais e uma ordem mundial multilateral fundamentada nos princípios do Direito Internacional Público;
CONSIDERANDO que o atual presidente de Honduras, Sr. Manuel Zelaya, foi eleito em pleito democrático absolutamente legítimo e liso e que seu governo foi reconhecido por todos os países do continente e do mundo;
ENFATIZANDO que o anacrônico e absurdo golpe de Estado perpetrado em Honduras se constituiu numa grave afronta a todas as democracias da América Latina, região que vem, a cada dia, consolidando e ampliando seus regimes democráticos;
CONSIDERANDO que a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas estabelece claramente, em seu artigo 22, que:
1o - Os locais da Missão (embaixada) são invioláveis. Os agentes do Estado hospedeiro não poderão neles penetrar sem o consentimento do Chefe da Missão.
2o - O Estado hospedeiro tem a obrigação especial de adotar todas as medidas apropriadas para proteger os locais da Missão contra qualquer invasão ou dano e evitar perturbações à tranquilidade da Missão ou ofensas à sua dignidade.
RECORDANDO, ademais, que o artigo 26 da mesma Convenção estipula que:
Salvo o disposto nas leis e regulamentos relativos a zonas cujo acesso é proibido ou regulamentado por motivos de segurança nacional, o Estado hospedeiro garantirá a todos os membros da Missão a liberdade de circulação e trânsito em seu território.
ECOANDO a manifestação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que demanda que o governo de facto de Honduras respeite o direito à livre manifestação dos partidários do governante legítimo de Honduras, Sr. Manuel Zelaya.
LAMENTANDO os atos de violência praticados pelo governo de facto de Honduras contra seu próprio povo;
RESSALTANDO, mais uma vez, que pleitos eleitorais realizados nos prazos legalmente previstos se constituem na única maneira legítima e aceitável de se proceder à alternância de poder; e CONSIDERANDO, por último, os laços de amizade e solidariedade que unem indissoluvelmente os povos brasileiro e hondurenho e o desejo comum de que a América Latina se integre sob a égide dos princípios democráticos e da justiça social;
MANIFESTA:
I – Seu mais veemente repúdio ao absurdo cerco policial à Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o qual contraria frontalmente as responsabilidades do Estado hospedeiro consagradas na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.
II – Sua consternação com as violações do direito à livre manifestação dos partidários do governante legítimo de Honduras, Sr. Manuel Zelaya, já condenadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
III – Sua advertência de que a vida do Presidente Manuel Zelaya e a inviolabilidade da missão diplomática do Brasil em Tegucigalpa devem ser preservadas a todo custo.
IV. Sua conclamação à comunidade internacional, especialmente ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e ao Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), a que intervenham positivamente no conflito hondurenho, inclusive mediante a adoção de sanções concretas contra o governo ilegítimo instalado em Tegucigalpa.
V. Seu sincero apelo a todas as forças políticas de Honduras para que iniciem um processo transparente de diálogo que conduza esse país à conciliação e à volta da normalidade democrática.
Sala das Sessões, 22 de setembro de 2009; Deputado Cândido Vaccarezza, Líder do PT".
Porém, antes dessa plausível moção de repudio do líder do PT, foi colocado em debate e votada a proposta de Michel Temer, seguida por deputados de quase todos os partido, em especial pelos da esquerda, PSOL, PT, PC do B. Os partidos de direita apoiaram, no entanto, diferenciando-se em dois sentidos ou pontos fundamentais, primeiro, a respeito da posição da diplomacia brasileira, principalmente, e segundo, a posição contraria dos fascistas quanto a moção da mesa, assim como, a favor dos golpistas hondurenha.

No que se diz respeito aos deputados de esquerda, além do líder petista, Cândido Vaccarezza, se destacaram Ivan Valente e Chico Alencar, ambos do PSOL.

O deputado pelo PSOL de São Paulo, Ivan Valente, disse que era "de imensa gravidade o que está acontecendo em Honduras", e continua: 
"Quero aqui manifestar total solidariedade aos funcionários da Embaixada do Brasil em Honduras, em Tegucigalpa, particularmente ao Presidente eleito constitucionalmente Manuel Zelaya, que não é um fugitivo, como querem dizer os golpistas, delinquentes, gorilas que tomaram o poder à força lá em Honduras e tiraram o Presidente constitucionalmente eleito (...). Neste momento, a Embaixada brasileira está cercada. Houve repressão, com mais de 2 mortes já noticiadas. Foram cortadas água e luz. É preciso que o Presidente da Casa, Michel Temer, entre em contato, imediatamente, com o Parlamento e uma comissão de Deputados desta Casa vá à Embaixada de Honduras... (o microfone é desligado)".
O mesmo deputado, ainda apresentou uma proposta, aprovado pelo plenário, de "criação de Comissão Externa da Câmara dos Deputados (...) para viajar a Honduras e garantir a integridade do território brasileiro naquele país", continua explicando:
"Essa seria uma resposta à altura do Congresso Nacional pela violência praticada não só contra o povo hondurenho, mas também contra o direito brasileiro – da Embaixada brasileira do Governo brasileiro – de garantir a integridade do Presidente constitucionalmente eleito. Houve violência, porque cortaram água, luz, telefone, serviços básicos da Embaixada brasileira. Uma das autoridades hondurenhas ameaçou invadir a Embaixada com tropas do Exército. (...) Temos de repudiar aquele golpe militar, a falta de legalidade. Há falta de amparo a esse Governo em todos os órgãos multilaterais internacionais, como a Organização das Nações Unidas, a OEA, e em todos os países latino‐americanos que repudiaram o golpe. Entendemos que a atitude do Governo brasileiro de dar asilo a Zelaya, de permitir a entrada dele é correta. Não é nenhuma ingerência. Pelo contrário, é um direito, é um combate ao golpismo, ao gorilismo na América Latina".
Seu companheiro de partido, deputado Chico Alencar pelo Rio de Janeiro assume a mesma posição, expondo que:
"Naquele país [Honduras], temos um Presidente constitucional abrigado na Embaixada do Brasil – e o Brasil age corretamente ao conceder esse abrigo. O Presidente não é um exilado político, está lá para retomar o poder que o povo lhe conferiu. A Embaixada agora está com a luz, a água e os telefones cortados, e o povo, que se manifestava solidário ao seu Presidente, foi dispersado violentamente".
Em outra intervenção, Chico Alencar ainda acrescentou reforçando a posição de Ivan Valente:
"(...) Aproveito para convidar todos, sem exceção, antes mesmo da constituição dessa Comissão Mista para ir a Honduras, a compareceremos à Embaixada de Honduras para levar a nossa manifestação, amanhã, às 11h30min (...). Como V.Exa. destacou bem, trata-se de uma violação do Direito Internacional. A Embaixada brasileira está acossada, cerceada no seu direito de funcionar normalmente, sem água, sem luz, sem comunicação. Voos razantes têm sido dados sobre esse território soberano do Brasil. O povo de Honduras está reprimido violentamente no seu direito de livre manifestação. Estamos abrigando, numa postura corretíssima do Governo brasileiro, um presidente constitucional – nem é asilo político. Portanto, vamos cumprir o nosso papel. Lamentamos o fato de o “tiranete”, o “Sr. Pinochelete” ser oriundo do Parlamento de Honduras. Infelizmente, ele não tem a dimensão da representação que deveria exercer".
Ademais, encaminhou um pronunciamento que na integra diz:
"Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados e todos os que assistem a esta sessão ou nela trabalham, a América Latina não precisa de ridículos tiranos! A República de Honduras tem presidente constitucional e o Governo brasileiro faz muito bem em acolhê‐lo enquanto os usurpadores continuarem controlando as Forças Armadas, a Justiça e o Parlamento. Os “gorilas pinocheletes” cavam sua sepultura: a história sempre cobra caro dos traidores, dos prepotentes, dos golpistas.
Manuel Zelaya é o Presidente de Honduras! Cortem os telefones da Embaixada do Brasil: continuaremos nos comunicando por mil redes da cidadania combativa. Cortem a luz: iluminados pelo espírito democrático, resistiremos às trevas que os tiranos querem impor! Cortem a água: a solidariedade dos povos do mundo será uma vaga poderosa, uma onda “tsunâmica” que afogará os opressores.
A República de Honduras e a República Federativa do Brasil, no espaço inviolável de sua embaixada em Tegucigalpa, estão sendo agredidas por esses aprendizes de ditadores. Não passarão! A ONU, a OEA e, sobretudo, os povos de nuestra américa, mesmo com o sangue e as lágrimas dos trabalhadores e da juventude hondurenha, reconstituirão a soberania popular em Honduras devolvendo o governo ao presidente legitimamente eleito e colocando na cadeia os criminosos golpistas, retrógrados, fascistoides, defensores dos interesses da elite rica e espoliadora".
Outro deputado que também contribuiu para a condenação do golpe de Honduras foi o deputado Chico Lopes do bloco do PCdoB-CE:
"Sr. Presidente, quero também ser solidário às pessoas que se posicionam contrariamente a atitude do Governo de Honduras, não eleito pelo povo, de desrespeitar a Embaixada brasileira. Esta Casa tem que tomar uma medida imediata na defesa intransigente da Embaixada brasileira e de nossos direitos internacionais. Esse Governo não foi eleito e está sendo apoiado pelo Governo americano, que quer manter ditaduras na América Latina. Nós, Deputados do PCdoB, queremos nos somar aos demais Parlamentares no movimento que exige que o Governo hondurenho siga a democracia de toda a América Latina. Registro nosso protesto e nossa solidariedade à Embaixada brasileira".
Manuela D'Ávila, Deputada do PCdoB pelo Rio Grande do Sul, acompanhou seu camarada de luta Chico Lopes:
"Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta tribuna saudar o povo hondurenho, que recebeu na tarde de ontem o seu Presidente legítimo, Manuel Zelaya. O Presidente Zelaya, que há algum tempo visitou esta Casa, retornou ao seu país e está neste momento abrigado na Embaixada brasileira, em Tegucigalpa.
O seu retorno (...) foi saudado, segundo todas as agências internacionais, pelo povo daquele país, que o reconhece como seu líder democraticamente eleito. A atitude corajosa de Zelaya é um duro golpe nos golpistas hondurenhos e pode restabelecer a democracia naquele país, rompida há 87 dias. Saúdo aqui a coragem do povo hondurenho, que não se dobrou aos golpistas.
E faço aqui também uma saudação especial ao Ministro Amorim, pela postura firme do Governo brasileiro na defesa da democracia. O Brasil em nenhum momento abriu mão dessa defesa, e esse compromisso instou a comunidade internacional a não reconhecer o governo golpista. (...) Aproveito e também manifesto minha preocupação com as notícias trazidas pela imprensa internacional de que o Exército hondurenho teria cortado a energia, a água e os telefones da nossa Embaixada. Se essa notícia se confirmar, nossa representação naquele país está sendo vítima de um ato hostil que atenta frontalmente contra o Direito Internacional.
Esperamos agora que a normalidade retome seu lugar e o Presidente Zelaya reassuma o cargo para qual o povo o elegeu".
A oposição ao governo Lula na Câmara dos Deputados não perdeu tempo de alfinetar a posição do Brasil e sua diplomacia no tocante a Honduras. O deputado Fernando Coruja (PPS-SC) apresentou um requerimento à Mesa para que fosse convocado a prestar esclarecimentos o Ministro Celso Amorim, "a fim de que esse assunto seja debatido no plenário desta Casa":
"O PPS apoia essa iniciativa. Acho que o Brasil precisa se posicionar, a Câmara dos Deputados precisa ter uma posição firme em relação a isso. Entendemos também que a atitude de dar asilo é adequada. Apresentaremos à Casa, logo a seguir, requerimento para que o Ministro Celso Amorim venha a este plenário dar uma explicação melhor acerca do posicionamento do Governo brasileiro antes do fato, durante o fato e dizer o que se pretende fazer, além das outras medidas que vamos tomar aqui".
Raul Jungmann (PPS-PE) acompanhou seu correligionário, cabendo destacar que essa mesma posição do PPS foi seguida pelo DEM, antigo PFL, na representação de Antônio Carlos Magalhães Neto. De uma forma ou de outra, Raul Jungmann argumenta:
"Sr. Presidente, eu me associo a V.Exa., que colocou em votação a moção de repúdio. Quero, entretanto, chamar a atenção para o fato – V.Exa. conhece isso bem, como constitucionalista, de que as leis brasileiras determinam que, em caso de concessão de asilo, na sua variante política ou diplomática, aquele que o recebe não pode manifestar‐se politicamente. Ou seja, ao mesmo tempo em que me associo a V.Exa. em relação à moção de repúdio, lembro às autoridades diplomáticas e a esta Casa que a Embaixada do Brasil não pode servir de plataforma, de palanque, nem ser utilizada para fins políticos. Se queremos a normalização e a volta do governo constitucional, não podemos interferir nem nos imiscuir nos assuntos de um país soberano. De outro lado, o Sr. Zelaya não pode utilizar a Embaixada do Brasil como palanque. Isso contraria toda legislação brasileira e nos envolve não como árbitros, que querem levar a paz, mas como aqueles que tomam partido em assuntos que são da soberania de outro país. Portanto, peço ao Ministro das Relações Exteriores que determine o fim de todo e qualquer pronunciamento do Sr. Zelaya, em termos políticos. A Embaixada do Brasil não é palanque político, ainda que repudiemos o que está acontecendo naquele país".
A posição descaradamente ultra-fascista foi assumida pelo deputados Jair Bolsanario do (PP-RJ), que apresentou-se "contrário à moção de repúdio à agressão à Embaixada do Brasil em Honduras" e falando que iria a "Embaixada de Honduras no Brasil para manifestação de apoio ao Presidente Roberto Micheletti".

O fascista questionou "a forma como o Sr. Zelaya adentrou a Embaixada brasileira". Apresentou uma contra-informação, mentirosa, de que "tenho informação de que foi no porta-malas do carro de um funcionário brasileiro. Então, houve ou não a participação de brasileiros? Pelas informações que tenho até o momento, sim". Depois assume a mesma posição golpista da Suprema Corte de Justiça, aparelhada pelo PLH e PNH (inclusive incorrendo no erro absurdo, propagado pelos meios de comunicações da burguesia, intervertendo, ENQUETE DE OPINIÃO em um plebiscito, uma proposta democrática em continuísmo de poder), o mesmo deputado, reforçou a posição anti-democrática do Congresso hondurenho, conforme xingava o povo hondurenho etc:
"quero deixar bem claro que a Suprema Corte de Honduras, por 2 vezes, já decidiu contrariamente à elaboração do plebiscito para que ele se perpetuasse no poder, usando o voto do povo ignorante. Essa é a realidade. A decisão da Suprema Corte foi votada pelo Parlamento hondurenho com larga margem de votos. Houve apenas 4 votos contrários a que ele deixasse o país".
Para completar o enredo que vai na contramão da comunidade internacional que criticou o golpe, fala que "não houve golpe militar, como esses radicais “esquerdoides” afirmam aqui. O Exército hondurenho apenas foi cumprir uma reintegração de posse. É preciso deixar isso bem claro".

Para conclui, acrescenta que sua posição pró golpista tinha o apoio de Paes de Lira (PTC-SP), ademais, de outros deputados que não concordavam com a palavra golpe militar, além disso, assumiu a mesmo posição Raul Jungmann (PPS-PE) de não usar a embaixada brasileira em Honduras como "palanque":
"(...) Então, Sr. Presidente, peço a V.Exa. que nos dê mais tempo quando formos discutir assuntos como esse. Eu e muitos outros colegas, como o Deputado Paes de Lira, não concordamos com a palavra “golpe militar”, muito menos que se diga que não há democracia em Honduras. (...) Não pode o Sr. Zelaya usar a Embaixada do Brasil como palanque político. O que houve lá agora foi essa batata quente, que pode estourar no colo do Brasil. Estamos comprando uma briga que não é nossa. Não podemos ser irresponsáveis a esse ponto. (...) Sr. Presidente, nos segundos que me restam, quero dizer que amanhã estarei na Embaixada de Honduras, levando um manifesto meu e de alguns Parlamentares favorável ao atual Presidente de Honduras e contrário à posição do impostor Zelaya. Lamento a posição do Brasil – que saudade da diplomacia brasileira de antigamente! –, que não só deu guarida, mas conspirou para que esse impostor, esse fanfarrão Zelaya, adentrasse a Embaixada brasileira e viesse a fazer proselitismo lá dentro, inclusive com comício no seu muro".
Já falamos da tímida nota proposta pelo Presidente da Câmara dos Deputado Michel Temer (PMSB-SP), a qual de tão tímida foi acrecida de outra tão mais bem veemente e condenatória ao golpe fascista, praticado pela classe dominante hondurenha contra o povo daquele pais. Pois bem, depois da fascista intervenção de Jair Bolsanario, Michel Temer (graduado em golpismo) tentou se explicar, buscando se esquivar da posição consequente dos deputados de esquerda, delineando sua real posição quanto a agressão da embaixada: "deixe-me dizer uma coisa: a minha observação foi no sentido de preservação da soberania nacional. Toda e qualquer agressão de um Estado estrangeiro em relação a uma embaixada há de ser repudiada pelos habitantes do Estado representado por essa embaixada. É uma questão de Direito Internacional. (Palmas.)".

Tão grande foi sua demagogia de respeito a democracia que foi condescendente com Jair Bolsonaro, assim como, de seu parceiro golpista Raul Jungmann:
"Agora, eu reconheço a manifestação do Deputado Raul Jungmann. Portanto, farei com que ela acompanhe essa moção e acrescentarei a manifestação do Deputado Jair Bolsonaro. Não há nenhuma falta de respeito democrático em relação às várias opiniões. Quero dizer aos senhores que toda vez em que houver, como houve, fisicamente, uma agressão ao território brasileiro, impedindo que haja ali água, luz, telefone, esta Presidência se manifestará".
SENADO FEDERAL: A ESQUERDA REAFIRMAR REPÚDIO AO GOLPE DE ESTADO FRENTE AOS SENADORES DA DIREITA QUE APROVARAM E DEFENDERAM OS GOLPISTAS HONDURENHOS

A abordagem da posição politica dos senadores sobre o Golpe de Estado em Honduras, mesmo que pontuando-a num recorte de tempo, ou seja, na sessão do dia 30 de setembro de 2009, nós ajuda ainda mais no reconhecermos dos tribunos aprovadores de golpe ou, em sentido contrario, dos tribunos que marcaram com suas intervenções a condenação do mesmo, tomando a posição do povo hondurenho e da democracia local e geral.

Na sessão de 30 de setembro, o plenário do Senado Federal foi palco de discussão acalorada entre os senadores de oposição ao Presidente Lula, claramente pós-golpe, e os que veementemente condenaram o Golpe de Estado em Honduras. A ata dos anais do Senado, relativa ao 170a Sessão, é constituída de 883 páginas (65). Neste sentido, seria inviável fazer uma comparação minuciosa dos discursos, ao tempo que, analisá-los. O que vou fazer é expor citações das intervenções dos parlamentares relacionadas com a crise política de Honduras.

