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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Quem está por trás de Yoani Sánchez?

Por Salim Lamrani*

Yoani Sanchez, famosa blogueira de Havana, é uma personagem peculiar no mundo dos dissidentes cubanos. Jamais, nenhum oponente se beneficiou tanto de uma exposição midiática tão massiva nem de reconhecimento internacional de tamanha dimensão em tão pouco tempo.

Depois de emigrar para a Suíça em 2002, voltou para Cuba dois anos depois, em 2004. Em 2007, ingressou no mundo da oposição em Cuba para criar o seu blog Geração Y , e se torna uma crítica ferrenha ao governo de Havana.

Jamais nenhum dissidente em Cuba , talvez no mundo, conseguiu tantos prêmios internacionais em tão pouco tempo, com uma característica peculiar: “doaram” aYoani Sanchez dinheiro suficiente para viver tranquilamente em Cuba, o resto de sua vida. Na verdade, a blogueira recebeu 250. 000 Euros no total, ou uma quantidade equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo de um país como a França, quinta potência mundial.

O salário mínimo mensal em Cuba é de 420 pesos, equivalente a 18 dólares ou 14 euros, Yoani Sánchez ganhou o equivalente a 488 anos de salário mínimo cubano para suas atividades de oposição.

Yoani Sanchez está em estreita relação com a diplomacia norte americana em Cuba, como indica um telegrama, classificado como secreto pelo seu conteúdo sensível, que emana da Seção de Interesses dos EUA (SINA). Michael Parmly, ex-chefe da SINA em Havana, que se reunia regularmente com Yoani Sanchez em sua residência pessoal diplomática, como informam os documentos confidenciais da SINA, declarou sua preocupação em relação à publicação dos telegramas diplomáticos americanos pelo Wikileaks: Me preocupa muito se as várias conversas que tive com Yoani Sanchez foram publicados. Ela poderia sofrer as consequências pelo resto da vida”. A questão que imediatamente vem à mente é esta: por que razões Yoani Sanchez estaria em perigo se a sua atuação , como afirmou, respeita os marcos da legadidade?

Em 2009, a imprensa ocidental divulgou abundantemente a entrevista que o presidente Barack Obama havia dado a Yoani Sanchez, fato que foi considerado excepcional. Yoani Sanchez também afirmou que havia enviado um questionário semelhante ao presidente cubano Raúl Castro e que ele não havia se dignado a responder o seu pedido. No entanto, os documentos confidenciais da SINA, publicado pelo Wikileaks , contradizem essas informações.

Foi descoberto que , quem realmente respondeu a esse questionário, foi um membro do corpo diplomático dos USA em Havana. que era responsável por escrever as respostas para os dissidente em nome do presidente Obama. Mais grave ainda, foi a revelação de Wikileaks de que Sanchez, contrariamente às suas afirmações, nunca enviou um questionário para Raul Castro.O chefe da SINA, Jonathan D. Farrar, confirmou esse fato em um e-mail enviado para o Departamento de Estado:ela não esperava essa resposta, porque nunca, como confessou, tinha enviado as perguntas ao presidente cubano .
A conta de Twitter de Yoani Sanchez

Além do site Geração Y , Yoani Sanchez também tem uma conta no Twitter onde registra mais de 214 mil seguidores (registrados até 12 de Fevereiro de 2012). Deste total,apenas 32 ​​deles residem em Cuba. A blogueira, por sua vez, segue a mais de 80.000 pessoas. Em seu perfil, Sanchez se apresenta da seguinte forma: Blogger, moro em Havana e conto a minha realidade em 140 caracteres . Tuito via SMS, sem acesso à web.

Entretanto a versão de Yoani Sanchez é pouco convicente. Na verdade, é absolutamente impossível seguir mais de 80 mil pessoas, apenas por SMS ou a partir de uma ligação semanal de um hotel. O acesso diário à rede é essencial para isso.

A popularidade na rede social Twitter depende do número de seguidores. Quanto maior o número de seguidores, maior será a exposição da conta. Da mesma forma, existe uma forte correlação entre o número de pessoas seguidas e a visibilidade da conta em si.

