Por Luis Carlos
Jean Glénisson, na obra intitulada Iniciação aos Estudos Históricos, aprecia que ao pronunciarmos a palavra História estamos diante de algo dotado de três sentidos possíveis: realidade histórica, e História neste caso, correspondem ao ‘conjunto dos fenômenos pelos quais se manifestou, se manifesta ou se manifestará a vida da humanidade’; conhecimento histórico, sendo a História, agora, não mais a realidade objetiva do movimento do mundo e das coisas, mas, em primeiro lugar, a observação subjetiva deste movimento pelo historiador e, em segundo, o registro desta observação num relato escrito, numa obra histórica. (apud. Aquino. 1980. p. 21).
Esta observação realizada pelo historiador francês tem a função esclarecedora de nos ajudar a identificar, a partir de um ponto de vista da sociologia do conhecimento, as principais correntes historiográficas empossadas pelos próprios historiadores acadêmicos ou não. Ademais, relaciona cada uma das concepções históricas, fundamentadas nessas próprias correntes, com as teóricas e praticas do ensino de História que atualmente permeia a pedagogia do professo desta mesma disciplina.
Nesta perspectiva, a principal filiação teórica e prática dos dois últimos sentidos de História - que se limita apenas a um, ou seja, aquilo que se convencionou a denominar de concepção idealista da História – está sistematizado no instrumento básico de intervenção do Estado no Ensino de História: o Parâmetro Curricular Nacional de História – PCN/H.
A concepção de História ai exposta é a ‘História’ como ‘conhecimento histórico’: a observação subjetiva da realidade objetiva do movimento do mundo e das coisas - a partir do(s) historiado(s) - e o registro desta mesma observação nos relatos escritos, numa obra histórica. Segundo a revista “Nova Escola”, uma das mais influentes revistas entre os professores de ensino básico, fundamental e médio, a História que o PCN-H apresenta é: “A História (...) feita de versões. Um mesmo acontecimento pode ser contado de mil formas diferentes”. Ai se ver de um lado o “acontecimento” e de outro lado as “mil formas diferentes” de contá-lo. Neste caso, História não são os acontecimentos em si como movimento do mundo social e sim as mil formas diferentes de marrá-los que é a História. Para fechar com chave de ouro, a revista aponta para a História, como conhecimento histórico, dizendo que:
A disciplina de História trabalha (...) juntando as mais diversas fontes para compor um fato histórico. Às vezes, existem múltiplas referencias [historiografia] sobre um mesmo episodio. Em outros momentos, ao contrario, sobrevive apenas uma versão. Tempos depois, alguma descoberta pode dar uma nova visão sobre o fato e gerar uma reinterpretação dos acontecimentos históricos. (acréscimo nosso).
Nesta citação, a relação entre o conhecimento histórico, como sendo a própria História, e realidade objetiva do mundo social, é bem clara no paralelo seguinte: diversas fontes / fato histórico; múltiplas referências / episódio; versão-nova versão / fato; e por fim, reinterpretação / acontecimentos históricos. Este sutil paralelo mostra que o primeiro ponto da relação é a História no sentido de conhecimento histórico. E o segundo - realidade objetiva do mundo social - é negado em favo do primeiro, uma vez que o primeiro reflete o segundo.
Ao contrario desta dicotomia apresentada existe uma inter-relação em os dois lados da moeda. A História é a realidade objetiva do mundo social, em outras palavras, é o ‘conjunto dos fenômenos pelos quais se manifestou, se manifesta ou se manifestará a vida da humanidade’. O conhecimento histórico, no interior da vida humana, é a representação dessa mesma realidade objetiva do movimento do mundo e das coisas pelos “historiadores”, que ao assumem posições de classes sociais diferenciadas, buscam registrá-lo em relatos escritos e/ou obras históricas. Considerando a situação, pode-se definir que, no processo histórico, os homens e mulheres são simultaneamente sujeitos e objetos da própria História: objetos porque determinado e sujeito porque determinante. Na perspectiva do conhecimento histórico: “o homem é, ao mesmo tempo que o ‘conhecedor’, também o ‘conhecido’. E conhecido como conhecedor, tanto como, vice-versa, conhecedor como conhecido”. (Caio Prado:1981:50).
