terça-feira, 27 de dezembro de 2011
A Crise do capitalismo e a perspectiva revolucionária na Hungria
Tanto na Europa como na Hungria, as forças
capitalistas realizam enormes esforços para ocultar o fato de que o capitalismo
contemporâneo está em uma profunda crise. Não podem negar a existência de
sérios problemas do capitalismo, mas tentam demonstrar que todos esses
problemas podem ser solucionados dentro do próprio capitalismo e através de
reformas capitalistas.
Partido Comunista Operário Húngaro
A Crise do capitalismo e a perspectiva
revolucionária na Hungria.
Dr. Gyula THÜRMER (25.12.2011)
Presidente do Partido Comunista Operário Húngaro
Tanto na Europa como na Hungria, as forças
capitalistas realizam enormes esforços para ocultar o fato de que o capitalismo
contemporâneo está em uma profunda crise. Não podem negar a existência de
sérios problemas do capitalismo, mas tentam demonstrar que todos esses
problemas podem ser solucionados dentro do próprio capitalismo e através de
reformas capitalistas. A verdade é que a importante crise interna do
capitalismo não pode ser solucionada através de reformas capitalistas
tradicionais. Torna-se cada vez mais real a perspectiva revolucionária para
solucionar os problemas do capitalismo.
A Hungria é um dos elementos mais frágeis do
capitalismo europeu contemporâneo. O capitalismo húngaro está numa profunda
crise, independentemente da crise mundial. Mas esta crise está se
intensificando em virtude da crise geral do capitalismo. A crise está longe de
ser resolvida, e ninguém pode prever suas consequências. Sob essas condições,
não só devemos criticar o sistema, mas também devemos, ao mesmo tempo, demonstrar
ao povo a possibilidade real de criar um novo mundo. Devemos demonstrar que o
socialismo é uma alternativa real ao capitalismo existente.
Isto significa que, na Hungria, o movimento
comunista deve entrar numa nova situação, o que representa o surgimento de
novas possibilidades e novas tarefas.
A Crise do Capitalismo Húngaro
O
capitalismo húngaro está em crise, e a crise geral do capitalismo faz com que a
crise húngara seja ainda mais profunda. A crise do capitalismo húngaro
contemporâneo pode ser explicada pelos seguintes fatores:
1. A imensa maioria dos setores da economia, tais
como a indústria, o sistema financeiro, o comércio e os serviços húngaros foram
vendidos para o capital estrangeiro.
A Hungria foi o primeiro país da Europa Central e
Oriental a abrir sua economia para investidores estrangeiros em 1989. Conforme
as estatísticas da organização da ONU encarregada dos investimentos
estrangeiros (UNCTAD), no final dos anos 90 o investimento estrangeiro direto
(IED) na Hungria somava 1,7% do PIB. Hoje esta proporção chega a mais de 70%.
Na União Européia esta proporção é de apenas de 40,9%, e na Romênia é de 36,7%.
Quase 100% dos bancos pertencem ao capital
estrangeiro. 80% da produção industrial procede de companhias multinacionais. A
economia húngara depende muito mais do capital estrangeiro que qualquer outro
país da Europa. Depois de 2011, existe o perigo real de que a superfície
agrícola húngara possa ser comprada pelo capital estrangeiro.
O papel decisivo do capital estrangeiro é uma das
características do capitalismo húngaro. Faz 20 anos, a contrarrevolução
capitalista foi resultado da atividade do capitalismo internacional, da traição
interna das forças revisionistas do partido comunista no poder e da atividade
da oposição burguesa.
Não havia uma classe dominante húngara forte. A
nova classe foi criada, de certa forma, a partir de elementos da antiga elite
governante do sistema socialista, aqueles que utilizaram sua política para
tomar parte ativa na privatização da propriedade estatal, assim como, de certa
forma, a partir de intelectuais e empresários do período socialista e, em
parte, também, por novas gerações que apareceram em cena nas últimas
décadas.
