sábado, 4 de fevereiro de 2012
A presidência da Liga Árabe procura esconder os relatórios dos seus especialistas
Desde o início dos eventos que pairam sobre a Síria
duas interpretações que se têm opostas uma a outra: para o Ocidente e seus
aliados do Golfo, o regime esmagou de forma sangrenta a revolução popular,
enquanto que para a Síria e seus aliados do BRICS, o país é atacado por grupos
armados vindos do exterior.
Para lançar luz sobre esses eventos, a Liga Árabe
criou uma Missão de Observação composta de pessoas designadas por cada
Estado-Membro (excepto Líbano, que se recusou a participar). Esta diversidade
de especialistas constitui uma garantia contra a possível manipulação do
resultado, seu número (mais 160) e a duração da sua missão (um mês) daria um
quadro muito mais amplo daquele que estava disponível anteriormente. Até o
momento, nenhuma outra parte pode reivindicar ter realizado um levantamento tão
abrangente e meticuloso e, portanto, não pode pretender conhecer melhor a
situação na Síria.
A Comissão Ministerial da Liga Árabe, responsável
pela monitorização do Plano árabe e composto por cinco membros da Liga dos 22
(Argélia, Egipto, Oman, Qatar, Sudão) ratificou o relatório da missão de observadores
por 4 votos contra 1 (o de Qatar) e decidiu prorrogar a missão por mais um mês.
O problema é que o relatório confirmou a versão do
governo sírio e demoliu a do Ocidente e das monarquias do Golfo. Em particular,
ele demonstra que não houve repressão letal contra manifestantes pacíficos e
que todos os compromissos assumidos por Damasco têm sido escrupulosamente
respeitados. Ele também valida o fato importante de que o país está nas garras
de grupos armados, que são responsáveis pela morte de centenas de civis sírios
e milhares entre os militares, bem como de centenas de actos de terrorismo e
sabotagem.
Por esta razão, o Qatar agora pretende impedir a
divulgação do relatório por qualquer meio. Na verdade, é uma verdadeira bomba
que pode explodir nas suas mãos e contra o seu dispositivo de comunicação.
Qatar detém actualmente a Presidência da Liga, não
porque chegou a sua vez, mas porque comprou o direito á Autoridade Palestina
que teria sido o próximo na linha.
A presidência da Liga decidiu não divulgar o
relatório da Missão de Observação, nem traduzi-lo, e nem mesmo colocar a versão
original em árabe no seu site internet.
O risco contra o emirado Wahabita é enorme. Se por
acaso o público ocidental tiver acesso ao relatório, será ao Qatar e aos seus
proxies que se pedirão explicações em termos de deficiências democráticas e
envolvimento no massacre de populações civis.
Tradução de David Lopes (Rede Voltaire)
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