A técnica, que consiste em monitorar várias contas, é comumente usado para fins comerciais, bem como pelos políticos durante as campanhas eleitorais.

O site www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da comunidade Twitter.
O estudo do caso Yoani Sanchez é revelador em vários aspectos.
Uma análise dos dados da conta do Twitter da blogueira cubana, realizada através do site, a partir de 2010 revela uma impressionante atividade da conta Yoani Sanchez. Assim, a partir de junho de 2010, Sanchez se registrou em mais de 200 contas diferentes do Twitter por dia, com picos que chegam a 700 contas em 24 horas. Ao menos que tenha passado horas do dia e da noite fazendo isso, o que parece altamente improvável, é impossível se inscrever em tantas contas em tão pouco tempo. Parece, então, que foi gerado por um robô informático.

Da mesma forma, verifica-se que cerca de 50 mil seguidores de Sanchez são realmente fantasmas ou contas inativas, criando a ilusão de que a blogueira cubana desfruta de grande popularidade nas redes sociais. Comprovadamente, dos 214 000 63 perfis da conta @ yoanisanchez, 27 000 12 são ovos (sem fotos) e 20 000 têm as características de algumas contas de fantasmas sem atividades de rede (zero a três mensagens enviadas a partir da criação conta).

Entre as contas fantasmas que seguem Yoani Sanchez no Twitter, 3. 363 não tem seguidores e 2 . 897 só seguem a conta da Blogueira e uma ou duas contas. Da mesma forma, algumas contas apresentam características bastante estranhas: não tem seguidores, só seguem Yoani Sanchez e emitiram mais de 2 000 mensagens.

Esta operação para criar uma popularidade fictícia no Twitter é impossível de ser realizada sem acesso à Internet.Necessita também de apoio tecnológico e de um orçamento que cubra esses gastos. De acordo com pesquisa realizada pelo jornal La Jornada , intitulado O ciberacarreo, a nova estratégia dos políticos no Twitter , em ações envolvendo candidatos presidenciais mexicanos, numerosas empresas nos EUA, Ásia e América Latina oferecem esse serviço de popularidade fictícia ( ciberacarreo ) a preços elevados. “Para um exército de 25 mil seguidores inventados no Twitter , diz o jornal paga-se até US $ 2.000, e por 500 perfis gerenciados por 50 pessoas pode-se gastar entre 12 a 15 mil dólares.”

Yoani Sanchez emitiu uma média de 9,3 mensagens por dia. Em 2011, a blogueira postou uma média de 400 mensagens por mês. O preço de uma mensagem em Cuba é um peso conversível (CUC), representando um total de 400 CUC por mês. O salário mínimo em Cuba é de 420 pesos, ou cerca de 16 CUC. Por mês Yoani Sanchez gasta o equivalente a dois anos de salário mínimo em Cuba.
Assim, a blogueira em Cuba gasta uma quantidade que corresponde a 25mil euros por mês, se fosse francesa, ou 300 mil euros anuais.
De onde vem os recursos necessários para essas atividades?

Outras perguntas surgem de maneira inevitável:
Como pode Yoani Sanchez seguir mais de 80 000 contas sem acesso permanente à Internet?
Como conseguiu se inscrever em diferentes contas, cerca de 200 por dia em média desde junho de 2010, com picos de mais de 700 contas?
Quantas pessoas realmente acompanham as atividades da oposição cubana na rede social?
Quem financia a criação de contas falsas?
Para quê?
Quais são os interesses que estão por trás da figura de Yoani Sanchez?

* Salim Lamrani, um graduado da Universidade de Sorbonne, é professor encarregado de cursos na Universidade Paris-Descartes e Universidade Paris-Est Marne-la-Vallée e jornalista francês, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Autor de Fidel Castro, Cuba e Estados Unidos (2007) epadrões duplos. Cuba, a União Europeia e os Direitos Humanos(2008), entre outros livros.


Tradução do espanhol: Avelina Martinez de La Jornada

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