O extraordinariamente importante papel do capital
multinacional é resultado de diferentes momentos. Em primeiro lugar, as forças
capitalistas eram conscientes do fato de que o período de socialismo havia sido
um período exitoso na história húngara e que as forças sociais da sociedade
socialista, a classe operária e os trabalhadores rurais cooperativistas, eram
muito fortes. As forças capitalistas estavam interessadas em liquidar estas
classes e grupos sociais. Só viram um caminho: engajar-se ao capital
internacional. Em segundo lugar, os intelectuais liberais sempre foram voltados
para os Estados Unidos, Israel e para as forças capitalistas multinacionais e
sempre consideraram o importante papel do capital estrangeiro como algo
absolutamente normal.
Todos os governos húngaros apoiaram os
investimentos estrangeiros, ao dar subvenções recomendadas por decisões
governamentais, promover isenções de impostos, conceder subvenções para a
formação e a criação de empregos, etc.
A classe capitalista húngara está formada por
diferentes grupos. Em primeiro lugar, um pequeno, porém, influente grupo de
grandes capitalistas que têm posição na área financeira, no comércio e nos
serviços. Estão vinculados estreitamente ao capital multinacional. Em segundo
lugar, centenas de milhares de micro, pequenos e médios empresários nos âmbitos
da indústria e do comércio. Sua posição é muito frágil. Estão sob a pressão do
capital da UE e do capital chinês. Sem um grande apoio estatal, estão
condenados à morte.
Estes fatos, agora que o sistema capitalista está
em crise, têm importantes consequências. Em primeiro lugar, o capital
estrangeiro controla as áreas básicas da economia húngara. Tem poder absoluto
na área financeira e controla a área mais sensível, o comércio interno. Já que
não há uma forte produção nacional, há poucas possibilidades de que a Hungria se
defenda por seus próprios meios. Pode-se ver claramente que as companhias
multinacionais, ao tentar resolver seus próprios problemas, reduzem a produção
e fecham suas fábricas na Hungria, o que contribui para o crescimento do
desemprego.
2. A brecha entre ricos e pobres na sociedade ficou
enorme. Esta é a outra razão da crise do capitalismo húngaro. A acumulação
primitiva de capital fez com que o povo fosse privado de seus recursos. É
resultado da política de inflação, da política fiscal e da política de crédito
dos governos capitalistas dos últimos 20 anos.
A Hungria tem uma população de 10 milhões de
habitantes, 9 milhões dos quais podem ser considerados como pessoas que vivem
em condições de vida muito precárias ou, inclusive, em condições de pobreza, e
somente um milhão deles podem se considerar beneficiados com as mudanças
sociais, com a entrada na UE, etc.
Como mostram as seguintes cifras, o número dos
desesperadamente pobres, de quem vive abaixo do umbral da pobreza, aumentou
drasticamente nos últimos anos. (O umbral de pobreza é a soma dos rendimentos
de uma família que permite a seus membros alimentar-se e vestir-se, e pagar por
calefação e eletricidade). Em 1993, segundo estatísticas confiáveis, 27% da
população húngara vivia abaixo do umbral de pobreza. Na Hungria havia
aproximadamente um milhão de pobres em 1980. Hoje, seu número excede os 2,5
milhões. A décima parte mais rica da sociedade faz 7,3 vezes mais dinheiro que
a décima parte mais pobre. Talvez sejam as crianças as que estejam em situação
mais difícil, pois quase a metade da população com menos de 18 anos vive numa
família que se encontra abaixo do umbral de pobreza. Nos últimos anos, em 53%
dos lares o salário real baixou. Isto significa que, nestas famílias, o aumento
dos rendimentos foi menor que o aumento dos preços.
Está aumentando o número dos chamados pobres de
longo prazo. Os pobres de longo prazo na Hungria provêm de distintos grupos
sociais: os sem-teto, a população rural, especialmente os que vivem em
micro-comunidades, os desempregados ou expulsos do mercado de trabalho, os
lares com mais de três crianças, as famílias com apenas um dos genitores, as
anciãs solteiras e a população cigana. Um terço dos pobres de longo prazo é de
etnia cigana, embora este grupo só represente 5% da população húngara.
Nos primeiros meses de 2009, a renda média na
Hungria foi de 402 euros. Os trabalhadores manuais percebem 295 euros; os
intelectuais, 511 euros. O salário mínimo é de 250 euros. Temos que levar em
conta que os preços de consumo são praticamente iguais aos da UE.
