OBSERVAÇÃO: Este texto foi produzido para ser usado na introdução (no inicio do ano letivo) das aulas de história do Ensino Fundamental e Médio.
A História é uma ciência social. Como tal, implica dizer que, o conhecimento do processo de transformação da sociedade humana ao longo do tempo é seu objeto de estudo.
Esta definição aponta para um elemento essencial: seu caráter de sociedade, e, não de indivíduos. Os fatos isolados que exaltam as individualidades dos grandes generais e presidentes, destacando que os que se revoltam são enforcados ou fuzilados; dos donatários e suas capitanias hereditárias sem destacar por que elas foram organizadas ou como viviam os homens da sociedade colonial; a sucessão de governantes sem qualquer referência aos governados; os dirigentes como verdadeiros heróis em contraste com a participação popular: tudo isso não pertence ao domínio da história, porque essa é a maneira que a classe dominante vê a si mesma. E o que é mais grave (pernicioso), impõe ao povo trabalhador sua imagem como sendo de uma classe salvadora, sem a qual a classe dominada e oprimida não pode ser capaz de ter um destino próprio, uma sociedade nova, sem exploradores e sem explorados. Tal idéia é contada através da Historia Oficial e, consequentemente, transmitida pelos meios de comunicação, escolas etc. segundo Aquino, esta é a “História dos vencedores e não dos vencidos”.
Ao contrário desta história individualista, a sociedade, em primeiro lugar, é o que a História estuda. As relações sociais de produção é seu objeto de conhecimento. Uma vez que, a base da vida em sociedade é a produção. Pra viver é preciso produzir; para produzir é preciso trabalhar. Os homens trabalham juntos, vivem juntos – constitui a sociedade.
Você há de concordar que o modo como conseguimos os bens necessários a sobrevivência – alimentos, habitação, vestuário etc. – é um dos aspectos mais importante da vida em sociedade. De um modo geral, as pessoas passam a maior parte de seu tempo trabalhando. Daí, a forma de trabalho determinar a maneira de ser e de agir das pessoas. E é através do processo de produção da sociedade que estabelecemos determinados vínculos sociais, políticos e ideológicos.
Quando usamos a expressão processo de produção, estamos falando da maneira pela qual os homens produzem os meios de subsistência, isto é, como os elementos encontrados na Natureza são transformados, pelo trabalho humano, em produtos úteis a sobrevivência. O modo de agir sobre a Natureza (produzir) e as relações sociais que se estabelecem entre os homens no processo de produção, constituem uma determinada maneira de viver. Isso é o mesmo que dizer que você vive em sociedade e que todos os indivíduos ativos na produção estabelecem determinados vínculos.
Sociais – os colegas de trabalho, o patrão e seus empregados, a família. Políticos – o poder de mando do patrão, as leis criadas por determinado tipo de governo. Ideológicas – as explicações para nosso atos, nossas idéias, nossas atitudes, nossos valores, nossa visão de mundo.
Agora responda: qual é hoje a forma de sobrevivência da maioria das pessoas em nossa sociedade? Isso você pode identificar facilmente.
Nossa forma de sobrevivência tem por base, de um modo geral, o trabalho assalariado. Esse trabalho é realizado por pessoas que, não sendo proprietário de coisa alguma, para sobreviver tem de vender a única coisa que possuem – a sua força de trabalho. Vender para alguém que, dispondo de dinheiro e de todos os meios necessários a produção (matérias-primas, instrumentos de trabalho) lhe paga um salário. Por isso que, o trabalho assalariado é característica essencial do sistema capitalista em que vivemos.
Em linhas gerais, o que é o sistema capitalista?
Em nossa sociedade o trabalhador emprega o salário que recebe na aquisição do que é necessário a sobrevivência. Nenhum dos produtos produzidos no local de trabalho lhe pertence, nem aos seus companheiros; todos vendem a sua força de trabalho para o dono dos meios de produção, que se apropria das mercadorias resultantes do trabalho daquelas pessoas.