Neste sentido, fundamentalmente, se o homem vive o presente, simultaneamente, viver o presente significa ter consciência da realidade vivida. E ter consciência da realidade significa conhecer o processo histórico que forjou as condições de vida do presente; ou melhor, é conhecer o passado, cujos traços ainda se podem perceber no presente, é conhecer as transformações por que passou e ainda passa a sociedade em que vive.
Em sendo assim, a realidade objetiva do mundo social e conhecimento histórico se interpenetra. À medida que o Ensino de História busca a construção de uma consciência histórica, a partir do conhecimento histórico, estar ao mesmo tempo identificando e reconhecendo as transformações vividas na sociedade.
O papel do ensino de História esta no fato de ver a História como às transformações vividas na sociedade e o conhecimento histórico dela como a busca de construção da consciência histórica. Porque fundamentalmente? Por que: “Em qualquer grupo, os homens precisam conhecer a História da sociedade em que atuam. Precisam ter consciência histórica para serem verdadeiramente homens”. (Aquino. op. cit. p. 17).
Segundo o autor acima, “ter consciência histórica é conhecer as transformações vividas na sociedade”. E ademais:
Ter consciência histórica significa ter consciência do nosso poder de transformação, do nosso poder de sermos os agentes da História e não seres passivos, acomodados, que sofrem a História. Por isso, ter consciência histórica significa sermos verdadeiramente homens, homens conscientes para podermos construir um mundo melhor – não como objetos, não como instrumentos de trabalho de uma classe dominante, mas como seres humanos inteiros e criativos que trabalham realizando tarefas produtivas, intelectuais ou braçais, que atendam, às necessidade da coletividade. (Idem. p. 17).
Se a visão do educador de História não for um olhar para coisas mortas do passado, mas o olhar de quem quer compreender a vida, a vida dos homens, de todos os homens, a vida do homem comum: como se alimentavam, como organizavam o seu trabalho, como pensam, como eram as leis que elaboravam... Então, nosso ‘olhar para traz’ será sempre um forma de captar a dinâmica da História, pois, História é vida, é transformação, é movimento.
Portanto, diante do exposto, fica fácil compreender que a história é uma ciência social, cujo objeto é o conhecimento do processo de transformação da sociedade ao longo do tempo. Mas, ao contrario da Revista Nova Escola, da sociedade, e não dos indivíduos: o fato isolado, o caso único, o episodio irrepetível, não são suscetíveis de tratamento cientifico, - não pertencem ao domínio da História (Sobré:1990).
BIBLIOGRAFIA:
ARROYO, Miguel. Conferência sobre o P.P.P.
FUSARI, José Cerchi. Revista Aprende Brasil. Ano 2 – nº. 09 – Fevereiro/Março 2006
GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da Educação: Um estudo introdutório. Ed. Cortez. 7º ed. São Paulo. 1990.
FREIRE, Paulo. Política e educação. São Paulo. Cortez, 2000.
LIBANEO, José Carlos. Didática. Ed. Cortez. São Paulo. 1994
PROJETO Araribá: História - obra coletiva. Ed. Moderna. São Paulo, 2006.
JR, Caio Prado. O que é Filosofia? Série - Primeiros Passos. Ed. Brasiliense, São Paulo, 1981.
SODRÉ, Nelson Werneck. Formação Histórica do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil S/A, 1990.
AQUINO, Rubens Santos Leão de et ali. História das Sociedades: das Sociedades Primitivas às Sociedades Medievais. Rio de Janeiro: Editora Ao Livro Técnico, 1980.
Parâmetro Curricular Nacional de História de 5º a 8º séries. Revista Nova Escola – Ed. Especial sobre os PCN(s), Ed. Abril.
Ameiiiiiiiiiiiiii muito bom excelente
ResponderExcluirObrigado Dryka pela apreciação a respeito do artigo. Seja bem vinda ao blogguer História e Povo. Abraços.
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