Nos últimos 20 anos, a classe operária perdeu suas
economias obtidas na época socialista. Agora os trabalhadores utilizam suas
últimas reservas, e muitos deles já não têm mais reservas. Pode-se dizer o
mesmo dos intelectuais, dos professores e dos trabalhadores da área da saúde. A
maioria da classe operária e os intelectuais se endividaram amplamente para
comprar um apartamento, um carro, uma televisão ou simplesmente para cobrir os
custos da vida diária. Esses grupos sociais não podem mobilizar novos recursos
para fazer frente às consequências da atual crise.
3. A terceira razão e elemento característico da
crise no capitalismo húngaro é o extraordinário alto nível de corrupção.
A Hungria é o número 39 na lista de 179 países relacionados
no índice de Corrupção da Transparência Internacional, em 2007. Apesar das leis
anticorrupção, a falta de transparência cria contínuos rumores sobre casos de
corrupção na gestão do governo.
As razões destes fenômenos estão vinculadas ao
próprio capitalismo húngaro. Em primeiro lugar, a privatização da propriedade
estatal foi praticamente um roubo livre. Agora, os diferentes círculos
políticos e econômicos lutam por uma maior participação no dinheiro da UE, nas
ordens estatais e nos investimentos centrais. Em segundo lugar, o sistema legal
é muito confuso, o que beneficia aos que atuam na economia informal. Hoje em
dia, aproximadamente 30% do PIB é produzido na economia informal. Em terceiro
lugar, o atual sistema político e legal é o resultado de acordos entre
diferentes grupos da classe capitalista realizados há 20 anos. Muitos de seus
elementos já perderam sua validez. Como resultado dessa situação, o Estado
capitalista não pode cumprir algumas funções básicas, incluindo o trabalho
policial, a administração local, etc.
Possíveis vias de desenvolvimento
O desenvolvimento futuro do capitalismo húngaro
depende do desenvolvimento capitalista internacional e dos processos que
envolvem os diferentes grupos sociais da Hungria.
1. As forças capitalistas internacionais não querem
perder a Hungria. A Hungria foi um dos primeiros países a trocar o socialismo
pelo capitalismo, e serviu como exemplo para a política dos Estados Unidos e da
Alemanha, como uma forma de contrarrevolução pacífica. Esta é uma razão. A
segunda é que o capital internacional investiu grandes somas de dinheiro na
Hungria. Atualmente, as dívidas da Hungria chegam a 97% do PIB do país. As
forças capitalistas internacionais querem recuperar seu dinheiro e por isso estão
dispostas a ajudar. Em 2009, a Hungria recebeu 20 bilhões de euros como
créditos stand-by.
O FMI e as forças capitalistas internacionais
querem uma situação política mais ou menos estável na Hungria, para o que pedem
a repressão a qualquer movimento anticapitalista, mas utilizando meios "de
acordo com as normas da UE". A administração Obama parece entender, melhor
que os países da UE, que o colapso do capitalismo húngaro pode conduzir a uma
série de colapsos na região. Mas ainda não conseguiu convencer seus sócios da
UE a investir muito mais dinheiro na consolidação do capitalismo húngaro.
Para os Estados Unidos é indiferente que grupo da
classe capitalista governe politicamente a Hungria. De qualquer governo húngaro
é exigida absoluta fidelidade aos Estados Unidos e à OTAN, assim como a
participação nas missões militares da OTAN. Na política interna, a
administração dos Estados Unidos espera uma luta consequente e exemplar contra
o antissemitismo e as forças comunistas.
Os países dirigentes da UE não expressam especial
preocupação com a situação dos capitalistas húngaros. Estão convencidos, a
partir de sua própria experiência, de que, numa Hungria pertencente à UE e à
OTAN, não pode haver revoluções sociais, nem sequer levantes sociais de grande
envergadura. Os diferentes grupos políticos da UE expressam sua simpatia por
diferentes partidos políticos da Hungria. Parece que tanto a Alemanha quanto a
França não estão satisfeitos com a atuação do partido Socialista Húngaro e não
se oporiam a uma mudança de governo.
