Por Les Leopold*
A democracia estadunidense está sequestrada por um governo secreto que
muitos pesquisadores têm identificado como sendo uma poderosa oligarquia que
manipula dos bastidores a essência mesmo do Estado, dispondo à sua vontade e
interesses a riqueza financeira do país sem que nenhuma instituição do Estado
seja capaz de submetê-la. Utilizando a reprodução de bilhetes indiscriminadamente
e criando riqueza do nada, esta elite sem escrúpulos tem arruinado a economia
do país e tem criado a maior bolha especulativa da história, aquela do dólar,
que finalizará com a desaparição desta moeda como reserva internacional.
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Tinothy Geithner
(esquerda) secretário do Departamento de Tesouro dos Estados Unidos e Bem Bernanke
(direita) presidente da Reserva Federal (Fed), fotografados em abril de 2010,
ambos são as caras visíveis e executantes da ordem de um governo secreto que
dispõe a sua vontade de bilhões de dólares. |
Agora temos a evidencia de que
Wall Street e Washington utilizam um governo secreto muito distante do processo
democrático. Mediante uma solicitação da lei de liberdade de informação, o público
tem agora acesso a mais de 20.000 páginas de documentos da Reserva Federal
(Fed) e a 21.000 transações adicionais do Fed que se ocultaram deliberadamente,
e por bom motivo.
Estes documentos que altos funcionários
do governo ocultaram intencionalmente ao Congresso e ao público a verdadeira
dimensão dos resgates de 2008-2009, que enriqueceram a uns poucos e favoreceram
aos interesses de gigantescas firmas de Wall Street. O que sabemos agora é o
seguinte:
- Os resgates secretos de Wall
Street totalizaram 7, 77 bilhões (milhões de milhões) de dólares, 10 vezes mais
do que os 700.000 milhões de dólares do programa de resgate TARP, aprovado pelo
Congresso em 2008.
- O conhecimento dos fundos
secretos de resgate não se compartilhou com o Congresso nem sequer este
relatava ou debatia a legislação para fracionar os grandes bancos.
- O financiamento secreto fornecido
a taxas inferiores ao mercado deu a Wall Street outros 13.000 milhões de benefícios.
(É dinheiro suficiente para contratar a mais de 325.000 professores primários).
- Os fundos secretos financiaram
fusões de bancos de modo que os principais bancos cresceram ainda mais. O dinheiro
também permitiu aos bancos aumentarem seus trabalhos de lobby.
- Enquanto Henru Paulson
(secretario do Tesouro de Bush) informava ao Congresso e ao público que apenas
requeriam reformas menores para proteger do colapso a Fannie Mae (Federal
National Mortgage Association) e Freddie Mac (Federal Home Loan Mortgage
Corporation), reuniu em segredo com destacados administradores de hedge funds (Fundo
de cobertura )de Wall Street – entre eles seus ex-colegas de Goldman Sachs –
para alerta-los de que estava a ponto de nacionalizar as gigantes companhias hipotecárias,
uma ação que erradicaria quase todo o valor de mercado das companhias. Esta
informação era de um valor imenso já que permitiria que os fundos de hedge vendessem
em descoberto Fannie e Freddie e ao fazê-lo ganharam uma fortuna.
- Enquanto Timothy Geithner era
chefe da Reserva Federal de Nova Iorque, argumentou contra os esforços legislativos
do senador Ted Kaufman, democrata de Delaware, para limitar o tamanho dos
bancos porque o tema era <>,
recorda Kaufman. Entretanto, Geithner
era perfeitamente consciente dos enormes empréstimos secretos, enquanto ao
senador Kaufman se lhe ocultava este fato. Barney Frank, quem escrevia
legislações chaves sobre a reforma bancaria, tão pouco foi informado sobre os empréstimos
secretos. Não se informou a ninguém do Congresso.
O que significa tudo isto?
1. Os grandes bancos e hedge
funds (Fundo de cobertura) tinham muito mais problemas do que nos fizeram
acreditar.
Como muitos suspeitavam, todos os
grandes bancos estavam de joelhos pedindo ajuda – em segredo – enquanto diziam
a seus investidores, ao público e ao Congresso que tudo ia bem. Haviam jogado e
haviam perdido. Segundo as regras do capitalismo ideal, deveriam ter sofrido certa
<>, o valor de suas ações eliminadas pela falência
e seus administradores substituídos. Todo o sistema bancário também deveria
haver-se reorganizado de cima a baixo. Em vez disso, essas colossais irregularidades
recebia recompensas em segredo.
2. O governo secreto de Wall Street
se assegurou de que os principais bancos cresceram ainda mais, com a ajuda do
financiamento secreto.
Enquanto o Congresso debatia a
legislação para fracionar os grandes bancos e reinstituir Glass Steagall (para
separar bancos de investimentos arriscados de bancos comerciais seguros), o
governo secreto utilizava fundos públicos para crescerem ainda mais mediante
fusões apesar da má saúde de todos os bancos e a legislação se derrotou
facilmente. Como mostra dolorosamente o gráfico, os bancos demasiado grandes
para quebrar cresceram ainda mais.
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Ativos dos seis
principais bancos (em bilhões de dólares)
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3. Quanto maior chega a ser Wall
Street, mas pode comprar ao governo.
Esta parte não é secreta. Quanto mais
cresceram os seis principais bancos, mas fundos gastaram em lobby para
assegurar-se de que não sofreriam impactos contra a rentabilidade por parte da
legislação da reforma bancária. Portanto, enquanto os principais bancos
recebiam centenas de bilhões de dólares em empréstimos secretos, aumentavam seus
fundos de lobby para manter seu tamanho e seu poder. Leia e Chore:
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Gastos de lobby dos
seis principais bancos (em milhões de dólares)
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4. O governo secreto de Wall
Street projete aos sujos.