O dono dos meios de produção obtém lucro na produção e comercialização das mercadorias, na medida em que, o valor do salário pago aos trabalhadores é menor que o valor das mercadorias. Seus produtores diretos, os trabalhadores, só posteriormente, caso o salário seja suficiente, poderão comprá-las.
Qual a diferença, então, entre o dinheiro-lucro dos donos dos meios de produção e o dinheiro-salário dos trabalhadores?
O que distingue é a forma como é usado: o salário é empregado na aquisição do que é necessário a sobrevivência, e o lucro é investido na reprodução desses mesmos lucros.
Por isso, o dinheiro só se torna capital quando é usado para adquirir mercadorias ou trabalho com a finalidade de lucro.
Você deve ter percebido o que significa dizer que vivemos em um sistema capitalista. Poderia, então, identificar os elementos essenciais deste sistema?
O capitalismo tem dois elementos essenciais: capital e trabalho. O capital dos donos dos meios de produção e o trabalho das pessoas que possuem um único bem – sua força de trabalho, que o capital compra, pagando salários. O trabalhador produz as mercadorias e o capital se apropria delas.
Construir nossa consciência como homens e mulheres desta sociedade presente, a partir do passado, é de fundamental importância para que a História tenha sentido para nós. Como diz Marc Bloch: “A incompreensão do presente nasce da ignorância do passado”. Porque este grande Historiador fala isto? Porque de nada adianta conhecermos o passado se nada sabemos do presente. Isto significa também que não se pode perder de vista o compromisso com os problemas e indagações do tempo presente. Por essa razão, devemos utilizar o método do duplo movimento: conhecer o passado através do presente e conhecer o presente através do passado.
Já sabemos que a expressão presente é a sociedade capitalista, na qual vivemos manifestando vida. E o passado? Ah! Falar do passado significa dizer que antes da sociedade capitalista nascer a partir do séc. XVI e XVIII na Europa, e, no Brasil a partir da segunda metade do séc. XIX, outras sociedades existiram tanto no Velho Continente Europeu quanto na África, Oriente Médio e Ásia, que foram, respectivamente, as sociedades de comunidade primitivas, comunidades de modo asiático, as sociedades escravistas, as sociedades feudais. No caso da América, houve as sociedades que vai das comunidades primitivas e de modo asiática até chegar às sociedades de modo capitalistas. Por isso, comparar o presente com o passado e o passado pelo presente é fundamental para a construção de nossa consciência histórica, pois, conhecer as diversas formas de o homem manifestar vida no passado é um suporte para refletir sobre nossa forma de compreender e explicar o Mundo. Ao conhecer os diferentes modos de vida, organizados pelos homens, estaremos construindo nossa consciência histórica e nos sentindo mais seguros quanto aos rumos para a construção de um novo mundo.
Identificar e reconhecer o conhecimento do processo de transformação da sociedade humana ao longo do tempo é possível conhecermos como aquelas diferentes sociedades organizavam suas vidas, se relacionavam com a natureza ou explicavam a origem do mundo, as doenças, o sofrimento e a morte. Conhecer o passado nos permite compreender melhor a realidade em que vivemos, descobrir os limites, as potencialidades e as conseqüências dos atos humanos e, a luz de uma analise criteriosa das tendências, apontar o caminho para onde estamos indo.
Enfim, ter consciência histórica, como foi mencionado acima, é conhecer as transformações vividas na sociedade em que se atua. Muito bem! Portanto, ter consciência histórica significa ter consciência do nosso poder de transformação, do nosso poder de sermos os agentes da História e não seres passivos, acomodados, que sofrem a História. Por isso, ter consciência histórica significa sermos verdadeiros homens, homens conscientes para podermos construir um mundo melhor – não como objeto, não como instrumentos de trabalho de uma classe dominante, mas como seres humanos inteiros e criativos que trabalham realizando tarefas produtivas, intelectuais ou braçais, que atendam as necessidades da coletividade.
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