quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Diferente do que prometeu, Obama abraça mais guerras
27 vezes. Vinte e sete vezes os EUA bombardearam
algum país, desde 1945. E cada vez tem-nos afirmado que estes atos de guerra
eram "justos" e "humanitários". Hoje, dizem-nos que a
guerra da Líbia é diferente das precedentes. O mesmo que foi dito da anterior.
E da anterior. E de cada vez. Não estamos já na hora de pôr a preto e branco as
perguntas que é preciso colocar em cada guerra para não deixar-se manipular?
1ª PARTE: Perguntas que é preciso colocar em cada
guerra.
HÁ SEMPRE DINHEIRO PARA A GUERRA?
No país mais poderosos do globo, 45 milhões de
pessoas vivem na extrema pobreza. Nos EUA, escolas e serviços públicos estão
ruindo porque o Estado "não tem dinheiro". Na Europa, também acontece
o mesmo, "não há dinheiro" para as pensões ou para a promoção do
emprego.
Porém, quando a cobiça dos banqueiros desencadeia a
crise financeira, então, em só uns dias, aparecem bilhões para os salvar. Isto
permitiu aos banqueiros dos EUA repartirem no ano passado US$ 140 bilhões de
lucros e bônus a seus acionistas e especuladores.
Também para a guerra parece fácil encontrar bilhões. Ora bem, são nossos
impostos que pagam estas armas e estas destruições. É razoável converter em
fumaça centenas de milhares de euros em cada míssil ou esbanjar cinquenta mil
euros por hora de um porta-aviões? Ou será porque a guerra é um bom negócio
para alguns? Ao mesmo tempo, uma criança morre de fome a cada cinco segundos e
o número de pobres não cessa de aumentar no nosso planeta, apesar de tantas
promessas.
Qual a diferença entre um líbio, um bareinita e um
palestino? Presidentes, ministros, generais, todos juram solenemente que seu
objetivo é unicamente salvar os líbios. Mas, ao mesmo tempo, o sultão do Barein
esmaga os manifestantes desarmados, graças aos dois mil soldados sauditas
enviados pelos EUA! Ao mesmo tempo, no Iêmen, as tropas do ditador Saleh,
aliado dos EUA, matam 52 manifestantes com suas metralhadoras. Estes fatos
ninguém os põe em dúvida, mas o ministro dos EUA para a guerra, Robert Gates,
acabou de declarar: "Não acho que seja o meu papel intervir nos assuntos
internos de Iêmen".(1)
Por que estes dois pesos e duas medidas? Por que
Saleh acolhe docilmente a 5ª Frota dos EUA e diz sim a todo o que Washington
ordenar? Por que o regime bárbaro da Arábia Saudita é cúmplice das
multinacionais petrolíferas? Será que existem "bons ditadores" e
"maus ditadores"? Como os EUA e a França podem pretender ser
"humanitários"? Quando Israel matou dois mil civis nos bombardeios sobre
Gaza, eles declararam uma zona de exclusão aérea? Não. Decretaram alguma
sanção? Nenhuma. Ainda pior, Solana, então responsável pelos Assuntos
Exteriores da UE declarou em Jerusalém: "Israel é um membro da UE sem ser
membro de suas instituições. Israel faz parte ativa de todos os programas de
pesquisa e de tecnologia da Europa dos 27". Acrescentando ainda:
"Nenhum país fora do continente tem o mesmo tipo de relacionamentos que
Israel com a União Européia". Neste ponto, Solana tem razão: A Europa e
seus fabricantes de armas colaboram estreitamente com Israel na fabricação de
'drones', mísseis e outros armamentos que semeiam a morte em Gaza.
Recordemos
que Israel, que expulsou 700 mil palestinos das suas aldeias, em 1948, se
recusa a devolver-lhe seus direitos e continua cometendo inumeráveis crimes de
guerra. Sob esta ocupação, 20% da população palestina atual está ou passou
pelas prisões israelenses. Mulheres grávidas foram obrigadas a darem à luz
atadas ao leito e reenviadas imediatamente às suas celas com os bebês. Esses
crimes são cometidos com a cumplicidade dos EUA e da UE.
A vida de um palestino ou de um barenita vale menos
do que a de um líbio? Há árabes "bons" e árabes "maus"?
PARA OS QUE AINDA ACREDITAM NA GUERRA
HUMANITÁRIA...
Em um debate televisionado que tive com Louis
Michel, ex-ministro belga dos Assuntos Exteriores e Comissário Europeu para a
Cooperação e o Desenvolvimento, este me jurou, com a mão no peito, que esta
guerra tinha como objetivo "pôr de acordo as consciências da Europa".
