sábado, 21 de janeiro de 2012
"A situação no Estreito de Ormuz e as ameaças contra o Irã"
Durante os últimos dias escutamos e lemos na mídia
nacional de Porto Rico a referência a um ponto da Ásia Central conhecido como o
Estreito de Ormuz. Localizado no Golfo Pérsico, no que também se conhece como o
Mar de Omã, é um golfo estreito semelhante a um meandro de rio, que representa
a transição marítima entre o Golfo Pérsico, localizado no sul da República
Islâmica do Irã, e o começo do braço de mar conhecido como o Mar de Omã. A
importância da posição geográfica da área esteve vinculada durante séculos às
ações de piratas de atrapalhavam o trânsito marítimo nesta via de navegação. No
entanto, a partir da primeira metade do século XX, sua importância geopolítica
adquiriu uma nova dimensão, particularmente vinculada ao transporte de
petróleo.
Com uma largura de 60 a 100 quilômetros, ou seja,
muito menor do que as dimensões lineais de Porto Rico em sua face norte, e
substancialmente menor do que a largura de nossa Ilha, por este estreito
marítimo é transportada, hoje, 40% da produção de petróleo de todo o mundo.
A situação de tensão na região se agravou desde
novembro, principalmente a partir das declarações do Primeiro-Ministro
israelense Benjamin Netanyahu e seu Ministro da Defesa Ehud Barak, que
começaram a gestar no parlamento a autorização para uma ação militar contra o
Irã para impedir o desenvolvimento do seu programa nuclear. As ações dos
funcionários israelenses foram imediatamente seguidas pela Comissão
Internacional de Energia Atômica, a mesma que durante a década de 1990 e a
primeira década do século XXI respaldou as pretensões estadunidenses contra o
Iraque sob a desculpa do desenvolvimento de armas de destruição em massa e seu
alegado programa nuclear, divulgando um novo relatório no qual acusavam o Irã
de se aproximar da fabricação de um artefato nuclear.
Às gestões de Netanyahu e Barak se somaram a ações
encobertas realizadas, supostamente, por forças especiais israelenses,
estadunidenses e da OTAN, contra uma instalação bélica iraniana vinculada ao
programa de desenvolvimento de mísseis balísticos de longo alcance; e ações
dirigidas à eliminação física de cientistas iranianos comprometidos com o seu
programa nuclear.
As tensões entre os Estados Unidos e a República
Islâmica do Irã agravaram-se posteriormente em dezembro, quando as defesas
iranianas, através de um ataque cibernético, conseguiram derrubar um avião
não-tripulado estadunidense em bom estado, que realizava operações de
inteligência, e que tinha decolado do Afeganistão.
O chamado do Presidente Barack Obama à aprovação de
novas sanções econômicas contra o Irã, levou à advertência deste último: as
sanções poderiam receber a resposta de um bloqueio imposto pelas forças armadas
iranianas à navegação pelo Estreito de Ormuz. Diante da iminente aprovação de
um novo Orçamento da Defesa pelo Congresso dos Estados Unidos, que inclui a
imposição de medidas econômicas extraterritoriais em relação ao Irã, para impôr
sanções econômicas a instituições financeiras dos Estados Unidos que realizem
transações com o Irã, a resposta não demorou.
O governo iraniano realizou, nos últimos dez dias,
exercícios militares combinados na região do Estreito de Ormuz, no qual
participaram de forma ativa forças área, marítima e terrestre. Com elas, o Irã
experimentou o uso de mísseis terra-terra; terra-mar e mar-mar com o objetivo
de demonstrar não só a disposição de combate de suas tropas, mas também sua
capacidade para afetar a navegação de navios no Estreito de Ormuz. De acordo
com analistas como Elio Ohep da publicação "Petroleum World", a
finalidade dos exercícios militares iranianos é pressionar os Estados Unidos e
seus aliados para "conseguir atrasar a aplicação das sanções por parte da
União Europeia e ganhar tempo". O comentário se refere ao chamado feito
por Alain Juppé, chanceler da França, que reclama dos outros países da União
Europeia "sanções mais estritas" contra o Irã, chamando-os a seguir o
exemplo dos Estados Unidos.
As declarações dos chefes militares iranianos sobre
o sucesso dos exercícios realizados, na opinião dos porta-vozes estadunidenses,
mais do que reflexo de fortaleza, representam "uma posição de
fraqueza" e "uma confirmação de que enfrenta uma pressão
crescente"; que o Irã "está cada vez mais isolado"; e
finalmente, que com tais declarações, a República Islâmica do Irã só tenta
"desviar a atenção de sua população das dificuldades internas, incluindo
os problemas econômicos causados pelas sanções". No entanto, o Irã se
expressa indicando que está em completas condições de continuar em seu empenho,
se os planos inperialistas contra o seu governo continuarem. Diante das
declarações de que em qualquer momento poderia fechar o Estreito de Ormuz, os
Estados Unidos responderam indicando que levará a Quinta Frota com base no
Bahrein, a águas do Golfo Pérsico e ao Estreito de Ormuz para impedi-lo. Para
isso, os Estados Unidos conta com porta-aviões, submarinos nucleares, unidades
anfíbias da Infantaria da Marinha, destrutores, fragatas e aviões de combate,
aos quais poderiam possivelmente se somar navios da Segunda Frota provenientes
da Costa Leste dos Estados Unidos e outros componentes navais provenientes da
Frota localizada no Pacífico.
Um conflito na região, somaria, além disso, forças
armadas da OTAN e com certeza de Israel e outros países árabes na região,
aliados dos Estados Unidos como seriam os casos de Kuwait, Arábia Saudita e
outros emirados árabes na península arábica. No caso do Irã, os interesses da
Federação Russa e inclusive da República Popular China poderiam estar também na
linha de fogo, devido às circunstâncias que um teria maior controle dos Estados
Unidos para o balanço geopolítico da região.
Quando são debatidas todas estas coordenadas
geopolíticas, o Presidente da República Islâmica do Irã, Mahmoud Ahmadinejad,
anunciou a sua viagem pela América Latina onde visitou vários países, incluindo
a República Boliviariana da Venezuela, Equador, Nicarágua e Cuba, todos eles
países que fazem parte da ALBA. Tal visita, no contexto internacional do
desenvolvimento dos acontecimentos na Ásia, só pode ser examinada a partir da confiança
do Irã nas capacidades do seu país para, inclusive sob uma situação tão
difícil, estar em condições de que seu presidente faça mencionada viagem.
Certamente, um evento assim só pode acontecer sob a perspectiva de um
presidente e um governo firmemente convencido da estabilidade interna do seu
país e da sua capacidade para reagir a qualquer evento de provocação ou
conflito que pudesse surgir. Dessa forma, a diplomacia, em ocasiões, envia suas
mensagens a outros países.
Definitivamente, os acontecimentos na região do
Estreito de Ormuz devem manter nossa atenção nos futuros meses. Trata-se de um
conflito latente, que poderia disparar-se em qualquer momento, conflito este
que com certeza não se limitará a mais um enfrentamento dos Estados Unidos e da
OTAN com um país muçulmano, mas sim um conflito com todo o potencial de
envolver outros estados da região em uma tempestade de fogo.
Rebelión publicou este artigo com a permissão do
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