domingo, 15 de janeiro de 2012
Antecedentes do Estado de Israel contemporâneo, mitos e realidades
A propósito da candente situação do Oriente Médio,
meios de imprensa israelenses, bem como políticos e analistas de marcada
tendência sionista, dentro e fora de Israel, especialmente do atual governo,
começaram com destacada insistência a reclamar a suposta necessidade de um
"Grande Israel", que ampliando suas fronteiras aos custos dos países
árabes vizinhos consolide sua capacidade defensiva.
Especulando
sobre um eventual ataque de mísseis iraniano e uma possível resposta
israelense, assumem com embasamento bíblico (Antigo Testamento), um Israel que
abarque um território que compreenda a península do Sinai e partes do Líbano,
Síria e Jordânia. Podemos considerar válida de algum ponto de vista esta
pretensão sionista, que nos arroja uma aproximação histórica desta situação?
Desde a Antiguidade até 1948 o território que ocupa
na atualidade o Estado de Israel foi governado por inumeráveis potências e
impérios estrangeiros. As fronteiras nunca foram as mesmas, como também não o é
seu nome. A maior parte do tempo, exceto durante a etapa dos reinos de Israel e
Judeia e dos cruzados, o território não foi um ente político independente, mas
constituiu uma província menor governada pelas metrópoles dos diferentes
impérios ocupantes.
No ano 638 os árabes capturaram Jerusalém e a
Palestina deixou de ser parte do império bizantino. Durante o califado árabe,
de 638 a 1099, a maioria da população adotou o idioma árabe e produziram-se
numerosas conversões ao Islã por parte da população cristã. Nem sequer os
aproximadamente 200 anos de controle cruzado e seus Reinos Francos puderam
mudar esta tendência e a queda de Jerusalém nas mãos do sultão seldjúcida
Saladino marcou o princípio do fim das cruzadas nestes territórios.
A partir de 1517, após a conquista do Sultão
Suleiman O Magnífico e até 1918 Palestina fez parte do Império Turco Otomano,
como mais uma província deste, com Jerusalém como capital administrativa.
Devido às perseguições de judeus na Rússia em 1881
e ao incremento do antissemitismo na Europa, com seu momento mais candente no
julgamento do oficial francês de origem judaica Richard Dreyfus, acusado de
espiar a favor do exército alemão, começaram com força, a partir de 1882, as
emigrações à província palestina do império otomano.
Theodore Herlz, ideólogo sionista, iniciou a
campanha para a fundação de um Estado para o povo judeu, ideia que encontrou
apoio nos judeus da Europa Oriental. Em 1897, celebrava-se na Basileia o
primeiro Congresso Sionista, que elegeu uma bandeira, um hino e fundou uma
organização internacional.
No ano de 1917, no mês de dezembro, o general
britânico Allenby entrou em Jerusalém, terminando assim com quatro séculos de
dominação turca. No mês de novembro desse mesmo ano, produziu-se a declaração
unilateral do governo britânico que deu seu apoio ao estabelecimento de um Lar
Nacional judeu na Palestina, com a conhecida Declaração Balfour.
Durante os anos 1918 e 1919, os contatos entre o
líder sionista, Chaim Weizmann, e o líder árabe, Emir Faisal, alentaram a
esperança de que as aspirações nacionais de árabes e judeus pudessem ter lugar
no marco da cooperação e da justiça internacionais.
A 10 de agosto de 1920, assina-se o Tratado de
Sevres entre a Turquia e as Nações Aliadas vencedoras na I Guerra Mundial. Em
seu artigo 95, prevê explicitamente os termos da Declaração Balfour sobre o
estabelecimento do Lar Nacional judeu em Palestina.
Em 1920, assina-se o Tratado de San Remo, no qual a
Sociedade das Nações acorda dar o Mandato da Palestina à Grã-Bretanha, em
aplicação do artigo 22 do Pacto da Sociedade de Nações. Os territórios inclusos
no mandato eram os atuais territórios da Jordânia, Israel, Cisjordânia, Gaza e
as Colinas de Golã (estes últimos foram entregues a França, potência mandatária
da Síria).
A 24 de julho de 1922, o Conselho da Sociedade das
Nações ratifica os termos da Declaração Balfour.
Após um atraso de dois anos estabeleceram-se os
Mandatos de 23 de setembro de 1923. O texto do Mandato da Palestina continha em
seu preâmbulo o texto da Declaração Balfour: "...conexão histórica do povo
judeu com a Palestina...a criação de seu lar nacional...". E em seu artigo
6: "...à potência administradora (Reino Unido) impõe-se a tarefa de
facilitar a imigração judaica e seu assentamento sempre assegurando que os
direitos e posição dos outros habitantes para que não sejam prejudicados".
