sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Mudanças estruturais e superação da pobreza constituem principais pautas da região
Por Camila Queiroz (Jornalista da ADITAL)
2011 foi um ano muito agitado na esfera ambiental.
Foi um ano de lutas contra a Reforma do Código Florestal - que está mais para
Código Ruralista; de batalhas intensas para interromper a construção da
hidrelétrica de Belo Monte, que também pode se chamar de Belo Monstro, e foi
ainda um ano de preparação e expectativas.
Boa parte destas expectativas já foi frustrada com
o resultado da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima, ou simplesmente COP 17. O desfecho desse megaevento que
aconteceu em Durban, na África do Sul, de 29 de novembro até 11 de dezembro,
foi frustrante para muitos ativistas, organizações de meio ambiente e
cientistas.
Enquanto se almejava comprometimento com o meio
ambiente e a situação da Mãe Terra para conseguir curar as feridas do nosso
planeta, o que se viu foi poderosos interessados em saber quanto e para quem se
deve pagar para continuar poluindo, vulnerando, devastando.
Para Fabrina Furtado, do Jubileu Sul/Américas e
Brasil, que esteve em Durban durante a COP 17, entender este evento vai demorar
um pouco, será preciso "digerir". Após acompanhar as negociações
sobre mercado de carbono, Protocolo de Kyoto e Redução de Emissões por
Desmatamento e Emissões (REDD), a ativista resume e joga um questionamento:
"A COP é mesmo uma conferência de poluidores, um circo, e por quanto tempo
vamos continuar sendo os palhaços?".
"Precisamos falar de uma nova sociedade, da
recuperação e fortalecimento das relações indígenas e tradicionais, solidárias,
interdependentes e complementares entre os povos e entre a gente e a natureza.
E não somente em mais ou menos emissões, mais ou menos transparência, mais ou
menos regulação", sentencia.
A ativista reforça suas convicções ao citar o
documento do Jubileu Sul/Américas: Rejeitamos a mercantilização e a
financeirização da Natureza, as falsas soluções do mercado, o endividamento
imposto, a economia verde, os serviços ambientais, que continuam lucrando com a
destruição da vida. Nosso mundo não está à venda, nossa dignidade, amor pela
terra, saberes e culturas, tampouco. A Natureza, a Pachamama, a vida: Não se
vende, nem se endividam; Se defendem!
Também sobre a COP, o assessor do Fórum Mudanças
Climáticas e Justiça Social, Ivo Poletto, compartilha da opinião de Fabrina:
nada de concreto foi decidido pelos governantes do planeta na direção do acordo
necessário para controlar as emissões de gases que aumentam a temperatura da
Terra e agravam as mudanças climáticas.
Diante desse desfecho, como se pode avaliar 2011? O
que representou este ano na luta rumo à justiça social e ambiental? Avançamos?
Retrocedemos? Estagnamos? Seguimos pelo caminho certo ou erramos tentando
acertar?
Poletto sentencia: em 2011 "continuamos
aumentando teimosamente nossa responsabilidade pelo desequilíbrio que leva a
Terra a não conseguir evitar eventos climáticos extremos, com graves
consequências para todas as formas de vida".
Pelo visto, ainda temos muito o que fazer, evoluir,
lutar, organizar, pensar juntos, construir coletivamente. Nesse sentido, os
olhares se voltam para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, a Rio +20. As esperanças se renovam com a realização de mais um
evento de grande porte, que reunirá tomadores de decisões em junho, no Rio de
Janeiro (Brasil).
Mas será que a Rio+20 deve mesmo ser considerada a
tábua de salvação? Para Pedro Ivo Batista, coordenador da Rede de Integração
dos Povos (Rebrip), não há como saber se a Conferência sobre Desenvolvimento
Sustentável vai ser melhor ou pior que a COP17. "É uma incógnita",
diz.
Pedro explica que a pauta do evento de junho de
2012 é limitada e menos extensa que a da COP 17. Diferente da Conferência sobre
Mudanças Climáticas, os temas - Economia Verde e Desenvolvimento Sustentável -
já estão definidos. "Há um risco de as decisões do evento não
representarem um avanço muito grande porque a pauta é diminuída diante dos
desafios e não toca problemas de fundo", opina.
E 2012?
No próximo ano, quais questões deverão permear as
mentes e os corações da população e dos ativistas sociais? Rubens Harry Born,
coordenador executivo da instituição sócio-ambiental Vitae Civilis, aposta, com
base na COP 17, que em nível mundial voltará a ganhar força os desafios
relacionados à mudança climática.
"Não estão claras as metas de emissões dos
países ricos. Como se garantirá as promessas dos 30 bilhões de dólares para
ajudar os países pobres?", questiona.
Olhando para o Brasil, Harry Born aposta na
continuidade dos embates em torno do Código Florestal. Outro ponto será a
discussão sobre megaprojetos - siderúrgicas, mineradoras e hidrelétricas -
versus desenvolvimento segundo a realidade regional.
As previsões já foram feitas, então, que venha
2012. O indicativo dos movimentos sociais e ambientais não é de descanso, mas
de muito trabalho, todos, sem exceção, asseguram que a luta continua.
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