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sábado, 12 de novembro de 2011

Holocausto Negado - O silêncio mentiroso dos que sabem

Holocausto Negado - O silêncio mentiroso dos que sabem

Escrevendo no New Statesman, John Pilger se baseia em 40 anos de reportagens no Oriente Médio para descrever o 'por que' do ataque sanguinário de Israel ao povo sitiado de Gaza - um ataque que tem pouco a ver com o Hamas ou com o direito de Israel de existir.

“Quando a verdade é substituída pelo silêncio,” disse o dissidente soviético Yevgeny Yevtushenko, “o silêncio é uma mentira.” Parece que o silêncio foi rompido em Gaza. Os casulos de crianças assassinadas, envolvidas em verde, junto com caixas contendo seus pais desmembrados e os gritos de dor e ódio de todos naquele campo da morte perto do mar, podem ser vistos na al-Jazeera e no YouTube, e até de relance na BBC. Mas o incorrigível poeta da Rússia não estava se referindo ao efêmero que chamamos de notícias; estava perguntando por que aqueles que sabiam nunca falavam e, dessa forma, negavam. Isso é especialmente chocante entre a intelligentsia anglo-americana. São eles que detêm as chaves para os grandes armazéns de conhecimento: as historiografias e arquivos que nos levam ao por quê.

Eles sabem que o horror que agora reina em Gaza tem pouco a ver com o Hamas ou, absurdamente, com "o direito de Israel de existir." Sabem que o oposto é verdadeiro: que o direito palestino de existir foi cancelado há 61 anos e a expulsão e, se necessário, extinção do povo nativo foi planejada e executada pelos fundadores de Israel. Sabem, por exemplo, que o infame “Plano D” resultou no despovoamento homicida de 369 cidades e aldeias palestinas pelo Haganah (exército judeu) e que massacre após massacre de civis palestinos em locais como Deir Yassin, al-Dawayima, Eilaboun, Jish, Ramle e Lydda constam em registros oficiais como “limpeza étnica.” Ao chegar à cena dessa carnificina, David Ben-Gurion, o primeiro primeiro-ministro de Israel, foi perguntado por um general, Yigal Allon, “O que devemos fazer com os árabes?” Ben-Gurion, relatou o historiador israelense Benny Morris, “fez um gesto enérgico e demissível com sua mão e disse, ‘Expulsem’”. A ordem para expulsar uma população inteira "sem consideração pela idade” foi assinada por Yitzhak Rabin, um futuro primeiro-ministro promovido pela propaganda mais eficiente do mundo como um pacificador. A terrível ironia foi abordada apenas superficialmente quando o co-líder do Partido Mapan, Meir Ya'ari, notou "a facilidade" com a qual os líderes de Israel falavam de como foi "possível e permissível pegar mulheres, crianças e idosos e encher as estradas com eles, por ser essa a imperativa da estratégia... que lembra quem usou esses meios contra nosso povo durante a Segunda Guerra... estamos horrorizados."

Cada “guerra” subsequente que Israel promoveu teve o mesmo objetivo: a expulsão do povo nativo e o roubo de mais e mais terra. A mentira de Davi e Golias, de eterna vítima, alcançou seu apogeu em 1967 quando a propaganda se tornou uma fúria justificada que alegou que os estados árabes atacaram primeiro. Desde então, a maioria dos judeus que contam a verdade, como Avi Schlaim, Noam Chomsky, a falecida Tanya Reinhart, Neve Gordon, Tom Segev, Uri Avnery, Ilan Pappe e Norman Finklestein, têm despachado esse e outros mitos e revelado um estado desprovido das tradições humanas do Judaísmo, cujo militarismo incansável é a essência de uma ideologia expansionista, sem lei e racista, chamada sionismo. “Parece,” escreveu o historiador Ilan Pappe em 2 de janeiro, “que até os crimes mais horrendos, como o genocídio em Gaza, são tratados como eventos desesperados, desconectados com o que aconteceu no passado e desassociados com qualquer ideologia ou sistema... Da mesma forma que a ideologia do apartheid explicava as políticas opressivas do governo sul-africano, essa ideologia – em sua variedade mais simplista e consensual – permitiu a todos os governos israelenses do passado e do presente desumanizar os palestinos onde quer que estejam e a se empenharem para destruí-los. Os meios mudaram de tempos em tempos, de lugar para lugar, assim como a narrativa acobertando essas atrocidades. Mas existe um padrão claro [de genocídio].”

Em Gaza, a imposição da fome e a recusa ao auxílio humanitário, a pirataria de recursos essenciais à vida como combustível e água, a recusa de medicamentos e tratamento, a destruição sistemática de infra-estrutura e a matança e mutilação da população civil, da qual 50% são crianças, atendem ao padrão internacional da Convenção de Genocídio. “É um exagero irresponsável,” perguntou Richard Falk, o Relator Especial para os Direitos Humanos das Nações Unidas para os Territórios Palestinos Ocupados e autoridade sobre lei internacional na Universidade de Princeton, “associar o tratamento dos palestinos com o registro nazista de atrocidade coletiva? Não acho.”

Ao descrever um “holocausto em andamento,” Falk estava fazendo alusão ao estabelecimento de guetos judaicos pelos nazistas na Polônia. Por um mês em 1943, os prisioneiros judeus poloneses liderados por Mordechaj Anielewiz combateram o exército alemão e a SS, mas sua resistência foi finalmente esmagada e os nazistas exerceram sua revanche final. Falk também é judeu. O holocausto em andamento de hoje, que começou com o Plano D de Ben Gurion, está em seus estágios finais. A diferença hoje é que é um projeto conjunto americano-israelense. O envolvimento, mais o “auxílio” anual de US$ 2,4 bilhões para a guerra, dão a Washington o controle de fato. É difícil acreditar que Obama, o presidente eleito, não foi informado. Franco e sem reservas ao falar sobre a guerra da Rússia na Geórgia e o terrorismo em Mumbai, o silêncio de Obama sobre a Palestina indica sua aprovação, o que é de se esperar, considerando sua subserviência ao regime de Tel Aviv e a seus lobistas durante a campanha presidencial, e a nomeação de sionistas, como seu secretário de estado, Chefe de Estado-Maior e principais conselheiros sobre o Oriente Médio. Quando Aretha Franklin cantar “Think (Pense),” seu maravilhoso hino à liberdade dos anos 60, na posse de Obama em 21 de janeiro, confio que alguém com o coração valente de Muntadar al-Zaidi, o atirador de sapatos, gritará: “Gaza!”

A assimetria de conquista e terror é clara. O Plano D agora é “Operação Chumbo Fundido,” que é a “Operação Vingança Justificada” não concluída. A última foi iniciada pelo primeiro-ministro Ariel Sharon em 2001 quando, com a aprovação de Bush, usou F-16s contra cidades e aldeias palestinas pela primeira vez. No mesmo ano, a competente Jane's Foreign Report revelou que o governo de Blair havia dado a “luz verde” para Israel atacar a Cisjordânia depois de Israel mostrar os planos secretos para um banho de sangue. Era típico da cumplicidade permanente e bajuladora do Partido dos Trabalhadores na agonia da Palestina. Entretanto, o plano israelense de 2001, relatou Jane’s, precisava do “gatilho” de um ataque suicida que causaria “numerosas mortes e ferimentos, porque o fator ‘revanche’ é crucial.” Isso “motivaria os soldados israelenses a demolirem os palestinos.” O que alarmou Sharon e o autor do plano, General Shaul Mofaz, Chefe do Estado-Maior israelense, foi um acordo secreto entre Yasser Arafat e Hamas para banir os ataques suicidas. Em 23 de novembro de 2001, agentes israelenses assassinaram o líder do Hamas, Mahmud Abu Hunud, e conseguiram seu “gatilho”; os ataques suicidas foram retomados em resposta ao seu assassinato.

Algo estranhamente parecido aconteceu no último dia 5 de novembro, quando forças especiais israelenses atacaram Gaza, matando seis pessoas. Mais uma vez, conseguiram seu “gatilho” de propaganda. Um cessar-fogo iniciado e mantido pelo governo do Hamas – que aprisionou aqueles que o violaram – foi abalado pelo ataque israelense, e foguetes caseiros foram lançados no que costumava ser a Palestina antes dos ocupantes árabes serem “limpos.” Em 23 de dezembro o Hamas ofereceu a renovação do cessar-fogo, mas a charada de Israel era tamanha que seu ataque completo a Gaza tinha sido planejado com seis meses de antecedência, de acordo com o jornal israelense Ha'aretz.

Por trás desse jogo sórdido está o “Plano Dagan,” que recebeu esse nome em homenagem ao general Meir Dagan, que serviu com Sharon em sua invasão sanguinária do Líbano em 1982. Agora chefe do Mossad, a organização de inteligência israelense, Dagan é o autor de uma “solução” que viu o aprisionamento de palestinos atrás de um muro de gueto que serpenteia através da Cisjordânia e em Gaza, efetivamente um campo de concentração. O estabelecimento de um governo colaboracionista em Ramallah sob Mohammed Abbas é uma façanha de Dagan, junto com a campanha de propaganda (hasbara) transmitida pela majoritariamente inativa, se não intimidada, mídia ocidental, que diz que o Hamas é uma organização terrorista devotada à destruição de Israel e “culpada” pelos massacres e cerco de seu próprio povo ao longo de duas gerações, muito antes de sua criação. “Nunca esteve tão bom,” disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores israelense, Gideon Meir, em 2006. “O esforço de hasbara é uma máquina bem lubrificada.” De fato, a ameaça real do Hamas é seu exemplo como o único governo eleito do mundo árabe, retirando sua popularidade de sua resistência ao opressor e atormentador dos palestinos. Isso foi demonstrado quando o Hamas frustrou um golpe da CIA em 2007, um evento identificado na mídia ocidental como “a tomada de poder do Hamas.” Semelhantemente, o Hamas nunca é descrito como um governo, menos ainda como democrático. Nem sua proposta de um acordo de dez anos como um reconhecimento histórico da “realidade” de Israel e apoio a uma solução de dois estados com uma condição justa: que os israelenses obedeçam à lei internacional e terminem sua ocupação ilegal além das fronteiras de 1967. Como toda votação anual na Assembléia Geral da ONU demonstra, 99% da humanidade concorda. Em 4 de janeiro, o presidente da Assembléia Geral, Miguel d’Escoto, descreveu o ataque israelense a Gaza como uma “monstruosidade”.

Quando a monstruosidade é feita e o povo de Gaza é ainda mais atingido, o Plano Dagan prevê o que Sharon chamou de uma “solução ao estilo de 1948” – a destruição de toda a liderança e autoridade palestinas, seguida por expulsões em massa para “cantões” menores e menores e, talvez, finalmente, para a Jordânia. Essa demolição da vida institucional e educacional em Gaza é designada para produzir, escreve Karma Nabulsi, um palestino exilado na Inglaterra, “uma visão Hobbesiana de uma sociedade anárquica: truncada, violenta, impotente, destruída, curvada... Veja o Iraque de hoje: é o que [Sharon] tinha guardado para nós e ele quase chegou lá."

A Dra. Dahlia Wasfi é uma escritora americana que escreve sobre a Palestina. Tem uma mãe judia e um pai muçulmano iraquiano. “Negar o holocausto é anti-semitismo,” escreveu em 31 de dezembro. “Mas não falo da Segunda Guerra, Mahmoud Ahmedinijad (o presidente do Irã) ou de judeus asquenazi. Refiro-me ao holocausto que estamos testemunhando e pelo qual somos todos responsáveis em Gaza hoje e na Palestina pelos últimos 60 anos... Uma vez que os árabes são semitas, a política americano-israelense não poderia ser mais anti-semita.” Ela citou Rachel Corrie, a jovem americana que foi para a Palestina defender palestinos e foi esmagada por uma escavadora israelense. “Estou no meio de um genocídio,” escreveu Corrie, “que indiretamente apóio e pelo qual meu governo é amplamente responsável.”

Ao ler as palavras de ambas, sou tocado pelo uso de “responsabilidade.” Romper a mentira do silêncio não é uma abstração esotérica, mas uma responsabilidade urgente que recai sobre aqueles com o privilégio de uma plataforma. A BBC se curvou, assim como boa parte do jornalismo, permitindo um debate vigoroso somente se dentro de limites invisíveis e imóveis, sempre temerosa da pecha de anti-semitismo. As notícias não relatadas, enquanto isso, são de que a contagem de mortos em Gaza seja equivalente a 18.000 mortos na Inglaterra. Imagine, se puder.

E existem os acadêmicos, os decanos e professores e pesquisadores. Por que estão em silêncio enquanto observam uma universidade ser bombardeada e ouvem a Associação de Professores Universitários em Gaza pedir ajuda? As universidades britânicas agora, como Terry Eagleton acredita, não são mais do que “Tescos intelectuais, produzindo um commodity conhecido como graduados, ao invés de verduras”?

E existem os escritores. No ano negro de 1939, o Terceiro Congresso dos Escritores aconteceu no Carnegie Hall em Nova Iorque, e os da estirpe de Thomas Mann e Albert Einstein enviaram mensagens e se manifestaram para se assegurarem que a mentira do silêncio fosse rompida. Pela contagem, 3.500 pessoas lotaram o auditório e em torno de mil tiveram que voltar. Hoje, diz-se que essa voz poderosa de realismo e moralidade está obsoleta; as páginas de análise literária assumem uma arrogância irônica de irrelevância; simbolismo falso é tudo. Quanto aos leitores, sua moral e imaginação política devem ser apaziguadas, não instruídas. O antiislâmico Martin Amis expressou isso bem em Visiting Mrs. Nabokov (Visitando a Sra. Nabokov): “A dominação do eu não é uma falha, é uma característica evolucionária; é assim que as coisas são.”

Se for assim que as coisas são, somos diminuídos como uma sociedade civilizada. Porque o que acontece em Gaza é o momento decisivo de nosso tempo, que ou concede à impunidade de criminosos de guerra a imunidade de nosso silêncio, enquanto distorcemos nosso próprio intelecto e moralidade, ou nos dá o poder de falar. No momento prefiro minha própria lembrança de Gaza: da coragem e resistência do povo e de sua “luminosa humanidade,” como Karma Nabulsi descreve. Em minha última viagem fui premiado com um espetáculo de bandeiras palestinas tremulando em lugares improváveis. Estava anoitecendo e as crianças o fizeram. Ninguém lhes disse para fazê-lo. Fazem mastros com galhos amarrados, e alguns deles sobem em um muro e seguram a bandeira, alguns em silêncio, outros chorando. Fazem isso nos dias em que sabem que estrangeiros estão partindo, acreditando que o mundo não os esquecerá.

Fonte: http://islamicchat.org/holocausto_negado.html

Tradução: Tradução de Maria Moreira.

Texto original: "Holocaust Denied - The lying silence of those who know"

Autor: John Pilger

Sobre o autor:



John Pilger nasceu e foi educado em Sidney, Austrália. Foi correspondente de guerra, e é cineasta e dramaturgo. Com base em Londres, escreveu a partir de muitos países e recebeu duas vezes o maior prêmio do jornalismo britânico, “Jornalista do Ano”, por seu trabalho no Vietnã e Camboja.

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