sábado, 10 de março de 2012
Alerta: Fome no Sahel
A organização humanitária Oxfam chamou o mundo a
auxiliar oito países do Sahel ameaçados por uma iminente crise humanitária ante
uma seca maior, más colheitas e a alta dos preços dos alimentos na região.
Cerca de 10
milhões de pessoas estão em risco de sofrer fome no Chade, Mali, Mauritânia e
Níger, e em menor grau Burkina Faso, Senegal e as regiões nortenhas do Camarões
e Nigéria.
A situação de crise humanitária no chamado cinto do
Sahel no continente africano, não é nova, como também não o é o ritmo acelerado
da maior seca por mudança climática e a avançada desertificação dos solos.
Uma boa parte os governos da região declararam
estado de emergência e solicitaram ajuda internacional.
Níger é a nação mais afetada, com oito milhões de
pessoas sob os estragos da crise, seguida pelo Chade com dois milhões.
O ente não governamental reclama ajuda rápida e
eficaz, e alerta sobre as nefastas conseqüências para a vida humana por reações
tardias, como ocorreu em 2005, 2008 e 2010, nesta mesma região, que afetaram
mais de 10 milhões de pessoas.
Oxfam denomina seu relatório de alerta como Um
atraso perigoso, tornado público junto à também organização humanitária Save
the Children e onde denuncia, ademais, as sequelas de mortes no Corno Africano
no final de 2011 pela demorada ajuda.
Os sinais de alarme em Sahel obedecem às escassas
chuvas do ano passado e as consequentes reduções de colheitas em 25 por cento,
mas que em algumas zonas da Mauritânia e Chade o déficit é de 50 por cento.
Os preços dos alimentos, assinala o relatório,
quase duplicaram em muitas áreas e começa a ver-se o deslocamento de pessoas e,
inclusive, pastores nômades emigram muito antes do acostumado.
Em tempos de colheitas, como se supõe que seja
agora, os preços tendem a diminuir, mas nesta região a tendência é a subir,
inclusive acima da média dos últimos cinco anos, conforme os especialistas.
Em Níger, por exemplo, o preço do milho no mercado
supera 37 por cento ao registrado em 2010, e o sorgo 50 por cento contra o de
2009, ademais alguns cereais remontam 40 por cento comparado com o vendido um
quinquênio atrás.
Mais solicitações de auxílio
A Oxfam somou-se ao chamado internacional do
relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter.
Não devemos esperar para ver a gente famélica para
atuar, devemos evitar uma crise alimentar em grande escala, assinalou o
especialista.
"O mundo não pode cometer os mesmos erros do
ano passado ao atrasar sua resposta à crise do Corno da África",
sublinhou.
Um estudo recente da Oxfam revelou que uma boa
parte das milhares de mortes no leste africano pela grave seca dos últimos dois
anos ocorreram pela demora do auxílio internacional.
Em julho de 2010, fez-se o primeiro reclamo de
ajuda diante da crise que assolava a Somália, Quênia e Etiópia, e passados seis
meses foi que reagiram as organizações internacionais, e começaram a enviar
ajuda sanitária e alimentar.
De abril a agosto de 2011, faleceram entre 50 mil e
100 mil pessoas vítimas da seca por fome e doenças nessa região, confirmou a
investigação.
Façamos frente à fome
Façamos frente à fome é a consigna da campanha
lançada, em consonância com a celebração da Copa Africana de Nações, por 25
futebolistas para acompanhar os esforços das organizações humanitárias e evitar
o desastre na África ocidental.
A estrela da equipe Barcelona, o malinense Seydou
Keita e o atacante senegalês do Newcastle United Demba Ba, encabeçam a lista da
cruzada contra esse flagelo, que integram ademais astros da bola de quatro dos
países afetados, Mali, Senegal, Burkina Faso e Níger.
"Se atuamos agora, podemos salvar as vidas de
muitas mulheres, meninos e meninas, sempre as primeiras vítimas das crises
alimentares", assegurou Seydou Keita.
Crise depois de crise
Investigações sobre o clima assinalam 16 países da
África subsaariana entre os 20 do mundo mais sensíveis aos fenômenos
climatológicos e por onde primeiro se faz sentir a força da natureza agredida
pela indolência humana.
No julgamento de Schutter a assistência de
emergência em curto prazo deve ser combinada com ações sustentadas para fazer
frente a estas catástrofes humanas.
Urge investir em cultivos resistentes aos extremos
climáticos, na construção de açudes de água de chuva e em promover planos
estratégicos para enfrentar malogradas colheitas ante a escassez de
precipitações.
Impele suscitar políticas produtivas e
redistributivas de longo alcance para fortalecer a segurança alimentar na
região, reduzir as profundas desigualdades na distribuição dos rendimentos e
deter fugas de recursos sem devolução de bens à sociedade.
Verdades óbvias
Para a Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura e o Programa Mundial de Alimentos a fome se trata
de um grave problema de fundo e difícil de resolver porque está concatenado com
desigualdades históricas.
Por fome crônica morrem mais pessoas em muitas
regiões africanas do que por aids, malária e tuberculose, em um continente
povoado por mais de 1,022 bilhão de pessoas.
Aqui convergem ademais conflitos armados e
interraciais, religiosos e étnicos, por poder e vingança, que gravitam na
insegurança alimentar, com suas sequelas de pobreza e fome.
Contudo, o triste paradoxo é que todo isso ocorre
em populações e comunidades assentadas sobre um continente rico em valiosos
recursos naturais, mas a maioria espoliada pelas grandes potências ocidentais
com nenhuma ou escassas retribuições para seus legítimos povoadores.
Havana (Prensa Latina) * Jornalista da Redação
África e Oriente Médio da Prensa Latina.
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