segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
ONU: duplo veto contra "mudança de regime" na Síria (+ Vídeo)
A luta diplomática por conta da crise na Síria
entra hoje em uma nova fase após fracassar em uma semana de esmagadoras
pressões das potências ocidentais para conseguir a queda do presidente sírio,
Bashar al-Assad.
Forças sírias ocupam duas oficinas de fabricação de
explosivos Esse objetivo estava mascarado em um projeto de resolução que
expressava o apoio do Conselho de Segurança a uma proposta da Liga Árabe na
qual o presidente sírio transferiria o governo como primeiro passo a eleições e
outras ações.
A manobra foi cortada pelo duplo veto imposto neste
sábado por Rússia e China ao documento, discutido durante oito dias pelos 15
membros desse órgão e submetido a constantes modificações que derivaram em três
versões diferentes.
A pressão dos ocidentais, encabeçados pelos Estados
Unidos, França e Grã-Bretanha, forçou a uma tensa sessão extraordinária de
sabatina e a realização da votação que concluiu com a rejeição do texto por 13
votos a favor e dois contrários.
Washington, Paris e Londres estiveram acompanhados
em seu voto pelo restante das delegações integrantes do Conselho de Segurança:
Alemanha, Portugal, Índia, Colômbia, Guatemala, Marrocos, Paquistão, África do
Sul, Togo e Azerbaidjão.
Ao explicar sua oposição à iniciativa, o embaixador
da Rússia na ONU, Vitaly Churkin, criticou as tentativas de alguns membros do
órgão que pretendem a mudança de regime na Síria.
O texto constituía um mau sinal para o conflito e
para os esforços de avançar-se para uma solução política, ao não considerar que
os grupos opositores também são responsáveis pela violência nesse país,
precisou o diplomata.
Nesse sentido, indicou que os promotores da
resolução pretendiam que o governo sírio retirasse suas forças de forma
unilateral e deixará o terreno livre aos grupos armados de oposição.
Da mesma forma criticou "influentes membros da
comunidade internacional que desde o início da crise síria estão socavando a
possibilidade de uma solução política e exortando a mudança de regime, atiçando
a oposição contra as autoridades".
Por sua parte, o chefe da representação da China,
Li Baodong, respaldou as propostas da Rússia para emendar o texto em discussão
e lamentou que o projeto tenha sido submetido a votação sem tê-las em conta.
O embaixador de Beijing reiterou a necessidade de
buscar-se uma solução política à crise síria, através do diálogo, para
restaurar a estabilidade nesse país.
A ideia de uma mudança de regime não contribui a um
arranjo, senão que complica a situação em um Estado de grande importância para
a região do Oriente Médio, sublinhou.
Churkin e Li também executaram o veto que seus
respectivos países impuseram em outubro passado a outro projeto ocidental
dirigido contra o governo de Damasco.
Após a votação de ontem, o representante permanente
da Síria perante a ONU, Bashar Jaafari, sustentou que os promotores do texto
tratavam de transformar as Nações Unidas de um instrumento criado para a paz em
uma ferramenta para a guerra.
Também acusou o ocidente e alguns países árabes de
financiar e apoiar os grupos armados opositores que tratam de derrubar ao
governo de al-Assad.
Se os responsáveis por essa situação deixam de
instigar e financiar esses terroristas, a Síria poderá resolver por si mesma a
crise através de um diálogo político, assegurou.
O documento vetado por Rússia e China impunha seis
demandas às autoridades sírias, entre elas "a retirada das forças armadas
e de segurança das cidades e povos e seu regresso aos quartéis".
Também pedia livre movimento e pleno acesso para
"todas as instituições relevantes da Liga Árabe e da imprensa
internacional e árabe a todas partes na Síria para determinar a verdade sobre a
situação sobre o terreno e monitorar os incidentes que ocorram".
Depois do veto da Rússia e da China, o secretário
geral da ONU, Ban Ki-moon, tomou partido ao lado dos países que respaldavam a
resolução recusada e lamentou que o Conselho de Segurança tenha sido incapaz de
acordar o projeto que apoiava a Liga Árabe.
Considerou que a não aprovação do texto
"socava o papel da ONU e da comunidade internacional quando as autoridades
sírias devem escutar uma voz unificada que chama pelo fim imediato de sua
violência contra o povo sírio".
O Conselho de Segurança perdeu uma oportunidade
para "decidir uma ação unida que ajude a finalizar a crise",
insistiu.
Não obstante, Moscou anunciou ontem que seu
chanceler, Serguei Lavrov, e o secretário do Conselho Nacional de Segurança,
Nicolai Patrushev, viajarão na próxima terça-feira a Damasco para reunirem-se
com o presidente al-Assad.
Quiçá trate-se do primeiro movimento de uma nova
batalha diplomática entre os promotores de uma solução política e os
impulsionadores de uma mudança de regime nesse país árabe como ocorreu na Líbia
em outubro passado.
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