2. A classe capitalista húngara está formada por
diferentes grupos. O Partido Socialista Húngaro (MSZP) e a Aliança de
Democratas Livres (SZDSZ) representam o grande capital que está estreitamente
relacionado com o capital multinacional. Tradicionalmente, estão voltados
política e economicamente para os Estados Unidos e Israel.
A coalizão dos socialistas e liberais foi uma ótima
solução para as forças capitalistas internacionais durante muito tempo. A
Hungria participa ativamente em todas as ações militares iniciadas pelos
Estados Unidos e pela OTAN, de Kosovo ao Afeganistão. A maior parte da economia
húngara foi privatizada e vendida, em primeiro lugar, para o capital
estrangeiro durante os governos desses partidos, entre 1994 e 1998, e desde 2002
até agora. O governo encabeçado pelo Partido Socialista Húngaro foi capaz de
dividir os sindicatos que lutavam contra o governo e de garantir a "paz
social". Os socialistas foram capazes de subordinar ao MSZP todas as
organizações políticas e civis de esquerda, com exceção do Partido Comunista
Operário Húngaro. A coalizão dos socialistas e dos liberais declarou guerra ao
antissemitismo e garantiu excelentes possibilidades de desenvolvimento para os
que pertencem à comunidade judaica na Hungria. Segundo as estatísticas de
diferentes organizações judaicas, na Hungria vivem entre 50.000 e 200.000
judeus. A taxa de casamentos entre judeus está em torno de 60%.
O governo MSZP-SZDSZ faz grandes esforços, entre
outras coisas, para mudar a constituição e tornar ilegais "a negação do
Holocausto e a incitação pública ao ódio racial". O governo, preocupado
pelo fato de a Hungria ter sido o lugar da Europa onde aconteceram alguns dos
piores incidentes neonazistas dos últimos meses, planejou a reforma em resposta
à indignação pública por estas provocações.
Apesar de todos esses acontecimentos, as forças
capitalistas internacionais não estão satisfeitas com a atual atuação da
coalizão socialista-liberal. A política econômica neoliberal levou a uma
importante piora das condições de vida. Milhões de pessoas estão insatisfeitas
e começam a expressar, de diferentes formas, sua atitude antigovernamental e,
inclusive, anticapitalista. A piora das condições de vida fortaleceu duas
tendências na Hungria: o antissemitismo e as ações contra os ciganos.
A Fidesz - União Cívica Húngara - representa, em
grande parte, os pequenos e médios capitalistas, embora não rejeite o grande
capital. Está mais direcionada à Europa e à UE, de um modo geral. A Fedesz, que
foi originalmente um partido liberal, é hoje um partido que tenta unificar
todas as forças conservadoras e nacionalistas. Coopera, estreitamente, com o
Partido Popular Cristão-Democrata (KDNP).
Durante seu governo, entre 1998 e 2002, a Fidesz
basicamente cumpriu as expectativas do capital internacional. A Hungria
participou ativamente da guerra contra a Iugoslávia e o "processo de
democratização" da Europa Oriental. A política do governo da Fidesz, de
apoiar as demandas de autonomia nacional das minorias húngaras na Romênia, Eslováquia
e outros países, fez com que recebesse críticas de alguns países da UE. Os
círculos políticos dos Estados Unidos criticaram a Fidesz porque, segundo suas
análises, não lutavam o suficiente contra o antissemitismo. A Fidesz, enquanto
apoiava o capital multinacional, levou a cabo muitas medidas de apoio ao
capital húngaro, principalmente aos capitalistas médios.
Desde 2002, a Fidesz demonstrou que é o maior
partido da oposição e que é capaz de influenciar nos processos políticos na
Hungria. Organizou as grandes manifestações antigovernamentais em 2005-2006 e
impulsionou um referendo sobre assuntos básicos de política educativa e
sanitária do governo MSZP-SZDSZ. O congresso da Fidesz declarou que é
necessário criar uma "nova maioria", incluindo não somente os aliados
tradicionais da Fidesz, mas também outras forças políticas e também sindicatos
e organizações civis.
Ao mesmo tempo, a Fidesz demonstrou que não quer
exceder o marco da democracia parlamentar ou violar as normas gerais de
comportamento político da UE. A Fidesz não apoiou as grandes manifestações
sociais de 2007-2009, embora isso pudesse ter-lhes trazido bons resultados. A
ideia de uma nova maioria não se concretizou, e a Fidesz não se abriu de forma
clara a outros partidos.