Exporemos inicialmente os pontos de vistas dos tribunos da esquerda, que se posicionaram do lado da soberania do povo hondurenho, ou seja, dos que defenderam a continuidade do Estado Democrático de Direito e o exercício do poder por quem realmente foi escolhido pelo povo, dentro do jogo democrático. Poder, esse, que não poderia ser interrompido de forma abrupta por aquelas forças políticas de oposição ao governo de Manuel Zelaya, que efetuaram o Golpe de Estado. Que através dele (o golpe), sem eleições democráticas, de forma indireta, usando as forças armadas, colocaram no mando da Republica um governo ilegitimo, sem votos, por isso mesmo, golpista no exercício de um Golpe de Estado em curso.

A intervenção do líder do Governo Lula, Aluízio Mercadante (PT-SP), no Senado se reveste de importância por que apresenta uma analise de conjuntura do momento vivido internamente e externamente.

Aluízio Mercadante expôs inicialmente alguns elementos particulares da vida hondurenha e do estado da democracia no continente e no Brasil:
"Honduras é o terceiro Estado mais pobre da América Latina. Está apenas acima do Haiti e da Bolívia. É um Estado extremamente pobre, uma nação muito carente.
Seis famílias detém 60% da riqueza da sociedade hondurenha. É uma sociedade marcada por uma profunda concentração de renda. É um país que durante um século foi tutelado pelas forças armadas. A bem da verdade, o processo de construção democrática relativa de Honduras começa em 1981. Portanto, é uma história muito recente o processo de democracia em Honduras.
Não é muito diferente do cenário geral da América Central, onde tivemos durante muitos anos ditaduras truculentas, tortura, repressão, censura e, além
disso, a luta armada, que marcou muitos países da região – Nicarágua, Guatemala, El Salvador – durante muito tempo.
Felizmente, estamos assistindo a um ciclo da história em que a democracia como valor universal está se consolidando em nosso Continente e também na América Central. Temos governos eleitos pelo povo, com liberdade partidária, com alternância de poder, com separação dos Poderes, com Estado de direito democrático, com a preservação das garantias e direitos individuais.
Portanto um momento muito importante para que a América Latina reafirme os seus compromissos com o processo democrático. Nós, que vivemos a ditadura, nós, que vivemos a censura, a repressão, a tortura, o medo, a insegurança, sabemos o quanto é importante historicamente a democracia. O direito de votar e ser eleito, o voto universal, secreto, direto, a separação dos Poderes, a liberdade de imprensa – rádio, televisão –, a liberdade de opinião, de circulação, de associação, são esses valores que nos permitem construir uma sociedade mais civilizada e melhor.
É na democracia que o Brasil permitiu eleger o Presidente Lula, uma liderança operária, uma liderança que vem da luta popular, que vem da luta sindical e que hoje é, por tantos e por muitas pesquisas, o presidente mais popular de todo o cenário internacional.
O Presidente tem 70%, 80% de apoio do povo brasileiro, que manteve a estabilidade econômica, que retomou o crescimento. Saíram os dados agora, esta semana, dos Estados Unidos: 21o mês de recessão nos Estados Unidos. Nesse 2o semestre de 2009, houve uma queda 0,7% do Produto Interno Bruto. E o Brasil já teve uma recessão muito curta de seis meses, foi um dos últimos
países a entrar na crise e um dos primeiros a sair, saindo bem, com uma grande perspectiva de futuro.
Nós temos os dados da distribuição de renda: 17 milhões de pessoas saíram da pobreza; 15 milhões de brasileiros ascenderam a uma situação de setores médios; a distribuição de renda é a mais intensa da história documentada no Brasil, pelo IBGE, nos últimos cinco anos. E isso se fez na democracia, na crítica. Às vezes, para aprovar uma matéria aqui é difícil, os embates são duros, mas é na democracia que se corrigem os erros.
A imprensa é livre, critica o Governo. Não houve um único ato autoritário deste Governo contra a imprensa brasileira, contra toda a imprensa – rádio, televisão e jornais – durante sete anos de governo.
Ontem participei da 39a Assembleia Internacional de Rádio e Televisão, com representantes de 25 países da América e da Europa. O Presidente Lula foi homenageado num continente em que a censura, em que o fechamento de rádio e televisões está acontecendo em vários países. O Brasil é exemplo de democracia.
O Presidente foi homenageado, ontem, por todas as emissoras de rádio e televisão, pela Abert e por todos os seus associados internacionais exatamente por essa postura de compromisso com a democracia e com a liberdade de expressão.
Portanto, o golpe de Honduras é uma questão democrática central, é uma questão que diz respeito à sociedade brasileira e a todos os países democráticos do Planeta. É por isso que os golpistas de Honduras..."
A partir deste ponto, caracteriza aos acontecimentos específicos do Golpe de Estado em Honduras e, sem meias tintas, assume que houve sim um golpe, afirmando que Zelaya foi "retirado da cama de madrugada, sem o devido processo legal, sem o contraditório, sem direito de defesa, sem amparo constitucional, é colocado de madrugada no avião e deportado para Costa Rica, isso é um golpe de estado". E, se "Há um golpe, a comunidade internacional condena e combate, e nós estaremos perfilados nessa".

Inter-relaciona o golpe no quadro das instituições multilaterais, mostrando a postura do governo brasileiro na conjuntura politica internacional, contextualizando, os recentes acontecimentos relativos a volta de Zelaya a Honduras e seu abrigo na embaixada brasileira:
"Todos os países da OEA, por unanimidade, condenaram o golpe de estado em Honduras. Todos! Honduras, pela cláusula democrática do Estatuto da OEA, em seu art. 19, foi retirado da condição de estado-membro da Organização dos Estados Americanos.
A Assembleia-Geral da ONU aprovou, por una nimiedade, a moção de repúdio ao golpe de Estado em Honduras. (...) E mais: defendendo o Brasil, dizendo que são inaceitáveis as intimidações contra a embaixada brasileira, que é inviolável a embaixada, e fazendo uma advertência clara contra o governo golpista, como fez o próprio Conselho de Segurança da ONU a pedido do Brasil.
Portanto, todas as instituições multilaterais, por unanimidade, e a Conferência que nós tivemos com 60 países da África e da América do Sul, também por unanimidade, aprovaram a condenação ao golpe em Honduras.
Eu não conheço, na história recente – o Ministro Celso Amorim foi muito feliz quando disse isso ontem –, um único caso em que houvesse uma condenação tão ampla, geral e irrestrita de toda a ONU, da Assembléia-Geral, de toda a OEA, do Conselho de Segurança a um golpe de estado.
O Brasil não escolheu Zelaya. Quem o escolheu foi o povo hondurenho. Nós não estamos discutindo a qualidade do governo e os erros que foram cometidos no governo. Nós estamos discutindo a questão da democracia em Honduras, se golpistas podem demover um Presidente da forma como foi demovido, sem o devido processo, sem o direito de defesa, como aconteceu. E essa é a avaliação da Assembléia-Geral da ONU e da Organização dos Estados Americanos. Essa é a avaliação de toda a comunidade internacional.
Todos os países democráticos do mundo se colocaram contrários ao golpe de estado. Eles estão absolutamente isolados, e mais isolados ainda quando promulgam o estado de sítio, revogam cinco garantias individuais, inclusive o direito ao habeas corpus, prisões às dezenas e às centenas que estão acontecendo no país, fecham, de forma truculenta, a rádio e a televisão da oposição, mais um caso dramático de violação da liberdade de imprensa na região, e continuam cercando a Embaixada Brasileira, o que não está dentro – eu diria – dos princípios e das atitudes que nós esperávamos de um país amigo, como sempre foi Honduras e que, seguramente, continuará sendo o povo hondurenho.
O Brasil acolheu o Presidente da República eleito pelo povo hondurenho e que foi deposto. Qual país, qual embaixada não acolheria? Acolheu e tinha que acolher, ainda mais um país como o nosso em que muitas lideranças tiveram que se abrigar em embaixadas, muitas lideranças, tanto no Brasil quanto especialmente no golpe do Chile, ficaram mais de ano trancadas em uma embaixada sem ter o direito de voltar para casa, sem ter o direito de ter o salvo-conduto, sem ter o direito de recuperar a sua cidadania, para não ser torturado, preso, para não serem, como muitos o foram, mortos pelo golpe militar de Pinochet. Então, nós temos tradição de abrigar, de acolher, de asilar e fizemos isso, eu diria, de forma absolutamente inquestionável do ponto de vista da Convenção de Viena".
Por fim:
"Para concluir, o Brasil não se envolveu nisso. O Brasil acolheu um presidente exilado. Acolheu cidadãos que estão sendo perseguidos e presos em um país que não dá garantias aos direitos individuais. Um país que revogou o habeas corpus, que revogou os princípios básicos do direito de defesa do cidadão perante o Estado. Um país onde há milhares de pessoas presas. Foi nessa condição que a Embaixada brasileira abrigou um presidente eleito e reconhecido por toda a comunidade internacional".
O aliado do governo brasileiro, Inácio Arruda (PCdoB), parte de uma premissa fundamental no debate: “Sinceramente, só no Brasil que tem alguém dizendo que não teve golpe! Só no Brasil! (...) Fora disso, não há em lugar nenhum alguém que não esteja condenando de forma veemente esse golpe. (...) Ao contrário, dizem que houve golpe e que querem o retorno do Presidente que foi eleito pelo voto do povo. É isso o que todos estão dizendo".

Outro ponto questionado pela representação do Partido Comunista do Brasil, no Senado Federal, no calor do debate, foi sobre a interrogação, levantada pelos apoiadores do golpe hondurenho, de que o Brasil, ao acolher Zelaya na embaixada, estava intervindo na vida política da Republica Hondurenha, indo contra a autodeterminação dos povos. Para Inácio Arruda:
"Estamos tratando de Honduras. E nós sabemos o que é golpe. Nós, aqui no Brasil, sabemos. Nós sabemos o que é golpe na América Latina. Nós sabemos o que é intervenção estrangeira nos países. Nós sabemos o que são bases militares estrangeiras nas nações.
Diga-se de passagem que há uma base militar estrangeira no território de Honduras. Até agora, ninguém se manifestou em relação a este tipo de diplomacia: a diplomacia da arma. Aqui se fala do Irã, que tem um míssil, que tem isso, que tem aquilo. Que hipocrisia! Há uma base militar estrangeira no solo de Honduras. Quem reclamou do fato de que há uma base militar estrangeira no solo de Honduras? É pouca interferência ter uma base estrangeira no solo de um país? Somos nós que estamos nos imiscuindo em assuntos internos de Honduras? Pelo amor de Deus! Estamos tratando aqui de uma atitude de golpe! A constituição de Honduras foi rasgada pelo golpismo. É isso que tem lá".
A partir de uma exemplo da embaixada do México do Chile de Alende, coloca por terra a tese de que o governo brasileiro estaria intervindo em Honduras:
E veja, Presidente, imagine a situação que nós vivenciamos aqui no Brasil, que o Chile vivenciou. Está escrito no livro da esposa de Allende, de Pablo Neruda, como agiu uma embaixada para enfrentar os golpistas lá no Chile de Allende. A Embaixada do México foi buscar as lideranças sindicais, partidárias – entre elas, a própria mulher de Allende – de dentro de casa, para que ela não fosse assassinada, para que ela não fosse morta. Isso fez a Embaixada do México no golpe no Chile? (...)
Nós tomamos uma atitude corajosa. O Presidente Lula e o seu ministro adotaram uma atitude corajosa. Não podiam se acovardar. Nesse episódio, não! Alguém pedir proteção na sua casa e você se negar, sinceramente, não seria possível!
Eu estranho é a nossa posição, porque o mundo inteiro, pelas suas representações – são os embaixadores, são os diplomatas, todos – está defendendo a posição brasileira e condenando o golpe em Honduras. (...)
Nesse sentido, é de reforçar a posição do Estado brasileiro, porque, se o Estado brasileiro recebe o apoio de todo o mundo, mas não recebe o apoio do Senado brasileiro, seria muito estranho.
Os partidos da burguesia brasileira apoiaram e defenderam o Golpe de Estado em Honduras, apesar de disfarçarem com falácias lógicas suas posições políticas, os artifícios enganosos com aparências dissimuladas de verdade caem por terra diante de uma análise relacional dos fatos e acontecimentos, vistos do ponto de vista da dialética.

Através de Eduardo Azeredo (MG), O PSDB fantasia seus discursos afirmando “repúdio ao cerco militar à embaixada brasileira”, não obstante, fez questão de conter na moção o “inaceitável uso político, como palanque político, da embaixada brasileira por Zelaya”.

Repudiou-se a ação militar, mas não relaciona o fato a ordem de um governo golpista que usurpou sem voto o cargo, isto é, sem eleição direta do povo. A amputação da relação de causa e efeito permite fazer uma critica que na verdade é um posicionamento a favor dos golpistas, ou seja, que Zelaya e seus aliados não usassem a embaixada para lutar pela restituição da ordem democrática, que se materializaria com sua volta ao poder da Republica.

Para o senador do PSDB, o governo tinha que “desocupar” a embaixada. Essa afirmação por si mesma é igual aquela usada pelos golpistas hondurenhos, repetida no Brasil:
“É evidente que esse uso está acontecendo e que o Governo brasileiro deve insistir mais na desocupação das nossas instalações por esses sessenta adeptos de Zelaya que lá estão (...) Mas o fato é que estes dois pontos – a permanência do número elevado de pessoas dentro da Embaixada, fazendo manifestações políticas, e o uso da Embaixada"
Diversas acusações são feitas ao governo Lula, não obstante, a mais falsa delas é do intervencionismo unilateral em Honduras fora das instituições internacionais: "(...) Não é razoável que o Governo brasileiro chame para si um problema que é da Organização dos Estados Americanos”. A visão de Azeredo (igualmente João Tenório (PSDB – AL)) é semelhante a de seu comparsa José Serra: "Agora, que o Governo brasileiro fez uma atrapalhada, como disse o José Serra, fez, sim. O Governo brasileiro fez uma atrapalhada. Porém, isso não quer dizer que não devamos apoiar a integridade da Embaixada, a soberania da Embaixada".

Os capciosos argumentos falaciosos tidos como constitucionais e usados pelos golpistas hondurenhos para incriminar o governo legitimo de Manuel Zelaya e tê-los como pretexto para o golpe foram repetidos no Senado Federal pelo senadores apoiadores e defensores do Golpe de Estado Hondurenho.

A mesma justificativa usada por Obama e Hillary Clinton das “duas partes em conflito", reiterada inclusive por FHC, Miria Leitão, Rede Globo e Folha de São Paulo, ou seja, de que “os dois lados erraram”, assim como, o uso da palavra golpe usada por Obama inicialmente, eram a epiderme da hipocrisia, dado que, foi utilizada para encobrir o Golpe de Estado: os dois lados erram, mas, o Golpe de Estado continuava, cabendo a troca de Michelettie por outro comparsa seu para legalizá-lo, como aconteceria nas eleições futuras de novembro de 2009:
“Os dois estão errados, os dois”. Zelaya errou porque realmente estava descumprindo o que o Congresso falou, decidiu. Depois, ele recorreu ao Supremo, que também disse que ele não poderia fazer o plebiscito. E aí errou o governo de Micheletti. Por quê? Porque, em vez de prendê-lo ou de forçá-lo a respeitar, deu um golpe, tirou-o do país e levou-o para outro país. Isso é reconhecido hoje. O próprio Micheletti reconhece que errou (…) Então, os dois erraram. Eu disse aqui, da tribuna, na semana passada, que esse negócio de ficar chamando de golpista... O Governo brasileiro resolveu chamar todo mundo de golpista, agora, lá do outro lado. Eu falei assim: “Olha, golpistas são os dois”.
Vamos admitir por um milésimo de seguindo a afirmativa “golpistas são os dois”, pronto!!! E o Golpe de Estado? Não menciona porque encoberto com as palavras enganosas acima citadas, ele está lá, continua, de modo que, não tomando parte de nenhum lado, fica-se livre para condenar a atuação diplomática do governo Lula. Ao repetir a ideia falsa de plebiscito toma a voz dos golpistas e aprova o golpista Micheletti, não importando o fato desse ter dito que errou: errou mais continua ilegalmente usurpando o poder em nome do Golpe de Estado, não existe meia culpa por que é pura estupidez com fúria hipócrita.

As considerações apreciadas sobre as posições dos tucanos apoiadores e defensores de Golpe de Estado, são validas para os Senadores golpistas do DEM.

Heráclito Fortes (DEM – PI) aparenta-se ser contra o Golpe de Estado em curso porque sua dissimulação segue a linha dos “dois lados erraram” ou das “duas partes em conflito”. Como uma ave de rapina preparada para o bote, fala em “golpe e contragolpe”, todavia, em momento algum condena o golpista Micheletti. Ao contrario, usa no seu discurso elementos constitucionais para mostrar-se “democrático”, não obstante, o que deveria ser não é, pois, os mesmos foram usados pelos golpistas hondurenhos como subterfúgios para o Golpe de Estado:
“O Capítulo I da Constituição hondurenha, no que diz respeito à Organização do Estado, afirma o seguinte: “A forma de governo é republicana, democrática e representativa, se exerce pelos três Poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário, complementares e independentes e sem relação de subordinação. A alternatividade do exercício da Presidência da República é obrigatória. O "que tem golpe e contragolpe".
Em outro trecho menciona a questão do continuísmo jogado nas costas de Manuel Zelaya pelos golpistas: “No artigo 204, salvo engano, da mesma Constituição, diz que o cidadão que ousar alterar mandato presidencial com prorrogação ou reeleição está passível de perder a cidadania”. Quanto ao abrigo de Zelaya na embaixada brasileira, o argumento se inverte, esse é que estava conspirando contra o golpista Roberto Micheletti: "(...) um comitê eleitoral ou um quartel para campanha de retorno ao governo do seu país vai uma diferença muito grande (...) O Sr. Zelaya está na Embaixada brasileira fazendo turismo. Turismo conspiratório!". Colocando em dúvida a versão da diplomacia brasileira, questiona:
“Por que o Sr. Zelaya não procurou a Embaixada americana? Por que não se hospedou no prédio da OEA que existe em Honduras? (...) A questão do Zelaya é diferente. Ele já estava fora de Honduras. Retornou de maneira clandestina, com o apoio do Sr. Hugo Chávez, e foi para o endereço certo, que é a Embaixada brasileira. Então, já não se configura mais a figura do asilo. O Governo brasileiro precisa também dizer em que circunstâncias hospeda o Sr. Zelaya. Outra coisa é permitir que a Embaixada brasileira sirva, como vem sendo feito, de quartel para retorno ao comando daquele país de um Presidente deposto””
Um ponto comum para o qual toda a oposição se dirige fervorosamente é para a critica em torno dos países progressistas da América Latina:
“nós não podemos ser manobra de movimentos que hoje toda a América Latina sabe de onde nasce e sabe quais são os seus objetivos. Nós não podemos nos deixar envolver por essa onda bolivariana que começa a se alastrar e a se espalhar pela América do Sul, e agora o Brasil foi vítima de uma manobra rasteira e baixa dos que querem mudar a ordem social de todo esse continente, voltando a transformar essa região naquela república de bananas, cheia de golpe, de sangue e de ditadura, e é exatamente isso que nós não queremos mais” (…) O Brasil não pode ser caudatário de Hugo Chávez em episódios dessa natureza. O Brasil tem nome. O Brasil merece credibilidade e respeito".
O corrupto Demóstenes Torres, Senador pelo DEM, é claro no seu posicionamento: Zelaya é que foi um golpista ao gosto de Lula e Chávez: "a atitude do Brasil totalmente conivente com o Sr. Hugo Chávez, que fez com que o Presidente, também golpista, Zelaya, retornasse para lá com um único objetivo: causar mais transtorno e mais tumulto”. Na ótica deste apoiador de golpistas, Manuel Zelaya “foi deposto segundo a Constituição", “Zelaya caiu constitucionalmente. Dai que Micheletti era governo legitimo, a “expulsão do Zelaya é que foi ilegítima”: “Se houve uma atitude equivocada quando expulsaram de Honduras o Sr. Zelaya, houve um atitude constitucional ao depô-lo porque ele quis também ter a reeleição por tempo indeterminado, como muitos outros ditadores da América do Sul e da América Latina”.

