Luis Carlos
Nas atividades de sala de aula de História e Filosofia, uso constantemente a música como instrumento pedagógico. Então “conhecedor” da Banda Olodum (disponho de aproximadamente 145 letras e músicas em mp3, seleciono 30 que dão para relacionar com conteúdos de história) fui procurar no Youtube um vídeo da música “Madagascar Olodum” para fazer uma ponte com a temática “História da África”. O resultado da busca, no referido site, foi positivo: encontrei um vídeo com o áudio que objetivava encontrar. Para a minha surpresa, também encontrei 338 comentários sobre a letra.
O que me chamou a atenção, de um lado, foi à confusão criada a partir de um comentário que diz que: “Musica de religião é uma coisa, axé é outra coisa, essa música não mostra bundas e nem tem TV como dono, que os evangélicos que o digam, isso é música”. Daqui em diante há uma seqüência de opiniões sobre a utilização das palavras evangélica e Deus. De outro lado, foi que dentre as mesmas idéias, existem falas interessantes sobre o conteúdo da letra, que se manifestam da seguintes formas:
“Essa musica se refere a história de uma nação que lutou pela liberdade até o fim, destacando seus principais governantes e suas cidades”.
“Uma aula de história, de boa música, de versos que teem o que dizer!!!
Bons tempos os das letras que ensinavam alguma coisa.
Triste ter que ouvir hj coisas como " dar uma fugidinha..", "rebolation tion" entre outras bestialidades!
Embora a gente saiba que o que existe e sempre existiu foram apenas dois tipos de música: a boa e a ruim, mas dávamos mais valor à boa!”.
“Nossa! quanta ignorância por causa de uma musica. S Egito é ou foi negro sim , que tal aprender um pouco de História? Não a Historia Eurocentrica. que dividiu e dizimou a Africa, de acordo com as sua politica que implantou o colonialismo! Se um continente tão vasto foi assim devastado por um outro (que não chega ao tamanho da Nigeria, Congo e Madagascar e Africa do Sul juntos) qual o real interesse deles?
A questão aqui é historiográfica e não religiosa.....”.
“Sou baiano e gosto de poprock mas coloquei essa música para mostrar para meu filho de 16 anos que nós tinhamos aula de história em nossas músicas. Maravilha!”.
“è isso ai, isso era musica bahiana de verdade, agora são só esses axezeiros medíocres, bunda, latinha, abridor de lata, tesoura, tubo de cola, caixa de som, durex, pirex, panela, e outras danças ridiculas que surgem todos os dias, que vergonha!!!!”.
“Ignorância doi mas fazer o que né? o Brasil é um País de branco europeu e escravisador né? ou é um país mestiço afrodescendente que faz festa no terreiro mesmo salve a Reflexu´s salve as tradições africanas salve o candomblé!”.
“Gente,axé é uma palavra de origem africana da nação yorubá...então vem uns playboys e patricinhas da barra com um rock adaptado e uma batida mais rápida dizendo que cantam axé!!!Axé pessoal é Marinez,Olodum ,Ilê,Araketu,rouparam nossa cultura quando perceberam que daria dinheiro!!!I”.
“ela conta um pouco da história de madagascar e aproveita para exaltar o olodum e madagascar que fazem sempre protesto evocando igualdade e liberdade”.
“Grande letra,essa foi a melhor e mais culta fase das letras de axe,mais do axe como base de inclusao social e nao apenas como musica de fazer pular com refroes faceis como hoje em dia ,grande letra essa de madagascar.Viva olodum,Reflexus e margaret menezes,remanescente desse estilo de composição”.
“O nome da Música é madagascar Olodum, música de Rey Zulu gravada primeiramente pelo Olodum e em 1987 pela banda Reflexus que se tornou sucesso no brasil inteiro na bela voz da cantora Marinês”.
“na minha sala,quem não soubesse está letra todinha estava completamente por fora,como nossa música baiana empobreceu,mas valeu por ter sido adolescente nesta época!!!!”.
”Se alguém procurar entender o significado da letra desta canção, entenderá e reconhecerá a grandeza e majestade da raça negra. Reinos de explendor, povos poderosíssimos e cheios de sabedoria, que tiveram contato com assírios, fenícios, egípcios, babilônios, persas, hebreus, gregos, romanos e árabes, e segundo pesquisas, até com chineses”.
“puts!!!! Isso que era musica baiana de qualidade...ta!!, faziam musica boa...hj agente só ve porcaria na musica baiana, salvo alguns é claro...mas a maioria é lixo..Salve Banda reflexus, até hj tenho o disco, velhinho mas da pra matar a saudade”.
Fonte: http://www.youtube.com/all_comments?v=PzOtPwZDKW8
Se estas idéias dos comentários expostos, de uma forma ou de outra, apontam para “alguns” aspectos importantes da história da África, que podem ser vinculados a outros textos mais aprofundados sobre o assunto (como pretendo realizar em sala de aula), vejamos outras quatros letras que escolhi da Banda Olodum, para termos outras idéias da produção cultural desse grupo.
Na letra “Um povo comum a Pensar”, de Suka, o tema central é Cuba. Diz que na Ilha “(...) prá ter direitos nada nos custa (...)”. É “Latinamente um povo, Negro carxaxe a cantar (...)”. Neste sentido, bate na mente do compositor, e conseqüentemente, da Banda Baiana, que o povo de Cuba é “Um povo comum a pensar”. Pensa a partir de quem? De “Che Guevara”. Tem, igualmente, uma “Mente, Fortemente revolucionaria” com “(...) Fidel Castro, Em pró de uma classe sofrida, Proletária, Leninista”. Termina a letra dizendo: “Onde não tem mendigos, Nem tanto vilão, Aonde o dinheiro, Não é uma obsessão”.
Em “Sueños Lejos” (composição de Tosta Passarinho), a Banda é chamada a cantar Cuba, porque ela “(...) encanta, Espanta os males, pra beleza, conquistar”. Do Brasil, se vê Cuba, tem um passaporte, no entanto, “Me proibindo em Cuba entrar”. Diz a Banda Olodum que tal situação proibitiva “É uma ofensa a Cuba, Um desrespeito a mim”. Após, levanta a questão do Projeto Mamnba, que segundo o site Wikipédia, era um Mapeamento de Sítios e Monumentos Religiosos Negros da Bahia:
coordenado pelo Dr. Ordep Serra antropólogo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e por seu irmão o antropólogo Olympio Serra, através de um convênio entre a antiga Fundação Nacional Pró-Memória e a Prefeitura Municipal de Salvador, o levantamento realizado entre os anos de 1982 e 1987, totalizou cerca de duas mil sedes de cultos afro-brasileiros (Terreiros) somente na cidade de Salvador. O IPHAN, já oficializou o tombamento de vários Templos afro-brasileiros.
Termina a letra em um tom de revolta, e, solicitando a ajuda da liderança cubana: “(...) Mambo Cuba, Manda um Fidel, Fidel, voar, prá cá, Pra essa zorra melhorar”.
As outras duas letras trazem a tona os acontecimentos que giraram em torno da Chacina da Candelária (Composição de Lazinho, Guiguio e Jaccy Lee – Candelária), faz referência também a morte de índios Yanomami. Por fim, a Composição de Fernando de Itapuã e Neuber Moreno (Cara Pintada), aludindo ao movimento dos Caras Pintadas. A Banda Olodum se posiciona politicamente ao afirma que, assim, como o movimento: quer “educação” e acabar com a “corrupção”, pois, “Se o futuro nos pertence, Então temos que lutar”, dado que, “Se ficarmos de braços cruzados, Nada vai adiantar”. E arremata: “Se for pra pintar, Eu pintarei, Para conseguir educação, Eu pintarei o meu rosto, Prá acabar com a corrupção”.
Muito boa a musica, eles tentam e conseguem reinventar a africa de modo que as raizes permaneçam brasileiras, e reconhecida a musica como a pura cultura brasileira, não esta de mpb feita para gringos e o axe moderno sendo vendido nos meios de comuncação, o imortante é trazer a cultura tão rica e sabia que é esta, a cultura brasileira,
ResponderExcluiradorei em 1987 tinha 6 anos de idade e amava esta musica obrigado vc por ter postado este comentario RIQUISSIMO do valor da musica baiana é bom que estes compositores de letras ridiculas vejam isso e tomem vergonha que musica boa é aquela que tem sentido,letra e história!!! mais uma vez muito obrigado.
ResponderExcluirParabéns baianos que preservam a cultura afro, aos africanos que ate hoje mostra que é um povo forte e resistente, aos demais que não tem tempo para informa-se sobre as evidencias da civilização, duvidará que não somos todos gregos, e não somos mesmos! A engenharia de construção, agricultura, filosofia, medicina, matemática, direito...tudo foi feito Ctrl + C e Ctrl + V da pátria mãe, Africa. Pesquisem e provem...
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