Os dois grupos da classe capitalista húngara,
representados pelos partidos políticos principais, têm interesses comuns e
distintos. Todos eles estão interessados em manter o sistema capitalista. Não
querem mudar o sistema político existente. Por isso, não se modificará o limite
de 5% para entrar no parlamento. Todos os grupos da classe capitalista lutam
para conseguir uma melhor posição nas privatizações, em obter dinheiro da UE e
nos grandes investimentos estatais. Ao mesmo tempo, todos eles sabem que sua
luta interna não pode ameaçar o interesse comum da classe capitalista. O MSZP
quer manter o poder, e a Fidesz quer alcançá-lo. Ambos entendem que a União
Europeia só permite utilizar métodos parlamentaristas.
O MSZP utiliza diferentes métodos para conservar o
poder. Em primeiro lugar, interessa-lhes a atividade do Movimento por uma
Hungria Melhor (Jobbik). O Jobbik é a força de choque da classe capitalista,
desempenhando um papel similar ao que previamente desempenhou o MIÉP. O Jobbik
cumpre diferentes funções. Ao utilizar os sentimentos nacionais e slogans
radicais anticapitalistas, busca manipular as pessoas, sendo capaz, assim, de
obter votos da Fidesz. Ao mesmo tempo utiliza outras "armas" não usadas
por outros capitalistas: o anticapitalismo, o antissemitismo e as consignas
contra os ciganos. Pode tirar votos também das forças comunistas. O Jobbik
registrou a Magyar Gárda, o movimento extremista paramilitar Guarda Húngara, em
junho de 2007, como "organização cultural" para "preparar a
juventude, espiritual e fisicamente, para situações extraordinárias quando for
necessário mobilizar o povo". Conforme disse o Instituto Progressista em
um relatório, há uma maior receptividade hoje na Hungria aos movimentos extremistas
devido à pobreza e à perda de empregos resultantes da atual crise econômica.
Em segundo lugar, os socialistas tentam obter todos
os votos de esquerda. Não puderam subordinar o Partido Comunista Operário
Húngaro ao MSZP, mas foram capazes de criar, em 2006, o "Partido Operário
Húngaro de 2006", partido revisionista, que critica verbalmente o
capitalismo, mas apóia o governo socialista-liberal;
Em terceiro lugar, ajudaram no nascimento de novas
organizações como o partido "Pode haver outra política", o qual,
juntamente com o Partido Humanista, visa criar uma alternativa aos liberais.
3. Nestas condições, há duas vias básicas por onde
pode transitar a sociedade húngara: a via do capitalismo e a via da revolução
socialista.
Do ponto de vista da alternativa capitalista, é de
decisiva importância o fato de que o campo de atuação do capitalismo húngaro
esteja, principalmente, determinado pela enorme influência do capital
multinacional na economia húngara, pela dependência política, militar e
ideológica da Hungria com relação aos Estados Unidos, à OTAN e à UE.
Dentro do desenvolvimento capitalista - insistimos,
dentro do capitalismo e não como alternativa ao mesmo - há diferentes rumos
possíveis. Um deles é uma maior subordinação da Hungria ao FMI, à UE e a outros
centros capitalistas. Os governos húngaros servirão aos interesses do capital
multinacional liberando completamente todas as áreas do mercado húngaro,
liquidando os restos das empresas húngaras e reprimindo qualquer forma de
protesto das classes trabalhadoras. É a via de abandono pleno da soberania
nacional da Hungria, a via de limitação e opressão dos direitos democráticos.
Esta política será mantida, se os socialistas
continuarem no poder. Assim o declaram abertamente, manifestando seu acordo com
a política atual.
Não temos ilusões e nem podemos tê-las. Esta
política pode se manter de uma forma ou de outra, inclusive, se a Fidesz
alcançar o poder. A Fidesz também é um partido do grande capital, como o MSZP.
A única diferença, entre ambos, é que na base social da Fidesz há muito mais
representantes da pequena e média burguesia.
