sábado, 10 de março de 2012
A Carta Secreta de Obama para Teerã: A Guerra contra o Irão está Suspensa?
Por Mahdi Darius Nazemroaya
New York Times anunciou que a administração Obama tinha
enviado uma carta importante aos dirigentes do Irão a 12 de Janeiro de 2012. [1]
A 15 de Janeiro de 2012 o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros
iraniano reconheceu que a carta tinha sido entregue a Teerão através de três
canais diplomáticos:
(1) uma
cópia foi entregue ao embaixador iraniano nas Nações Unidas, Mohamed Khazaee,
pela sua equivalente norte-americana, Susan Rice, em Nova Iorque;
(2) uma
segunda cópia da carta foi entregue em Teerão pela embaixadora da Suíça, Livia
Leu Agosti; e
(3) uma
terceira cópia partiu para o Irão através de Jalal Talabani, do Iraque. [2]
Na carta, a Casa Branca expunha a posição dos EUA,
ao passo que responsáveis iranianos afirmaram que ela constitui um sinal do
real estado das coisas: os EUA não podem dar-se ao luxo duma guerra contra o
Irão.
Da carta, escrita pelo presidente Barak Hussein
Obama, constava um pedido norte-americano para o início de negociações entre
Washington e Teerão visando colocar um termo às respectivas
hostilidades."Na carta, Obama anunciava a disponibilidade para negociações
e a resolução de desacordos mútuos", declarou Ali Motahari, um negociador
iraniano, à agência noticiosa Mehr.] [3]De acordo com outro negociador
iraniano, desta feita o vice-presidente da Comissão de Segurança Nacional e
Política Exterior do Parlamento do Irão, Hussein Ebrahimi (Ibrahimi), a carta
prosseguia solicitando a cooperação e negociações do Irão com os EUA baseadas
nos respectivos interesses mútuos. [4]
A carta de Obama procurava igualmente assegurar
Teerão de que os EUA não se envolveriam em quaisquer acções hostis ao Irão. [5]
De facto, em simultâneo o Pentágono cancelou ou adiou grandes exercícios
conjuntos com Israel. [6] Para os iranianos, porém, estes gestos são
desprovidos de significado, dado que os actos da administração Obama têm sido
sempre contrários às respectivas palavras. Mais amplamente, o Irão está
persuadido de que os EUA não atacaram apenas porque sabem que os custos de uma
guerra com semelhante oponente são demasiado elevados e as respectivas
consequências demasiado arriscadas.
Todavia, isto não significa que um conflito aberto
Irão-EUA tenha sido evitado ou que não possa acontecer. As correntes podem
levar em qualquer direcção, por assim dizer. Nem tão-pouco impede que a
administração Obama esteja já a conduzir uma guerra contra o Irão e os
respectivos aliados. De facto, os blocos de Teerão e de Washington têm
prosseguido uma guerra fantasma que se prolonga da arena digital e das ondas televisivas
até aos vales do Afeganistão e às agitadas ruas de Bagdad.
A guerra contra o Irão começou há vários anos
A guerra contra o Irão não começou em 2012 ou
sequer em 2011. A revista Newsweek chegou ao ponto de afirmar num título de
página em 2010: "Assassínios, ataques cibernéticos, sabotagem ¯ será que a
guerra contra o Irão já começou?" A guerra real pode bem ter começado em
2006. Em vez de atacarem o Irão directamente, os EUA iniciaram uma guerra
encoberta e através de proxies. As dimensões secretas da guerra têm sido
travadas através de agentes infiltrados, ataques cibernéticos, vírus
informáticos, unidades militares secretas, espiões, assassinos, agentes
provocadores e sabotadores. O rapto e o assassínio de cientistas iranianos que
teve início há vários anos é uma parte constituinte desta guerra encoberta.
Nesta "guerra sombra" vários diplomatas iranianos em Bagdad têm sido
vítimas de sequestros e cidadãos iranianos em visita à Geórgia, à Arábia
Saudita e à Turquia foram detidos ou raptados. Vários responsáveis sírios e
importantes figuras palestinianas, bem como Imad Fayez Mughniyeh [dirigente do
Hezbollah libanês], foram também assassinados.
