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domingo, 26 de junho de 2011

Diz o Bom Gosto na Fotografia: “Decifra-me ou Devoro-te”.


Na obra de Memória Póstuma de Brás Cubas, do escritor Machado de Assis, há uma passagem na qual a personagem expressa o seguinte: “Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma idéia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a permear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim que é possível crer. Eu deixei-me esta a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te”.

Há alguns dias ao ler um artigo de Rick Bonadio, empresário musical e participante do programa Ídolos 2011, sobre Bom Gosto (a respeito de suas divagações fiz algumas observações críticas no blog) um fato semelhante ao do personagem de Machado de Assis aconteceu comigo. O conceito de Bom Gosto pendurou-me no trapézio de minha consciência e começou a bracejar e a permear e fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim que é possível crer. Depois de algum tempo a contemplá-lo, a representação conceitual estendeu os braços e pernas, tomando a forma de um verdadeiro X, de modo que, me inquietou a procurar decifrá-lo.

Como não existe conceito ilhado e sim em relação com alguma coisa, procurei compreende-lo na ligação com a música, agora, vou me aventurar a apreciá-lo na fotografia, deixando as características que assume em designers, programação, na área da administração, comunicações visuais, na arte, etc., para outros momentos.

Bianca Carminati (1) analisou a produção fotográfica de Miles Aldridge considerando que o mesmo deixou a humanidade de lado pelas cores fortes e contrastes que se manifestam em suas famosas fotografias.

O ponto de partida que Miles Aldridge toma para a criação fotográfica é a fuga da realidade, a qual se apresenta de modo feio, uma vez que, o contrario, o belo só manifesta-se nas imagens elaboradas em cenários reconstruídos pós produção.

“Se o mundo fosse sempre belo, limitava-me a fotografá-lo, mas como isso nem sempre acontece, então prefiro reconstruí-lo em vez de fotografar o real”

Segundo Bianca Carminati, o fotografo inglês é “um gênio no quesito [de] transformar modelos em manequins”. É tão genial que “é possível transformar as modelos em seres de outros planetas, quase irreais de tão bonitas”. De mais não?

O genial fotógrafo, quanto à função social que assume na sociedade, é semelhante à função de Zeca Pagodinho como garoto propaganda da Cerveja Brahma, ou seja, vende sua capacidade artística e sua imagem às indústrias capitalistas, visando o status da pequena burguesia ou classe merda: desculpem-me os leitores e leitoras, foi um lapso que não convém ao “bom senso” e aos “bons costumes”, o que eu quis dizer foi “de classe média”. Bianca Carminati diz que é habitual Miles Aldridge prestar serviços a “campanhas de cosméticos e editorias de beleza”.

O bom gosto se manifesta como um fetiche nas cores fortes e contrastes das fotografias, no irreal e genialidade artificial das campanhas de cosméticos e editoriais de beleza. A conclusão desta afirmação está no inicio dos comentários realizados pela articulista, quando, após usada a frase de Bertolt Brecht termina o primeiro parágrafo dizendo: “Há momentos em que se tem de escolher entre ser humano e ter bom gosto. Se isso for verdade, então o fotógrafo de moda inglês Miles Aldridge já fez a escolha dele e deixou a humanidade de lado faz tempo”.

Helmut Newton (2) em uma entrevista que concedeu dizia que “existem duas palavras sujas na fotografia; uma é arte, e a outra é bom gosto”. Fotografias, na sua apreciação, são feitas para que se expresse não-verbalmente, coisa que, muitas vezes, é necessário. Não obstante, “fazer fotografia pensando em arte, ou naquilo que se costuma considerar de “bom gosto” (...) é de cara cercear o próprio fazer fotográfico, é limitar-se a fazer o que do fotógrafo se espera. É pouco”.

Em certo momento da entrevista pergunta: “Quem define o que é arte? O ‘mercado’? Quem é o mercado; os galeristas, os artistas, os vendedores, os compradores, os colecionadores, os arquitetos, decoradores? Os críticos e jornalistas? Curadores? Ou tudo isso junto?”. Depois de levantar tais questionamentos arremata: “ouço de alguns galeristas que é necessário fazer fotos alegres, coloridas, para que se venda bem, o ‘mercado’ pede isso”.

Bom gosto nas imagens criadas, atreves das indústrias de cosmético e revistas de beleza e de fotógrafos profissionais que trabalham para o setor, tornou-se uma palavra suja, nisto estou com Helmut Newton: “o mercado pede isso”. Quase sempre o real é substituído por uma representação irreal de beleza onde o feio não tem lugar. O feio também pode ser belo, por que não?! O que acontece é que estamos envolto num ambiente visual em que as representações imagéticas distorcem a realidade, criando um mundo fetiche cheias de magia para servir ao mundo das mercadorias. Existe mais beleza na natureza do que milhões de criações artificiais do mundo da fotografia, assim como, existem milhões de fotografias nas quais diversos aspectos da beleza humanidade se apresentam como representação do real.

As formas apresentadas pelo X do bom gosto expresso nas imagens, e, de sua ousadia em provocar minha consciência e a de todos nós, no sentido de que temos de decifrá-lo, porque se não, vai devora-nos, é uma atitude de desafio aos homens e mulheres atuais. Cabe a nós se vamos ser devorados ou não. Está posto o desafio, vamos ver quem vence ou perde a batalha no campo das nossas vidas cotidianas.

Nesta batalha cada um tenta de sua maneira, de minha parte, mesmo sem ser fotografo, vou tentar uma aventura possível de erro, mas, “o maior erro é ter medo de tentar novamente, pois quem nunca errou e tentou de novo, nunca conseguiu, nunca ganhou, nunca conquistou”. Neste sentido, vou colocar algumas imagens emparelhadas para comparar diferenças e que fazem parte de recortes representativos da realidade social em que estou inserido socialmente. Antes colocarei algumas imagens “irreais de tão bonitas”, nas quais a humanidade não aparece com sua cara própria.



IMAGENS DE MILES ALDRIDGER


IMAGENS DE LUIS CARLOS



FONTES:

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