Os comunistas húngaros não devem apoiar esta via,
como de fato jamais o faremos. Os comunistas devem saber que a via neoliberal,
pró-FMI, piorará as condições do povo e pode levar a uma maior radicalização
das massas. Os comunistas devem estar preparados para esta situação. Devemos
lutar contra tal sucesso, que conduziria a uma virada radical direitista na
política. Não há verdadeiro perigo de que as forças fascistas ou, inclusive, de
direita radical cheguem ao poder. As atuais forças extremistas não são
suficientemente fortes, e tal fato conduziria a uma imediata intervenção da UE,
como pudemos ver na Áustria há alguns anos. Mas existe a ameaça real de que as
forças capitalistas utilizem a crise na Hungria e o fortalecimento das forças
extremistas de direita para estabelecer uma "ditadura democrática"
dirigida a "salvar a democracia".
No marco da via capitalista de desenvolvimento,
também podemos imaginar um rumo que dê mais oportunidades ao capital nacional,
às pequenas e médias empresas húngaras. Tampouco podemos descartar a
possibilidade de que, para evitar o ressentimento das massas e a aparição de
conflitos sociais em grande escala, o capital faça algumas concessões às massas
e tente mitigar os problemas econômicos e sociais do povo. Quanto à política
exterior, também pode ocorrer que a Hungria siga um rumo mais equilibrado
enquanto mantém seu compromisso com a UE e a OTAN. Por exemplo: pode
desenvolver relações mais estreitas com países árabes ou latino-americanos.
Podemos observar o desenvolvimento de uma alternativa similar dentro do sistema
capitalista em muitos países da América Latina.
Essa via é possível nas condições do capitalismo. O
atual governo e o Partido Socialista Húngaro se opõem a isto. O principal
partido da oposição, Fidesz, que representa os interesses dos capitalistas
médios húngaros, expressa sua disposição em pôr limites ao capital
multinacional, a apoiar os empresários húngaros e a limitar os rendimentos do
grande capital e dar mais às massas. A questão é: se a Fidesz - ao chegar ao
poder - realmente levará a cabo tais pretensões ou buscará um acordo com o
capital internacional.
Esta via não satisfaz plenamente os interesses da
classe operária e as melhorias são unicamente temporárias. Mas esta via oferece
algumas vantagens para as massas trabalhadoras. Permite ao PCOH cooperar com a
pequena e média burguesia sobre a base da luta comum contra o capital
multinacional, os grandes mercados e a exploração estrangeira.
Este rumo terá êxito se formos capazes de
transformar o ressentimento popular em força organizada e, assim, forçarmos os
governos capitalistas a pôr restrições ao capital. O partido Comunista Operário
Húngaro participa da luta sindical, do movimento contra as demissões, nas ações
civis para aumentar a influência dos comunistas e instituir as forças do
ressentimento das massas.
Lênin escreveu em Duas táticas da socialdemocracia
na Revolução democrática: "O proletariado deve levar a cabo a revolução
democrática, atraindo a massa do campesinato, para esmagar, pela força, a
resistência da autocracia e paralisar a instabilidade da burguesia. O
proletariado deve realizar a revolução socialista, atraindo a massa dos
elementos semiproletários da população, para destroçar, pela força, a
resistência da burguesia e paralisar a instabilidade do campesinato e da
pequena burguesia".
Outra via é a da revolução socialista. Está claro
que os problemas básicos da classe operária só podem ser resolvidos na via da
revolução socialista que supere o capitalismo. Os comunistas húngaros sempre
mantiveram esta posição, mas desde a contrarrevolução de 1989-1990 não havíamos
falado da possibilidade da revolução socialista. Agora devemos fazê-lo!
"A atual crise é uma expressão de uma crise
mais profunda, intrínseca ao sistema capitalista, que demonstra os limites
históricos do capitalismo e a necessidade da sua derrocada
revolucionária". Isto pode ser lido na declaração conjunta dos partidos
comunistas e operários em São Paulo. Nossos partidos também declararam:
"Ao enfatizar que a bancarrota neoliberal representa não só o fracasso de
uma política de gestão do capitalismo, mas o fracasso do próprio capitalismo, e
confiantes na superioridade dos ideais e do projeto comunista, afirmamos que a
resposta às aspirações emancipatórias dos trabalhadores e dos povos só pode ser
achada na ruptura com o poder do grande capital, com os blocos e alianças
imperialistas e por meio de profundas transformações de caráter libertador e
antimonopolista... Convencidos da possibilidade de outro mundo, um mundo livre
da exploração de classe e da opressão do capital, declaramos nosso compromisso
com a continuação do caminho histórico de construção de uma nova sociedade livre
de exploração de classe e opressão, ou seja, o Socialismo".