A guerra por proxies começou em 2006, quando Israel
atacou o Líbano com a intenção de expandir a guerra em direcção à Síria. O
caminho para Damasco passa por Beirute, do mesmo modo que Damasco está na rota
para Teerão. Depois do falhanço de 2006, e compreendendo que a Síria era o
ponto fulcral do Bloco de Resistência, dominado pelo Irão, os EUA e os seus aliados
passaram os cinco ou seis anos subsequentes a tentarem separar a Síria do Irão.
Os EUA combatem igualmente o Irão e respectivos
aliados na frente diplomática e na económica, através da manipulação de
organismos internacionais e de estados satélites. No contexto de 2011-12, a
crise na Síria constitui ao nível geopolítico uma frente da guerra conta o
Irão. Até mesmo os exercícios conjuntos norte-americanos e israelenses
"Austere Challenge 2012" e a correspondente deslocação de tropas
visaram primordialmente a Síria enquanto forma de combater o Irão.
A Síria no centro da tempestade
O que Washington está a levar a cabo consiste em
exercer pressão psicológica sobre o Irão como maneira de o distanciar da Síria,
de forma que os EUA e as suas legiões possam desferir o golpe mortal. Até ao
começo de Janeiro de 2012 os israelenses têm estado em permanente preparação
para o lançamento da invasão da Síria, numa repetição da iniciativa de 2006,
enquanto os EUA e a UE têm continuadamente tentado chegar a um arranjo com
Damasco, de forma a separá-la do Irão e do Bloco de Resistência. Todavia, os
sírios têm persistentemente recusado esses avanços.
Foreign Policy, a revista do Conselho de Relações
Externas (Council on Foreign Relations) norte-americano, publicou um artigo em
Agosto de 2011 expondo o que era a visão do rei Saudita acerca da Síria no
contexto do ataque ao Irão: "O rei sabe que à parte o colapso da própria
República Islâmica, nada enfraquecerá mais o Irão do que a perda da Síria.” [7]
Tenha esta afirmação sido genuinamente proferida ou não por Abdul Aziz Al-Saud,
a respectiva concepção estratégica é representativa das razões para visar a
Síria. O próprio conselheiro de segurança de Obama disse a mesma coisa, poucos
meses depois de a notícia da Foreign Policy ter sido publicada, em Novembro de
2011. O conselheiro de segurança nacional [Thomas E.] Donilon garantiu num
discurso que o "fim do regime de Assad constituiria o maior inconveniente
regional para o Irão ¯ um golpe estratégico que alterará o equilíbrio de poder
na região contra o Irão." ” [8]
O Kremlin também produziu afirmações que corroboram
a ideia de que Washington pretende separar a Síria do aliado iraniano. Um alto
responsável russo para assuntos de segurança anunciou que a Síria está a ser punida
pela sua aliança com o Irão. O secretário do Conselho Nacional de Segurança da
Federação Russa, Nikolai Platonovich Patrushev, declarou publicamente que a
Síria está submetida à pressão de Washington devido aos interesses
geoestratégicos apostados na quebra dos seus laços com o Irão, e não em virtude
de quaisquer preocupações humanitárias.] [9]
O Irão também deu sinais de que, no caso de os
sírios serem atacados, não hesitaria em intervir militarmente em seu apoio.
Washington não pretende esse curso de eventos. O Pentágono preferiria engolir a
Síria primeiro, antes de dirigir a sua atenção plena e indivisa para o Irão. O
seu objectivo consiste em superar cada obstáculo à vez. Não obstante a doutrina
militar norte-americana acerca da prossecução de guerras simultaneamente em
vários teatros de operação, e de toda a correspondente literatura do Pentágono,
a verdade é que os EUA não estão preparados para suportarem uma guerra regional
convencional simultaneamente contra o Irão e contra a Síria, menos ainda para o
risco duma guerra estendida aos aliados russo e chinês do Irão.
O caminho para a guerra, porém, está longe de ter
chegado ao fim. Por enquanto, o governo norte-americano terá de continuar com a
"guerra sombra" contra o Irão, enquanto intensifica as guerras
mediática, diplomática e económica.
Mahdi Darius Nazemroaya
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