Sobre o status diplomático, Demóstenes Torres arremessa o questionamento de “qual é o status diplomático hoje do Sr. Zelaya? Ele é asilado? Ele é abrigado? Ele é o quê? Ele não pediu para sair do país; ele pediu para voltar”. E o Brasil deu guarida a essa aventura (…)". Para então passar a criticar diretamente o governo brasileiro pela "(...) a atitude do Brasil [que] foi completamente desregrada, contrária aos tratados internacionais, fere o direito internacional (...) O Brasil precisa compreender que os paisetes que ele quer liderar não querem a liderança do Brasil". E, de forma pró-Micheletti, invertendo até o sentido do golpe, defende que: "O Brasil (...) não tem que se aventurar em atitudes golpistas (...) O Presidente da República não tem de desfilar em carros abertos com ditadores. Não tem de considerar Honduras uma ditadura, e Cuba, uma democracia. Não pode haver dois pesos e duas medidas".

Fascistamente, segue a cantilena do anti-bolivarismo. É como se ouvíssemos Micheletti falar contra os governos progressistas da América Latina:
"Todo mundo concorda que os militares não podem cercar nossa Embaixada. Todo mundo repudia o golpe que aconteceu em seguida, com a expulsão. (...) a deposição dele seguiu o modelo constitucional. Agora, o Brasil ter conivência com Hugo Chávez, e acolher uma pessoa que volta do exterior com o único fito de tentar retomar o poder (...) O Brasil está entrando num assunto interno de Honduras"
E, arremata, pasmem as leitoras e leitores, acusando falsamente o governo brasileiro de tentar “patrocinar um golpe desarmado em Honduras” e o Presidente Hugo Chávez de ser golpista:
"Naquele momento, o Presidente da República estava onde? Estava justamente na ONU. Então, o Brasil imaginou que, com esse gesto do Chávez, com a conivência que tinha, iria reimplantar o governo de Zelaya ali e mostraria ao mundo que o Brasil patrocinou o retorno da democracia a Honduras. Seria um golpe diplomático perfeito, com as reclamações habituais, mostrando que havia uma violação ao Direito Internacional, como estamos fazendo aqui. Só que a situação já era uma violência daquela forma, mas deu tudo errado. (…) "É só pegar as palavras do Presidente Chávez. O que o Presidente Chávez disse? Que achou que o melhor lugar para abrigar o Zelaya era a Embaixada brasileira. E o Presidente Chávez é, no mínimo, um golpista".
Um Governo, como o de Luiz Inácio Lula da Silva, que tinha como aliado o PMDB não necessitava de inimigos, pois, além de José Sarney no Senado Federal e Michel Temer na Câmara dos Deputados, além de outros sepulcros caiados, tinha Mão Santa (PMDB – PI) que de santo só tem o nome (66).

Com seus bordões peculiares não deixa de tomar a posição dos golpistas hondurenhos. Como os demais Senadores da burguesia golpista, usa a Constituição para afirmar que Zelaya não era presidente, "A Constituição – eu fui o primeiro a lembrar –, e atentai bem, no país está lá em conflito, dois Poderes se manifestaram: o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, daí por que Zelaya não é presidente – dois Poderes”. Que estava mal-intencionado em obedecer à Constituição, “Dois Poderes se manifestaram contra Zelaya, que ele estava mal-intencionado em obedecer à Constituição daquele povo. Dois: o Legislativo e o Judiciário. Então, é isso que queremos dizer" Papagueia a tese do continuísmo pregado pela imprensa golpista: "Constituição de Honduras, que diz: jamais alguém poderá, em Honduras, ameaçar a alternância de poder. Democracia é divisão de poder e alternância de poder". Por fim, Mão Santa segue a tese anti-bolivarismo da extrema direita da classe dominante brasileira (67):
“Mercadante, nós não temos nada a ver com Cuba, nada a ver com a Venezuela, nada a ver com o Equador do travesso Correa, nada a ver com a Bolívia do Morales, com o Paraguai do Padre reprodutor, ninguém tem nada a ver com a Nicarágua. E esse aqui é a mesma coisa: ele queria o terceiro mandato”.
Apesar do PSB tender a esquerda, criticou o uso da embaixada “como palanque político”, do continuísmo através de “plebiscito”, esse foi o caso de Renato Casagrande:
"(...) não concordo com a tese de que, se você for mudando a Constituição, se for fazendo plebiscito permanentemente, você pode se perpetuar no poder porque quem está no poder, muitas vezes, tem a capacidade de manobrar, manusear e manipular para que se chegue a resultados.
O Presidente Zelaya, à época, tomou decisão de fazer uma consulta popular, contra a decisão do Congresso, contra a decisão da Suprema Corte. A Suprema Corte tomou decisão contra ele e um erro que o Zelaya cometeu acabou sendo apagado porque a decisão do presidente de fato lá, que tomou posse no lugar do Zelaya, e a decisão da Suprema Corte de banir o Zelaya foi inaceitável. Banir uma liderança política como Zelaya, de Honduras, a Constituição hondurenha não possibilita, não permite isso. Foi uma decisão inaceitável”.
Depois disso parte para o jogo duplo:
“E o Brasil tomou uma posição política desde aquele primeiro momento: de condenar o golpe, posição com a qual eu concordo. Temos de condenar o golpe. E o Brasil tomou uma decisão política clara de apoio ao Zelaya. O Governo brasileiro, a diplomacia brasileira tomou essa decisão desde aquele momento, compreendendo que o que foi feito contra Zelaya foi muito mais grave do que até o que o próprio Zelaya tentou fazer em termos de consulta popular interna em Honduras.
E nisso se passaram dois a três meses...E a pressão brasileira – junto com a diplomacia internacional – sobre o governo golpista de Honduras não funcionou, não teve resultado. E esse governo continua lá, e Zelaya, naturalmente, ofendido como foi, agredido politicamente como foi, fez toda movimentação para retornar a Honduras. Ninguém pode questionar Zelaya!
Ontem, Senador Valadares, na Comissão de Relações Exteriores foi claro e manifestou uma posição bastante explícita: Zelaya foi banido de seu país! Politicamente, banido de seu país! Como é que você vai, agora, dizer que Zelaya não pode lutar para retornar a seu país? É uma posição política que deve ser respeitada e considerada.
O Ministro Celso Amorim disse que não sabia do retorno de Zelaya, que soube alguns minutos ou uma hora antes de ele chegar à Embaixada brasileira. Nesse ponto da posição da diplomacia brasileira, pode haver questionamento, sim, mas o Brasil continuou sendo coerente com relação à sua posição política, que era a posição de dar respaldo e resguardo à posição do Zelaya. Mesmo que haja contestação à diplomacia, nós temos que concordar que ela é coerente com a posição política que o Brasil adotou; tem coerência com a posição política”.
A prédica do consenso foi a tônica do PDT. Na visão de Flávio Torres, Senador pelo Ceará, argumentou:
“Então, se formos pegar o consenso, que foi tirado na Comissão, acho que esse consenso votado em plenário não faria nenhum mal, porque o consenso é sobre o que todo mundo concorda: que a Embaixada está sendo cercada, o que não pode. Nós não entramos no mérito; nós não entramos no mérito da Constituição de Honduras, porque, se formos entrar, não tem nada a ver; não entramos no mérito da versão de ser verdade ou não, porque não podemos falar nisso. Então, tendo em vista a circunstância do fato que está acontecendo em Honduras, que é grave, acho que seria positivo, na minha visão, o Senado aprovar a nota do jeito que está, embora cada qual a complemente de um lado ou do outro. Um acha que é justo, que o Governo tinha de fazer isso mesmo, pois está patrocinando a democracia; o outro acha que está se dando um golpe. Nós não entramos nisso. A nota poupa o Plenário dessas questões e aprova, minimamente, uma coisa que eu acho que seria boa para o cenário internacional, o Senado participar com essa opinião”.
COMISSÃO PARLAMENTA DE DEPUTADOS BRASILEIROS À HONDURAS

Como vimos, em 22 de setembro, por iniciativa do Deputado Ivan Valente do PSOL, foi criado uma “Comissão Externa da Câmara dos Deputados” para viajar a Honduras, efetivada em 30 de setembro de 2009. Nas palavras da Deputada Janete Rocha Pietá (PT-SP), a “comissão parlamentar suprapartidária” teria como missão diplomática a seguinte pauta (68):
“1 - Estabelecer o diálogo, buscar construir a paz e, principalmente, o diálogo parlamentar com a Mesa Diretora da Assembleia Nacional; 2 - Encontrar com os brasileiros residentes em Honduras e o corpo diplomático de nossa sitiada embaixada; 3 - Ver in loco a situação da embaixada brasileira; 4 - Ouvir os diversos atores políticos em Honduras: Corte Suprema de Justiça, o Comissionado Nacional de Direitos Humanos, a Mesa Diretora do Congresso Nacional e representantes da sociedade civil organizada; 5 - Solicitar o respeito à integridade da Embaixada brasileira e buscar o restabelecimento da normalidade, garantindo seu funcionamento, sem corte de luz, água ou telefone; 6 - Ampliar o prazo dado para definição do status do Presidente Manuel Zelaya - seria até 6 de outubro; 7 - Ampliar o processo de diálogo em busca de uma saída em que se restabeleça e fortaleça a democracia; uma saída como o Acordo de São José, encabeçado por Oscar Arias, Presidente da Costa Rica; 8 - Reafirmar o posicionamento do nosso Presidente Lula e do nosso Chanceler Celso Amorim de que não participamos do processo que culminou com a chegada de Zelaya à Embaixada; 9 - Criar níveis de confiança apropriados para tornar possível um acordo com o fim do estado de sítio e garantir o processo eleitoral de 29 de novembro de 2009”.
Se recordarmos, Celso Amorim já tinha adiantado que o Brasil não tinha nenhum contato oficial com os golpistas porque não mantinha proximidade diplomática, pois, no tocante ao Golpe de Estado e da respectiva volta do Presidente Zelaya, tudo estava sendo feito através das instituições internacionais, como OEA e a ONU. O próprio Presidente Lula numa oportunidade foi direto quando disse que “o governo brasileiro não negocia com eles [Roberto Micheletti e seus cúmplices golpistas]. Quem tem que negociar é a OEA, que já tomou as decisões, é o Conselho de Segurança das Nações Unidas”

O que pode-se identificar é que houve uma lacuna entre a posição do governo e a dos deputados no âmbito das “relações diplomáticas” com Honduras, não tanto pela esquerda mas pela postura dos parlamentares da direita golpista,. Não obstante, o governo e a diplomacia brasileira não foi contra a viaje dos deputados a Honduras. Todavia, a questão de fundo é que a “missão diplomática” dos Deputados, por sua própria característica “suprapartidária”, foi uma oportunidade abraçada pela direita burguesa para entrar em cena e ocupar os espaços mediático, assim como, um circunstância favorável para instrumentalizar sua ideologia golpista nos novos tipos de Golpes de Estado, que tomava corpo mais definido com Honduras.

No jogo geopolítico e diplomático internacional, os EUA que apoiavam os golpistas, mesmo que fazendo cena dúbia diante da opinião publica, com suas lábias de guerra psicológica para que as “duas partes” chegassem a um acordo, na verdade vinha monitorando as relações exteriores do governo Brasileiro. Em dois sentido, primeiro obtendo informações no tocante a ação diplomática do Brasil, segundo perscrutando dados relativos dos possíveis aliados da classe dominante, vende-pátria brasileira, que estivessem do lado dos imperialistas e dos golpistas hondurenho, assim como, contra o governo Lula. Hora, e porque não levantar a hipótese dos EUA, a par de informações estratégicas, não estivessem instrumentalizando os golpistas hondurenhos com informações sobre o Itamaraty, conforme, disponibilizavam aos mesmos quais eram os políticos da direita que estavam apoiando e defendendo a oligarquia caribenho e seu Golpe contra o povo e Manuel Zelaya?! Em face do exposto, é que entra um documento confidencial filtrado por wikileaks que apontava Deputados da direita, que constituía a comissão “parlamentar suprapartidária, como informante da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil.

Stephen M. Liston, conselheiro político da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, escreveu em um relatório ao Departamento de Estado Americano afirmando que existiu "reuniões em Recife e em Brasília com os membros do Congresso” (69). No relato, cita do inicio ao fim Raul Jungmann (PPS-PE) e Janeta Piedad Rocha (PT-SP). No entanto, no texto não fica claro que os dois deputados se reuniram com o Conselheiro da Embaixada Americana porque o conteúdo é basicamente o mesmo do relatório apresentando pelos Deputados na Sessão da Comissão Exterior da Câmara dos Deputados. Uma coisa não há dúvida, que houve reunião de membros da Comissão com os representante americanos no Brasil: ademais, no final do relatório, Stephen M. Liston diz que “Este cabo foi coordenado com o Consulado do Recife”.

Algumas informações disponibilizadas no documento confidencial de Stephen M. Liston não contam no relatório apresentados pelo Deputados. Na introdução, onde faz um resume, seu ponto de vista se mostra bem intencional e, como não poderia ser diferente, assim relata:
“Resumo: Uma delegação de seis membros do congresso brasileiro viajou a Tegucigalpa, de 30 de setembro a 2 de outubro para apoiar a comunidade brasileira em Honduras e reunir-se com funcionários do governo de Zelaya e Micheletti. De acordo com dois membros da delegação, Zelaya parecia "frágil" e talvez não de todo lúcido. Somente quatro membros da delegação se reuniram Micheletti, que afirmou que não houve Golpe de Estado contra Zelaya e que todas as medidas repressivas do governo foram adotadas para proteger a população. Nas reuniões em Brasília e Recife deste mês a delegação não foi capaz de definir uma estrategia ou recomendações para que o Brasil aportes para a superação da crise de Honduras; isto coincide com a falta de planejamento e de visão evidente no governo Lula e em seu Ministro de Relações Exteriores sobre o tema. A nível mais amplo, esto reflete o fato de que o Brasil não está acostumado a uma posição central numa crise fora de sua esfera de influencia histórica"
Em outro trecho, cita o relato feito por Jungmann sobre supostos obstáculos impostos pelo governo e pelo presidente da Câmara. A impressão que se tem do documento confidencial é que o Deputado Jungmann do Estado de Pernambuco teria sido o informante da Comissão a Embaixada dos EUA, não somente pelo fato de mencionar a palavra Recife três ou mais vezes, mas também pela segurança apresentada quando se trata de expor o ponto de vista de Jungmann, senão também, pela coincidência de posição política de ambos, ou seja, pró EUA e pró golpismo:
“O Governo do Brasil não apoia plenamente a visita desta delegação. Jungmann disse que o Ministro de Relações Exteriores não lhe agrada a ideia de que os membros do Congresso se ocupem de uma questão diplomática. Jungmann explicou que o Ministério de Relações Exteriores tratou de bloquear a viaje e inclusive o Presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, pressionou fortemente a delegação para não viajar".
De regresso ao Brasil, a Comissão Externa de deputados que visitou Honduras apresentou um relatório a Câmara dos Deputados. Além disso, como era de se esperar, os relatos tanto no parlamento quanto fora dele, refletiram as posições politicas as quais representavam os deputados diante da conjuntura (70).

O deputado apoiador de Golpe de Estado, Raul Jungmann (PPS-PE), em Sessão da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, realizada em 07 de outubro de 2009, apresentou um relatoria geral como Coordenador e relator da Comissão Parlamentar de Deputados Federais.

Como o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) não foi apenas um dos principais defensores de Golpes de Estados, mas um dos futuros ideólogos deste instrumento usando pela direita contra os povos da América Latina, especialmente, ideólogo desta pratica no Brasil, vamos seguir seu relatório nos pontos mais evidentes que demonstram a qualidade dos defensores, apoiadores, sustentadores de golpistas.

Na reunião com a Suprema Corte de Justiça de Honduras, diz no relatório que na "audiência com o Pleno da Suprema Corte de Justiça de Honduras" viu-se que "No entendimento dos hondurenhos, a indefinição do seu asilo propiciava uma situação que desfavorecia aqueles que apoiavam o Governo Micheletti, claramente dito". Depois, com o Conselho Nacional de Direitos Humanos ("órgão independente, com mandato, cujo Presidente é escolhido pelo Congresso hondurenho [faltou dizer que é indicado pelo PLH ou PNH e que presta serviço direto aos partidos citados]", transmite uma autocritica descabida ao afirmar "que eles não concordavam com o ultimato e com a maneira pela qual Zelaya foi afastado do poder. Obtivemos também, do citado Conselho, o compromisso de garantir direitos aos brasileiros e assegurar a integridade da nossa Embaixada".

Relata uma reunião que teve no hotel com representantes da comunidade brasileira: "comunidade brasileira que nos apresentaram as suas percepções, os seus temores, as suas preocupações". Essa comunidade brasileira que, "sobretudo representantes de classe média", "era francamente contra o Presidente deposto Manuel Zelaya e francamente a favor do atual Presidente Micheletti".

Aqui abriremos um parentese para analisar a informação prestada por Raul Jungmann quanto ao que denomina de “comunidade brasileira”. Bom, seria possível 300, 500 ou 600 pessoais pensarem iguais? Vejamos!