Era apoiado por Isabelle Durant, líder dos Verdes belgas e europeus. Dessa
forma, os ecologistas ("peace and love") viraram belicistas!
O problema é que a cada vez mais nos falam de
guerra humanitária e que gente de esquerda como Durant se deixa enganar. Não
fariam melhor em ler o que pensam os verdadeiros líderes dos EUA em vez de
olharem e assistirem a TV? Escutem, por exemplo, a propósito dos bombardeios
contra o Iraque, o célebre Alan Greenspan, durante muito tempo diretor da
Reserva Federal dos EUA. Greenspan escreve em suas memórias: "Sinto-me
triste quando vejo que é politicamente incorreto reconhecer o que todo mundo
sabe: a guerra no Iraque foi exclusivamente pelo petróleo" (2). E
acrescenta: "Os oficiais da Casa Branca responderam-me: 'pois, efetivamente,
infelizmente não podemos falar de petróleo'". (3)
A propósito
dos bombardeios sobre a Jugoslávia escutem John Norris, diretor de Comunicações
de Strobe Talbot que, nesse então, era vice-ministro dos EUA dos Assuntos
Exteriores encarregado para os Bálcãs. Norris escreve em suas memórias: "O
que melhor explica a guerra da OTAN é que a Jugoslávia se resistia às grandes
tendências de reformas políticas e econômicas (quer dizer: negava-se a abrir
mão do socialismo), e esse não era nosso compromisso com os albaneses do
Kosovo". (4)
Escutem, a
propósito dos bombardeios contra o Afeganistão, o que dizia o antigo ministro
de Assuntos Exteriores, Henri Kissinger: "Há tendências, sustentadas pela
China e pelo Japão, de criar uma zona de livre-câmbio na Ásia. Um bloco
asiático hostil, que combine as nações mais povoadas do mundo com grandes
recursos e alguns dos países industrializados mais importantes, seria
incompatível com o interesse nacional americano. Por estas razões, a América
deve manter a sua presença na Ásia..." (5)
O que vinha
a confirmar a estratégia avançada por Zbigniew Brzezinski, que foi responsável
pela política exterior com Carter e é o inspirador de Obama: "Eurásia
(Europa+Ásia) é o tabuleiro sobre o qual se desenvolve o combate pela primazia
global. (?) A maneira como os EUA "manejam" a Eurásia é de uma
importância crucial. O maior continente da superfície da terra é também seu
eixo geopolítico. A potência que o controlar, controlará de fato duas das três
grandes regiões mais desenvolvidas e mais produtivas: 75% da população mundial,
a maior parte das riquezas físicas, sob a forma de empresas ou de jazidas de
matérias-primas, 60% do total mundial". (6)
Nada
aprendeu a esquerda das falsidades humanitárias transmitidas pela mídia nas
guerras precedentes? Quando o próprio Obama falou, tampouco acreditaram nele?
Neste mesmo 28 de março, Obama justificava assim a guerra da Líbia:
"Conscientes dos riscos e das despesas da atividade militar, somos
naturalmente reticentes a empregar a força para resolver os numerosos desafios
do mundo. Mas quando os nossos interesses e valores estão em jogo, temos a
responsabilidade de agir. Vistos os custos e riscos da intervenção, temos que
calcular, a cada vez, nossos interesses ante a necessidade de uma ação. A
América tem um grande interesse estratégico em impedir que Kadafi derrote a
oposição".
Não está
claro? Então alguns vão e dizem: "Sim, é verdade, os EUA não reagem se não
virem nisso o seu interesse. Mas ao menos, já que não pode intervir em todos os
sítios, salvará àquela gente" Falso. Vamos demonstrar que são unicamente
seus interesses os que procura defender. Não os valores. Em primeiro lugar,
cada guerra dos EUA produz mais vítimas do que a anterior (um milhão no Iraque,
diretas ou indiretas). A intervenção na Líbia, prepara-se para produzir mais...
QUEM SE NEGA A NEGOCIAR?
Desde o momento em que colocarem uma dúvida sobre a
oportunidade desta guerra contra a Líbia, imediatamente serão culpados:
"então recusam-se a salvar os líbios do massacre? Assunto mal proposto.
Suponhamos que todo o que se nos tem contado fosse verdade. Em primeiro lugar,
pode-se parar um massacre com outro massacre? Já sabemos que nossos exércitos
ao bombardearem vão matar muitos civis inocentes. Inclusive se, como a cada
guerra, os generais nos prometem que vai ser "limpa"; já estamos
habituados a essa propaganda.
Em segundo
lugar, há um meio bem mais singelo e eficaz de salvar vidas. Todos os países da
América latina propuseram enviar imediatamente uma mediação presidida por Lula.
A Liga Árabe e a União Africana apoiavam esta gestão e Kadafi tinha-a aceitado
(propondo ele também que fossem enviados observadores internacionais para verificar
o cessar-fogo). Mas os insurgentes líbios e os ocidentais recusaram esta
mediação.
Por quê?
"Porque Kadafi não é de fiar", dizem. É possível. E os insurgentes e
os seus protetores ocidentais são sempre de fiar? A propósito dos EUA, convém
recordar como se comportaram em todas as guerras anteriores, cada vez que um
cessar-fogo era possível. Em 1991, quando Bush pai atacou o Iraque, porque este
invadia o Kuwait, Saddam Hussein propôs se retirar e que Israel se retirasse
também dos territórios ilegalmente ocupados na Palestina. Mas os EUA e os
países europeus recusaram seis propostas de negociação. (7)
Em 1999, quando Clinton bombardeou a Jugoslávia,
Milosevic aceitava as condições impostas em Rambouillet, mas os EUA e a OTAN
acrescentaram uma, intencionadamente inaceitável: a ocupação total da Sérvia.
Em 2001, quando Bush filho atacou o Afeganistão, os
talibãs propunham a entrega de Bin Laden a um tribunal internacional se eram
apresentadas provas do seu envolvimento, mas Bush rejeitou a negociação.
Em 2003, quando Bush filho atacou o Iraque, sob o
pretexto das armas de destruição em massa, Saddam Hussein propôs o envio de
inspetores, mas Bush o recusou porque ele sabia que os inspetores não iam
encontrar nada. Isto está confirmado na divulgação de um memorando de uma
reunião entre o governo britânico e os líderes dos serviços secretos
britânicos, em julho de 2002: "os líderes britânicos esperavam que o
ultimato fosse redigido em termos inaceitáveis, de modo que Saddam Hussein o
recusasse diretamente. Mas não estavam certos de que isso iria funcionar.
Então tinham um plano B: que os aviões que
patrulhavam a "zona de exclusão aérea" lançassem muitíssimas mais
bombas à espera de uma reação que desse a desculpa para uma ampla campanha de
bombardeios. (9) Então, antes de afirmar que "nós" dizemos sempre a
verdade e que "eles" sempre mentem, assim como que "nós"
procuramos sempre uma solução pacífica e "eles" não querem se
comprometer, teria que ser mais prudentes... Mais cedo ou mais tarde, a gente
saberá o que se passou com as negociações nos bastidores e constatará, mais uma
vez, que foi manipulada. Mas será muito tarde e os mortos já não os
ressuscitaremos.
A LÍBIA É IGUAL QUE A TUNÍSIA OU O EGITO?
Em sua excelente entrevista publicada há alguns
dias por Investi'Action, Mohamed Hassan, professor de doutrina islâmica e
especialista do Oriente Médio, colocava a verdadeira questão: "Líbia:
levante popular, guerra civil ou agressão militar?" À luz de recentes
investigações é possível responder: as três coisas. Uma revolta espontânea
rapidamente recuperada e transformada em guerra civil (que já estava
preparada), tudo servindo de pretexto para uma agressão militar. A qual,
também, estava preparada. Nada em política cai do céu. Consigo explicar-me?
Na Tunísia e no Egito a revolta popular cresceu
progressivamente em umas semanas, organizando-se pouco a pouco e unificando-se
em reivindicações claras, o que permitiu derrotar os tiranos. Mas, quando
analisamos a sucessão ultrarrápida dos acontecimentos em Benghazi, a gente fica
intrigada. Em 15 de fevereiro houve manifestações de parentes de presos
políticos da revolta de 2006.
Manifestação
duramente reprimida como foi sempre na Líbia e nos demais países árabes. Dois
dias escassos mais tarde, outra manifestação, desta vez os manifestantes saem
armados e passam diretamente a uma escalada contra o regime de Kadafi. Em dois
dias, incrivelmente, uma revolta popular se converte em guerra civil.
Totalmente espontânea?
Para saber isso, é preciso examinar o que se oculta
abaixo do impreciso vocábulo "oposição Líbia". Em minha opinião,
quatro componentes com interesses muito diferentes : 1º Uma oposição
democrática. 2º Dirigentes de Kadafi "regressados" do oeste. 3º Clãs
líbios descontentes da partilha das riquezas. 4º Combatentes de tendência
islâmica. Quem compõe esta "oposição Líbia"?
