domingo, 5 de fevereiro de 2012
A “ameaça nuclear” iraniana e o realismo político israelense
Por que acreditamos na “ameaça existencial” de um
Irã nuclear quando muitos especialistas em segurança israelenses e cientistas
respeitados a consideram “insignificante”?
Ludwig
Watzal (The Palestine Chronicle)
Os políticos estadunidenses e israelenses e seus
amigos extremistas neoconservadores na Europa Ocidental e nos EUA fazem de tudo
para provocar os líderes iranianos a reagirem irracionalmente contra os
diferentes ataques terroristas por parte de seus serviços de inteligência.
Até agora, o regime iraniano se manteve calmo. Mas
a propaganda da mídia ocidental corre a toda velocidade para empurrar a
população para trás da bandeira da guerra. Especialmente nos EUA parece fácil
manipular as mentes da população ignorante, como foi o caso em relação ao
Iraque.
No Ocidente, os muçulmanos são estereotipados como
“mentirosos” e que eles só entendem a “linguagem da força”. Tal cruel percepção
é repetida principalmente pelos políticos israelenses, neoconservadores
estadunidenses e cultos islamofóbicos em todo o mundo ocidental.
A mais alta autoridade clerical do Irã, o aiatolá
Ali Khamenei, disse em junho de 2006: “Não temos problema algum com o mundo.
Não somos de maneira alguma uma ameaça ao mundo e o mundo sabe disso. Nunca
começaremos uma guerra. Não temos intenção alguma de entrar em guerra com
nenhum Estado”.
Essas claras palavras são ignoradas no Ocidente. Na
verdade, lá existe até uma fatwa (uma lei referente à lei islâmica)
estabelecida pelo aiatolá Khamenei proibindo armas nucleares sob argumentos
morais. Toda a liderança secular iraniana tem reiterado há tempos que o país
não constrói armas nucleares. O Irã tem consistentemente defendido e apoiado um
total banimento das armas nucleares e o estabelecimento de uma zona livre delas
no Oriente Médio.
Hipocrisia
Até agora, o Irã não violou nenhum tratado
internacional a respeito de sua indústria nuclear. Mesmo se o país adquirisse ou
comprasse armas nucleares, existe alguma lei internacional ou tratado que o
proíbe? Por que EUA, Reino Unido, França, Rússia, China, Israel, Coreia do
Norte, Paquistão e Índia têm o direito de possuir e posicionar armas nucleares
mas o Irã não?
Ou a razão por trás da retórica beligerante do
Ocidente contra o Irã está baseada no medo de que Israel possa perder sua
hegemonia nuclear sobre o Oriente Médio? Israel é o único Estado que possui um
gigante arsenal de bombas nucleares que se recusa a permitir o monitoramento
internacional de suas instalações letais – em desrespeito a todos tratados e
normas internacionais.
Aliás, o próprio ministro da Defesa israelense Ehud
Barak afirmou em 15 de novembro de 2011 que se ele fosse iraniano provavelmente
também buscaria armas nucleares! O Irã está rodeado pela maquinaria militar dos
EUA e seus senhores da guerra no congresso estadunidense são as forças
dirigentes. Os EUA nunca teriam atacado o Iraque se Saddam Hussein possuísse
armas nucleares, e o psicopata “menino-imperador de Crawford, Texas” certamente
sabia disso.
Por que os líderes ocidentais dão a entender que
acreditam em contos de fada sobre a “ameaça nuclear iraniana” quando o próprio
establishment de segurança israelense e eminentes historiadores militares não
acreditam? O debate em Israel mostra que a classe política local está em
desacordo. Todos os chefes do Mossad [o serviço de inteligência de Israel],
incluindo o atual, não veem “ameaça existencial” para a segurança de seu país partindo
do Irã.
Discordância interna
Outros ex-chefes do Mossad e membros da cúpula do
establishment de segurança, assim como o ex-chefe de equipe Gabi Ashkenasi e o
ex-chefe do Shin Bet [serviço de segurança interna] Yuval Diskin discordam
abertamente do primeiro- ministro Benjamin Netanyahu e de Barak sobre um ataque
às unidades nucleares iranianas.
O jornal israelense Haaretz afirmou que o ex-chefe
do Mossad Meir Dagan disse que isso seria “a coisa mais estúpida que eu já
ouvi”. “O Irã tem uma infraestrutura nuclear clandestina que funciona ao lado
de sua legítima infraestrutura civil. É esta que está sob supervisão
internacional da Agência Internacional de Energia Atômica (AEIA). Qualquer
ataque contra essa infraestrutura legítima seria ‘evidentemente ilegal sob a
lei internacional’”. Sobre as prováveis consequências de um ataque desses,
Dagan afirmou: “Ele seria seguido por uma guerra contra o Irã. É o tipo de
coisa que sabemos como começa mas não como acaba”.
Outro chefe do Mossad, Ephraim Halevy, disse, em
novembro do ano passado, que “um ataque ao Irã poderia ter um efeito devastador
para a região. A radicalização ultraortodoxa é ameaça muito maior do que o
Ahmadinejad. O Estado de Israel não pode ser destruído, mas um ataque ao Irã
poderia afetar não apenas Israel como toda a região por 100 anos”. Talvez o
realismo político se sobreponha ao aventurismo político da elite política de
Israel.
A pergunta que toda pessoa razoável do Ocidente tem
que se fazer é: “por que acreditamos nessa propaganda sobre a ‘ameaça
existencial’ de um Irã nuclear à Israel e ao Ocidente quando muitos
especialistas em segurança israelenses e cientistas respeitados a consideram
‘insignificante’”?
Tradução: Igor Ojeda (31/01/2012)
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