Em reportagem da TV Câmara, a jornalista pergunta a Rodrigo Bittar (jornalista que viajou com a Comissão) sobre essa "comunidade brasileiras" que residia em Honduras. (71):
"A comunidade brasileira que mora, residente em Honduras, que também se reuniu com os Parlamentares. Eles protestaram muito, inclusive, entregaram um documento oficial de protesto a essa decisão do governo de permanecer com o Zelaya lá na embaixada. O que você percebeu desse encontro com os brasileiros residentes lá, porque eles chegaram a esse tipo de postura tão critico ao governo Zelaya?”
Em resposta Rodrigo Bittar diz:
“Eu tenho dúvidas, se aquele grupo de brasileiros realmente representa o pensamento da comunidade brasileira, porque, são cerca de 300 brasileiros que moram em Tegucigalpa, especificamente, e foram escolhidos nove (9) por uma comitiva que levou os deputados em todos os encontros, menos a embaixada brasileira que tinha o Zelaya. Então todos esses nove brasileiros foram muito críticos ao governo brasileiro e eram totalmente contrários a permanência do Zelaya na embaixada brasileira. Se diziam até ameaçados na rua, por serem brasileiros, de manifestações das pessoas que apoiam Micheletti, que achavam que eles estava que estava se entrometendo em uma questão interna de Honduras. Mas, ai, realmente, eles leram um manifesto que havia sido publicado no jornal de Honduras, a uns dias atrás, era um manifesto de nove pontos, todos eles bem incisivos contra a postura do governo brasileiro, e, exigindo que o Zelaya ou fosse preso ou fosse mandado embora de Honduras, porque para eles a presença dele lá era um fato muito grande de desequilíbrio politico para o país"
Então, os brasileiros residentes em Honduras (que eram “francamente contra o Presidente deposto Manuel Zelaya e francamente a favor do atual Presidente Micheletti”) passaram de uma “comunidade de brasileiros” a um “grupo de noves pessoas”.

No afã descrever as impressões que vão na direção critica do governo Lula e da Diplomacia brasileira. Evidencia que o Congresso Nacional hondurenho passou "(...) um DVD mostrando todas as fases da crise em Honduras. (...) ao final (...) Uma tela escura, com palavras escritas em branco dizendo o seguinte: “Brasil e Venezuela violentaram a soberania de Honduras. E nós ficamos sabendo, por meio da repórter Daniela Crispim, de O Estado de S.Paulo, que aquele DVD estava sendo passado nas televisões de Honduras. Evidentemente, um imenso desgaste".

Depois os deputados foram a Embaixada Brasileira em Honduras. O Coordenador e relator golpista reporta que a embaixada "encontra-se em relativa ordem, não há desordem perceptível. Há um número excessivo de pessoas e, claro, há uma tranquilidade tensa pela situação em que se encontra".

Na reunião com Manuel Zelaya:
"Presidente deposto de Honduras. Ele nos fez um relato de sua visão da crise (..) Em primeiro lugar, que ele admite, desde que volte ao poder, ceder parte de seus poderes — inclusive, colocou as mãos juntas e disse: ficarei paralisado, mas quero voltar ao poder.
Disse também que aceitava ser processado. Existe contra ele uma dezena e meia de processos, mas que fazia questão, efetivamente, do retorno. E disse, ainda, que se em 15 dias não se encontrasse uma solução para a crise, que não ele, mas o povo hondurenho não iria aceitar as eleições de 26 de novembro.
Eu, então, na qualidade de coordenador, retruquei algo que considero importante. Disse ao Presidente Zelaya: Se o senhor agradece ao Brasil, se o senhor agradece ao Presidente Lula, em troca, é preciso dizer que suas manifestações políticas, que a incitação que o senhor faz à desobediência, daqui da Embaixada, causa problemas ao Brasil, causa problemas ao Presidente Lula, cria desconforto para nós. E que, efetivamente, se algo viesse a acontecer, o Brasil poderia ser responsabilizado por isso.
Ele, em resposta, nos disse que as convocatórias dele eram pacíficas e que já não dispunha de meios de comunicação, visto que haviam inclusive fechado, pelo Estado de Direito. Ele já não disporia de meios de comunicação para se fazer ouvir.
Então retruquei que ele falava todo dia para todo mundo e que efetivamente as pessoas, sim, continuavam a ouvi-lo".
Um ponto em comum entre os parlamentares era que não estava na agenda se reunir com o golpista Roberto Micheletti. Porém, os deputados apoiadores de golpe (papagaios de suas vozes mentirosas no Brasil) decidem ir servir de correligionário e legitimar o "Presidente Micheletti" (se em Honduras era seu “presidente” no Brasil seria seu rei absoluto). Não só isso, também foram para se diferenciar do Presidente do Brasil (para eles não seria presidente senão Micleletti) e da Diplomacia Brasileira. É tanto, que fizeram questão de se diferenciar dizendo ser “deputados de uma Comissão parlamentar da Câmara de Deputados do Brasil”, todavia, deputados da oposição, portanto, não deviam se preocupar (também somos golpistas). Na entrevista mencionada da TV Câmara, Rodrigo Bittar explicou que os deputados “falavam que era [de uma] missão de oposição ao governo” e “sempre que os interlocutores ouviam essa argumentação eles diminuíam o tom da critica em alguns pontos”:
Entrevistadora: "Como é que foi esse trabalho dos deputados, você acompanhou tudo de perto, como é que foi toda essa recepção da Comissão Externa dos Deputados, qual foi a maior dificuldade que eles enfrentaram?
Rodrigo Bittar: A maior dificuldade que os Deputados enfrentaram foi reverter um quadro já predisposto a ser contrario ao Brasil. Tanto a comissão de Direitos Humanos quanto a Suprema Corte, o Congresso Nacional, a comunidade brasileira em Honduras, todos eles estavam ressentidos com o governo brasileiro, porque para eles, é clara a participação brasileira no abrigo a Manuel Zelaya na Embaixada brasileira. E, durante todos os encontros os deputados brasileiros faziam questão, tentavam pelo menos, desfazer essa imagem. Então eles falavam que era uma missão de oposição ao governo, já que dos 6 deputados, 4 eram de partidos de oposição ao Governo Lula. E que eles estavam muito a vontade para dizer que o governo brasileiro foi sim pego de surpresa, com a entrada de Manuel Zelaya na Embaixada Brasileira.
Entrevistadora: Isso mudou a recepção?
Mudava sim. Sempre que os interlocutores ouviam essa argumentação eles diminuíam o tom da critica em alguns pontos
Seguidamente ao somos oposição a Lula e seu amigo apoiador, menciona um convite de seu "Presidente Micheletti": "que nos fez um convite para irmos ao encontro dele". Houve uma divisão e "o Deputado Ivan Valente e a Deputada Janete Rocha Pietá, que por razões políticas compreensíveis, inteiramente colocadas para nós, decidiram não nos acompanhar”. Será que tal convite não teria sido articulado com antecedência? Ou teria sido uma jogada político-mediático do golpista usurpador Micheletti, fazendo de títere os deputados brasileiros que foram a seu encontro? De uma forma ou de outra sigamos em frente!

Interessante observar que o próprio deputado ao se justificar legitima o governo golpista, pois não concorda com o ponto de vista da esquerda que recusou-se ir fazer cena para legitimá-lo, mas ao contrario dela vai ao encontro de Micheletti, o que significa dizer que no contexto, ao ir bate nas nas costas do convidado (atitude que jamais tomou o governo Lula) estava apoiando o Golpe de Estado. E, dizer que foi para “defesa dos interesses brasileiros”, é de se perguntar de que brasileiros esta se referindo? Senão da direita brasileira que apoiou os golpistas hondurenhos e do imperialismo americano que aprovou o Golpe:
"Decidimos ir, porque entendíamos que, na defesa dos interesses brasileiros, ainda que em se tratando de um governo de exceção, tínhamos de ir buscar um diálogo e defender os interesses brasileiros. Não que os Deputados que não foram não quisessem fazê-lo, mas entendiam que corríamos o risco de estar legitimando o que seria uma ditadura, o que é compreensível. São pontos de vistas defensáveis e foram colocados com franqueza e honestidade pelos dois".
Depois de uma visita de quase duas horas a embaixada, ao contrario do governo brasileiro que não se comunicava com o golpista Micheletti, numa atitude corretíssima de repúdio e condenação ao Golpe de Estado, numa iniciativa vergonhosa, mas que demonstra o desmascaramento da oposição brasileira em apoiar e defender golpistas, o Coordenador da Comissão Parlamentar tomou a iniciativa de legitimação o famigerado antidemocrático Micheletti, seu “governo interino”, como gostava de chamá-lo. Com o argumento de que não representava o "Ministério das Relações Exteriores" senão o "Congresso", aceitou o "convite (...) feito por um grupo empresarial ligado ao governo golpista". Além de Raul Jungmann, participam da reunião os Cláudio Cajado (DEM-BA), Bruno Araújo (PSDB-PE), e com o voto vergonhoso e traindo seus colegas de esquerda, inclusive, sua "companheira" de partido, também esteve presente ao encontro deputados Maurício Rands (PT-PE).

Ivan Valente (P-SOL-SP) criticou duramente a decisão dos colegas, na sua apreciação, “Eles não caíram numa armadilha. Eles foram ingênuos, porque havíamos combinado de que não entraríamos em contato com qualquer pessoa do governo Micheletti” (72).

Voltando a Sessão da Comissão da Câmara, dar voz ao golpe era a essência do enrustido fascista. Raul Jungmann (PPS-PE) diz na comissão ao apresentar seu relatório:
"O Presidente Micheletti nos fez ver que, do ponto de vista dele, não se tratava de um golpe em Honduras, em primeiro lugar porque todas as instituições estavam funcionando, nenhuma instituição estava fechada. Em segundo lugar, porque, no entendimento dele, ele assumiu a Presidência atendendo a um comando constitucional. Ou seja, como o Vice-Presidente tinha se afastado para disputar eleições, ele era o sucessor constitucional. Então, ele nos indagava o seguinte: Como posso ser considerado golpista se assumo como manda a Constituição e entrego o poder como manda a Constituição? Isso, na visão dele”.
Com "muito tato", Raul Jungmann (PPS-PE) agiu como aquela velha historia, não critico mas também não condeno (Maquiavel com certeza diria aos príncipes das monarquias italianas que esse tipo de politico seria um inimigo em potencial):
“Com muito tato, porque essa não é uma pergunta fácil de se fazer, porque, (...), é um assunto de economia interna de Honduras, indagamos o seguinte: Muito bem, se os senhores cumpriram as várias etapas de acordo com a Constituição, por que sacar o Presidente de um país de madrugada, com armas apontadas, e para fora do país? O Presidente Micheletti então nos respondeu que tinha assumido na parte da tarde, que não tomou conhecimento, que a Suprema Corte estava abrindo um processo para averiguar quem tinha feito aquele ato e que ele entendia que, de fato, aquele tinha sido um erro".
Hora, se se disse anteriormente, que a comunidade apoiava a Micheletti e condenava Zelaya, seria "natural" os próprios partidários dos golpistas não discriminassem os "brasileiros", mesmo o Brasil se colocando contrario aos lacaios hondurenhos, não obstante, o deputado apoiador e papagaio da versão daqueles que executaram o golpe, não vê isso:
"Recordo (...) que, durante a exposição que o Catunda nos fez, foi-nos dito que alguns brasileiros e brasileiras ligaram para Embaixada preocupados com seus filhos que estavam sofrendo algum tipo de discriminação, porque, evidentemente, aqueles que eram partidários do Micheletti identificavam o Brasil como alinhado com o Presidente deposto, Zelaya, e isso estava gerando uma certa tensão. Nada de excepcional, mas que foi relatado pelo Catunda, o nosso Encarregado de Negócios".
Depois do relatório feita pelo defensor de golpistas, que foi mais uma exposição ideológica em apoio a ruptura democrática, passa a expor suas opiniões pessoais: "Até aqui fiz um relato, digamos assim, oficial, evidentemente com falhas e incorreções que os demais corrigirão, mas é um relato do conjunto da missão":
"O Sr. Manuel Zelaya é o fator inicial de desestabilização da situação em Honduras, porque ele, de fato, atenta contra as instituições constitucionais do país" Inicialmente, "ao desconsiderar as decisões da Suprema Corte, ao desconsiderar as decisões do Congresso, ao desconsiderar as decisões da Procuradoria-Geral da República, introduz um elemento de instabilidade política.
"Quero também dizer que ele teve direito a um contraditório ao longo desse processo (...), tomando por base o artigo (...) de Dalmo de Abreu Dallari, que (...) que, quando o Sr. Zelaya foi sacado do Palácio Governamental, numa violência inominável, inaceitável, já não era presidente constitucional de Honduras. Ele foi retirado do poder segundo a norma constitucional. Isso para mim hoje é algo indiscutível".
'O Governo brasileiro acerta na diplomacia quando se posiciona contrariamente à violência que o Sr. Zelaya sofreu (...) Isso é indiscutível. Mas entendo (...) [que] o Governo brasileiro, a diplomacia brasileira, cometeu um gravíssimo erro ao permitir que o Sr. Manuel Zelaya se manifestasse a partir da Embaixada brasileira".
Esquecendo da "economia interna de Honduras" de não intervenção nos assuntos estrangeiro, diz que os golpistas e o imaginário "povo hondurenho" foram vitimas da ação diplomática brasileira. O que não deixa claro é que o Brasil não tomou uma decisão deliberada de exercer influência na situação política de Honduras, como fez o império dos EUA ao patrocinar a sublevação antipopular, senão que diante da conjuntura política foi levado a assumir uma posição, que foi a de ficar do lado do povo e contra o golpe. Já o deputado pernambucano, buscou fazer de tudo para assumir, astutamente, a legalização do ilegítimo que colidiu com a democracia e, neste sentido, ficar do lado daqueles que levaram a cabo a alternância do poder presidencial de um governo eleito por um usurpador sem voto e imposto indiretamente pelo Congresso Golpista:
"Cheguei ontem inclusive a dizer que devíamos desculpas ao povo hondurenho, por permitir que o Sr. Zelaya incitasse, interviesse na vida pública e política", e como se não bastasse, faz uma comparação interessante, "imaginem o que seria o Presidente Collor sofrendo um impeachment legal, com direito a contraditório, como sofreu, ir à Embaixada de outro país e de lá concitar".
Vejamos que nesta fala já se comparava "impeachment" como um processo legal [no caso especifico de Collor] para destituição de um presidente ou presidenta, e mais, ao comparar, diz que a "deposição", palavra suave usada para "usurpação" do presidente Manuel Zelaya, foi correta, dentro da Constituição Hondurenha, que a Corte Suprema de Justiça e o Congresso Nacional de Honduras ao fazer a "destituição" agiu dentro da lei, de modo que, as instituições funcionam normalmente, etc, etc...

Depois de Raul Jungmann (PPS-PE) foi a vez de outro apoiador de golpe, Cláudio Cajado do DEM da Bahia. Sustentou que "é fato que toda a Suprema Corte votou pela deposição do Zelaya, e eles não aceitam o seu retorno". Legitima o fato do "Presidente Micheletti [ter assumido] como Presidente do Congresso. De 128 votos do Congresso, 125 foram pela deposição". A cantilena continua de que "todos os organismos e instituições democráticas de Honduras estão e estiveram de acordo com a saída do Presidente Zelaya". Depois da voz ao representante do judiciário, que segundo Cajado, "Dr. Ramón Lopes, dos Direitos Humanos (...) foi um pouco mais incisivo, afirmando que se houvesse um banho de sangue iria até as cortes internacionais responsabilizar o Presidente Lula". E, prossegue: “Segundo a visão de todas as instituições democráticas de Honduras, eles cumpriram a Constituição, que não permitia que se violassem cláusulas pétreas, como era o desejo do Presidente Zelaya de ouvir a população no intuito de poder alterar alguns artigos, como o da reeleição".

Após repetir a versão de "continuísmo" dos golpistas, segue justificando outra fantasia descabida, porque na voz do papagaio: "tivemos clara uma posição. Eles reconheceram que erraram, porque, a partir do momento em que depuseram o Presidente, eles o deportaram. A deposição deu-se em caráter absolutamente constitucional e legal. Quanto à deportação, achamos que não, e eles reconhecem".

Como de hábito, não poderia deixar de aprovar, na perspectiva de um defensor de golpistas, seu "Presidente Micheletti", inclusive, reproduzindo uma das diversas alegações preconceituosa e fascista, a "associação" de Zelaya com "Hugo Chávez"; é como se tivéssemos ouvindo o golpista Micheletti falar:
"Por que fizeram isso é a indagação que fizemos ao Presidente Micheletti. Eles tinham medo de um banho de sangue, já que essas instituições apoiavam a queda de Zelaya. Ele foi eleito pelo Partido Liberal e depois fez uma mudança. Essa mudança, na cabeça de todos os que comandam o país nas suas respectivas instituições, associou-se ao Hugo Chávez. Eles tinham receio de que Honduras se transformasse em uma segunda Venezuela. Não estou relatando aqui a minha posição, nem a minha opinião, mas o que constatamos".
Vitimiza seu "Presidente Micheletti" [usa o conceito “presidente” sem nenhum qualificativo condenatório], uma vez que, Zelaya e seus: "apoiadores (...) dos movimentos sociais" [seguiram] (...) em frente e enfrentasse as forças que não aceitavam essa mudança". Apesar de Zelaya ter o respaldo dos movimentos sociais, bem como, dos "países e da comunidade internacional", "Todos os brasileiros com quem conversamos lá, representados pela Presidente Eliane, estão a favor do Micheletti, inclusive defendendo o estado de sítio".

Quanto ao que ele qualifica de "imagem do Brasil" em "Honduras, nós brasileiros estávamos associados a Hugo Chávez [para muitos de nós isso se reveste de um elogio, como o autor destas linha que o escreve, salvo exceção as mentiras, claro], intervindo em assuntos de soberania interna e tendo — o que não foi confirmado — levado Manuel Zelaya até a Embaixada, ou seja, sendo responsáveis indiretamente pelo clima de desestabilização social que hoje existe em Honduras" [neste caso é uma mentira e uma acusação desleal vinda de um golpista pró-Micheletti].

Outra figura, que aparecerá na futura história golpista brasileira, já por essa época, se destacava como apoiador de golpe de Estado, estou me referindo ao outro pernambucano golpista, assim como, seu conterrâneo Raul Jungmann, o deputado Bruno Araújo, militante do PSDB.

No relato de Bruno Araújo (PSDB-PE), o "Presidente Micheletti" era seu “senhor”, "o Sr. Micheletti", por isso, se encontrou com ele dado a "decisão pessoal que tomei na hora em que houve o convite para a conversa com o Presidente Micheletti". Depois de se encontrar com o "Congresso Nacional" e "Suprema Corte", Bruno Araújo relata que: "tínhamos que humildemente (...) ouvimos isso de quem tem o poder de fato, a caneta real, que é o Presidente Micheletti. Isso me levou a tomar a decisão pessoal de participar dessa conversa". Micheletti tinha “poder de fato”, a “caneta real”, só faltou a coroa...

Seguindo as pegadas do "jurídica do Dr. Dalmo Dallari" corrabora estar de (com base em seu artigo publicado na Folha de S.Paulo) pleno acordo com o mesmo porque a "exposição muito precisa” “bateu com o que eu vi”, ou seja, que “as instituições em Honduras” estavam todas funcionando, disse. Acrescenta, neste sentido, que "as instituições reafirmaram com muita força que cumpriram o devido processo legal". E continua tomando a posição dos golpistas, camuflando-se no artigo mencionado, pois na sua perspectiva, “Zelaya errou ao desejar a reeleição, o reformismo da Constituição"Reeleição", o "reformismo".