Nos anos 1920 e 1930 do século passado a imigração
judia aumentou de maneira significativa, as compras de terras aos árabes
palestinos originários e os confrontos entre ambas partes se fizeram norma nos
territórios. Ante a impossibilidade de controlar a situação na Palestina, a
Grã-Bretanha estabeleceu a Comissão Peel em 1937, em cujo relatório se propunha
a partição da Palestina em um estado judeu e outro árabe, ficando sob mandato
britânico Jerusalém, Belém e Nazaré.
Um terço do território seria judeu e o resto seria
árabe, unindo-se a Jordânia. Estes termos foram aceitos pelo Congresso Mundial
Sionista e pelo Emir Abdullah da Jordânia, enquanto foram recusados pelo Alto
Comitê Árabe em sua reunião de Bludan (Síria). A tentativa de aplicação do
Relatório Peel provocou o aumento dos ataques de militantes independentistas
árabes nos territórios.
A situação instável obrigou a Grã-Bretanha a
designar uma nova comissão, liderada por Woodhead, para reconsiderar o
Relatório Peel. O resultado da comissão foi recusado por árabes e judeus.
Em 1939, a Grã-Bretanha publicou o Livro Blanco,
que não satisfez a nenhuma das partes. A Comissão Permanente dos Mandatos opinou
(não era vinculante) que o Livro Blanco não estava de acordo com a
interpretação que, de acordo com o estado administrador e o Conselho, a
Comissão tinha estabelecido para o Mandato de Palestina e que na prática tinha
estabelecido a imigração judaica sem restrições e em detrimento dos árabes
palestinos originários.
O Livro Blanco significou uma mudança na política
britânica, não tão a favor como antes em relação ao estabelecimento do Lar
Nacional judeu na Palestina, ao tentar limitar a migração judaica e nisso jogou
um papel determinante o interesse da Grã-Bretanha em manter o apoio dos líderes
árabes da região, ante a iminente guerra com a Alemanha.
Em 1942 começam as emigrações em massa de judeus
europeus à Palestina pelo genocídio da Alemanha Nazista. Em Nova York, tem
lugar a Declaração de Baltimore, que solicitou uma imigração judaica sem
restrições na Palestina e o estabelecimento de um estado, enquanto o apoio da
causa judaica começava a ser evidente em setores do governo estadunidense.
Em 1945, o presidente dos EE.UU., Truman, declarou
que urgia a imediata admissão na Palestina dos refugiados judeus europeus. Esta
declaração provocou o estabelecimento de uma Comissão anglo-americana que
publicou suas conclusões a 20 de abril de 1946 onde se chamava ao término das
restrições de admissão aos refugiados judeus e à criação de um estado
binacional sob responsabilidade das Nações Unidas.
A impossibilidade da Grã-Bretanha para levar a cabo
o mandato da Sociedade das Nações fez com que em abril de 1947 pedisse a
inclusão da "Questão Palestina" na ordem do dia na Assembléia Geral
das Nações Unidas. Encomendou-se a uma Comissão Especial de Informação (UNSCOP)
a preparação de um relatório com propostas para o futuro da zona.
As Nações Unidas adotaram, em 1947, a resolução
181(II) que estabelecia a partição da Palestina. A comunidade judaica aceitou a
citada resolução, mas não os países árabes. A 14 de maio de 1948, Israel aceita
a resolução 181(II) e declara sua independência, de fato reconhecida pelos
Estados Unidos e em um dia mais tarde pela União Soviética.
Em 1949, depois de contínuas lutas intermitentes,
assinou-se o Armistício de Rodas sob os auspícios do doutor Bunche, mediador
das Nações Unidas. O citado armistício foi assinado com o Egito, Líbano,
Jordânia e Síria, enquanto o Iraque negou-se.
O mapa da zona ficou, então, da seguinte forma:
O Estado Israel, que aos 54% do território que lhe
tinha concedido o Plano de Partição de Palestina foram agregados 26% do
território ocupado nos combates.
O reino da Transjordânia anexou-se a Margem
Ocidental e mudou seu nome para reino Hachemita da Jordânia. Esta anexação foi
reconhecida pela Grã-Bretanha e pelo Paquistão, mas não por nenhum governo
árabe ou pelas Nações Unidas.
Gaza ficou sob controle egípcio na qualidade de
território administrado, mas não anexado.
Até aqui esta aproximação histórica que
consideramos deixa estabelecido que o Estado de Israel contemporâneo só pode
ser enquadrado nos anos que seguem entre finais do século XIX e meados do
século XX.
* Diplomata e colaborador da Prensa Latina.
Fonte:
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário