A letra da música denominada “Classe Média” trás uma critica sociológica dos valores culturais (consumista, preconceituoso, salve exceção) deste setor da sociedade.
Max Gonzaga - Classe Média
Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio "coletivos"
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mais eu "to nem ai"
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não "to nem aqui"
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em Moema
O assassinato é no "Jardins"
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não "to nem ai"
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não "to nem aqui"
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida
Fonte: Vídeo - http://www.youtube.com/watch?v=KfTovA3qGCs
Fonte: Letra - http://www.letras.mus.br
Para completar o tema, ai vai uma poesia de Patativa do Assaré, que faz uma analise sociológica das classes sociais do sistema capitalista. As formas do conteúdo poético são de chamar a atenção de muitos estudiosos pelo fato desse artista nunca ter cursado uma faculdade na vida, mais, que, no entanto, soube tirar da vida faculdade sabedoria suficiente para ser aprovado a uma vaga de mestrado ou doutorado em qualquer universidade do país, sem precisar de projeto de pesquisa. Se os catedráticos não aprovarem seu projeto, não tem importância, nos o povo o aprovamos com louvor.
O INFERNO, O PURGATÓRIO E O PARAÍSO
1. Pela estrada da vida nos seguimos,
Cada qual procurando melhorar,
Tudo aquilo, que vemos e que ouvimos,
Desejamos, na mente, interpretar,
Pois nós todos na terra possuímos
O sagrado direito de pensar,
Neste mundo de Deus, olho o diviso
O Purgatório, o Inferno e o Paraíso.
2. Este Inferno, que temos bem visível
E repleto de cenas de ternura,
Onde nota-se o drama triste e horrível
De lamentos e gritos de loucura
E onde muitos estão no mesmo nível
De indigência, desgraça e desventura,
É onde vive sofrendo a classe pobre
Sem conforto, sem pão, sem lar, sem cobre.
3. É o abismo do povo sofredor,
Onde nunca tem certo o dormitório,
É sujeito e explorado com rigor
Pela feia trapaça do finório
É o Inferno, em plano inferior
Mas acima é que fica o Purgatório
Que apresenta também sua comédia
E é ali onde vive a classe média.
4. Este ponto também tem padecer,
Porém seus habitantes é preciso
Sumularem semblantes de prazer,
Transformando a desdita num sorriso.
E agora, meu leitor, nós vamos ver,
Mais além, o bonito Paraíso,
Que progride, floresce e frutifica,
Onde vive gozando a classe rica.
5. Este é o Éden dos donos do poder,
Onde reina a coroa da potência,
O Purgatório ali tem que render
Homenagem, Triunfo e Obediência,
Vai o Inferno também oferecer
Seu imposto tirado da indigência
Pois, no mastro tremula, a todo instante,
A bandeira da classe dominante.
6. É o Inferno o teatro do agregado
E de todos que vivem na pobreza,
Do faminto, do cego e do aleijado,
Que não acham abrigo nem defesa
E é também causador do triste fado
Da donzela repleta de beleza
Que, devido a cruel necessidade,
Vende as flores de sua virgindade.
7. Que tristeza, que mágoa, que desgosto
Sente a pobre mendiga pela rua!
O retrato da dor no próprio rosto,
Como é duro e cruel a sorte sua!
Com o corpo mirrado e mal composto,
A coitada chorosa continua
A pedir, pelas praças da cidade:
<
8. Para que outro estado mais precário
Do que a vida cansada do roceiro?
Sem gozar do direito do salário,
Trabalhando na roça o dia inteiro,
Nunca pode ganhar o necessário,
E, se o inverno não vem molhar o chão,
Vai expulso da roça do patrão.
9. Como é triste viver sem possuir
Uma faixa de terra para morar
E um casebre, no qual possa dormir
E dizer satisfeito: <
Ninguém pode, por certo, resistir
Tal desgraça na vida sem chorar.
Se é que existe inferno no outro mundo
Com certeza, o de lá é o segundo!
10. Veja bem, meu leitor, que quadro triste,
Este inferno que temos nesta vida,
O sofrimento atroz dele consiste
Em viver sem apoio e sem guarida.
Minha lira sensível não resiste
Descrever tanta coisa dolorida
Com as rimas do mesmo repertório,
Quero um pouco falar do Purgatório.
11. Purgatório da falsa hipocrisia,
Onde vemos um rosto prazenteiro
Ocultando uma dor que o excrucia
E onde vemos também um cavalheiro
Usar terno de linda fantasia,
Com o bolso vazio de dinheiro:
Pra poder trajar bem, até se obriga
Dar, com jeito, uma prega na barriga.
12. Purgatório infeliz do desgraçado,
Que trabalha e faz tudo o que é preciso
No comércio, lutando com cuidado,
Com desejo de entrar no Paraíso,
Porém, quando termina derrotado,
Fracassado, com grande prejuízo,
Desespera, enlouquece, perde a bola
E no ouvido dispara uma pistola.
13. Ali vemos um gesto alegre e lindo
Disfarçando uma dor, uma aflição,
Afirmando gozar prazer infindo
De esperança, de sonho e de ilusão.
Mas, enquanto estes lábios vão sorrindo,
Vai chorando repleto de amarguras,
Com bastante aparência de venturas.
14. Veja agora, leitor, que diferença
Encontramos no lindo Paraíso:
O habitante não fala de sentença
Tudo é paz, alegria, graça e riso.
Tem remédio e conforto, na doença
E, se a morre inda deixa por memória
Uma lousa, contando a sua glória.
15. Neste reino, que cresce e que vigora,
Vive a classe feliz e respeitada,
Tem tudo o que quer, a toda hora,
Pois do belo e do bom não falta nada,
Tem estrela brilhante e linda aurora,
Borboletas azuis, contos de fada
E, se quer gozar mais a vida sua
Vai uns dias passar dentro da lua.
16. O Paraíso é o ponto culminante
De riqueza, grandeza e majestade,
Vive em plena harmonia e liberdade,
Tem sossego, conforto e tem amante,
Tudo quanto há de bom tem a vontade
E a mulher, que possui corpo de elástico,
Para não ficar velha, vai ao plástico.
17. Já mostrei, meu leitor, com realeza,
Pobres, médios e ricos potentados,
Na linguagem sem arte e sem riqueza.
Não são versos com ouro burilados,
São singelos, são simples, sem beleza,
Mas, nos mesmo eu deixo retratados,
Com certeza, verdade e muito siso,
O Purgatório, o Inferno e o Paraíso.
Patativa do Assaré
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