Quanto a questão de que "se não houve o contraditório numa discussão", nos entretantos do tucano, seria "bom lembrar que dos “128 Deputados, 125 votaram pela deposição do Presidente Zelaya, dos quais 80 são do partido dele"; "importante lembrar (...) que também [os golpistas] não tiveram o contraditório perante a Organização dos Estados Americanos, para passar o seu ponto de vista" [hora e os EUA que os defendiam?]. Porquanto, "a minha impressão é que o Presidente Micheletti não terá poder, sozinho, de tomar qualquer decisão negociada com a Organização dos Estados Americanos. Por quê? Porque as demais instituições, Ministério Público, Judiciário, Tribunal Superior Eleitoral e Tribunal de Contas, cobram também a garantia de que as decisões foram tomadas dentro de um ordenamento".

Dentre outros pontos, conclui:
"Mas é importante reafirmar que as instituições defendem com muita força que cumpriram o devido processo legal. É bom lembrar que o Tribunal Superior Eleitoral determinou a apreensão das urnas que iriam ser usadas para o plebiscito e que foram enviadas pelo Sr. Hugo Chávez, da Venezuela, para Tegucigalpa. E o Presidente Micheletti entrou com mais de 4 mil pessoas na Força Aérea, retirando as cédulas eleitorais que estavam devidamente guardadas".
Dos parlamentares que viajaram três deles eram de partidos de esquerda, Ivan Valente do PSOL, Janete Rocha Pietá e Maurício Rands, ambos do PT. Não obstante, esse último, por “erro de avaliação” ou por beirar o bloco anti-democrático, apoiou o golpe de Estado; além de deputado também era "advogado e professor de Direito da Universidade Federal de Pernambuco".
Antes de continuar, um parentese aqui se faz importante. Uma frase que foi demasiadamente usada pelo partido da imprensa golpista seja de Honduras ou no Brasil, ademais, pelos partidos políticos de direita, principalmente, pelos juristas: "governo de fato". Apesar de alguns políticos de esquerda também usá-la uma vez outra, não obstante, o mais peculiar no discurso destes últimos, foi sem ródeos qualificar "Roberto Micheletti" de golpista, uma vez que, chegou ao poder, indiretamente, através de um Golpe de Estado. Mas, como o uso desta expressão (Golpe de Estado) é condenada pela burguesia e seus órgãos de propagandas, preferem educar seus leitores com palavras suaves e tímidas para legitimar o ilegal, por outro lado, são raivosos quando é para desqualificar os movimentos sociais, os partidos de esquerda ou o povo. Porquanto, quando é para tergiversar usam “governo interino” ou "governo de fato”, que para uns pode ser um governo ilegal que de fato dispõe do poder, mas separado de outro que vigorava anteriormente de forma legal, ou de forma mais critica, como aquele governo implantado ou mantido por via de fraude ou violência.

Então, seguindo a linha discursiva do "governo de fato", Maurício Rands (PT-PE) chegou a se posicionar do lado daqueles que defendem tal governo fraudulento, ou seja, tomando a posição daqueles que condenaram Manuel Zelaya como infringidor das leis, um criminoso que desejava uma "reeleição", que para tanto, quis mudar a Constituição para se "perpetuar no poder", de seguir em frente com um "plebiscito" ou "referendo" etc. Invertem-se as palavras mas não a realidade… No relato, disse Maurício Rands:
"Os 3 Poderes — a Suprema Corte, o Poder Legislativo e o Chefe do Governo de fato, o Presidente — externaram não só para nós, os 6 Parlamentares brasileiros, mas para toda a imprensa nacional e internacional o compromisso de que não seria praticado qualquer ato que importasse em violação das imunidades da missão diplomática brasileira em Tegucigalpa. Esse foi o primeiro compromisso para nós e para o público".
Se de um lado o "Chefe do Governo de fato" se comprometeu em não violar as "imunidades da missão diplomáticas", por outro lado, "o Presidente Zelaya não podia promover uma consulta popular conducente a uma Assembleia Nacional Constituinte por um decreto". Observemos que a "consulta popular" aqui tem o sentido vinculante, pois, "Ele o fez em primeiro lugar pelo Decreto no 5, depois pelo Decreto no 28. Ele não podia. "(...) ele teria que mandar uma mensagem ao Congresso Nacional, ao Poder Legislativo, por meio de um projeto de lei ou uma emenda à Constituição".

O povo que tem um “representante” como Maurício Rands não necessitava jamais de inimigo.

Erro vergonhoso para um professor papagaio de leituras e falas golpistas. A consulta popular não era referendo ou muito nemos plebiscito, mas sim uma ENQUETE de opinião sobre a qual o povo pensaria a respeito de uma futura "convocatória"/"convocação". Esse erro que aponta ao governo eleito diretamente pelo povo, de que deveria mandar uma mensagem ou projeto de lei para o Congresso Nacional, para neste âmbito aprovar uma emenda à Constituição, seria professor da Universidade de Direito de Pernambuco, para depois das eleições de novembro, por tal motivo, a pergunta da enquete, que propôs Zelaya, continha a palavra "convocação", para inquirir a opinião do povo, isto é, conhecer o pensamento dele sobre uma "convocação", a consulta popula do governo Zelaya não era uma "votação" direta de um referendo vinculativo, determinante à Assembleia Constituinte.

Após desenvolver e seguir com estas premissas equivocadas, relaciona o papel dos Militares e do Congresso no processo golpista, chegando a conclusão que esse último foi o indutor da quebra do Estado Democrático, cabendo aos militares papel coadjuvante:
"Então, esse erro [consulta popular] gerou um golpe nas instituições. O que aconteceu não foi uma quebra do Estado Democrático de Direito pelos militares, foi uma quebra do Estado Democrático de Direito pelo Poder Legislativo e pela Suprema Corte. Esta é a grande especificidade nessa ruptura democrática que houve em Honduras. Os militares apenas executaram a deposição e a expulsão do Presidente".
E, continua escrevendo certo em linhas tortas:
"Qual o grande erro cometido, na minha interpretação, pelo Supremo Tribunal Federal de Honduras e pelo Poder Legislativo? Eles determinaram a deposição sem o devido processo legal, sem o contraditório e sem a ampla defesa. Na suposição de que a consulta popular intentada por Manuel Zelaya iria levar à superação de uma cláusula pétrea à proibição da reeleição — isso não está dito no Decreto no 5 nem no Decreto no 28 —, eles, sem contraditório e sem direito de defesa, determinaram num primeiro momento que ele se abstivesse de tomar as medidas para a Encuesta 4, essa consulta popular. Num segundo momento, determinaram a deposição do Presidente democraticamente eleito pelo povo de Honduras. Configurou-se, então, a quebra, a ruptura democrática com o Estado de Direito naquele país, praticada, repito, pelo Poder Judiciário e pelo Poder Legislativo. Esta é a especificidade".
E volta novamente a jogar a culpa em Manuel Zelaya, vitimizando os golpistas liderados por Micleletti, transformando ditadores anti-democratas em paladinos da democracia. Pois é, o traíra revestido pela sigla do PT afirma:
"Portanto, acho que o Presidente Manuel Zelaya desrespeitou a norma constitucional quando quis convocar essa Encuesta sem a aprovação do Parlamento, por mero decreto, unilateralmente pelo Poder Executivo, mas este erro não justificava, constitucional e democraticamente, a sua deposição sem o devido processo legal, sem o contraditório, sem ampla defesa, e muito menos a sua expulsão, sendo retirado do palácio, colocado no avião e expulso para o vizinho país da Costa Rica".
Sua companheira de partido, Deputada Janete Rocha Pietá, foi muito mais firme e não usou ródeos, muito menos conceitos teóricos do direito para colocar Micheletti no seu devido lugar histórico. Ademais, seu relato desmente vários pontos dos apoiadores e defensores de Golpes de Estado, como foi tipico dos deputados Raul Jungmann, Cláudio Cajado, Bruno Araújo, inclusive, Michel Temer.

Este outro traíra, Michel Temer como Presidente da Câmara legitimou os golpistas hondurenhos antes mesmo da viaje dos deputados à Honduras; segundo a reportagem de Rodrigo Bittar e Silvia Mugnatto, com edição de Natalia Doederlein do Portal da Câmara: “Temer reconhece que Zelaya tem direito de procurar a embaixada, mas ressaltou que a embaixada brasileira não pode servir para pregação política” (73).

Janete Rocha Pietá (PT) reportou que houve sim "toque de recolher", que “Naquela noite, o toque de recolher era à meia-noite. Da janela do apartamento pude perceber que os carros que circulavam saíam apenas do hotel e durante o nosso percurso existiam algumas pessoas — eu sou muito observadora — nas esquinas muito semelhantes a militares, mas em roupas civis". Que neste sentido: "As instituições também estão sitiadas de forma diferente da nossa Embaixada. A Assembleia Nacional, hoje, está com militares acantonados na parte do estacionamento". Ademais sobre os militares: "Há presença de militares armados também na Corte. No comissionado de direitos humanos havia uma situação mais à paisana, mas eu também observei que havia um acompanhamento dessa missão".

Descreve sobre a embaixada: "O cerco à embaixada foi o momento mais tenso. Quero dizer que tivemos que apresentar duas vezes o nosso passaporte". E, continua, Janete Rocha Pietá:
"Todas as casas em volta estão desocupadas, e as pessoas civis, mulheres que eu vi, certamente eram mulheres que estavam servindo ao acompanhamento da nossa missão. Houve uma violência física à Embaixada, que foi o corte de telefone, água e luz. O telefone, até o dia em que estivemos lá, estava cortado. Há bloqueadores de celulares. Nós não conseguimos comunicar-nos, e todas as pessoas que nos ligaram também não conseguiram falar, porém existe também uma violência psicológica e moral".
Prossegue falando ainda das "violências psicológicas e morais":
"Eu conversei com a Ministra da Mulher, que está junto com o Zelaya e a esposa do Zelaya, a Sra. Xiomara, que me mostrou os holofotes e os lugares onde há atiradores de elite. Eu vi isso, ela me mostrou. Houve também uma situação ocorrida depois da nossa saída. A comida é tão controlada, vigiada e revistada, que teve ocorreu, a meu ver, uma violência moral: todos na Embaixada ficarem numa situação crítica, com “diarreia”, entre aspas.
A observação aguda da deputada deixou claro que os apoiadores de Golpes de Estado, os aprendizes do Novo tipo de Golpe de Estado (Raul Jungmann, Cláudio Cajado, Bruno Araújo) fizeram questão de manter contato, registando em vídeo um encontro com o governo golpista que usurpou, tiranicamente, o poder de um presidente eleito pelo povo. Isso fica evidente quando Janete Rocha Pietá relata:
"A crítica que faço de forma leal e muito firme, porque eu fiquei sabendo que iríamos nos encontrar com o Micheletti depois que saíssemos da Embaixada, e pedi a todos os companheiros para conversarmos um pouco. Poderia ser minoria, eu aceito ser minoria. Contudo, faço críticas ao método, à forma de ida ao Micheletti. Eu não fui porque deixei bem claro para os que me entrevistaram que eu defendia a posição do Governo brasileiro, que considero acertada. Está obtendo respaldo internacional. Eu, como uma mulher que lutou contra a ditadura e uma mulher de esquerda, não queria estar presente. Eu já tinha estado com todos os setores que construíram esse golpe, mas não queria estar na presença do símbolo do golpe".
E importante para o esclarecimento da posição daqueles deputados que apoiaram, defenderam e aprovaram o Golpe de Estado em Honduras, o contra-ponto dos que ficaram contra o golpe e não disponibilizaram sua presença física, ética e política aos serviços dos golpistas, ocupando espaço representativo, inclusive, através dos registros fotográficos. Neste sentido, exporemos o relato do deputado Ivan Valente do PSOL, que ao contrario Raul Jungmann:
"(...) a Embaixada brasileira foi agredida e continua sofrendo agressões. Ela foi agredida com o corte de todos os serviços básicos e depois bombardeada com gases tóxicos. Nós pudemos constatar também holofotes ligados durante a noite toda para a Embaixada — porque nós chegamos lá à noite —, emissão de ruídos permanentes e bloqueadores de celulares para a Embaixada. Isso foi constatado, fora outras denúncias que foram feitas, mas que não pudemos constatar e não vamos relatar".
Nas suas palavras, nem a Suprema Corte e nem Mesa Diretora do Congresso, quando inquiridos sobre a questão: “Se vocês têm tanta razão jurídica, por que não fizeram o devido processo legal? Por que vocês destituíram à baioneta e colocaram um presidente eleito para fora do país?”, Não conseguiram responder "nem a Suprema Corte, que se baseava na questão jurídica, nem o Congresso hondurenho".

Outro ponto importantíssimo foi a atitude dos golpistas em não permitir acesso aos movimentos sociais e ao povo:
"Nós não tivemos acesso ao outro lado: aos movimentos sociais, à igreja, aos movimentos que protestavam e que foram reprimidos. A eles não tivemos acesso porque não fomos nós que fizemos a agenda, nem poderíamos tê-la feito. Nós fizemos somente visita ao Parlamento e a comissões que eram controladas pelo regime. Nós fizemos essa concessão para chegar à Embaixada Brasileira: essa era a nossa missão lá".
Divergindo no sentido contrario ao deputado apoiador de golpistas, Raul Jungmann, Valente afirma: "Quem desestabiliza são os golpistas; quem dá golpe desestabiliza a situação. Um presidente constitucionalmente eleito está lá dentro do país":
"Quero dizer aos senhores que é positiva a ideia de que a comunidade internacional é um avanço democrático para a América Latina e para o mundo e de que não se deve aceitar, em hipótese nenhuma, golpes militares, desestabilização do Estado de Direito (...) Para cumprir o resto do mandato, do Presidente constitucionalmente eleito, que nos disse exatamente isto: só quer cumprir o resto do mandato. Isso foi dito publicamente e dito para a imprensa. Isso é correto!"
Finaliza afirmando:
"O que está havendo em Honduras é uma mudança social. Um cidadão que foi Deputado várias vezes, que foi Ministro de vários governos, mudou de ideia. Ele foi eleito e mudou. E estava mudando a favor dos pobres e dos excluídos; aumentando o salário mínimo; dando isenção para o setor de transporte; liberalizando a sociedade, inclusive em pontos em que a Igreja Católica é muito conservadora; estimulando, sim, a participação popular, com plebiscitos e referendos. Uma oligarquia da América Central não suporta isso. Essa é a razão política principal, saindo do aspecto jurídico formal. Esse é um ponto de vista que quero manifestar como Parlamentar, e não em nome da Comissão"
ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS EM HONDURAS

Depois dos golpistas terem usurpado a presidência de Manuel Zelaya, do presidente eleito democraticamente está afastado do mando de Estado Hondurenho há 6 meses (155 dias), jogando na lata do lixo todas as pressões internacionais, a Democracia e a Constituição pisoteadas, os oligarcas das 10 famílias mais ricas de Honduras confirmaram as eleições para 29 de novembro de 2009.

Dentre os países da América Latina e América do Sul que se opuseram a sublevação da Democracia, o governo brasileiro foi uma das principais vozes de repudio e condenação ao Golpe de Estado em Honduras, ao lado de Venezuela, Equador e Bolívia, tendo a frente as forças democráticas e progressistas do Brasil e demais países da Aliança Bolivariana. Mas, se de um lado, isso era uma bandeira contra o golpe, a favor do Estado Democrático de Direito e da soberania dos povos do nosso país e do mundo, de outro lado, existiam os aprovadores, apoiadores e defensores do Golpe Hondurenho.

A diplomacia estadunidense, na roupagem de "poder inteligente" (smart power), tendo a frente a defensora e consolidadora de golpe Hillary Clinton, aliás testa de ferro do Departamento de Estado norte-americano, e, na retaguarda o governo Barack Obama, sempre buscaram desfaçar criticas com o apoio as forças atrasadas que executaram o golpe de Estado em Honduras. Não foi por acaso que os diálogos patrocinados pelos EUA não chegaram a acordo algum, porque os golpistas hondurenhos e os representantes do imperialismo norte-americano sempre jogaram com o fator tempo para tardar a volta de Zelaya e da comunidade internacional, visando chegar as eleições de novembro de 2009, tendo em vista a legalização do golpe por meio de uma eleição chapa branca para presidente, representantes ao Congresso Nacional e prefeitos municipais daquele país. Não só isso, o fato tempo, foi também um instrumento nas mãos dos EUA e países aliados, como Canadá, México, Peru e Colômbia, para desqualificar os governos progressistas e de esquerdas da América Latina. Honduras jogou nas mãos dos EUA em dois sentidos, primeiro no campo de seus interesses, pois, o país hondurenho tornava-se mais um país quintal sobre seu domínio político, econômico e ideológico. Segundo, porque foi um tipo de "guerra fria", dentro de sua estratégica geopolítica, contra os povos latino-americanos e seus governos povos, ao tempo que, centrado posição em oposição a Rússia e China, procurando mostrar quem manda nas Américas.

Dentro deste quadro podemos compreender a propaganda da imprensa golpista brasileira, seus representantes dos partidos da direita fascista, como também, dos seus intelectuais de porta de jornais, de mais a mais, apoiadores de Golpe de Estado.

Depois de tardar a volta de Zelaya ao poder, contrariado a comunidade internacional, em novembro de 2009, na estrategia do fator tempo, o mês que deveria ser algo tão sagrado as democracias, que são as eleições, se converteria num processo profano para legalizar o golpe de Estado Hondurenho. Inclusive, essa já era algo observado por Marco Aurélio Garcia (assessor especial da Presidência da República): "Micheletti mantinha, no começo de novembro, sua estratégia de realizar eleições sem devolver, ainda que por pouco tempo, a Presidência a Manuel Zelaya". Ademais, aponta os EUA como um elemento fundamental na execução final do fator tempo das eleições, segundo Garcia: "Mas é evidente que certa ambiguidade em relação ao reconhecimento de eleições presididas pelos golpistas e o fato de os Estados Unidos não terem realizado mais pressões sobre Micheletti permitiram que os golpistas se sentissem respaldados para prosseguir em sua estratégia" (74).

