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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

EUA anuncia que as forças de elite que assassinaram Bin Laden poderiam realizar operações na América Latina

O chefe do Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos (USSOCOM), cujas forças de elite foram as que rastrearam e mataram a Osama Bin Laden no Paquistão, lançou uma nova proposta para ter maior liberdade para empregar as forças especiais (SOF) e realizar operações em todo o mundo.

Tal autoridade dotaria as SOF de maior agilidade, rapidez e flexibilidade para expandir seus operativos para regiões como África, Ásia e América Latina – onde suas atividades têm sido limitadas – sem ter que passar pelas vias normais de aprovação que exige o Pentágono. 

A proposta se encaixa com a nova visão de Defesa dos EUA à medida que reduz o número de forças armadas no terreno, em conta de pequenas unidades com a habilidade de operar numa ampla gama de ambientes, realizar atividades táticas com resultados estratégicos.

No entanto, alguns analistas suspeitam que uma maior amplitude do alcance destas forças na América Latina poderia degenerar em atividades questionáveis e degenerar as relações dos Estados Unidos com seus vizinhos do continente.

Forças para resgate

O Comando de Operações Especiais foi criado nos anos 80 depois da falida tentativa de resgatar aos reféns americanos presos na embaixada desse país no Irã. Tinha uma tarefa muito especifica quanto à proteção de cidadãos americanos, sobretudo, os que tinham vínculos com o governo.

Na América Latina, normalmente, se ocuparam de missões de inteligências de alta tecnóloga, sem recrutar recursos humanos, mas se brindando com treinamento e fazendo exercícios conjuntos.  

“Quase sempre, com poucas exceções, trabalhavam em conjunto com as forças armadas, policiais ou de inteligência do país para poder ajudar-lhes e ter uma relação mutua”, explicou a BBC Mundo Stephen Donehoo, especialista em Segurança Nacional do Grupo McLarty Associates de Washington.

No Peru, por exemplo, aconselharam as Forças Armadas no resgate de reféns internacionais depois da tomada da embaixada do Japão pelos grupos armados, Tupac Amarú, em abril de 1997, quando numa ação surpresa, que violaram os acordos de negociação política, mediante uma operação militar, foram libertados 71 dos 72 reféns que, todavia, se mantinham cativas, e assassinaram a sangue frio os sequestradores, capturados vivos.

Na Colômbia assessoraram operativos especiais na luta contra os rebeldes da FARC, mas, quando depois mercenários dos Estados Unidos caíram nas mãos do grupo esquerdista, “eles tiveram tropas no terreno com o propósito de retirá-los”, segundo Donehoo, ante de que o fizesse o próprio governo colombiano com a operação “Jaque”, na qual bombardearam um acampamento clandestino e mataram e feriram a todas as pessoas que ali se encontravam. Em seguida violaram a fronteira com Equador.   

As atividades de USSOCOM tem que regesse por um protocolo que incluía uma relação muito estreita com o comando das forças regionais, o Comando Sul, no caso da América Latina, e não respeita acordos dos governos locais, como fizeram no Paquistão, quando assassinaram a Bin Laden.

Ademais, devem coordenar suas operações com o embaixador americano do país em questão, mas, tudo isso, poderia mudar com a solicitação do chefe do Comando de Operações Especiais. 

“Isto implica uma burocracia e um cronograma de coordenação que não é, particularmente, ágil”, explicou o especialista em Segurança. “(USSOCOM) quer ter maior agilidade e poder para atuar quando for necessário sem ter que ir pelos canais que estão estabelecidos”.

Mudança de estratégia

A mudança de movimento da retaguarda para uma participação mais ativa em “ações de guerra”, sem nenhuma autorização explicita, é o que preocupa a Adam Isaacson, analista de política de segurança nacional de WOLA, Escritório de Washington para Assuntos Latino-americanos.

“Apesar de, naturalmente, não se dar muitos detalhes, pode-se imaginar quase tudo”, manifestou a BBC. “Em países aliados podem incluir operativos de inteligências contra grupos, partidos ou indivíduos que são vistos como ameaça contra os EUA, embora, eles mesmos não estejam fazendo nada ilegal num país”.

Isaacson se aventurou a especular que nos países com os quais os Estados Unidos não têm boas relações, como Venezuela, Bolívia, Equador ou Nicarágua, “poderiam até fazer atos de sabotagem. Ainda que isso não seja um plano, isso é o que se vai suspeitar”.

O analista de WOLA assinala que tem havido antecedentes, no marco da chamada guerra contra o terrorismo, com a criação, há 5 ou 6 anos, de pequenos grupos dentro das embaixadas americanas, conhecidos como Military Liaison Elements, elementos de ligação miliar.

“Eram grupos de elite que, em alguns casos, se encontravam ali sem o conhecimento do embaixador”, assegurou. “Andavam de civis, completamente, armados e o mundo chegou, a saber, deles quando em Assunção, Paraguai, mataram um ladrão na rua”.

Complexa rede

Adam Isaacson indica que a busca de uma maior atividade na América Latina obedece a retorica de alguns legisladores republicanos e centros de investigações conservadores que estão girando numa complexa ideia de ameaça de segurança.

“Tudo começou com o Irã e o grupo Hezbola”, explica, “e se conecta com Hugo Chávez, na Venezuela, e Evo Morales, na Bolívia, passa pelas FARC, na Colômbia, para finalmente, terminar com as Maras, em Centro América, e os carteis de drogas, no México, tudo ocupando o mesmo espaço para representar, conjuntamente, uma ameaça para a segurança dos Estados Unidos”.  

Embora o analista considere que, apensar que estes grupos divergentes, tenham um interesse em trabalhar, conjuntamente, é “um pouco paranoico”, existe quem não o consideram razoável, sobretudo, em vista dos recentes atentados ocorridos em dias recentes pelo mundo que estão vinculando ao Irã.

“Não tem nenhuma razão para pensar que, nas várias visitas que tem feito Ahjadinejad (o presidente iraniano) ao Equador, Venezuela e Nicarágua, e suas relações com outros países, isto não seja uma possibilidade”, argumentou Stefhen Donehoo de McLarty Associates.

Com a apresentação deste tipo de cenário, é muito provável que a solicitação para uma maior e mais ágil presença das Forças de Operações Especiais na Região como América Latina receba uma aprovação, embora com algumas limitações no Congresso.

“O presidente Obama o brinda com um status muito alto pelo resultado que obtiveram contra Bin Laden”, afirmou Adam Isaccson de WOLA. “Não importa a ideologia, qualquer presidente vai se enamorar dessa capacidade de emprego rápido das Forças de Operações Especiais”.

No âmbito das Relações Exteriores, no entanto, havia um custo a pagar.

“Os governos vão se sentir violados. Enquanto não haja forças de SOF em um país, sempre vão ter suspeitas e isso afetará a confiança mutua e a amabilidade das relações”, concluiu Isaacson.

Fonte:

Tradução de Luis Carlos (Redação do blog o povo na luta faz história)

Postado em 16 febrero 2012 [Repostado em 22 de fevereiro]

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