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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A armadilha europeia

Por: Luis Linares Zapata

Não houve saída possível para os assuntos públicos europeus, em especial os de natureza financeira. Os acontecimentos tem sido duros para os que tomam as decisões: governos de vários países caíram e seus partidos enfrentam graves consequências, inclusive de identidade ideológica. A dicotomia tem sido incisiva e até presunçosa: submeter-se as normas das classificadoras estadunidenses aos organismos multilaterais e aos mercados efetivos, ou caminhar livremente até a então provável ruptura do euro. Um após o outro, os estados associados à União Européia foram aceitando as condições dos poderes de fato. A lista é enorme: Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha, Itália, Bélgica e, em certo sentido, até mesmo a França caiu em turbulentas zonas especulativas. A Alemanha que se considerava fora da briga para manter sua moeda forte, também balança. Finalmente se observa como seus mercados de exportação, que dependem em grande parte de sua atividade econômica, balançam quando seus vizinhos entram em recessão.

Os vários governos, sem importar se são social-democratas, democratas-cristãos ou socialistas, se chocaram com uma realidade que parece atropelá-los, senão esmagá-los. Pelo menos é o que parece quando executam planos ou programas que atendem as necessidades de seus povos. A medida tem sido implacável com todos. Simplesmente ficaram subjulgados aos difundidos e aceitos fantasmas, dogmas e crenças neoliberais. O ditado tem sido imutável: seu "estado de bem-estar" incomoda sobretudo, ao grande capital internacional. Eles são, dizem até com humor, "impossíveis de manter". Muito caros para o orçamento nacional. "Não tem alternativa", disse com falsidade, soberba e arrogância a premiê inglesa Margaret Thatcher nesse momento. E pouco a pouco, passo a passo, essas alegações foram tomadas como verdade em vários centros de poder da Europa. São agora, para cada necessidade, a rota inevitável.

E assim de maneira drástica, estão tomando decisões que afetam as necessidades e vontades dos vários povos que formam a comunidade européia. Nenhum escapou. Todos, um após o outro, aceitaram o que consideram uma realidade pesada que precisa ser cumprida. O rigor é absolutamente necessário, se argumenta com a insolência de estadistas decididos a enfrentar o destino. Não é todo plano que é aceito, só os mais radicais possíveis: os que castigam com medidas drásticas o bem-estar coletivo das diferentes comunidades. Nenhum íten vai ficar impune ao cortes feitos pelas altas esferas. Educação, seguros desemprego, fundos de pensões, saúde, moradia e infraestruturas recebem um a um as tesouradas. Se trata afinal, de garantir recursos orçamentários suficientes para depois ajudar bancos ou indústrias. Esse é o segredo de toda a questão. Está claro que para o cidadão comum os detalhes são revestidos de uma densa retórica: o caminho é duro, mas indispensável.

Diante de uma situação tão comprometedora é necessário apelar à memória, mesmo que recente. Quando explodiram as crises imobiliárias nos Estados Unidos, Irlanda e Espanha, com as quebras e o espanto concomitantes, se falou em reformas urgentes. Chegaram a prevero fim do modelo vigente. Todo o arcabouço ideológico se reformaria, gritaram inúmeros especialistas. Até os vorazes banqueiros foram estigmatizados por sua ambição e ganância. Seus desproporcionais salários (e bonificações) foram vistos como insustentáveis, ofensivos e injustos. Depois do impacto inicial tudo voltou ao estado anterior. O pensamento e os métodos de operação conhecidos pediram, e conseguiram, seu lugar nesta pequena história. Os mais altos patamares políticos fecharam acordos com os investidores bancários, seguradoras, e os fundos de risco retornaram à suas práticas especulativas, de livre mercado as chamam. Embora hoje em dia não se saiba a quantia a que chegam no mundo os chamados derivados, mas se calcula que superem, com juros, o PIB mundial.

O que começou como uma crise bancária se tornou, pelo menos na aparência e na retórica, uma crise da dívida soberana. E um por um os países da Comunidade Europeia que têm difíceis contas foram passados para a escala dos chamados resgates. Enormes quantidades de recursos são transferidas para, na realidade, evitar que Grécia, Espanha, Portugal, Itália ou Irlanda deixem de pagar suas dívidas. A escalada é curta e imediatamente chega aos seguros americanos e inglês. Uma questão de segurança nacional, chamam a atenção dos capitalistas para seus retornos volumosos. As classificadoras entram em jogo e suas funções são cruciais e decisivas. Os mercados temem cada vez que eles degradam os títulos da dívida dos países em dificuldades. Os líderes políticos respingam contra eles, mas não para separar os olhos e ouvidos das oscilações da bolsa de valores.

Basicamente vai se esclarescendo a estratégia financeira responsável por tal dependência na especulação. O Banco Central Europeu não compra títulos. Os outros bancos, por outro lado sim, tomam suas posições a partir do que compram seus respectivos governos. Só que entre uma e outra operação ficam pelo menos três ou quatro pontos de diferença. Uma quantidade enorme de euros que vão diretamente reforçar os fortes balanços dos bancos às custas do suor e lágrimas dos contribuintes. Esta é a historinha que leva a Comunidade Europeia à beira do colapso. Acontece que para essa previsão infeliz, o impacto será global e será em carne viva.


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