Em 26 de novembro de 2009, o governo brasileiro reafirmou o que já era esperado pelos democratas do mundo, ou seja, que o Brasil não irá reconhecer um “mandatário” fantasiado de legalidade. Na fala do porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach (75):
"O Brasil não reconhecerá o pleito realizado sem o retorno do presidente Zelaya. Essa posição não tem razão nenhuma para mudar, não mudou e não tem razão nenhuma para isso (ser alterada). O Brasil não reconhecerá o governo que eventualmente sair das eleições, se é que elas serão realizadas".
O Brasil não poderia ser mais transparente sobre a farsa do processo eleitoral puxado pelos golpistas hondurenho. Numa entrevista em Cascais ( Ucrânia), em 1 de dezembro de 2009, o Presidente Lula falou (76):
"(...) Honduras, onde você tem uma pessoa que deu um golpe, esse golpe foi repudiado por todos os países do mundo, foi repudiado pela OEA, e essas pessoas tinham condicionantes feitas pelo próprio presidente da Costa Rica, que era a volta do presidente Zelaya, a convocação das eleições e a volta à normalidade. Então, um golpista se travestiu de político eleito e convocou as eleições sem permitir que o Presidente de direito e de fato pudesse coordenar o processo eleitoral. Ora, qual é a posição de bom senso que nós temos que ter? Nós conhecemos a América Central, nós conhecemos a América Latina, e a gente não pode compactuar com um golpe dessa natureza, que fingem que não aconteceu nada. Daqui a pouco, o errado é o Zelaya e o benfeitor é o golpista. Ora, se isso prevalecer, a democracia correrá sério risco na América Latina, na América Central. Ora, não custava nada eles terem aceitado a proposta da OEA, terem devolvido o poder ao presidente Zelaya, terem feito as eleições e terem acatado o resultado, e acabou, voltava à normalidade. É apenas uma questão de bom senso, é uma questão de princípios e é uma questão de a gente não pactuar com o vandalismo político na América Latina"
E, com todas as letras, é categórico quanto a questão das eleições e do "presidente" disfarçado de eleito:
"Honduras desrespeitou o princípio mais elementar da volta à normalidade democrática do seu país. Um golpista agiu cinicamente, deu um golpe no país, e ele convoca uma eleição quando ele não tinha o direito de convocar eleição. (...) Eles poderiam ter feito as coisas com a maior normalidade: volta o presidente, convoca eleições e volta à normalidade de Honduras, que é tudo o que nós queremos, é tudo o que nós queremos. O resto, o resto é o seguinte: não dá para fazer concessão à golpista".
A retórica do presidente Barack Obama sobre as eleições em Honduras foi insustentável e inconsequente diante da contundente força dos fatos: se a OEA pediu (por unanimidade dos países membros) a restituição imediata e sem restrição do presidente constitucional de Honduras ao poder, como explicar a posição dos EUA quando em nota diz: "Desejamos o melhor ao povo hondurenho na escolha de seus novos líderes e pedimos a todos que exerçam seus direitos pacificamente" (**). Estava na cara que a tarefa de promover uma solução ao conflito hondurenhos, na pratica tinha como objetivo legitimar os propósitos dos golpistas de Honduras e acabar com a agenda democrática e progressista do governo Zelaya e dos movimentos sociais deste país caribenho.

Atitude como essa dos EUA, fez Lula descaracterizar as expectativas que não se concretizaram na América Latina depois da subida de Obama a presidência: “A eleição de Obama de fato gerou muitas expectativas positivas, que, infelizmente ainda não se concretizaram, em parte por conta de pesada herança do governo anterior. Alguns desdobramentos recentes, como o episódio de Honduras e as bases colombianas” (77).

Cabe destacar que a posição dos EUA em desconsiderar a decisão da OEA se fez com o falso discurso de uma suposta frustração das negociações conduzidas pela Organização dos Estados Americanos, quando na verdade, o que aconteceu foi uma intransigência por parte de integrantes do governo golpista de Honduras em não buscar uma solução para o impasse, tendo em vista a conivência diplomática dos EUA para que assim o fosse, basta para tanto relembrar o fato dos Estados Unidos ser o país que dominava a economia hondurenha em mais de 70% das relações do PIB de Honduras, sem falar, do lobbies do governo golpista nos Estados Unidos para pressionar os setores mais conservadores em manter o status quo (78).

Hora, qual seria a atitude do Ministério das Relações Exteriores diante da prática de legalização de um golpe de Estado, consolidado pela ajuda do Departamento de Estado Americano, em face de um pedido da chefe diplomática deste Departamento, Hillary Clinton, quando em ligação telefônica, pede ao chanceler Celso Amorim que, contrariando a condenação ao golpe desde junho, compactue, reconhecendo e aprovando um processo golpista anti-democrático que oprimia o povo, somente para satisfazer o discurso hipócrita do presidente Barack Obama de uma nova relação de respeito a soberania e a autodeterminação dos países da América, quando na pratica, o que estava acontecendo, no caso em particular de Honduras, era a continuação das mesmas práticas expansionistas e intervencionistas do Pentágono, do Departamento de Estado e das agencias de inteligencia?! Não seria outra a posição do chanceler Celso Amorim, senão, dizer em bom som que "O Brasil não vai reconhecer a eleição em Honduras [que se realizaria em 28 de novembro de 2009]". Ademais, depois em entrevista a imprensa brasileira sobre o assunto, ainda ironizou a obsessão da classe dominante e da postura de sua imprensa ao dizer: "O Brasil tem uma obsessão. Se não concorda com os EUA, algo ruim vai acontecer, um raio vai cair na nossa cabeça. Não é bem assim" (79).

O que dizer da postura do presidente Lula, senão identificar e reconhecer um posicionamento, contundente, sobre a farsa eleitoreira patrocinada pelos golpistas Honduras, com a conivência dos EUA, para legalizar o golpe?!

Em 30 de novembro de 2009, Lula foi direto quando disse (entrevista coletiva concedida em Estoril (Portugal), as vésperas da reunião da Cúpula Ibero-Americana) que o Brasil manteria dua posição, uma vez que, "Não é possível aceitar golpe". E, que: "O Brasil não tem porque repensar a questão de Honduras. É importante ficar claro que a gente precisa, de vez em quando, firmar convicção sobre as coisas, porque isso serve de alerta para outros aventureiros" (80).

Depois de considerou um sinal perigoso e delicado o fato de os golpistas não terem permitido que Zelaya voltasse ao poder para coordenar o processo eleitoral, continuou a entrevista dizendo o seguinte (íntegra da entrevista):
LULA: (não permitindo que Zelaya volte ao poder para coordenar) o processo eleitoral é um sinal muito perigoso, muito delicado, porque ainda existe muitos países na América Central, sobretudo, com venerabilidade política. Olha, se os países que podem dar orientações, países que podem fazer gestos, que significa, dizer olha, não repitam mais isso, não fazem, daqui a pouco agente não sabe aonde pode haver mais um golpe. E, ai, prevalece o cinismo, eu faço o golpe em nome do quê? Faço o golpe porque não gostei de uma atitude de um presidente, hora, quem não gosta de uma atitude de um presidente, tem o congresso nacional, tem a justiça local, para tomar as decisões. Então, a minha opinião pessoal, é que o Brasil não tem que reconhecer, e o Brasil precisa manter a posição. Eu acho que, os países da América do Sul que tomaram a decisão, certamente alguns poderá manter e outros não manterão, mas o Brasil manterá a posição, porque, não é possível agente aceitar um golpe seja ele militar seja ele desfaçado de civil, como foi o Golpe de Honduras, ou seja, não é possível.
JORNALISTAS: E presidente Zelaya permanece na embaixada presidente indefinitivamente?
LULA: Até que o governo de Honduras dê garantias de vida para o Zelaya, ele vai ficar na Embaixada Brasileira. Nós não podemos permitir que ele saia sem que haja garantia e segurança para que ele volte para sua casa, para que ele volte, não sei se depois da eleição vão querer que ele volte para o poder, ou seja, é no mínimo uma piada tudo isso, mas de qualquer forma, faz parte da cultura latino americana.
JORNALISTA: Como é que o senhor vê essa divisão dos países latinos americanos em relação a eleição em Honduras, quer dizer, Peru, Colômbia?
LULA: Eu não vejo divisão, eu vejo que cada país tem soberania para tomar sua decisão. Eu de vez em quando vejo a União Europeia, que já faz 50 anos, tentando construir a União Europeia, aprova uma coisa em um país, não aprova outra em outro país, ou seja, eles não tratam isso como uma divisão, tratam como consequência normal, do exercício da democracia. Hora, cada país vai tomar a decisão em função de sua realidade política, não vai tomar a decisão se contrariar as intenções da maioria do povo de cada país.
JORNALISTA: E dialogo com presidente Obama sobre o assunto presidente?
LULA: O Obama me mandou uma carta, eu respondi na sexta-feira, obviamente que nós temos discordância sobre como foi tratado a questão de Honduras, mas também, se entre dois chefes de Estado não tiver nenhuma discordância não tem graça (...)".
OS PARTIDOS DA BURGUESIA BRASILEIRA APROVARAM, APOIARAM E DEFENDERAM OS GOLPISTAS HONDURENHO EM TERRAS BRASILEIRA

I - PPS E O IDEÓLOGO DE GOLPE RAUL JUNGMANN

Concomitantemente, enquanto o Brasil e seu governo condenavam o Golpe de Estado, a oposição dos partidos da burguesia brasileira aprovavam, apoiavam e defendiam os golpistas hondurenhos na nossa pátria mão querida.

Soa atemporal começar falar de um assunto histórico determinado no tempo, expondo uma argumentação desvairada feita por Raul Jungmann, em junho de 2012, para falar sobre seu apoio e defesa do Golpe de Estado no Paraguai. Não obstante, se revela como um ponto de analogia fundamental para demonstrar a hipocrisia da burguesia e seus partidos, bem como, cinismo e a mais ralear estupidez que pode chegar um representante político das classes dominantes, em si tratando deste Deputado, futuro golpista de um presidente golpista, que nesta época, igualmente, aprovou o Golpe de Estado em Honduras, Michel Temer.

Mas, em fim, segundo o político golpista do PPS, fantasiosamente, os modernos Golpes de Estados no Continente Americano foram criados pelos governos de esquerda. Nesta linha, a direita fascista latino-americana apenas aplicou seu método. Nem nas mais férteis imaginações dos escritores, esses são capazes de criar um tal absurdo literário, em se tratar do campo histórico, nem se fala. Porém, nos discursos dos representantes da burguesia brasileira, tudo é valido para levar acabo os golpes, até mesmo, o uso recorrente da hipocrisia para inverter a realidade por intermédio do uso das falácias da Lógica Forma.

Em sua página do facebook, Raul Jungmann (June 23, 2012) (81) aprecia que "os "ultrapassados golpes de direita com tanques nas ruas" foram substituídos por "rupturas constitucionais", na sua mente fértil de golpista, apesar de não ter sido criado pela direita, foi "aprendido pela direita". E, prossegue considerando que, a questão de fundo é que os “oligarcas do Paraguai usaram as mesmas ferramentas legais e constitucionais (...) dos oligarcas de Honduras ao afastar o doido do Zelaya". E, arremata: "Todos, sem exceção, empregaram ferramentas constitucionais, iguaizinhas. O que os diferencia, é que os oligarcas do Paraguai e de Honduras eram de direita".

Como membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Raul Jungmann (PPS-PE) foi em setembro a Honduras e em novembro voltou ao país como um dos observadores estrangeiros para acompanhar a eleição. De lá, antes do domingo, dia que se legalizaria o golpe pelas urnas sem que o governo legitimo de Zelaya tivesse voltado ao poder, ainda sitiado na Embaixada Brasileira, escreveu um artigo para a revista do PiG, a Veja, abordando os Novos Golpes de Estado na América (penso que este texto é a peça mais acabada contra a democracia e pró golpismo escrito por um representante da burguesia no Brasil).

Contrapondo-se ao que afirmou em junho de 2012, confirma que o Golpe de Honduras não foi golpe porque foi dentro das regras constitucionais e não a margem dela (82):
"Se, por um golpe, tomamos algo que se dá contra a Constituição de um país ou à margem dela, certamente não. A deposição do Presidente Zelaya e a posse do presidente Roberto Micheletti se dão de acordo com a Carta hondurenha. Todas as instâncias legais foram observadas, e todas as instituições – Corte Suprema, Procuradoria Geral, Advocacia da União e Congresso – se manifestaram como manda o rito constitucional. E, em todas elas, o sr. Zelaya foi condenado jurídica e politicamente".
O apoiador e aprovador de golpe defende o usurpador de poder (Roberto Micheletti) falando que:
"O Sr. Micheletti é o presidente constitucional de Honduras e não de fato ou interino. Ele chegou à Presidência por comando claro da Constituição, dado que era o sucessor legal e que o vice se afastara para concorrer às eleições. Ele deverá passar o cargo ao seu sucessor no prazo previsto, 27 de janeiro de 2010. Golpista nenhum torna-se presidente e deixa de sê-lo de acordo com o que manda a Constituição".
Atacou o presidente deposto Manuel Zelaya, contra-dizendo toda comunidade internacional, que assegurou que Zelaya não teve direito de defesa porque foi sequestrado e expulso do país. O ideólogo de Golpes de Estado, acevara:
Sigamos a cronologia dos fatos. Em fevereiro de 2009, o Sr. Zelaya torna pública a sua intenção de realizar um plebiscito, o que feria a letra da Constituição. Em abril, a Fiscalia de la Republica (Procuradoria Geral) lhe manda uma primeira carta alertando-o para a flagrante inconstitucionalidade de tal ato. Zelaya desdenha. Ainda em abril, uma segunda carta pública lhe é enviada pela Fiscalia com o mesmo resultado, pois o presidente, também publicamente, reitera suas intenções. Então, a Fiscalia oficia, em maio, para que se pronuncie o Advogado Geral do Estado, e este o faz reforçando a tese da inconstitucionalidade. Nesse momento, a Fiscalia requer à Justiça de primeira instância que instaure processo, do qual resulta a condenação de Zelaya, que recorre ao Tribunal de Apelação, que igualmente o condena, com novo recurso à Corte Superior de Justiça – com o mesmo resultado dos anteriores. É então que, no dia 23 de março, o presidente Zelaya publica um decreto convocando uma Constituinte, o que colide frontalmente com um outro artigo da Carta.
Entra em cena o Congresso Nacional, que usando de suas prerrogativas, julga a conduta do presidente e, por 123 votos a 5, inclusa a maioria do seu partido, decide afastar o presidente Zelaya. Duplamente julgado e condenado, tendo tido amplo direito de defesa, ele é afastado, tem os seus direitos políticos cassados e sua prisão decretada pelo presidente da Corte Superior de Justiça no dia 28 de junho. Onde, portanto a ausência de contraditório e o amplo direito de defesa?"
Depois de biografar Zelaya como "rico fazendeiro", pertencente a um partido de direita do PLH, de tornar-se um populistas aliado de Hugo Chávez; após acrescentar a lei universal dos golpistas de que "todas as instituições hondurenhas estão abertas e funcionando normalmente", apesar de Zelaya contar "com o esmagador apoio de toda a comunidade internacional, OEA e a ONU", apregoa que ele não voltou ao poder "Por dois motivos: a totalidade das instituições de Honduras está definitivamente contra ele, e a maioria do seu povo, também. Tivesse esse último a seu favor, manifestações de massa – inexistentes – e uma greve geral, mais o apoio externo, teriam derrubado o atual governo". Indo além destas ilações pró-golpismo, aborda a argumentação de que ao contrário de que se diz, ou seja, de que as eleições realizada era um passo a mais para legalizar o golpe, desmente dizendo que as eleições de novembro era “um pleito limpo”, apoiado pelo "povo" e “legitima aos olhos dos 300 observadores internacionais". Não só isso, mas que seria “reconhecida pelos EUA, Colômbia, Israel, Peru, Panamá, Canadá, Alemanha e Itália".

O ponto culminante da posição de um dos maiores ideólogos de Golpe de Estado na América Latina é quando diz que o golpe em Honduras não ameaçou coisa alguma a democracia na América do Sul e que o golpista foi Manuel Zelaya. Diz literalmente:
"Como espero haver demonstrado, não houve golpe em Honduras. (...) O que ameaça a cláusula democrática no subcontinente é o meio compromisso com a democracia. Se o Sr. Zelaya foi apeado do poder segundo as regras constitucionais do país, e foi sucedido em linha com as mesmas regras pelo Sr. Micheletti, chamar a isso de golpe de Estado é atentar contra a democracia. E isso vale, em especial, para uma certa esquerda, para a qual, sendo o atual governo de direita, ele é inaceitável, como se a esta não fosse permitido chegar ao poder, no que incorre em duplo erro. Em primeiro lugar, porque foi a Constituição, que colocou a “direita” na presidência. Em segundo, é o Sr. Manuel Zelaya o golpista de fato, ao atentar contra a Carta Constitucional e as instituições hondurenhas. Portanto, é ele quem ameaça a democracia na America do Sul, e não o contrário".
Na ótica do ideólogo, aprovador, apoiador e defensor de golpe, o Brasil e Luis Inácio Lula da Silva erraram ao:
"ver golpe aonde houve desrespeito aos direitos humanos e, em seguida, ao defender o retorno do Sr. Zelaya ao poder, erramos de novo. Por fim, ao dar a este a condição de abrigado e não de asilado, permitimos o uso da nossa embaixada como palanque. Com essa seqüencia de equívocos, perdemos a condição de mediadores, deixando de ser uma fonte de soluções para nos tornarmos parte do problema. Caso as eleições de hoje sejam limpas e o Brasil teime em não reconhecê-las, erraremos de novo e em definitivo".
II - PSDB E O GURU DE GOLPE DE ESTADO - FHC

Antes de seguirmos, observemos algumas informações da conjuntura hondurenha.

Manuel Zelaya, em 14 novembro, apontou em comunicado que a eleição era "ilegal", pois o processo eleitoral, impulsionado pelo golpista Roberto Micheletti, não cumpriu o "Acuerdo Tegucigalpa-San José", assinado em 30 de outubro (83):
"Acordo Tegucigalpa-San José fica sem valor e sem efeito por não cumprimento unilateral do governo de fato. Este foi concebido para implementar em forma integral e simultânea; (...) Foi um só acordo com doze pontos o qual teria um só propósito, restaurar a ordem democrática e a paz social, e com isto se reverter o Golpe de Estado, o que implica o seguro retorno do Presidente da República eleito legitimamente pelo voto popular". Isto proporcionaria "um clima de reconciliação nacional e um seguinte processo eleitoral constitucional, limpo, com garantias de participação igualitária e livre para todos os cidadão de Honduras"
Desmascarou o governo Obama da seguinte forma:
"Que as próximas eleições se deviam desenrolar num marco de legalidade e respaldo internacional, especialmente da OEA e ONU e que fora dessas condições políticas e de direitos dos cidadãos mínimos para garantir um resultado apegado a liberdade e a transparência (...) Neste sentido, quero anotar que a nova posição dos funcionários do Governo dos Estados Unidos esquiva o objetivo inicial do diálogo de San José, relegando um acordo com o Governo Legitimamente reconhecido, e seguindo um outro plano, tratando de trasladar este acordo para um novo processo eleitoral sem importar as condições em que se desenrolar (...). Nestas condições, este processo, e, portanto, seus resultados serão sujeitos de impugnação e não reconhecimento; o qual ponhe em grave risco a estabilidade futura das relações entre Honduras e o resto de nações que reconheçam seus resultados"
A contundente critica de Zelaya ao presidente dos EUA, Barack Obama, foi correta porque este mesmo governo Obama disse, na já mencionada carta a Luiz Inácio Lula da Silva, que Washington teria decidido fechar a crise hondurenha aceitando o resultado das eleições de 29 de novembro de 2009. Fato esse confirmado em 1 de dezembro do mesmo ano pelo Departamento de Estado Americano.

Arturo Valenzuela, secretario de Estado adjunto dos EUA, em roda de imprensa, reconheceu e respaldou, oficialmente, a "ampla vitória" do candidato do partido conservador PNH, Porfirio Lobo, nas eleições hondurenhas. Em seu comunicado (84):
"Estados Unidos toma nota das eleições, vemos que (Lobo) as ganhou, e lhe damos os parabéns". Em outro ponto, "Reconhecemos que há um resultado em Honduras nestas eleições. Isso está bastante claro. Reconhecemos estes resultados e parabenizamos a Lobo por haver-las ganhado".
O Secretario de Estado adjunto ainda disse que teria sido justo e transparente as eleições, cumprindo as normas internacionais; defendeu que as eleições, mesmo sendo chamada em "último minuto" pelo "governo de fato" Roberto Micheletti, não foi para legitimar o Golpe de Estado; que o pleito tinha "significado", no sentido, de seguir o processo de reconciliação nacional baseado no Acordo Tegucigalpa-San José etc.