Ao principio custava compreende
que o secretario de Tesouro Paulson, ex-chefe de Godman Sachs, se arriscasse a assistir
uma reunião secreta com administradores de gigantescos hedges Funds (Fundos de
cobertura), muito dos quais costumavam trabalhar em Godman Sachs.
Como pode atrever-se o funcionário
de finanças mais importante da nação dar informações confidenciais a essas
elites dos hedges funds sobre a iminente absorção de Fannie e Freddie pelo
governo antes de informar ao Congresso e ao público? Bom, uma resposta é que
Paulson se sentiu obrigado a advertir a seus antigos companheiros da iminente
nacionalização. Talvez quisesse os por fora de perigo em caso de que estivesse
fortemente envolvido nesses mercados. Ou talvez também quisesse dar-lhes uma
informação muito valiosa para que se beneficiassem. Porém, a explicação mais
profunda, creio, é que funcionários governamentais chaves de Wall Street,
Paulson, Summers, Geithner, Orszag (o ex-chefe da OMB [oficina de Administração
e Orçamento] de Obama, que ganha milhões trabalhando para Citigroup), etc.
Realmente acredito no seguinte:
- Os bancos de Wall Street são os
melhores do mundo e estão na vanguarda da economia estadunidense. São nosso
futuro.
- Os banqueiros de Wall Street e
os administradores dos hedges funds (Fundos de Cobertura) são imensamente mais espertos
e astutos que o resto de nós. Merecem nossa admiração.
- A ajuda a que Wall Street cresça
e prospere é precisamente o mesmo que ajudar a todos os americanos e toda a
economia. Eles merecem o nosso apoio.
- As reuniões secretas para
fornecer informações confidenciais são algo normal em Wall Street. Não tem nada
de mau se um adverte a seus amigos de futuras decisões politicas que poderiam
afetar seus benefícios.
- Não tem absolutamente nada de mal
em fornecer bilhões de dólares de empréstimos secretos aos maiores e mais
brilhantes sem informar ao Congresso a respeito.
Tudo é um ciclo fechado de auto-justificação
e autoengano: Wall Street é brilhante. O que faz Wall Street é pelo bem do
país. Ajudar que Wall Street tenha benefícios é bom para o país. Ocultar a
verdade aos dirigentes eleitos democraticamente também é bom para o país porque
Wall Street é brilhante e o sabe melhor.
E de tudo isso, Wall Street esta convencido
profundamente e seu governo secreto, inclusive se Wall Street, e só Wall
Street, derrubou a economia e destruiu 8 milhões de postos de trabalhos em questões
de meses. Simplesmente brilhante.
5. Wall Street é um perigo
evidente e presente para a democracia.
Geralmente não sou alarmista. Na
verdade, frequentemente argumento contra teorias conspiratórias complacentes. Quero
acreditar que nossa democracia todavia é promissora. Porém, a quebra induzida
por Wall Street e a reação do governo me preocupam profundamente. As revelações
de Bloomberg News sugerem que o governo secreto de Wall Street sente um
profundo desdém pelo que subsistem de nossa democracia. As elites financeiras acreditam
claramente que não se pode confiar que o Congresso faça o correto, inclusive
quando é comprado e pago para que faça pelos mesmos bancos que supostamente
regula.
E quanto ao resto de nós? Não somos
mais do que uma massa analfabeta no financeiro, que tem que ser manipulado através
dos meios de comunicação de massas. Nossas mentes se podem comprar e vender
mediante um marketing cuidadoso.
Esta arrogância e corrupção
financeira são enormemente corrosivas para nossos valores democráticos. Muitos
estadunidenses já não confiam em seu governo, e com razão. Muitos estadunidenses
já não votam, e com razão. Muitos estadunidenses acreditam que a democracia,
tal como a conhecemos, é uma estafa, e com razão. Wall Street não podia haver
escrito um guia melhor para manter sua dominação.
6. Ocupa Wall Street basicamente
tem razão, porém não basta...
Os ocupantes atacaram
dramaticamente a Wall Street e capturam a imaginação do país com seu quadro de
1 por cento e 99 por cento. E a ideia se impôs se estendeu. Porém é apenas o
começo. Para recuperar nosso país do governo secreto de Wall Street temos que
desenvolver um enorme movimento dentro de 99 por cento. Enquanto esperamos que
suceda espontaneamente mediante Facebook e Twitter, todos sabem que requererá
muita organização seria que envolva milhões de nós.
Pelo momento, ninguém sabe que forma tomará.
Porém, se sabemos o seguinte: as grandes concentrações de poder e riqueza não
renunciam a seu poder e riqueza sem uma enorme resistência. O governo secreto
de Wall Street está mais que pronto para proteger-se, mesmo que signifique
subverter a democracia. Nossos ocupantes tem mostrado muito valor ao nos ajudar
a recuperar nossos direitos democráticos. Esperamos que se estenda... e pronto.
* Les Leopold é um investigador especializado em
projetos de educação, saúde, de meio ambiente e economista e foi diretor executivo
do The Labor Institute (1976) e do Public Health Institute (1986), autor de The
Looting of America: How Wall Street`s Game of Fantasy Finance Destroyed Our
Jobs, Pensions and Prosperity and What
We Can Do About It, edições Chelsea Green, 2009.
Fonte:
Tradução:
Luis Carlos (Redação do blog o povo na luta faz história)
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