segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Da economia verde, aos indignados e os fóruns sociais
Por: Esther Vivas
A defesa dos bens comuns, dos ecossistemas e da
biodiversidade é hoje um dos temas mais importantes da agenda dos movimentos
sociais da América Latina, e isto é exatamente o que está em jogo na Cúpula das
Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20, que será realizada em
junho de 2012 no Rio de Janeiro. O Fórum Social Temático "Crise
Capitalista, justiça social e ambiental", que concluiu no domingo 29 de
janeiro em Porto Alegre (Brasil), serviu para estabelecer as bases para a
mobilização social com vistas a este importante encontro.
A ofensiva do capitalismo, através da economia
verde, para privatizar todos os âmbitos da vida e da natureza se intensifica. E
em um contexto de crise econômica como o atual, uma das estratégias do capital
para recuperar a taxa de lucro é mercantilizar os ecossistemas. Da mesma forma,
as novas tecnologias (nanotecnologia, agrocombustíveis, geoengenharia,
transgênicos...) são apresentadas como a alternativa à crise climática, quando
estas só intensificarão a crise social e ecológica que enfrentamos.
Tudo leva a crer que a Cúpula da Rio+20 vai servir
para liberar o caminho às empresas para legitimar suas práticas de apropriação
dos recursos naturais. Por isso, a importância da Cúpula dos Povos da Rio+20,
que será realizada dias antes da cúpula oficial, organizada por um amplo leque
de movimentos sociais, e que apresentará um programa e um roteiro alternativos.
Na Europa e nos Estados Unidos, no entanto, a
resistência indignada se foca na mobilização contra os cortes sociais, as
privatizações, o setor bancário e o pagamento de uma dívida ilegítima. Temas,
paradoxalmente, centrais na América Latina nas décadas dos anos 80, 90, 2000.
Colocar a questão da crise ecológica e a economia verde na agenda destes novos
movimentos sociais (indignad@s e ocupantes) foi outra questão apresentada
reiteradamente no Fórum Social Temático. Enfim, a necessidade de vincular a
luta pela justiça social com a luta pela justiça ecológica.
E uma última preocupação atravessou o fórum,
latente em edições anteriores e que ganha maior importância diante dos últimos
acontecimentos: repensar o processo do Fórum Social Mundial no contexto da
abertura de um novo ciclo de protesto social indignado. Os novos movimentos
sociais que vimos emerger no mundo árabe e no Magreb, Europa e nos Estados
Unidos abordam uma agenda de ação à margem dos fóruns sociais, que são um
instrumento de uma época que já acabou.
Apesar do sucesso da jornada de ação global do 15O
(15/10/2011), sua coordenação internacional foi fraca. No entanto, dez anos
atrás, os fóruns sociais (especialmente o Fórum Social Mundial e o Fórum Social
Europeu) eram uma das principais referências do movimento altermundialista e
antiguerra, então no auge, e agiam como motor de um programa e de uma agenda de
luta contra a globalização neoliberal e a guerra. Isto já é história. E agora,
esta maré indignada terá que decidir quais novos instrumentos vai utilizar para
a coordenação. O que é certo é que, neste caminho de construção de novos
processos e marcos de trabalho, a experiência do Fórum Social Mundial e das campanhas
e iniciativas altermundialistas do período anterior não terão sido em vão, pelo
contrário.
- Esther Vivas participou do Fórum Social Temático,
em Porto Alegre.
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