Como já era esperado, simplesmente, Manuael Zelaya acusou aos Estados Unidos de validar o Golpe de Estado que o teria usurpado do poder, a medida que, reconheceu as eleições e o conservador Porfirio Lobo: "Eles (Estados Unidos) estão apoiando os dados oficiais da ditadura e considero que têm mudado sua política exterior ao estar apoiando os Golpes de Estado como uma opção aos problemas políticos da região"

A) PSDB

No quadro destas informações, podemos contextualizar a posição dos apoiadores e defensores de golpes de Estado no Brasil, em especial, do PSDB e do seu tutor maior, Fernando Henrique Cardoso (FHC).

A presença de Manuel Zelaya na Embaixada do Brasil em Honduras (Tegucigalpa) foi criticada pelo PSDB desde o inicio.

Entre setembro e outubro, os senadores de linha de frente no Senado Federal, Eduardo Azeredo (PSDB-MG) [presidente da Comissão de Relações Exteriores] e Arthur Virgílio (PSDB-AM) [líder do PSDB no Senado] foram os porta-vozes dos golpistas hondurenhos no Brasil, pois, tanto eles quanto outros serviçais deputados e senadores, apoiaram e defenderam o Golpe hondurenho no Brasil.

Um dia depois da entrada de Manuel Zelaya à Embaixada brasileira, os senadores do PSDB tomaram um certo cuidado em não transparecer suas posições golpistas para a opinião publica. Do ponto de vista "diplomático", acenava Eduardo Azeredo (PSDB-MG), em 22/09 (85), “Somos favoráveis ao asilo concedido pela Embaixada Brasileira ao presidente hondurenho, Manuel Zelaya. Mas é preciso preservar a soberania nacional, a integridade da nossa embaixada em Honduras”. Porém, a fantasia "diplomática" era uma desface para atacar o Itamaraty: “Essa é uma questão complexa, que trouxe o Brasil para o centro de uma situação que vinha sendo conduzida pela OEA”. Em 25/09 (86), “O governo brasileiro precisa colocar as regras de asilo, que são regras internacionais, e que não permitiriam que Zelaya usasse a embaixada como palanque para fazer política. Isso é fundamental.” Zelaya “precisa sair de lá”, disse o senador. Em 28/09 (87), “O Itamaraty não tem mais condições de arbitrar no sentido de uma busca equilibrada de soluções para o conflito”. “Perdemos a isenção, tomamos parte na briga”.

Um ponto em comum entre os senadores do PSDB foi a questão chavista, criticada tanto pelos golpistas hondurenhos quanto pelos defensores e apoiadores de golpes de Estado do PSDB. Segundo o sitio web do PSDB, Eduardo Azeredo teria feito "críticas ao comportamento de Manuel Zelaya, líder que segue a cartilha de Hugo Chávez, aliado político do presidente Lula”. E, segue: “Sabemos que ele desrespeitou a Constituição de Honduras. Zelaya também não é um democrata”. Em outubro, 6/10 (88), continua a ladainha de que, “O Brasil abriu mão da sua soberania neste episódio”, chamando de deboche o caso de "“Uma equipe de TV brasileira que esteve lá (Embaixada brasileira) [e que] teve de pedir autorização de Zelaya para entrar. É um deboche”. Em 20/10 (89), “é lamentável que a representação do país permaneça sendo usada politicamente por tanto tempo sem que o governo Lula tome uma atitude”. “Se no começo acreditávamos que o governo Micheletti era quem poderia invadir a embaixada, agora constatamos que quem a invadiu foi o Zelaya”.

Arthur Virgílio (AM) seguiu a mesma cartinha, 22/09, “O Brasil estar perdendo densidade para ser negociador. Desde o início, aliás, tomou posição pró Zelaya”. Em 6/10, “Se o Brasil recebeu Zelaya como asilado, ele não deve falar, precisa ficar em silêncio. Zelaya está dando entrevistas e audiências, está trabalhando dentro da embaixada. Asilados não fazem isso”. Em 20/10, arremete contra Hugo Chávez e o Brasil, falando que o Brasil foi "um coadjuvante do venezuelano Chávez, que confessadamente arquitetou e executou o plano de levar Manuel Zelaya de volta ao país? Como se sairá desse imbróglio?”.

Outros políticos golpistas, como o Deputado Rafael Guerra (MG) e o senador Flexa Ribeiro (PA), ademais, de Marisa Serrano (PSDB-MS), pregaram o mesmo credo, essa última, falou em 20/10 que:
“O Brasil está cometendo um grave erro diplomático. Primeiro, porque permitiu que se criasse uma posição dúbia em torno de Zelaya, pois não se sabe se ele é um convidado do governo brasileiro ou se quer asilo político. O Governo brasileiro deixou de ser mediador para ser um braço político de Zelaya. Não é uma posição adequada para um País com as nossas tradições. É lamentável”, disse a senadora".
Por estas referências apresentadas, pode-se resumir, em linhas gerais, que a tropa de choque do PSDB apresentou-se, através dos seus representantes, como apoiadores e defensores dos golpistas hondurenhos no Brasil, seguindo seus discursos e a posição do imperialismo norte-americano. Senão vejamos. Segundo os tucanos apoiadores de golpistas, o Brasil quis ser "o centro de uma situação (...) conduzida pela OEA". O Brasil tomou a “posição pró Zelaya". No que se diz respeito ao Ministério das Relações Exteriores, liderado por Celso Amorim, bem como, do presidente Lula, teriam de ter qualificado a presença de Manuel Zelaya na Embaixada, como “asilo” e não como "abrigo". Em não tomando tal decisão, na ótica tucana, o Brasil estava quebrando "as regras internacional", permitindo que Zelaya usasse "embaixada como palanque para fazer política", dando "entrevistas" e usando a embaixada como "auditório".

Hora, as criticas dos tucanos foram as mesmas tomadas pelo governo golpista de Roberto Micheletti em relação a Lula e Celso Amorim. Basta, identificar e reconhecer a posição semelhantemente praticada pelos os tucanos pró-golpistas brasileiros, quando exigiram que Manuel Zelaya tinha que ser expulso da Embaixada, que tinha que censurar os discurso do presidente constitucional de Honduras contra o golpista Micheletti. O mesmo discurso de "intervenção" do Brasil em Honduras, foi a linha golpista de Micheletti, quando comunicou que, o Brasil não estava respeitado o critério de "autodeterminação" do país caribenho. Essa mesma postura foi assumida pelo PSDB, quando asseverou que o "governo brasileiro" "tomou a posição pró Zelaya”.

Todavia, ademais destas considerações, aqui feitas da posição do PSDB em ralação ao golpe de Estado em Honduras e as eleições de 29 de novembro de 2009, um ponto se revela afinado entre o discurso dos golpistas de Honduras e seus aliados do Estados Unidos com os discursos dos tucanos apoiadores de golpes, qual seja então o ponto? Como já mencionado, seria a questão Hugo Chávez.

Ambos os bandos (hondurenhos golpistas e defensores tucanos brasileiros) condenaram Lula e Zelaya. Tanto Eduardo Azeredo (PSDB-MG) quanto Arthur Virgílio (PSDB-AM) disseram que "Manuel Zelaya" é um "líder que segue a cartilha de Hugo Chávez", também, "aliado político do presidente Lula". Se Zelaya “desrespeitou a Constituição de Honduras", logo "Zelaya também não é um democrata”, igual que, Lula e Chávez. Ou seja, Lula foi "um coadjuvante do venezuelano Chávez, que confessadamente arquitetou e executou o plano de levar Manuel Zelaya de volta ao país? Como se sairá desse imbróglio?”.

Três dias depois das eleições, chamada no último minuto pelos golpistas, liderados por Roberto Micheletti, com o amplo apoio do governo de Barack Obama e do Departamento de Estado dos EUA, no dia 1 de dezembro de 2009, o PSDB publica em sua Website um pôster intitulado "Senadores: Eleições em Honduras foram legítimas" (90). Parece até um título sugerido por Arturo Valenzuela, secretario de Estado adjunto dos EUA, quando naquela mesma roda de imprensa, reconheceu e respaldou oficialmente a "ampla vitória" do candidato do partido conservador PNH, Porfirio Lobo, nas eleições hondurenhas. Em seu comunicado: "Estados Unidos toma nota das eleições, vemos que (Lobo) as ganhou, e lhe damos os parabéns". Em outro ponto, "Reconhecemos que há um resultado em Honduras nestas eleições. Isso está bastante claro. Reconhecemos estes resultados e parabenizamos a Lobo por haver-las ganhado".

Que credibilidade internacional enxergava o PSDB para revindicar que o Brasil apoiasse uma eleição de cartas marcadas, dado que, mesmo tendo sua extrema importância para os países democráticos, na verdade, teria sido convertida num processo profano e anti-democrático para dar uma roupagem legalista ao Golpe de Estado Hondurenho!? Seria porque teria a "credibilidade" dos seguintes país, como mencionou o ideólogo dos golpes de Estado, Raul Jungmann (PPS-PE), "EUA, Colômbia, Israel, Peru, Panamá, Canadá, Alemanha e Itália", nações essas que reconheceram a farsa das eleições para camuflar o golpe hondurenho!?

De uma forma ou de outra, o PSDB chamou o Brasil para seguir está linha, "Com a eleição de Porfírio Lobo para a presidência de Honduras, no último domingo, o governo brasileiro precisa reconhecer a legitimidade do pleito, imediatamente, sob pena de perder a credibilidade internacional".

Na visão do PSDB, o Governo de Lula e os brasileiros, já que os "senadores Tasso Jereissati (CE), Eduardo Azeredo (MG) e o deputado Ruy Pauletti, tiveram essa posição, deveriam, igualmente, de seguir a mesma: "Segundo eles (senadores do PSDB), a insistência da diplomacia brasileira de só reconhecer as eleições depois da volta do presidente deposto, Manuel Zelaya, é insustentável". Pois:
"Há mais de dois meses, Zelaya e um grupo de seguidores, estão na embaixada brasileira em Tegucigalpa. O pedido deles foi de abrigo mas, diferente do que orientou tanto o presidente Lula, quanto seus diplomatas, Zelaya tem usado a representação brasileira para dar entrevistas, fazer protestos contra o governo que o sucedeu, de Roberto Miqueleti, e agora, contra as eleições. Isso mesmo um candidato de seu partido tendo concorrido no pleito e perdido para Lobo".
Tasso Jereissati (PSDB-CE), ave de rapina da pior especie, afirma que por Lula não reconhecer as eleições ele seria um megalomaníaco: "Essa hesitação em reconhecer as eleições em Honduras revela a megalomania do governo Lula".

O PSDB tomou a mesma posição do ex-presidente colombiano, César Gavíria, porque para esse, teria "dupla moral o país que não reconhece as eleições hondurenhas e, no entanto, defende as iranianas que elegeram junho o presidente Mahmoud Ahmadinejad e foram criticadas em todo o mundo".

Já o tucano "deputado Ruy Pauletti (RS)" disse que "as eleições hondurenhas foram limpas e uniram o povo em torno de uma saída para o impasse que o país enfrentava desde a deposição do ex-presidente Zelaya ocorrida em junho". O PSDB concorda com o parlamentar, pois, seu militante afirmou que o “caso Zelaya é assunto encerrado”. “Não reconhecer as eleições é um ato de teimosia que nada ajudará na reconstrução institucional de Honduras".

A tropa de golpista tucana continua com o senador Eduardo Azeredo (MG): “O Brasil agora deve aceitar a escolha popular, tirar Zelaya da embaixada brasileira e reabri-la”.

Para o enredo dos tucanos ficar completo, citaremos dois clássicos tucanos apoiadores e defensores do Golpe de Estado hondurenho, o senador e presidente do PSDB à época Sérgio Guerra (PE) e o governador de São Paulo José Serra.

Para o presidente da legenda golpista, a “transformação da Embaixada brasileira em Tegucigalpa num escritório político do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, foi classificada pelo senador Sérgio Guerra (PE) de “espantosa”. Na defesa golpistas, porque quem exige do governo Lula que censure Zelaya de falar está do lado do golpe e contra a maioria do povo que seguia o presidente eleito de Honduras, Sérgio Guerra assume que o governo brasileiro fazia jogo duplo, uma vez que, apoiava a democracia hondurenha e não fazia nada contra Venezuela:
“Ao mesmo tempo em que há uma preocupação, por parte do governo, com o destino da democracia hondurenha, nada se fala sobre o que vem acontecendo na Venezuela. A Venezuela está longe de ser um exemplo de liberdade à imprensa e à democracia. O governo nunca protestou contra o que ocorre no país vizinho. O Brasil silencia diante de ações óbvias do presidente Chávez contra os direitos humanos”.
Já a alma gemia de FHC, o governador de São Paulo dizia que “abrigar Zelaya em embaixada [era] 'trapalhada” do Brasil. Nas palavras literárias de José Serra (PSDB): "O Itamaraty se meteu em uma trapalhada que não vai ser fácil desfazer (…) O que tem lá não é um asilo, é uma trapalhada." O CERRA era outro tucano que buscou cerrar, ou seja, interromper o progresso ou a continuação do Presidente de Honduras dentro da embaixada brasileira, pensando sempre como os golpistas e defendendo com suas palavras o Golpe de Estado (91).

A web-site de “os Amigos do Presidente Lula” reporta que no fim de 2009, quando José Serra ainda era governador de São Paulo e candidato informal do PSDB à presidência (92):
"O subsecretário para assuntos do hemisfério ocidental do governo americano, Arturo Valenzuela, visitou países do Cone Sul e na volta aproveitou para fazer uma escala em São Paulo onde realizou uma série de encontros extra-oficiais.
Um dos encontros extra-oficiais foi com o então governador José Serra. Durante 90 minutos no palácio do governo paulista, o demo-tucano insinuou troca de apoio com os estadunidenses: caso ele viesse a ser presidente do Brasil, faria uma política externa alinhada com os EUA (insinuando que seria interessante aos estadunidenses engajarem-se em sua candidatura).
O fato lembra a frase do ex-presidente argentino Carlos Menen (colega de FHC e Serra no neoliberalismo e nas quebradeiras internacionais), quando disse que mantinha "relações carnais" com os EUA.
Conspirando com os gringos contra os interesses brasileiros, no encontro, segundo os telegramas vazados, Serra criticou a participação do presidente Lula na crise de Honduras, responsabilizando o governo brasileiro e o presidente hondurenho deposto Manuel Zelaya por resistirem ao golpe de estado".
No documento "confidencia" traduzido pela Revista Forum e disponibilizado por WikiLeaks, identificamos no oitavo ponto do bilhetinho enviado ao Departamento de Estado Americano (93):
“Além de toda a política doméstica, Serra criticou a política externa do governo Lula e sugeriu que, se eleito, dará ao Brasil direção mais internacionalista. Serra citou Honduras como exemplo específico de fracasso do governo Lula, culpando o governo brasileiro e o presidente Zelaya por não deixarem que se construa solução viável”.
A “solução viável” era a consolidação do Golpe Hondurenho. No entanto, para o azar dos golpistas e para o entreguismo de CERRA, os golpistas tiveram de enfrentar, além da comunidade internacional, o empecilho democrático imposto pelo “governo brasileiro”, “presidente Zelaya” e o povo hondurenho.

Somente um cego ou um louco não perceberia que o PSDB tornou-se (ao escolher a posição dos que reconheceram as eleições, como EUA, Costa Rica, Peru, Colômbia, Japão, ao tempo que, condenou aqueles que ficaram contra, Brasil, Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua) um apoiador de golpes e um defensor das bandeiras imperialistas de Tio Sam: a credibilidade reivindicada pelo PSDB para os brasileiros devia ser a de serviçal dos Estados Unidos e do governo Barack Obama.

O PSDB, aqui em particular, e todos os partidos e políticos representantes da direita brasileira apoiaram os golpistas hondurenhos. A medida que repetiam novamente o que já teria sido dito exaustivamente lá em Honduras ou utilizando as mesmas falas e discursos dos golpistas aqui no Brasil, tais políticos e partidos da burguesia brasileira estavam defendendo a legalização do Golpe de Estado. Para comprovar é suficiente uma analogia a partir de uma reportagem feita por Thiago Scarelli, jornalista do UOL que cobria os acontecimentos em Tegucigalpa (Honduras), com os dados que já vimos disponibilizando sobre os aprovadores, apoiadores e defensores golpistas no Brasil, ou seja, que o Brasil tinha que decretar ASILO e não ABRIGO, que Lula e Amorim deviam censurar Zelaya porque esse não podia usar a embaixada como palanque político e falar para seus seguidores, dado que, não podia dar entrevistas a jornalistas estrangeiros etc, etc.

Em face da grande popularidade do povo hondurenho e de seus diversos movimentos sociais de resistências em relação a Lula e ao Brasil, o jornalista Thiago Scarelli usa seu todavia para a popularidade do governo brasileiros entre os hondurenhos e em seguida descreve a fala do golpista Micleletti contra o Brasil:
“É evidente que essa não é uma posição unânime. O governo Micheletti alega que as ações do Brasil caracterizam uma indevida "ingerência externa" em Honduras e em mais de uma ocasião pediu que o governo brasileiro anunciasse em definitivo que status recebe Zelaya: se é um exilado político, como poderia parecer, então que seja enviado ao exterior de uma vez, pede o governo golpista”.
O ódio alimentado pela burguesia sobre o Governo Lula era de deixa-los em transe de cólera ao ouvir ou ler uma reportagem como a que foi realizada por Thiago Scarelli ao Portal UOL, que passo a expor na sua integra (94):
Uma centena de pessoas subia um morro em cortejo fúnebre, no último domingo, em Tegucigalpa, capital de Honduras. Dentro do caixão, uma jovem que teria morrido por complicações pulmonares após aspirar gás lacrimogêneo lançado por policiais - o que fazia do cortejo também uma marcha política contra o governo.
De repente, chega a notícia de que o presidente Lula tinha desafiado um ultimato do presidente golpista. A marcha grita, ainda em luto: "Viva o Brasil!". Para essas pessoas, Lula é um herói e o Brasil é o melhor país do mundo.
A reação é a mesma sempre que se menciona o Brasil entre os apoiadores do presidente deposto Manuel Zelaya: agradecimentos, euforia e vivas.
Desde que o país aceitou acolhê-lo em sua embaixada, não se encontra um zelaysta que não queira mandar um "recado" ao nosso presidente.
'Se me está escutando o presidente do Brasil, gostaria que mandasse o exército aqui, para que os militares de Honduras aprendessem que o nosso presidente é Manuel Zelaya Rosales, a quem nós demos o voto para que fosse chefe da nação", disse, com uma escopeta na mão, German Flores Vallejo, que trabalha de segurança em um McDonalds da capital hondurenha'.
O apoio de Lula não é de ontem. O Brasil foi um dos primeiros países a condenar o golpe de Estado que destituiu e expatriou Zelaya em 28 de junho, quando este colocava em marcha seu projeto de reformar a constituição. Lula e a chancelaria brasileira mantiveram o discurso durante os três meses em que o presidente deposto esteve fora do país, e Zelaya chegou a ser recebido em Brasília, onde discursou no Congresso Nacional para alertar sobre a ilegalidade do governo de Roberto Micheletti.
A última e definitiva prova de apoio chegou na última semana, quando Zelaya retornou escondido ao país e, ao bater nas portas da embaixada brasileira, foi recebido como hóspede e "presidente legítimo". O chanceler Celso Amorim contou mais tarde que ele mesmo falou com Zelaya por telefone para lhe dar "as boas vindas ao território brasileiro".
Depois disso, Lula ainda se levantou para defender o presidente deposto em um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas - e foi aplaudido.
"O respaldo que está dando o presidente Lula e o povo do Brasil ao povo de Honduras é extraordinário. Que bom que emprestou sua embaixada para que esteja aí o presidente Zelaya", afirmou ao UOL Notícias, em Tegucigalpa, Rafael Alegria, um dos coordenadores do grupo de resistência ao golpe de Estado. "Da embaixada do Brasil, nós vamos levá-lo à casa presidencial logo!"
É evidente que essa não é uma posição unânime. O governo Micheletti alega que as ações do Brasil caracterizam uma indevida "ingerência externa" em Honduras e em mais de uma ocasião pediu que o governo brasileiro anunciasse em definitivo que status recebe Zelaya: se é um exilado político, como poderia parecer, então que seja enviado ao exterior de uma vez, pede o governo golpista.
Esses não parecem ser os planos do Brasil. Nesta segunda-feira, Amorim classificou o governo brasileiro como "guardião" de Zelaya e acrescentou que seria "covardia" mudar de postura agora.
"Seria muito fácil para nós simplesmente retirar os dois diplomatas que estão lá e o oficial de administração e o problema de segurança, do ponto de vista do Brasil, terminaria", disse o chanceler.
"Mas nós não podemos fazer isso, porque seria, primeiro, um gesto de covardia e, segundo, um gesto de desrespeito à própria democracia e um incentivo a outros golpes de Estado no continente, coisa que não podemos fazer."
A resistência agradece”.
B) FERNANDO HENRIQUE CARDOSO: O GURU DOS GOLPISTAS HONDURENHOS

Se Raul Jungmann (PPS-PE) é o ideólogo dos Golpes de Estados, Fernando Henrique Cardoso (FHC) aparece como o guru de todos (expressão é tomada emprestada de Miguel do Rosário em artigo publicado no Tijolaço sobre o titulo "FHC quer ser o guru de todos os golpes"). Ademais de ser o representante mais importante do PSDB é também seu mais destacado papagaio das tomadas de posições da direita burguesa e, declaradamente, subserviente aos ditames geopolíticos do imperialismo norte-americano na América Latina, enfim, do entreguismo das riquezas brasileiras aos parasitas e alienígenas do continente e além mar. Neste sentido, não seria inusitado, que o homem que renegou seu passado, pedindo que esquecessem tudo o que escreveu sobre o valor da democracia e do Estado Democrático de Direito, evoluísse na direção contraria, apoiando e defendendo o Golpe Hondurenho, negando os mesmos princípios que em tempos passados defendeu.

Nostálgico das épocas áureas de serviçal dos ditames neoliberais e entreguista vende-pátria, mais sempre tendo o ego narcisista alimentado pela Rede Globo e a revista do PSDB, a Veja, nunca deixou de seguir, por esses e outros meios de comunicação da burguesia, o desejo de poder da classe dominante, principalmente, depois de estar há mais de 8 anos longe da direção do Estado Brasileiro, governado por um partido de esquerda (PT) desde 2003. Peça chave dos discursos virulentos da élite contra o segundo governo Lula, que se encerraria em 2010, com a eleição de Dilma Rousseff, saiu a campo para criticar a posição petista.

Em 13 de novembro de 2009, o guru dos golpistas hondurenhos, numa longa entrevista dada a Revista Veja, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no penúltimo vídeo, fez criticas ao papel diplomático do Brasil (95):
"Honduras acho que é equívoco nosso, porque que eu acho que é equívoco nosso? Porque lá os dois lados erraram contra a constituição, se o Zelaya saiu da constituição e a Corte Suprema mandou que ele cessasse, la não tem impeachment, por outro lado eles expulsaram o homem de pijama, também não pode ser, agora ele vai la para a Embaixada não é nem exilado e faz política de la da Embaixada, que que ele é? E nós perdemos a condição negociadora. Eu vi, para minha tristeza, que a Honduras vai entrar na Corte de AIA contra o Brasil, isso nunca houve na nossa história, isso, o Brasil perder condição daquilo que nós somos, capazes de negociar bem"
Em face da esmagadora posição da OEA e da ONU, bem como, da unanimidade dos países da América Latina e da União Europeia, estrategicamente, seu discurso não poderia contrariar a condenação do fato de Zelaya ter sido expulso pelas Forças Armadas de Honduras e dos EUA. Hora, isso até os EUA fizeram quando criticaram os militares hondurenhos!!! Colocado desta forma, ficar claro que a premissa verdadeira seria parte de seu sofisma para em seguida negar a democracia, o Estado de Direito e a soberania do povo, pois, segundo FHC, o governo constitucional de Manuel Zelaya teria colidido contra a Constituição e a Corte Suprema de Justiça. Discurso apregoado pelos golpistas do país caribenho e EUA.

A clássica dubiedade do discurso de Fernando Henrique Cardoso não resiste as forças dos acontecimentos, e, para tanto, basta fazer um paralelo entre os discursos dos golpistas de Honduras e FHC no Brasil.

Como tivemos a oportunidade de reconhecer na introdução sobre Honduras, identificamos que o Partido Nacional Hondurenho (PLH), ligado ao futuro governo de Porfirio Lobo Sosa, eleito para legalizar o golpe, era dono dos jornais escrito El Heraldo e La Prensa. Este ultimo periódico golpista, 13 dias depois de Porfirio Lobos ser eleito com o aval e recebido as bençãos dos EUA, publicou uma matéria na qual usava um discurso de FHC para fazer um contraponto a posição do Governo Lula, que condenou o golpe desde os primórdios de seu parto. Segundo La Prensa (96):
'El ex presidente brasileño Fernando Henrique Cardoso afirmó, en declaraciones que recoge la agencia Ansa Latina, que Brasil debe reconocer las elecciones hondureñas ganadas por Porfirio Lobo.
"Si Brasil insiste en negar los resultados, ¿qué va a hacer? ¿Va a enviar el ejército para allá?", dijo el opositor Cardoso al criticar la política del presidente Luiz Lula da Silva ante la crisis hondureña.
En declaraciones en Washington, Cardoso dijo que "es difícil resolver el problema sin reconocer al Gobierno", según el diario Folha de Sao Paulo. (...) Cardoso, del opositor Partido de la Social Democracia Brasileña, Psdb, gobernó Brasil entre 1995 y 2002'.
Se os aliados do PSDB e de FHC em Honduras faziam coro a sua posição golpista pelos jornais do PNH, no Brasil não foi diferente. Ademais da Folha, todos os grande jornais vincularam a defesa e o apoio do ex-presidente tucano, assumindo, assim, a posição dos EUA, a respeito da eleições hondurenhas, bem como, dos próprios golpistas deste país. Como o titulo de "FHC diz que Honduras já tomou sua decisão nas Urnas", com subtítulo, "Ex-presidente contraria posição do atual governo, que não reconhece eleição Hondurenha".

No texto de 10 de dezembro de 2009, o Portal R7 (97) antes de expor a fala do ex-presidente tucano, aproximando a visão jornalista do portal com a posição política pró direita: 'FHC alfinetou a posição brasileira frente à crise de Honduras, dizendo que a resolução da crise coube ao povo hondurenho, através das últimas eleições'.

Em em Washington, aonde participava de palestra, no centro de debate Diálogo Interamericano, declarou: que 'Os Estados Unidos e a América Latina têm que "se acomodar" à situação em Honduras, onde o povo já tomou sua decisão, nas urnas'. E segue com a fala de FHC:
"Se os hondurenhos acreditam que seu governo é legítimo e essa crença não veio das Forças Armadas, mas do voto, temos que nos acomodar a essa situação". "não há alternativa [não reconhecer o novo governo de Honduras, Porfirio Lobo]". "Se insistirmos em negar os resultados das eleições, qual é a solução? Enviar um Exército?"
Por fim:
"A diplomacia latino-americana e a dos Estados Unidos têm que deixar claro ao novo governo que não pode deixar de levar em consideração o governo Zelaya, que também teve sua legitimidade, além de construir novas bases para o futuro democrático"; alguns países da América Latina têm força suficiente para não depender do que os outros façam". "Quanto mais pudermos fazer por nós mesmos, mais o resto do mundo nos olhará com atenção". FHC advertiu, no entanto, que o novo governo de Porfirio Lobo, que assumirá no dia 27 de janeiro, deve evitar "um massacre à oposição" (98).
III - O SIAMÊS DEM-PSDB

O irmão siamês do PSDB, ou seja, o DEM foi outro partido que defendeu e apoiou o golpe hondurenho. Na sessão que mencionamos de 22 de setembro de 2009, vimos quando o representante dos Democratas [Cláudio Cajado (DEM-Bahia)] saiu em defesa dos golpistas durante o relatório na Comissão de Relações Exterior da Câmara. Cláudio Cajado sustentou que foi um "fato que toda a Suprema Corte votou pela deposição do Zelaya, e eles [os golpistas hondurenhos] não aceitam o seu retorno [Manuel Zelaya]". O "Presidente Micheletti assumiu como Presidente do Congresso. De 128 votos do Congresso, 125 foram pela deposição". "Todos os organismos e instituições democráticas de Honduras estão e estiveram de acordo com a saída do Presidente Zelaya". Dentre outros pontos, "Segundo a visão de todas as instituições democráticas de Honduras, eles cumpriram a Constituição, que não permitia que se violassem cláusulas pétreas, como era o desejo do Presidente Zelaya de ouvir a população no intuito de poder alterar alguns artigos, como o da reeleição".

Outro defensor e apoiador dos golpistas hondurenhos foi o Senador José Agripino Maia (DEM-RN). Em vídeo publicado em seu canal do Youtube, disse em 23 de setembro de 2009 (99):
"O que o Brasil fez, tem que ser explicado, que o Zelaya veio aqui, não tinha hábito de um presidente hondurenho, vir ao Brasil, ele é centro americano, não veio a Argentina, não veio a Colômbia, Venezuela. Veio ao Brasil, e logo depois, invertendo o processo de asilo, alguém que esta no país pede a uma embaixada no país, território livre, por conta de questão política, não alguém que está fora pedir asilo dentro de seu país, para fazer do prédio da embaixada, um púlpito para campanha política, eu não quero discutir quem estar com a razão, isso é uma questão interna do país, na qual o Brasil se meteu. Quebrando o principio da autodeterminação dos povos, que é uma coisa ruim, e colocando em risco, inclusive, a imagem do Brasil. Que tomou uma atitude política, não sei porque viés, se colocando na boa interpretação da política internacional. Lamentável".
Tomando as devidas diferenças da oposição dos partidos burgueses quanto a posição do governo brasileiro em relação a Honduras, o discurso é o mesmo entre os golpistas de Honduras e seus apoiadores no Brasil. O DEM siamês do PSDB, segue a mesma linha, de que deveria proibir Manuel Zelaya de fazer discursos políticos contra Roberto Micheletti e do golpe em Honduras: ademais dos já citados, temos que recordar os senadores golpistas dos Democratas - Demóstenes Torres e Heráclito Fortes.

IV - PSDB, DEM, PMDB E PPS: OS BEM CHEGADOS APOIADORES E DEFENSORES DOS GOLPISAS NA IMPRENSA BURGUESA HONDURENHA

Para legitimar a posição políticas do “governo golpista” de Roberto Micheletti, o Jornal La Prensa publicou uma matéria, em 24 de setembro de 2009 (100), com titulo de "O uso político da embaixada do Brasil". Nele expõem que "muitos líderes políticos, sobretudo, opositores (do governo brasileiro)" argumentam que "a embaixada se converteu em um "forte" a partir do qual (Zelaya) discursa para seus seguidores, o que contraria as regras do asilo e da diplomacia".

A partir deste direção vai citando diferentes "lideres" dos partidos de oposição ao governo Lula, que ao serem mencionados, funciona como uma forma de legitimar a posição dos golpistas. Diz:
"O senador José Agripino Maia, do opositor partido Democrático (DEM), disse que o Brasil tem-se imiscuído na confusão desnecessária, perguntando até se Lula aceitou entrar no jogo para ficar bem com Hugo Chávez, o líder venezuelano que, ao que tudo indica, cedeu o avião em que regressou a seus país o presidente deposto".
O PPS, clássico partido aliado do PSDB e DEM, foi contemplado com a reprodução da fala do ideólogo do golpe hondurenho, Raul Jungmann:
"O Partido Popular Socialista, PPS, tem pedido que se esclareça como Zelaya chegou até a embaixada e também de sua permanência na sede, pois "como não se trata de um asilo, parece haver uma participação da diplomacia brasileira nesta ação clandestina e em uma clara ingerência nos assuntos internos de outro país.
Segundo o deputado Raul Jungmann, do PPS, "a embaixada brasileira tem se transformado em tribuna eleitoral e o chanceler Celson Amorim deve ser responsabilizado por isso".
O senador Arthur Virgilio do PSDB figura nos anais da imprensa golpista servindo de apoiador. Segundo La Prensa:
"O senador Arthur Virgilio, do opositor Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB, afirmou que "se o Governo combinou tudo isto, se trata de um disparate diplomático imperdoável". "O Brasil perdeu a possibilidade de ser um interlocutor nesta crise, pois está diretamente implicado na campanha para restabelecer o mandato do presidente Zelaya".
Em outra matéria, intitulada de "José Sarney Critica "abuso" de Manuel Zelaya" (101), o PMDB, não poderia deixar de aparecer como participe dos apoiadores, assim como, Michel Teme, presidente da Câmara dos Deputados. Depois de considerar que 'O presidente do Congresso brasileiro, senador José Sarney, criticou hoje a atividade proselitista do mandatário deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, e disse que, a sede diplomática não pode ser usada para tratar assuntos internos de outro país'. E de acrescentar: 'Sarnay, um dos principais aliados do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, assegurou em declarações, citadas hoje pela Agencia Brasil, que Zelaya e seus seguidores converteram a embaixada do país num "comitê politico"'; La Prensa passa a citar José Sarney:
"Esse abuso não é bom nem para Zelaya nem para o Brasil. A embaixada brasileira tem que selar pelas leis que regulam o asilo e não se meter em assuntos internos de outros países". "Creio que o Brasil não pode deixar de oferecer asilo (a Zelaya), especialmente a um homem que foi deposto pelo golpe. Porem, o que está ocorrendo, reconheço, é uma certa exageração na ocupação da embaixada, que foi transformada em comité político".
Os gêmeos siameses PSDB e DEM, também, aparecem num informe confidencial dos EUA, ou seja, num Cabo Confidência, vazado por Wikileaks, em 22 de junho de 2011. O confidencial, na sua introdução aponta o seguinte (102):
"Um informe confidencial despachado da embaixada americana em Brasília, em 02 de outubro de 2009, quando em sua sede diplomática do Brasil se encontrava o ex-presidente Manuel Zelaya, reflete, desde a óptica da diplomacia dos Estados Unidos, a distância entre as potências que lideram os fios das relações internacionais e uma nação latino-americana que faz incipiente seus primeiros passos de liderança"
Depois expõem a fala dos apoiadores (Eduardo Azeredo [PSDB - Minas Gerais] e Heráclito Forte [DEM - Piauí]) do golpe hondurenho no Brasil, conseguintemente, apresentando uma oposição ao governo Lula no tocante aos golpistas de Honduras:
"Os Senadores brasileiros Eduardo Azeredo (PSDB - Minas Gerais) e Heráclito Forte (DEM - Piauí), presidente e membro do comitê do Senado de Relações Exteriores e Defesa Nacional, respectivamente, disseram, em 30 de setembro que o Brasil no é capaz de hacer frente a situação em Honduras e necessita da assistência do governo estadunidense. Forte disse: "Não estamos preparados para isto. Não em Honduras. Nem sequer temos um embaixador. É só um oficial e seu chefe". Azeredo deixou escapar que os Estados Unidos "não deve separar-se" de sua recente tradição de tomar um papel importante na promoção da democracia na região. Ele acredita que o governo dos Estados Unidos está tratando de tomar um papel não intervencionista, porém, disse que não é o momento de manter-se a margem".
Heráclito Forte (DEM - Piauí) sofre da síndrome da obsessão do sim ou sim aos EUA, e faz parte do time que pensa, como disse Celso Amorim, se não concordar com os EUA, algo ruim vai acontecer, um raio vai cair na cabeça. Esse tipo de "prostituta" serviçal dos americanos, que alimenta a mentira do terrorismo mediático, apresenta-se com postura submissa diante do Forte (Heráclito) poder dos EUA: "Não estamos preparados para isto. Não em Honduras"

O documento confidência da embaixada americana no Brasil, enviado de Brasília ao governo Obama, demonstra um certo tipo de admiração e aproximação do redator do texto com “Eduardo Azeredo (PSDB - Minas Gerais) [porque] deixou escapar que os Estados Unidos...". Mas, se admiração é algo agradável e de valor estimado para os ouvidos imperialistas dos EUA, para nós brasileiros, homens e mulheres do povo, é vergonhoso, subserviente e detestável, e soa com um vende-pátria que ao ficar do lado do império, é como vender a sua própria mãe. Segundo Eduardo Azeredo, EUA não poderia "manter-se a margem e deveria intervir em Honduras".

Aqui cabe uma pergunta simples: se os Estados Unidos podem “intervir” em Honduras, dando apoio, inclusive, físicos e presencial com seus agentes e diplomatas, porque o Brasil que por tradição não presa pelo intervencionismo imperialista não poderia apoiar os lutadores e lutadoras hondurenhos, seu seu governo (Manuel Zelaya), usando seu os espaços na OEA, ONU, UNASUR ou disponibilizando seu território da embaixada, como direito internacionalmente adquirido para abrigar Zelaya? Hora, se Lula e a diplomacia brasileira seguiram este viés, os americanos que executaram junto com a Oligarquia entreguista o Golpe de Estado, colocando no poder Roberto Micheletti, porque o governo Luta seria "intervencionista", permitindo que Zelaya fosse abrigado em sua embaixada em Tegucigalpa? Mas, o tucano Azeredo baixa as calças e expõem sua nudez aos americanos: "Ele acredita que o governo dos Estados Unidos está tratando de tomar um papel não intervencionista, porém, disse que não é o momento de manter-se a margem".

REFERENCIAS



















(19): http://www.jornalgrandebahia.com.br/2009/06/lula-fala-em-entrevista-nos-nao-podemos-reconhecer-o-novo-governo/




















































































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