Em toda esta rede é importante sabermos de que
estamos a falar. E sobretudo, que fação é a aceite pelas grandes potências...
1º Oposição democrática. É legítimo ter
reivindicações ante o regime de Kadafi, tão ditatorial e corrupto como os
outros regimes árabes. Um povo tem o direito de querer substituir um regime
autoritário por um sistema mais democrático. No entanto, estas reivindicações
estão até hoje pouco organizadas e sem programa concreto. Temos, ainda, no
estrangeiro, movimentos revolucionários líbios, igualmente dispersos, mas todos
opostos à ingerência estrangeira. Por diversas razões que expomos mais adiante,
não são estes elementos democráticos os que têm muito que dizer hoje, sob a
bandeira dos EUA nem da França.
2º Dignitários "regressados". Em
Bengazhi, um "governo provisório" foi instaurado e está dirigido por
Mustafá Abud Jalil. Este homem era, até 21 de fevereiro, ministro da Justiça de
Kadafi. Dois meses antes, a Anistia Internacional tinha-o posto na lista dos
mais horríveis responsáveis por violações de direitos humanos do norte da
África. É este indivíduo o que, segundo as autoridades búlgaras, organizava as
torturas de enfermeiras búlgaras e do médico palestino detidos durante longo
tempo pelo regime.
Outro "homem forte" desta oposição é o
general Abdul Faah Yunis, ex-ministro do Interior de Kadafi e antes chefe da
polícia política. Compreende-se que Massimo Introvigne, representante da OSCE
(Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) para a luta contra o
racismo, a xenofobia e a discriminação, estime que estes personagens "não
são os 'sinceros democratas' dos discursos de Obama, mas foram dos piores
instrumentos do regime de Kadafi, que aspiram a tirar o coronel para tomar seu
lugar".
3º Clãs descontentes. Como sublinhava Mohamed
Hassan, a estrutura da Líbia continua sendo tribal. Durante o período colonial,
sob o regime do rei Idriss, os clãs do Leste dominavam e aproveitavam-se das
riquezas petrolíferas. Após a revolução de 1969, Kadafi apoiou-se nas tribos do
oeste e o Leste viu-se desfavorecido. É lamentável; um poder democrático e
justo deve zelar por eliminar as discriminações entre as regiões. Pode-se
perguntar se as antigas potências coloniais não incitaram as tribos rebeldes
para enfraquecer a unidade do país. Não seria a primeira vez. Hoje, França e os
EUA apostam nos clãs do Leste para tomar o controle do país. Dividir para
reinar, um velho dito clássico do colonialismo.
4° Elementos da Al-Qaeda. Cabogramas difundidos
pelo Wikileaks advertem que o Leste da Líbia era, proporcionalmente, o primeiro
exportador no mundo de "combatentes mártires" no Iraque. Relatórios
do Pentágono descrevem um cenário "alarmante" acerca dos rebeldes líbios
de Bengazhi e Derna. Derna, uma cidade de escassos 80.000 habitantes, seria a
fonte principal de yihaidistas no Iraque. Da mesma forma, Vincent Cannistrar,
antigo chefe da CIA na Líbia, assinala entre os rebeldes muitos
"extremistas islâmicos capazes de criar problemas" e que "as
possibilidades [são] muito altas de que os indivíduos mais perigosos possam ter
uma influência, caso Kadafi cair".
Evidentemente tudo isto se escrevia quando Kadafi
era ainda um "amigo". Mas isto mostra a ausência total de princípios
no chefe dos EUA e dos seus aliados. Quando Kadafi reprimiu a revolta islamista
de Bengazhi, em 2006, fez isso com as armas e o apoio de Ocidente. Uma vez,
somos contra os combatentes do tipo Bin Laden, outra vez, utilizamo-los. Vamos
lá ver como.
Entre estas diversas "oposições" qual
prevalecerá? Pode ser este também um objetivo da intervenção militar de
Washington, Paris e Londres: tentar que "os bons" ganhem? Os bons do
ponto de vista deles, é claro. Mais tarde, vai utilizar-se a "ameaça islâmica"
como pretexto para se instalarem de forma permanente. Em qualquer caso uma
coisa é segura: o cenário líbio é diferente dos cenários tunisino ou egípcio.
Ali era "um povo unido contra um tirano". Aqui estamos em uma guerra
civil, com um Kadafi que conta com o apoio de uma parte da população. E nesta
guerra civil o papel que jogaram os serviços secretos americanos e franceses já
não é tão secreto...
Qual foi o papel dos serviços secretos?
