quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
ONU, Malvinas e a militarização do Atlântico Sul
A Argentina acaba de obter uma importante vitória
diplomática ao conseguir a intervenção do secretário geral das Nações Unidas,
Ban Ki-moon, como mediador entre Buenos Aires e a Grã-Bretanha para a disputa
sobre a soberania das Ilhas Malvinas.
Essa controvérsia estava concentrada até agora em
declarações e pronunciamentos dos governos de ambos países, em especial do
sul-americano ante cada ação de Londres em torno do arquipélago que ocupa à
força desde 1833.
No contexto da organização mundial, a postura
argentina também está apoiada desde a década de 1960 por uma sucessão de
resoluções do Conselho de Segurança, da Assembleia Geral e do Comitê de
Descolonização da ONU.
E, no plano internacional, por declarações de
agrupamentos regionais como o Mercado Comum do Sul, a União de Nações
Sul-americanas, a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos e as
Cúpulas Ibero-americanas.
No entanto, faltava um forte impulso à longa
batalha dos argentinos para poder exercer sua soberania sobre as Ilhas
Malvinas, Georgias do Sul, Sándwich do Sul e os espaços marítimos circundantes.
O detonante para a nova e exitosa campanha
diplomática realizada na sede da ONU pelo chanceler da Argentina, Héctor
Timerman, foi a crescente militarização do Atlântico Sul empreendida pelo Reino
Unido.
A denúncia do reforço bélico de Londres nessa
região, sem descartar a introdução de armas nucleares, ocupou o centro das
reuniões que o ministro sustentou na sede da ONU em Nova York com os presidentes
do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral e o próprio Ban Ki-moon.
Também com o titular do Comitê de Descolonização,
Pedro Núñez Mosquera (Cuba), e os embaixadores da Colômbia e da Guatemala, os
países latino-americanos que neste ano ocupam um assento no Conselho de
Segurança.
Com provas documentadas, Timerman mostrou a seus
interlocutores e ao corpo de correspondentes na ONU detalhes da militarização
da região, como a chegada às Malvinas do submarino nuclear Vanguard, o navio
destruidor HMS Dauntless e aviões Typhoon com mísseis Taurus, todos de última
geração.
Disse que as bases militares britânicas nas ilhas
Ascensión, Santa Helena, Tristán de Cunha, Malvinas, Georgias e Sándwich do Sul
e no território antártico dominam o Atlântico Sul e o tráfico marítimo e aéreo
entre a América do Sul e a África, assim como o acesso aos oceanos Pacífico e
Índico.
Trata-se de um controle exercido por uma potência
militar que se encontra a 14 mil quilômetros das Malvinas, sublinhou.
Revelou que o governo argentino ainda espera uma
resposta de Londres sobre a introdução ou não de armas nucleares na região,
como lhe perguntaram vários países preocupados por essa possibilidade.
Já em 2003 se produziu um acidente nas Malvinas
durante o transporte de material nuclear entre dois barcos ingleses, o qual
pôde derivar em uma propagação de radioatividade.
Como outra prova da escalada militarista britânica
na região austral, Timerman indicou que o atual orçamento de Defesa do Reino
Unido foi reduzido para todas suas frentes, menos no relacionado às Malvinas.
Os argumentos argentinos não puderam ser
categoricamente desmentidos pelo embaixador britânico na ONU, Mark Lyall Grant,
quem tratou de enfrentar a ofensiva de Timerman com uma coletiva de imprensa na
qual se limitou a afirmar que "nada mudou em relação a nosso posto de
defesa nas ilhas" Malvinas.
Não obstante, admitiu que há submarinos nucleares
de bandeira britânica "por todo o mundo" e que Londres aumentou seu
poder militar nesse arquipélago desde 1982, quando a Argentina e seu país
entraram em guerra, custando a vida de 649 argentinos e 255 ingleses.
O enviado de Buenos Aires também chamou a atenção
sobre a vigência do Tratado de Tlatelolco, subscrito por todos os países da
América Latina e que converteu a região em uma zona livre de armas nucleares.
Timerman criticou a reiterada negativa do Reino
Unido de retomar as negociações dispostas pela ONU e as ilegais medidas
unilaterais ditadas por Londres para a extração e exploração de recursos
naturais renováveis e não renováveis na área da controvérsia.
Uma atuação que cobra maiores dimensões dada a
condição da Grã-Bretanha como um dos cinco membros permanentes do Conselho de
Segurança, órgão encarregado de velar pela paz e segurança internacionais.
Agora é só esperar pelos passos que deve dar a
diretiva da ONU depois de assumir o compromisso de trabalhar para que a antiga
potência colonial venha negociar com a Argentina o velho problema das Malvinas.
Chefe da sucursal da Prensa Latina nas Nações
Unidas.
Nações Unidas (Prensa Latina) [Modificado el (
miércoles, 15 de febrero de 2012 )]
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