O Partido Comunista Operário Húngaro seguirá a via
da revolução socialista. Agora consideramos que nossa tarefa básica e mais
importante é demonstrar ao povo húngaro que o capitalismo não é a única forma
de vida. Devemos demonstrar que o capitalismo nunca nos dará uma vida melhor,
nunca nos dará um lugar nos parlamentos. Devemos obtê-los por meio da luta
consequente e séria. Esta via é realista e podemos criar um novo mundo, o
socialismo.
Naturalmente, recordamos as palavras de Lênin:
"Toda revolução traz uma mudança brusca nas vidas de muitas pessoas. A
menos que o momento esteja maduro para tal mudança, nenhuma revolução real pode
acontecer". Agora mesmo não podemos falar de uma situação revolucionária
na Hungria, mas podemos falar da possibilidade de que o desenvolvimento geral
da crise do capitalismo internacional e suas consequências na Hungria possam
levar ao surgimento de uma situação revolucionária.
Consideramos que nossa tarefa principal é preparar
o Partido Comunista para tal situação. Fortalecemos nossa formação
marxista-leninista. Os membros e ativistas do partido devem entender a atual
situação e o verdadeiro significado da via revolucionária.
Estudamos a experiência histórica das revoluções
socialistas na Hungria com o objetivo de utilizar as experiências que possam
ser aplicadas hoje.
Estudamos a experiência de partidos comunistas da
Grécia, Portugal, Brasil, Venezuela e outros países na busca da organização de
uma maior atividade das massas.
O partido organiza seus dirigentes sobre novas
bases. Estamos criando "centros locais revolucionários" com o
equipamento de informática necessário.
Criamos "grupos de combate" móveis que
possam participar em diferentes manifestações, ações de rua e atos solidários.
Construímos uma nova organização juvenil com jovens
profundamente dedicados à ideia da revolução.
Vamos indo diretamente às fábricas para falar com
os trabalhadores. As experiências são muito positivas. Estamos abertos a toda
iniciativa anticapitalista e antimonopolista, e participaremos de toda ação
social voltada à luta contra os grandes mercados, contra a política de moradia
neoliberal, contra os cortes de quem não pode pagar o gás ou a eletricidade.
Criamos um sistema mais efetivo de meios
alternativos, utilizando o jornal semanal Szabadsag, a internet e outros meios.
Criamos um amplo sistema de páginas web de organizações locais, utilizando a
tecnologia do Youtube e outras novas tecnologias da internet.
Lutamos por uma cooperação mais efetiva de forças
comunistas no âmbito internacional. O PCOH abandonou o PEE (Partido da Esquerda
Europeia) porque não está de acordo com a política revisionista e oportunista
do PEE. Temos certeza de que não precisaremos de uma "nova cultura política
europeia", mas sim de uma luta consequente contra o capitalismo, pelos
direitos das massas trabalhadoras. Não devemos somente criticar o capitalismo,
mas organizar a luta diária dos trabalhadores. Queremos acabar com o
capitalismo. A Esquerda Européia quer melhorá-lo. Baseamo-nos no
marxismo-leninismo, na teoria e na prática da luta de classes e nos princípios
do internacionalismo proletário. A Esquerda Europeia, desgraçadamente,
baseia-se no reformismo. A Esquerda Europeia luta contra o capitalismo apenas
verbalmente, mas na prática ajuda a fortalecer a imagem "democrática"
de uma União Europeia, do Parlamento Europeu e do sistema capitalista em geral.
Lênin disse: "Não se pode predizer o momento e
nem o rumo da revolução. Esta é governada por suas próprias leis, mais ou menos
misteriosas, mas quando chega é irresistível". Devemos estar preparados.
Fonte:
Pravda.ru
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário