quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
“O modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade”: Beth Carvalho
Entrevista
concedida a um jornalista estilo William Waack, adestrado a ideologia pró-imperialista.
Qual foi a
sensação ao voltar a andar?
BETH
CARVALHO: A pior da minha vida. Quando pus os pés pela primeira vez no chão,
achei que nunca ia andar de novo. Parecia que não tinha mais pernas, sem força
muscular. Depois, com a fisioterapia, a recuperação foi rápida. Precisei colocar
dois parafusos de 15 cm cada um, só isso me fez voltar a andar. Agora sou
interplanetária e biônica (risos).
Em seu novo
CD, a letra “Chega” é visivelmente feminista. Por que é raro o samba dar voz a
mulheres?
BETH
CARVALHO: O mundo, não só o samba, é machista. Melhorou bastante devido à luta
das mulheres, mas a cada cinco minutos uma mulher apanha no Brasil. É um
absurdo. Parece que está tudo bem, mas não é bem assim. Sempre fui ligada a
movimentos libertários.
De que forma
o samba é machista?
BETH
CARVALHO: A maioria dos sambistas é homem. Depois de mim, Clara Nunes e
Alcione, as coisas melhoraram. O samba é machista, mas o papel da mulher é
forte. O samba é matriarcal, na medida que dona Vicentina, dona Neuma, dona
Zica comandam os bastidores da história. Eu, por exemplo, sou madrinha de
muitos homens (risos).
A senhora é
vizinha da favela da Rocinha. Como vê o processo de pacificação?
BETH
CARVALHO: Faltou, por muitos anos, a força do estado nestas comunidades. Agora
estão fazendo isso de maneira brutal e, de certa forma, necessária. Mas se não
tiver o lado social junto, dando a posse de terreno para quem mora lá há tanto
tempo, as pessoas vão continuar inseguras. E os morros virarão uma especulação
imobiliária.
Alguns
culpam o governo Leonel Brizola (1983-1987/1991-1994) pelo fortalecimento do
tráfico nos morros. A senhora, que era amiga do ex-governador, concorda?
BETH
CARVALHO: Isso é muito injusto. É absurdo. Se tivessem respeitado os Cieps, a
atual geração não seria de viciados em crack, mas de pessoas bem informadas.
Brizola discutia por que não metem o pé na porta nos condomínios da Avenida
Viera Souto (em Ipanema) como metem nos barracos. Ele não podia fazer milagre.
Defende a
permanência de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho?
BETH
CARVALHO: Olha, sou presidente de honra do PDT porque é um título carinhoso que
Brizola me deu, mas não sou filiada ao PDT. Não tenho uma opinião formada sobre
isso, porque não sei detalhes. Existe uma grande rigidez a partidos de
esquerda. Fizeram isso com o PC do B do Orlando Silva, e agora fazem com o PDT.
O que conheço do Lupi é uma pessoa muito correta. Eles deveriam ser menos
perseguidos pela mídia.
Aqui na sua
casa há várias imagens de Che Guevara e de Fidel Castro. Acredita no modelo
socialista?
BETH
CARVALHO: Eu só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a
humanidade. Não tem outro (fala de forma enfática). Cuba diz ‘me deixem em
paz’. Os Estados Unidos, com o bloqueio econômico, fazem sacanagem com um país
pobre que só tem cana de açúcar e tabaco.
Mas e a
falta de liberdade de expressão em Cuba?
BETH
CARVALHO: Eu não me sinto com liberdade de expressão no Brasil.
Por quê?
BETH
CARVALHO: Porque existe uma ditadura civil no Brasil. Você não pode falar mal
de muita coisa.
Como quais?
BETH
CARVALHO: Não falo. Tem uma mídia aí que acaba com você. Existe uma censura.
Não tem quase nenhum programa de TV ao vivo que nos permita ir lá falar o que
pensamos. São todos gravados. Você não sabe que vai sair o que você falou, tudo
tem edição. A censura está no ar.
Mas em
países como Cuba a censura é institucionalizada, não?
BETH
CARVALHO: Não existe isso que você está falando, para começo de conversa. Cuba
não precisa ter mais que um partido. É um partido contra todo o imperialismo
dos Estados Unidos. Aqui a gente está acostumada a ter vários partidos e acha
que isso é democracia.
Este não
seria um pensamento ultrapassado?
BETH CARVALHO:
Meu Deus do céu! Estados Unidos têm ódio mortal da derrota para oito homens,
incluindo Fidel e Che, que expulsaram os americanos usando apenas o idealismo
cubano. Os americanos dormem e acordam pensando o dia inteiro em como acabar
com Cuba. É muito difícil ter outro Fidel, outro Brizola, outro Lula. A cada
cem anos você tem um Pixinguinha, um Cartola, um Vinicius de Moraes... A mesma
coisa na liderança política. Não é questão de ditadura, é dificuldade de
encontrar outro melhor para ocupar o cargo. É difícil encontrar outro Hugo
Chávez.
Chávez é
acusado por muitos de ter acabado com a democracia na Venezuela.
BETH
CARVALHO: Acabou com o quê? Com o quê?
Com a
democracia...
BETH
CARVALHO: Chávez é um grande líder, é uma maravilha aquele homem. Ele acabou
com a exploração dos Estados Unidos. Onde tem petróleo estão os Estados Unidos.
Chávez acabou com o analfabetismo na Venezuela, que é o foco dos Estados Unidos
porque surgiu um líder eleito pelo povo. Houve uma tentativa de golpe dos
americanos apoiada por uma rede de TV.
A emissora
que fazia oposição ao governo e que foi tirada do ar por Chávez...
BETH
CARVALHO: Não tirou do ar. Não deu mais a concessão. É diferente. Aqui no
Brasil o governo pode fazer a mesma coisa, televisão aberta é concessão pública.
Por que vou dar concessão a quem deu um golpe sujo em mim? Tem todo direito de
não dar.
A senhora
defende que o governo brasileiro deveria cassar TV que faz oposição?
BETH
CARVALHO: Acho que se estiver devendo, deve cassar sim. Tem que ser o bonzinho
eternamente? Isso não é liberdade de expressão, é falta de respeito com o
presidente da República. Quem cassava direitos era a ditadura militar, é de
direito não dar concessão. Isso eu apoio.
Por ser
oriundo dos morros, o samba foi conivente com o poder paralelo dos traficantes?
BETH CARVALHO:
Não, o samba teve prejuízo enorme. Hoje dificilmente se consegue senhoras para
a ala das baianas nas escolas de samba. Elas estão nas igrejas evangélicas,
proibidas de sambar. Não se vê mais garoto com tamborim na mão, vê com fuzil. O
samba perdeu espaço para o funk.
Quem é o
culpado?
BETH
CARVALHO: Isso tem tudo a ver com a CIA (Agência Central de Inteligência dos
EUA), que quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os
Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura. Estas armas dos
morros vêm de onde? Vem tudo de fora. Os Estados Unidos colocam armas aqui
dentro para acabar com a cultura dos morros, nos fazendo achar que é paranoia
da esquerda. Mas não é, não.
O samba vai
resistir a esta “guerra” que a senhora diz existir?
BETH
CARVALHO: Samba é resistência. Meu disco é uma resistência, não deixa de ser
uma passeata: “Nosso samba tá na rua”.
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