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domingo, 12 de junho de 2011

O Livro e a América - Castro Alves (Poesia e Áudio)








O Livro e a América - Castro Alves

AO GRÊMIO LITERÁRIO




Talhado para as grandezas,

P'ra crescer, criar, subir,

O Novo Mundo nos músculos

Sente a seiva do porvir.

—Estatuário de colossos —

Cansado doutros esboços

Disse um dia Jeová:

"Vai, Colombo, abre a cortina

"Da minha eterna oficina...

"Tira a América de lá".

Molhado inda do dilúvio,

Qual Tritão descomunal,

O continente desperta

No concerto universal.

Dos oceanos em tropa

Um—traz‑lhe as artes da Europa,

Outro — as bagas de Ceilão...

E os Andes putrificados,

Como braços levantados,

Lhe apontam para a amplidão.

Olhando em torno então brada:

"Tudo marcha!... O grande Deus!

As cataratas — p'ra terra,

As estrelas—para os céus

Lá, do pólo sobre as plagas,

O seu rebanho de vagas

Vai o mar apascentar...

Eu quero marchar com os ventos,

Com os mundos... co'os firmamentos!!!

E Deus responde — "Marchar!"

"Marchar!... Mas como?... Da Grécia

Nos dóricos Partenons

A mil deuses levantando

Mil marmóreos Panteons?...

Marchar cota espada de Roma

—Leoa de raiva coma

De presa enorme no chão,

Saciando o ódio profundo...

—Com as garras nas mãos do mundo,

—Com os dentes no coração?...

"Marchar!... Mas como a Alemanha

Na tirania feudal,

Levantando uma montanha

Em cada uma catedral?...

Não!... Nem templos feitos de ossos,

Nem gládios a cavar fossos

São degraus do progredir...

Lá brada César morrendo:

"No pugilato tremendo

"Quem sempre vence é o porvir!'

Filhos do sec'lo das luzes!

Filhos da Grande nação!

Quando ante Deus vos mostrardes,

Tereis um livro na mão:

O livro — esse audaz guerreiro

Que conquista o mundo inteiro

Sem nunca ter Waterloo...

Eólo de pensamentos,

Que abrira a gruta dos ventos

Donde a Igualdade voou!...

Por uma fatalidade

Dessas que descem de além,

O sec'lo, que viu Colombo,

Viu Guttenberg também.

Quando no tosco estaleiro

Da Alemanha o velho obreiro

A ave da imprensa gerou...

O Genovês salta os mares...

Busca um ninho entre os palmares

E a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência

Desta sede de saber,

Como as aves do deserto —

As almas buscam beber...

Oh! Bendito o que semeia

Livros... livros à mão cheia...

E manda o povo pensar!

O livro caindo n'alma

É germe—que faz a palma,

É chuva—que faz o mar.

Vós, que o templo das idéias

Largo — abris às multidões,

P'ra o batismo luminoso

Das grandes revoluções,

Agora que o trem de ferro

Acorda o tigre no cerro

E espanta os caboclos nus,

Fazei desse "rei dos ventos"

—Ginete dos pensamentos,

—Arauto da grande luz!...

Bravo! a quem salva o futuro

Fecundando a multidão!...

Num poema amortalhada

Nunca morre uma nação.

Como Goethe moribundo

Brada "Luz!" o Novo Mundo

Num brado de Briaréu...

Luz! pois, no vale e na serra...

Que, se a luz rola na terra,

Deus colhe gênios no céu! . . .

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