Na realidade, o assunto líbio não começou em
fevereiro em Benghazi, mas sim em Paris, em 21 de outubro de 2010. Segundo
revelações do jornalista Franco Bechis (Libero, 24 de março), nesse dia, os
serviços secretos franceses prepararam a revolta de Benghazi. Fizeram
"voltar" (ou talvez já anteriormente) Nuri Mesmari, chefe do protocolo
de Kadafi, praticamente seu braço direito. O único que entrava sem chamar na
residência do líder líbio. Em uma viagem a Paris com toda sua família para uma
cirurgia, Mesmari não se encontrou com nenhum médico, pelo contrário, teve
encontros com vários servidores públicos dos serviços secretos franceses e com
próximos colaboradores de Sarkozy, segundo o boletim digital Magreb
Confidential.
Em 16 de novembro, no hotel Concorde Lafayette,
prepararia uma imponente delegação que devia viajar dois dias mais tarde a Benghazi.
Oficialmente, tratava-se de responsáveis pelo ministério da Agricultura e de
líderes das firmas France Export Céréales, France Agrimer, Louis Dreyfus,
Glencore, Cargill e Conagra. Mas, segundo os serviços italianos, a delegação
incluía também vários militares franceses camuflados como homens de negócios.
Em Benghazi, encontraram-se com Abdallah Gehani, um coronel líbio ao que
Mesmari lhes tinha apresentado como disposto a desertar.
Em meados de dezembro, Kadafi, desconfiando, enviou
um emissário a Paris para tentar contatar com Mesmari. Mas este foi preso na
França. Outros líbios vão de visita a Paris no dia 23 de dezembro e são eles
que vão dirigir a revolta de Benghazi com as milícias do coronel Gehani. Ainda,
Mesmari revelou inúmeros segredos da defesa Líbia. De tudo isto resulta que a
revolta no Leste não foi tão espontânea como nos foi dito. Mas isto não é tudo.
Não só foram os franceses?
Quem dirige atualmente as operações militares do
"Conselho Nacional Líbio" anti-Kadafi? Um homem justamente chegado
dos EUA, em 14 de março, segundo Al-Jazira. Apresentado como uma das duas
"estrelas" da insurreição Líbia, pelo jornal britânico de direita,
Dail Mail, Khalifa Hifter é um antigo coronel do exército líbio exilado nos
EUA. Foi um dos principais comandantes da Líbia até a desastrosa expedição ao
Chade, no final dos 80; emigrou imediatamente para os EUA e viveu os últimos
vinte anos na Virgínia. Sem nenhuma fonte de rendimentos conhecida, mas a muito
pouca distância dos escritórios... da CIA (10). O mundo é um muito pequeno.
Como é que um militar líbio de alta patente pode
entrar com toda a tranquilidade nos EUA, uns anos após o atentado terrorista de
Lockerbie, pelo qual a Líbia foi condenada, e viver durante vinte anos,
tranquilamente, ao lado da CIA? Por força teve que oferecer algo em troca.
Publicado em 2001, o livro Manipulations africaines
(Manipulações africanas) de Pierre Péan, traça as conexões de Hifter com a CIA
e a criação, com o apoio da mesma, da Frente Nacional de Libertação Líbia. A
única façanha da tal frente será a organização, em 2007, nos EUA, de um
"congresso nacional" financiado pelo National Endowment for
Democracy(11), tradicionalmente o mediador da CIA para manter lubrificadas as
organizações a serviço dos EUA.
Em março deste ano, em data não comunicada, o
presidente Obama assinou uma ordem secreta que autoriza a CIA a empreender
operações na Líbia, para derrocar Kadafi. O The Wall Street Journal, que
informa disso, em 31 de março, acrescenta: "Os responsáveis pela CIA reconhecem
ter estado ativos na Líbia desde fazia várias semanas, tal como outros serviços
secretos ocidentais".
Tudo isto já não é muito secreto, circula pela
Internet faz algum tempo; o que é estranho é que a grande mídia não diga nem
uma palavra. No entanto, conhecem-se muitos exemplos de "combatentes da
liberdade" armados deste modo e financiados pela CIA. Por exemplo, nos
anos 80, as milícias terroristas da 'contra', organizadas por Reagan para
desestabilizarem a Nicarágua e derrocarem seu governo progressista. Nada se
aprendeu da História? Esta "Esquerda" européia que aplaude os
bombardeios não utiliza a Internet?
Terá que se estranhar de que os serviços secretos
italianos "delatem" assim as façanhas dos seus colegas franceses e
que estes "delatem" seus colegas americanos? Isso só é possível se
acreditarmos em histórias bonitas sobre a amizade entre "aliados
ocidentais" Já falaremos...
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