quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
A publicidade por trás da semente tolerante à seca (+Áudio)
Em todos os
países onde a Monsanto conseguiu impor as sementes transgênicas, as sementes
convencionais foram rapidamente sumindo do mercado."
No final de dezembro de 2011 o Departamento de
Agricultura do governo dos Estados Unidos (EUA) autorizou, pela primeira vez, o
plantio comercial de uma variedade de milho da Monsanto geneticamente
modificada para suportar condições de seca. Trata-se de uma promessa antiga das
empresas de biotecnologia, mas cuja obtenção envolve um processo genético
complexo e difícil de ser controlado.
Mas informações obtidas no relatório de avaliação
do próprio Departamento de Agricultura que autorizou o novo milho demonstram
que ele, na verdade, não funciona. Lá está escrito que a tolerância à seca
conferida pelo novo milho transgênico é igual à tolerância já verificada nas
variedades de milho produzidas através de técnicas convencionais de melhoramento
genético.
Essa nova autorização para a variedade da Monsanto
que é tão tolerante à seca quanto às similares convencionais que já existem
poderia parecer inócua não fosse um pequeno detalhe: essa empresa detém o quase
monopólio do mercado de sementes. Em todos os países onde a Monsanto conseguiu
impor as sementes transgênicas, as sementes convencionais foram rapidamente
sumindo do mercado, e muitos agricultores acabam adotando as sementes
transgênicas simplesmente porque não encontram outras para comprar. Da mesma
maneira, com a aprovação do novo milho transgênico tolerante a seca, é muito
provável que em pouco tempo as variedades convencionais com a mesma
característica, que não são patenteadas e nem implicam no pagamento de
royalties, comecem também a desaparecer.
Daí vem a segunda implicação da nova autorização:
assim que as sementes convencionais tolerantes à seca sumirem e a adoção da
opção transgênica se generalizar, a Monsanto começará a anunciar o “sucesso” de
sua tecnologia, o que a ajudará a rebater
a crítica de que, passados quase vinte anos desde que as sementes transgênicas
começaram a ser cultivadas, a chamada “engenharia genética” não conseguiu
cumprir suas promessas e desenvolver as famosas
plantas mais produtivas, mais nutritivas e, sobretudo, tolerantes aos
solos salinos e à seca. Até agora, tudo isso era mero discurso.
Aqui está talvez o principal sentido dessa
autorização: funcionando ou não, a nova variedade logo permitirá à Monsanto
alardear os supostos benefícios da biotecnologia para a produção de alimentos
em tempos de mudanças climáticas.
Flavia Londres é engenheira agrônoma e consultora
da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia (14/02/12)
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