segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
90 anos de Brizola e a luta pela Reforma Agrária
Por Juremir Machado da Silva
Hoje, se vivo fosse, Leonel "Itagiba" de
Moura Brizola completaria 90 anos de idade. Pode-se dizer, sem exagero, Brizola
Vive! Ele, Jango e Getúlio formam a trinca de políticos gaúchos mais
importantes dos últimos 80 anos. Brizola ainda deslumbra seus admiradores pela
coragem, pela ousadia, pelas grandes reformas - encampou duas empresas
multinacionais incompetentes e parasitas - e pelo papel que desempenhou em
relação à reforma agrária e à educação.
Digo, depois de muito estudar, que Leonel Brizola
foi o melhor governador da história do Rio Grande do Sul. Hoje também é o dia
dos 50 anos do começo da luta por reforma agrária no Banhado do Colégio, em
Camaquã, onde o agricultor Epaminondas Silveira e o padre Léo Schneider
lideraram comboio de 2 mil pessoas, de carroça, charretes, a cavalo e a pé, por
10 quilômetros. Exigiam que o governo retomasse terras do Estado griladas por
fazendeiros. Brizola entrou na parada e mudou o jogo.
É emocionante ler as manchetes dos jornais da
época. Capa da Última Hora: "Camaquã imita Sarandi - Mais de 2 mil
camponeses pedem terra". Outra da intrépida UH: "Colonos de Camaquã -
Só a morte nos expulsa daqui". Os fazendeiros queriam que o III Exército
fizesse o serviço sujo e expulsasse os sem-terra. Brizola preferiu um caminho inusitado
como destaca Elio Copes: "Decretou a área do Banhado do Colégio (cerca de
20 mil hectares) de utilidade pública para fins de reforma agrária, deu apoio
ao acampamento, tais como, alimentação, atendimento de saúde e iniciou um
trabalho de inscrição dos acampados, levantamento da condição social de cada
família, que serviria para a seleção para, mais tarde, receberem os lotes. Após
cinco meses do acampamento, tempo que levou para providenciar na documentação
dos lotes, o então governador Leonel Brizola esteve no Banhado do Colégio, onde
fez a entrega dos primeiros 134 lotes, marcando, assim, um novo marco de
desenvolvimento para o local". Algo nunca visto antes.
Elio Copes organiza, em Camaquã, as comemorações
desse cinquentenário da primeira reforma agrária realmente bem-sucedida do
Brasil. Brizola era de faca na bota. Fez uma que cala todos os maledicentes.
Promoveu reforma agrária na fazenda Pangaré, de sua propriedade, em Palmares.
Distribuiu 1.080 de 2.300 hectares para pequenos agricultores plantarem arroz.
Cada um recebeu um lote de 35 hectares, casa e três vacas holandesas.
De fato, esse Brizola era muito perigoso,
subversivo, assustador. Não cumpriu o papel tradicional de repressor de
movimentos sociais, criou milhares de escolas, não se mixou para os americanos,
enfrentou os interesses dos estancieiros donos do Rio Grande do Sul, suportou
com galhardia o pau que levava diariamente dos setores conservadores da
Assembleia Legislativa e, findo seu mandado de governador, elegeu-se deputado
pelo Rio de Janeiro com um voto em cada quatro eleitores, como se diz, de cola
em pé. Esse era de meter medo. Só podia virar inimigo público de todos os
reacionários e dos golpistas de 1964.
Abaixo, veja reportagem da TV Brasil sobre os 90
anos de Leonel Brizola.
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